VIVÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO PESSOAL, FAMILIAR E PROFISSIONAL DE MULHERES BRASILEIRAS EM PORTUGAL

Autores

  • Estefânia Gonçalves Silva Instituto Universitário da Maia Centro Interdisciplinar de Estudos de Género - ISCSP
  • Conceição Nogueira Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto
  • Sofia Neves Instituto Universitário da Maia Centro Interdisciplinar de Estudos de Género - ISCSP

Palavras-chave:

Imigração feminina. conciliação da vida pessoal, familiar e profissional. Assimetria

Resumo

Num contexto de globalização, a conciliação da vida pessoal, familiar e profissional assume um papel preponderante na análise sobre a feminização das migrações. Porém, o conhecimento das dinâmicas existentes nas famílias imigrantes, especialmente, no modo como as mulheres imigrantes organizam as suas vidas familiares e quais as suas modalidades de ação em termos de conciliação, é ainda insuficiente em Portugal (Marques e Góis, 2012). Neste sentido, a presente investigação, de caráter qualitativo e inserida no paradigma crítico oferecido pelo construcionismo social e feminismo, tem como objetivo principal caracterizar e analisar as vivências e os discursos de mulheres imigrantes acerca da conciliação da vida pessoal, familiar e profissional. Para tal, a base empírica foi constituída por dez mulheres imigrantes de nacionalidade brasileira a residir no distrito de Braga. Partindo da metodologia de análise temática, os resultados mostram um padrão regular e assimétrico das tarefas domésticas e dos cuidados às crianças, que coloca as mulheres imigrantes, no país recetor, em situações de maior sobrecarga do que no país de origem, pela ausência de suporte familiar, financeiro e social. A maternidade e os cuidados com os/as filhos/as influenciam a vida profissional, onde a interrupção ou abandono deste percurso é frequente. Na tentativa de responder aos dilemas da conciliação, estas mulheres vão legitimando a sua submissão que culmina numa posição normalizadora com as práticas assimétricas a que estão sujeitas, o que reforça o esquema da desigualdade. Assim, podemos concluir que o poder político e económico do país recetor acentua a feminização dos papéis tradicionais de género onde configura uma desigual conquista das mulheres em relação aos homens no espaço familiar e profissional.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Aboim, Sofia (2004), “As orientações normativas da conjugalidade”, in karin Wall (Coord.), Famílias no Portugal Contemporâneo. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 169-229.

Aboim, Sofia (2007), “Clivagens e continuidades de género face aos valores da vida familiar em Portugal e noutros países europeus”, in Karin Wall; Lígia Amâncio (org.), Família e Género em Portugal e na Europa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 35-92.

Abranches, Maria (2007), Pertenças Fechadas em Espaços Abertos. Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal. Lisboa: ACIDI.

Albuquerque, Rosana (2005), “Para uma análise multidimensional da situação das mulheres: as relações entre género, classe e etnicidade”, in SOS RACISMO (Eds.), Imigração e Etnicidade - Vivências e trajectórias de mulheres em Portugal. Lisboa: SOS Racismo, 37- 49.

Alcañiz, Mercedes (2008), “Las Políticas de conciliación entre el ámbito laboral y el familiar”, Cambio o continuidaden el sistema de Género?”, Ex aequo,18, 85-102.

Andrade, Cláudia (2013), Relações Trabalho-Família e Género: caminhos para a conciliação. Lisboa: Coisas de Ler.

Amâncio, Lígia (2003), “O género no discurso das ciências sociais”, Análise Social, 168, 687-174.

Badinter, Elisabeth (2010), O Conflito – A Mulher e a Mãe. Lisboa: Relógio D’Água.

Barreno, Maria, et al. (2010), Novas Cartas Portuguesas. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Braun, Virginia; Clarke, Victoria (2006), “Using thematic analysis in psychology”, Qualitative Research in Psychology, 3, 77-101.

Castles, Stephen; Miller, Mark (2003), The Age of Migration. New York: Guildford Press.

França, Ana Letícia; Shimansky, Édina (2009), “Mulher, Trabalho e Família: Uma análise sobre a dupla jornada feminina e seus reflexos no âmbito familiar”, Emancipação, 9(1), 65-78. [volume 9, número 1]

Frone, Michael, et al. (1992), “Antecedents and outcomes of work-family conflict: Testing a model of work-family interface”, Journal of Applied Psychology, 77, 65-79.

Giddens, Anthony (2001), Transformações da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Oeiras: Celta Editora

Giddens, Anthony (2010), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (2010), Women and Men Portugal 2010. Lisboa: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

Godinho, Susana (2010), Novos Possíveis: Estratégias Identitárias de Mulheres Oriundas da Guiné-Bissau em Portugal. Lisboa: ACIDI.

Guerra, Isabel (2006), Pesquisa Qualitativa e Análise de Conteúdo: Sentidos e Formas de Uso: Estoril: Princípia

Guerreiro, Maria das Dores; Pereira, Inês (2006), Responsabilidade Social das Empresas, Igualdade e Conciliação Trabalho-Família: Experiências do Prémio Igualdade é Qualidade. Lisboa: Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Guerreiro, Maria das Dores, et al. (2009), Quality of life in a Changing Europe. Principais Apuramentos. Relatório de Pesquisa. Centro de Investigação e Estudos de Sociologia: Instituto Universitário de Lisboa.

Guerreiro, Maria das Dores; Carvalho, Helena (2007), “O stress na relação trabalho-família: uma análise comparativa”, In karin Wall; Lígia Amâncio (Org.), Família e Género em Portugal e na Europa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 93-128.

Hill, Jeffrey (2005), “Work-family facilitation and conflicto, working fathers and mothers, work-family stressors and support”, Journal of Family Issues, 26(6), 793-819. [volume 26, número 6]

ILO - International Labour Organization (2010), Work and Family: The way to care is to shane!. Genebra: ILO.

IOM – International Organization for Migration (2004), Glossary on Migration. Geneva: IOM.

Jack, Danna (1991), Silencing the Self. Women and Depression. Cambridge: Harvard University Press.

Laufer, Jackeline (1995), “Conciliation vie familiale/vie professionele”, in Institut National de la Statistique et des étudeséconomiques, Les femmes. Paris: Service de Droits de Femmes/Isee, 163-165.

Malheiros, Jorge, et al. (2010), Mulheres Imigrantes Empreendedoras. Lisboa: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

Marques, José & Góis, Pedro (2012), A Emergência das Migrações no Feminino – Feminização das migrações de (e para) Portugal e suas consequências sociopolíticas. Cascais: Princípia.

Moreno-Jiménez, Pilar; Rodríguez, Luísa (2012), “Sin nosotras el mundo no se mueve”- Mujeres inmigrantes en el context laboral español”, Athenea Digital, 12(2), 3-31.[volume 12, número 2]

Monteiro, Rosa; Portugal, Sílvia (2013), “As políticas de conciliação nos planos nacionais para a igualdade: Uma análise dos quadros interpretativos”, Ex aequo, 27, 97-111.

Mills, Melinda, et al., (2014), “Gender equality in the workforce: Reconciling work, prívate and family life in Europe. Final Report. European Union”. Consultado a 13.12.2014, em http://ec.europa.eu/justice/gender-equality/files/documents/140502_gender_equality_workforce_ssr_en.pdf

Miranda, Joana (2009), Mulheres Imigrantes em Portugal: Memórias, Dificuldades de Integração e Projectos de Vida. Lisboa, ACIDI.

Neves, Sofia (2007), “Psicologia, Diversidade Social e Multiculturalidade: Caminhos cruzados”, Psychologica, 45, 125-145.

Neves, Sofia (2008), Amor, Poder e Violências na Intimidade: Os caminhos entrecruzados do pessoal e do político. Coimbra: Quarteto.

Neves, Sofia (2010), “Tráfico de mulheres brasileiras para fins de exploração sexual em Portugal e Interseccionalidade: Um estudo de caso”, Psicologia, 2 (XXIV), 177-196. [volume 2, número 24]

Neves, Sofia; Miranda, Joana (2011), “Género e Migrações”, Ex aequo 23.

Neves, Sofia; Nogueira, Conceição (2004), “Metodologias Feministas na Psicologia Social Crítica: a ciência ao serviço da mudança social”, Ex-aequo, 11, 123-138.

Nogueira, Conceição (2011), Lição de Síntese. Braga: Universidade do Minho.

Nogueira, Conceição, et al. (2005), “Fundamentos Construcionistas Sociais e Críticos para o Estudo do Género”, Teoria, Investigação e Prática, 2, 1-15.

Parella, Sònia (2009), “Políticas públicas de género y mujer inmigrante”, in Zapata; Miret (Coord.), Políticas y gobernabilidad de la inmigración en Espãna. Madrid: Ariel, 207-226.

Peixoto, João (2005), O Tráfico de Migrantes em Portugal: Perspectivas Sociológicas, Jurídicas e Políticas. Lisboa: ACIME.

Peixoto, João, et al. (2006), Mulheres Imigrantes: Percursos Laborais e Modos de Inserção Socioeconómica das Imigrantes em Portugal. Lisboa: Instituto Superior de Economia e Gestão – Universidade Técnica de Lisboa.

Perista, Heloísa (1998),“Mulheres em Diáspora na União Europeia: percursos migratórios e trajectórias profissionais e familiares”, Revista Crítica de Ciências Sociais, 50, 153-164.

Perista, Heloísa (1999), Os Usos do Tempo e o Valor do Trabalho – uma questão de género. Lisboa: Ministério do Trabalho e da Solidariedade.

Pipper, Nicola (2005), Gender and Migration. Global Comission in International Migration.

Purkayastha, Bandana (2005), “Skilled migration and cumulative disadvantage: the case of highly qualified Asian Indian immigrant women in the US”, Geoforum, 36, 181-196. Consultado a 20.06.2014, em http://ac.els-cdn.com/S0016718504000648/1-s2.0-S0016718504000648-main.pdf?_tid=a4f89f68-7a90-11e4-a5f4-00000aab0f27&acdnat=1417572419_5069cad34502b94f72d6afa5b4ba71e7

SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (2015), Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo - 2014. Lisboa: Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Silva, Estefânia (2015), Conciliação pessoal, familiar e profissional de mulheres imigrantes residentes no distrito de Braga. Universidade do Minho, Portugal.

Silva, Estefânia, et al. (2010),“(RE) Conciliação dos usos do tempo: Imigração, Género e Trabalho-Família”, Psico, 41(4), 455-461. [volume 41, número 4]

Silva, Estefânia; Neves, Sofia (2011), “Vivências de Amor e de Intimidade em Mulheres Imigrantes”, in Marlene Strey, et al. (Orgs.), Vida de mulher: gênero, sexualidade e etnia. Brasil: EDIPUCRS, 207-247.

Tajfel, Henry; Turner, J. (1986), “The social identity theory intergroup behavior”, in S. Worchel & W. Austin (Eds.), Psychology of Intergroup Relations. Chicago: Nelson – Hall, 7-23.

Topa, Joana (2013), Cuidados de saúde materno-infantis à população imigrante residente em Portugal. Universidade do Minho, Portugal.

Torres, Anália (2001), Sociologia do Casamento: A Família e a Questão Feminina. Oeiras: Celta Editora.

Torres, Anália (2004), Vida Conjugal e Trabalho: Uma perspectiva Sociológica. Oeiras: Celta Editora.

Wall, Karin; José, São (2004),” Managing Work and Care: A Difficult Challenge for Immigrant Families”. Social Policy & Adminstration, 38 (6), 591-621. Consultado a 13.02.2013, em https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/3631/1/Managing%20Work%20and%20Care_Wall%26S%C3%A3o%20Jos%C3%A9.pdf

Wall, Karin; Amâncio, Lígia (2007), Família e Género em Portugal e na Europa. Atitudes Sociais dos Portugueses. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Wall, Karin, et al. (2005), Immigrant Women In Portugal: migration trajectories, main problems and policies. Institute of Social Sciences: University of Lisbon.

Yamanaka, Keiko; Pipper, Nicola (2006), “Feminised Migration in East and Southeast Asia: Policies, Action and Empowerment”. UNRISD Occasional Paper, 11. Geneva: UNRISD.

Zimmerman, Toni, et al. (2003), “Intimate partnership: foundation to the successful balance of family and work”, The American Journal of Family Therapy, 31, 107-124.

Publicado

2016-09-30

Como Citar

SILVA, E. G.; NOGUEIRA, C.; NEVES, S. VIVÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO PESSOAL, FAMILIAR E PROFISSIONAL DE MULHERES BRASILEIRAS EM PORTUGAL. Gênero & Direito, [S. l.], v. 5, n. 2, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/article/view/28571. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Migração, Mobilidade & Direitos Humanos