AS MODALIDADES VERIDICTÓRIAS E OS EFEITOS DE VERDADE E CUMPLICIDADE NA CRÔNICA “OS DOIS BONITOS E OS DOIS FEIOS”, DE RAQUEL DE QUEIROZ

Resumo

O modo como o texto se organiza, dispondo os fatos apresentados ao leitor, orienta a apreensão dos sentidos nele construídos; nesse viés, a escolha pelo tipo de narrador passa sempre por uma intencionalidade discursiva mediada pela enunciação. Partindo desse pressuposto, buscaremos, neste trabalho, compreender como as projeções enunciativas contribuem para a obtenção de efeitos de verdade e cumplicidade na crônica “Os dois bonitos e os dois feios”, de Raquel de Queiroz. Por considerar que as projeções enunciativas indicam modos de presença do enunciador, adotaremos como instrumental teórico os elementos da sintaxe e da semântica propostos pela semiótica discursiva por meio da descrição e análise dos modos de organização textual dos mecanismos de debreagem e embreagem, assim como pelas relações estabelecidas entre as categorias de pessoa, tempo, espaço e os percursos figurativo e temático no texto, conforme assinala Fiorin (2016); também nos interessa, em consonância com Bertrand (2003), analisar questões em torno do ponto de vista e das posições enunciativas. De posse desse inventário, verificaremos como procedimentos sintáxicos se revestem semanticamente, de modo a produzir os efeitos de verdade e cumplicidade. Defendemos a hipótese de que as projeções enunciativas presentes no texto indicam um ponto de vista orientado pela cumplicidade entre enunciador e enunciatário, visto que se constrói a partir de uma “verdade” posta pelo enunciador sobre a qual o enunciatário é frequentemente convidado a manifestar-se; assim, a narrativa constitui-se como exemplo que justifica o posicionamento discursivo defendido pelo enunciador, ou seja, como forma de consolidar o próprio discurso.