APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ “POR DENTRO DO IFPB: conhecer e expressar”

 

DOSSIER INSIDE IFPB: get known and get expressed

 

Rita de Cássia Melo Santos*

Adolfo Wagner**

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DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n24.51382.p12-15

 

O presente dossiê buscou reunir a produção dos discentes vinculados ao PIBID Sociologia UFPB/IFPB, coordenado pelos organizadores desse dossiê, Rita de Cássia Melo Santos (DCS/UFPB) e Adolfo Wagner (IFPB). O PIBID Sociologia UFPB/IFPB pretendeu mergulhar em profundidade na compreensão do funcionamento do ensino de sociologia numa escola de ensino técnico integrado ao médio em João Pessoa. Para isso, tomou como primeiro objetivo o desvendamento do funcionamento institucional do IFPB. Durante o último semestre de 2018, os estudantes do PIBID observaram e anotaram a rotina de funcionamento, a distribuição da carga horária de sociologia entre os cursos técnicos e superiores, a composição da biblioteca, a estrutura física, a organização dos movimentos estudantis e a memória da Instituição. Uma releitura desse diagnóstico corresponde ao primeiro artigo do dossiê.

No ano seguinte, partindo de uma concepção integrada entre ensino, pesquisa e extensão, organizamos um conjunto de ações a serem realizadas pelos estudantes. Considerando interesses comuns e experiências prévias, montamos o que denominamos as duas grandes frentes do PIBID: conhecer e expressar. Não significando uma oposição plena, conhecer e expressar buscavam, respectivamente, construir as condições para uma melhor compreensão do funcionamento do IFPB (para além daquilo que já havia sido desvendado no semestre anterior) e permitir a apreensão técnica por parte dos estudantes de formas de contar de si e de sua vivência no espaço escolar.  Todas as ações tiveram por centro gravitacional o ensino de sociologia. Os esforços realizados foram pensados como meios de compreender melhor as condições de ensino do IFPB, promover a elaboração de materiais subsidiários ao ensino da disciplina e permitir que os estudantes do ensino médio integrado pudessem experienciar métodos, técnicas e temáticas ligadas ao campo das ciências sociais.

Foi com esse intuito que montamos o Grupo de Trabalho Violência formado por Aline Toledo e Selma Cabral e coordenado por Rita Santos e Adolfo Wagner, dedicados à investigação das múltiplas formas de violência que os alunos dos cursos técnicos integrados sofriam na instituição. O GT realizou o levantamento da documentação concernente aos registros de violência no IFPB, entrevistou os principais funcionários ligados aos setores responsáveis (DAEST, CAEST, Protocolo, DEPAP), realizou dois grupos focais com um público total de 18 estudantes do IFPB, a transcrição de todo o material do grupo focal, a aplicação de questionários teste com 30 estudantes e a aplicação e análise de questionários com estudantes do IFPB.

Numa primeira análise dos resultados, identificamos a existência de múltiplas formas de violência no IFPB. Desde os aspectos mais recorrentes em outros estudos de caso, como assédio sexual, moral e danos patrimoniais, a até uma dimensão inesperada na pesquisa — a de violência institucional. Os estudantes apontam para um suposto “descaso” da instituição com as condições de sua permanência na escola. Esse aspecto refere-se tanto à inexistência de refeitórios quanto à ausência de espaços de descanso. Para os alunos que permanecem no IFPB por cerca de 4 anos, em turnos diários e com longos deslocamentos entre a casa e a escola, a inexistência dos locais apontados dificulta consideravelmente sua vivência escolar. Dentre os agressores, há indicações de professores, técnicos e outros estudantes. Por vezes, dependendo do perfil, a escola é mais segura que a residência; noutros, a residência é mais segura que a escola. A violência, como demonstrou o levantamento, centra-se no complexo casa-rua-escola. É também nos espaços de trânsito que a violência ocorre.

Outra frente de trabalho foi assumida por Humberto Bismark que buscou conhecer como a questão indígena era trabalhada no Instituto, tanto por meio da sua presença e muitas ausências nas aulas, materiais didáticos quanto nos projetos de pesquisa e de extensão. Bismark debruçou-se sobre os múltiplos editais tentando compreender como a Lei 11.645/2008, importante marco na renovação do ensino da questão indígena na educação básica, foi implementada na Instituição. Seu trabalho tem o mérito de nos apontar os muitos avanços realizados e o que ainda há por fazer em relação a esse aspecto de suma importância para compreensão do Brasil e de nós mesmos.

Encerrando a seção conhecer, o interesse de Marcelo Cadore pelo trabalho enquanto categoria de análise (e política) nos levou a conduzir uma pesquisa sobre a condição do trabalho terceirizado no IFPB/Campus João Pessoa. Nos parecia muito curioso que apesar do processo de terceirização ter produzido uma alta rotatividade de empresas prestadoras de serviço, houvesse a permanência longeva de funcionários de limpeza, segurança, cargos administrativos, dentre outros. A partir do PIBID, Cadore desenvolveu uma interessante análise sobre essas condições de permanência e rotatividade que poderá ser utilizada nas aulas do IFPB, não apenas pela disciplina de Sociologia como também no ensino de Filosofia, Administração, Ética e Direitos Humanos.

Iniciando a seção expressar, Roberta Melo debruça-se sobre a vasta produção literária para o público juvenil numa tentativa de conectar os interesses dos jovens estudantes do IFPB ao ensino de sociologia. Para isso, a pesquisadora faz um levantamento das obras literárias indicadas no material didático, utilizadas pelos docentes, presentes na biblioteca do Instituto, ficando também de olho nos livros que estão pelas mãos dos estudantes. Sendo ela própria uma jovem voraz leitora, dona do perfil @leitoresestranhezas, consegue mobilizar uma recente e instigante produção bibliográfica. O texto por ela produzido permitirá que professores do IFPB e outras instituições localizem novas bibliografias para dialogar com os seus estudantes. Ademais, encerra suas atividades propondo a realização de uma oficina de cordel em que os jovens estudantes do IFPB possam colocar a si próprios como autores.       

Ainda nos trabalhos voltados à expressão, o trabalho de Paula Cavalcante sobre o uso do cinema nas escolas sob novas bases nos mostra como uma “torção” legislativa pode se tornar algo bastante criativo. Apresentado como “relato de experiência”, a autora mostra como o cinema está presente na educação básica brasileira desde a Lei 13.006/2014 idealizada por Cristóvão Buarque. A lei de 2014 estipulava a exibição compulsória de filmes nacionais na rede escolar. Se por um lado a legislação tem o mérito de difundir a produção cinematográfica nacional, por outro, ela toma o estudante como sujeito passivo dessa produção. Inspirada pelo projeto “Cadernos do Inventar”, Paula Cavalcante põe o seu celular embaixo do braço e parte para o IFPB e para o EEPAC (Escola Estadual Pedro Augusto Porto Caminha), onde ocorre um projeto de extensão vinculado ao IFPB, para convidar os estudantes a produzirem seus próprios filmes. A experiência narrada por Paula Cavalcante nos convida a refletir sobre outras formas de ensino e de avaliação, converte os estudantes secundaristas em sujeitos ativos e transforma em mocinhos os celulares e redes sociais – taxados de vilões no ambiente escolar.

Por fim, encerrando o bloco do expressar, o ensaio fotográfico de Raiana Martins, “Escola cercada”, nos brinda com registros sensíveis sobre o cotidiano no IFPB. São momentos de pequenos prazeres e de luta travados pelos alunos da Instituição ao longo dos dias que com eles compartilhamos o tempo. O controle dos espaços e seus usos regulados aparecem na mesma medida em que os sonhos estão ali, disputando palmo a palmo os rumos da Instituição. O tsuru, delicadamente colocado pelos estudantes em um dos corredores da Instituição, lembra-nos da felicidade, longevidade e boa sorte que toda escola deveria trazer.

     A nossa aposta na reunião dos artigos e do ensaio aqui apresentados é destacar o potencial da articulação pesquisa-ensino-extensão para formação de docentes críticos. O desenho do projeto PIBID Sociologia/UFPB/IFPB foi realizado considerando os interesses e experiências prévias dos estudantes que ingressaram no programa, as necessidades e anseios dos estudantes do IFPB mapeados e identificados no primeiro diagnóstico e os projetos em curso dos docentes situados em cada uma das instituições envolvidas. Acreditamos que a junção dessas três frentes fortaleceu o processo permitindo a construção de trabalhos importantes de investigação e reflexão aqui apresentados. E desejamos que eles possam inspirar a realização de muitos outros trabalhos!

 

João Pessoa, maio de 2020

 

 

Recebido em: 25/03/20.

Aceito em: 20/05/20.

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n24.51382.p12-15

 

 

 

 

 



* Docente no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e do Departamento de Ciências Sociais da UFPB, coordenadora do PIBID/Sociologia UFPB/IFPB no período de julho de 2018 a dezembro de 2019. E-mail: santos.cm.rita@gmail.com.

** Docente no IFPB/campus João Pessoa, supervisor do PIBID/Sociologia UFPB/IFPB no período de julho de 2018 a dezembro de 2019. E-mail: adolfoifpb@gmail.com.