CULTURA COMO UM EIXO DE DESENVOLVIMENTO: os museus universitários e os espaços museais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
CULTURE AS AN AXIS OF DEVELOPMENT: university museum and museum spaces at the Federal University of Paraíba (UFPB)
Alberto dos Santos Cabral *
Marisa Pires Rodrigues **
David Holanda de Oliveira ***
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.62787.p35-54
Resumo
Os museus universitários e espaços museais possuem o potencial de encorajar a participação da comunidade em diferentes contextos culturais, estimulando a diversidade e aceitação das diferenças, sendo espaços dinâmicos e veículos de desenvolvimento e transformação social. Eles participam das ações da UFPB para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A Pinacoteca da UFPB criada em 1987, pela carência de um plano museológico e pela importância do seu acervo, foi selecionada por uma equipe da Rede Universitária de Museus REUMUS para sua elaboração. A metodologia proposta para o plano museológico da Pinacoteca foi definida em etapas que contemplaram a elaboração do diagnóstico museológico; a capacitação da sua equipe interna com especialistas convidados; a realização de pesquisa junto ao público estudantil. Os resultados relativos ao Plano Museológico como também a participação dos estudantes são apresentados neste artigo com o propósito de contribuir para que seu potencial e missão possam ser efetivamente alcançados, assim como o cumprimento do compromisso com os ODS.
Palavras-chave: cultura; museus universitários; plano museológico; pinacoteca da UFPB.
Abstract
University museums and museum spaces have the potential to encourage community participation in different cultural contexts, stimulating diversity and acceptance of differences, being dynamic spaces and vehicles for development and social transformation. They participate in UFPB's actions to achieve Sustainable Development Goals (SDGs), together with the United Nations Development Program (UNDP). The UFPB Pinacoteca, created in 1987, due to the lack of a museological plan and the importance of its collection, was selected by a team from the REUMUS University Museum Network for its elaboration. The methodology proposed for the Pinacoteca's museological plan was defined in stages that included: the elaboration of the museological diagnosis; training its internal team with invited experts; conducting research with the student public. The results related to the Museological Plan as well as the participation of students are presented with the aim of contributing to its potential so that its mission can be effectively achieved, as well as the fulfillment of the commitment to the SDGs.
Keywords: culture; university museums; museum plan; UFPB Pinacoteca.
Introdução
As instituições museais, para além da salvaguarda do patrimônio, representam fonte de identidade, educação e lazer. Sua existência tem o potencial de encorajar a participação da comunidade em diferentes contextos culturais, estimulando a celebração da diversidade e a aceitação das diferenças. Há necessidade de políticas públicas que identifiquem capacidades e oportunidades que precisam ser exploradas para alcançar novas soluções regionais.
A United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – UNESCO reconhece o museu como um ator institucional relevante, colaborador dos programas de políticas públicas relacionadas ao cumprimento da Agenda 2030 (UNESCO, 2018). A Agenda formulada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que define os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS (UNITED NATIONS, 2015) voltados para um plano global com princípios e metas que priorizam a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente e do clima, para que todas as partes do mundo possam desfrutar de paz e prosperidade. Desse modo, para a necessária formulação e a consequente implementação de políticas públicas para o cumprimento desta agenda, é de suma importância que os gestores realizem planos estratégicos participativos para definir diretrizes que objetivam atingir as orientações do ODS.
Em consonância com a Resolução n. 17 de 2018, do Conselho Universitário (UFPB, 2018a), a UFPB se tornou signatária do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em que se compromete a promover esforços e contribuir com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A aderência dos planos museológicos aos ODS constam nos seguintes objetivos: (4) Educação inclusiva, item 4.7, “garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades para o desenvolvimento sustentável [...] valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável” (UNITED NATIONS, 2015, tradução nossa); (8) Trabalho decente e crescimento econômico que visa promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos e, (11) Cidades e comunidades sustentáveis, no item 11.4, que se refere especificamente a fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural. Bem como e em face ao poder transformador da arte, tem-se aderência indireta aos ODS nos itens: (12) Consumo e produção responsáveis e no (17) Parcerias e meios de implementação (UNITED NATIONS, 2015).
Embora a cultura não tenha sido diretamente contemplada por essa agenda, é possível perceber que ela está presente de forma transversal em todos os princípios. Além disso, cabe evocar alguns autores que discutiram a dimensão cultural do desenvolvimento.
John Hawkes (2001, p. vii) propôs que fosse reconhecido o papel da cultura como um elemento distinto no desenvolvimento sustentável, defendendo que ela seja tratada como o quarto pilar para a sustentabilidade. Para ele, “a vitalidade cultural é tão essencial para uma sociedade saudável e sustentável como a equidade social, a responsabilidade ambiental e a viabilidade econômica”.
Vale salientar que até meados do século XX, o desenvolvimento era tratado como sinônimo de crescimento econômico, medido por índices de incremento da produção de bens e serviços, como o aumento da renda per capita ou do Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, segundo Amartya Sen (2010), o desenvolvimento só é possível se os benefícios do crescimento servirem para expandir as capacidades humanas. Seu intento fundamental deve ser expandir as liberdades humanas, ampliando a capacidade de escolha que as pessoas podem fazer para viver vidas plenas e criativas.
[...] a cultura deve ser considerada um facilitador fundamental da sustentabilidade, sendo fonte de significado e energia, fonte de criatividade e inovação e recurso para enfrentar desafios e encontrar soluções adequadas. O extraordinário poder da cultura para promover e permitir o desenvolvimento verdadeiramente sustentável é especialmente evidente quando uma abordagem centrada nas pessoas e baseada no local é integrada em programas de desenvolvimento e iniciativas de construção da paz. (UNESCO, 2013, p. 45)
Nesse sentido, Furtado (1984) propõe a cultura como parte integrada ao desenvolvimento enquanto esforço de manutenção da diversidade cultural de uma nação para evitar sucumbir à pressão cultural e ideológica subjacente à produção, aos produtos e aos interesses do mercado.
O patrimônio cultural de um povo compreende as obras de seus artistas, arquitetos, músicos, escritores e sábios, assim como as criações anônimas surgidas da alma popular e o conjunto de valores que dão sentido à vida. Ou seja, as obras materiais e não materiais que expressam a criatividade desse povo: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas [...]. Qualquer povo tem o direito e o dever de defender e preservar o patrimônio cultural, já que as sociedades se reconhecem a si mesmas através dos valores em que encontram fontes de inspiração criadora. (UNESCO, 1982, p. 45).
A temática museal se sustenta em quatro pilares essenciais, segundo Walewski (2007, p. 378): “coletar, preservar, pesquisar e expor publicamente. Esses pilares perfazem um ciclo em que as colaborações entre sociedade e universidade se estreitam e permitem a troca de experiências entre ambas”. Dentro dessa perspectiva, os museus universitários desempenham um papel importante, pois captam por meio de metodologias acadêmicas, os aspectos culturais, científicos e naturais da sociedade.
Hoje, não só museus e memoriais, mas também monumentos, jardins botânicos, zoológicos, aquários, centros de ciência, planetários, reservas naturais e centros culturais podem ser considerados estabelecimentos museológicos. A presença de coleções e a prática de visitação caracterizam as instalações do espaço museológico.
Os museus universitários brasileiros apresentam grande multiplicidade em termos de tamanho, temas e modelo de gestão. O que os une não é apenas o compromisso com o ensino, a pesquisa e a extensão, mas a forma precária de financiamento desses espaços. Lidam com acervos materiais que estão permanentemente submetidos a perigos que ameaçam não só sua integridade física como a dos edifícios. A constante carência de recursos compromete as necessárias manutenções preditivas e a modernização constante dos sistemas de segurança.
Vale salientar que instituições financiadas pelo Ministério da Educação (MEC), como as universidades, são frequentemente obrigadas a reestruturar a distribuição de suas receitas, o que leva a uma diminuição no orçamento destinado aos museus. Sendo os museus universitários obrigados a concorrer internamente com verbas que são direcionadas prioritariamente para a atividade científica, de modo que eles são penalizados no montante destinado às suas atividades, raramente garantido.
A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) ainda não possui um diagnóstico completo de seus museus, coleções e espaços de visitação, portanto não dispõe de inventário, catalogação ou patrimônio de todo acervo. Para responder a esta grave omissão foi criada a Rede de Museus da Universidade Federal da Paraíba (REUMUS) em 2018, com o intuito de contribuir para a elaboração dos planos museológicos, e prestar assessoria na catalogação e gestão das atividades de rotina desses espaços.
A Pinacoteca da UFPB, um museu de artes visuais com um acervo com obras de valor artístico e monetário significativo, não possui até o presente um plano museológico, cujo acervo corre sérios riscos de sofrer danos físicos ou extravios, motivos pelos quais foi selecionada pela REUMUS para iniciar a tarefa de elaboração do plano museológico.
Este artigo tem por objetivo apresentar o plano museológico da Pinacoteca elaborado pela equipe de trabalho integrada pelos autores, e apresentar o resultado da enquete realizada com os estudantes usuários da pinacoteca, de modo a atender ao critério participativo do plano.
A metodologia proposta para a execução do seu plano museológico foi definida em etapas que contemplaram a elaboração do diagnóstico museológico; capacitação da sua equipe interna com a presença de especialistas convidados; discussões iniciais do plano; o uso de questionários com os estudantes usuários da pinacoteca ou da Biblioteca Central; sistematização dos dados e organização do Plano Museológico da Pinacoteca (aprovado pelo Conselho de Centro de Comunicação, Turismo e Artes – CCTA).
Durante todo este processo, foram realizadas leituras direcionadas à elaboração de planos museológicos, reuniões, debates com a equipe. Em função da pandemia do Covid-19, o projeto utilizou como ferramenta de trabalho reuniões online via Google Meet, para encontros de estudos, debates e direcionamentos entre a equipe da Pinacoteca e especialistas convidados[1]. Esses encontros, com duração de 2 horas, realizados mensalmente, auxiliaram no balizamento de objetivos e estratégias a serem adotados pela Pinacoteca.
Cultura: pilar de desenvolvimento sustentável
A XX Conferência Ibero-americana de Ministras e Ministros da Cultura[2], realizada na cidade de Bogotá em outubro de 2019, reiterou o acordo político adotado na Cimeira de La Antígua Guatemala, que reconheceu a ligação entre a cultura e desenvolvimento sustentável.
A cultura está imbricada com sustentabilidade, e segundo Yúdice (2006), mostra-se como fonte inesgotável. Trata-se de um recurso que gera e atrai investimentos, cuja distribuição e utilização, seja para o desenvolvimento econômico e turístico, seja para as indústrias culturais ou novas indústrias dependentes da propriedade intelectual.
A cultura é um “bem valioso” que dialoga com o desenvolvimento turístico, econômico, ou preservacionista. O investimento em cultura passa a ser compreendido como um novo capítulo desta sociedade interconectada, que se apoia em outras bases, na busca da resolução de seus problemas e na busca por um “equilíbrio social”. A cultura é então matriz para o investimento em projetos de reforço da autoestima, garantia de direitos, desenvolvimento socioeconômico etc. (YÚDICE, 2006, p. 25).
Nesse sentido, é oportuno refletir sobre a contribuição dos equipamentos museais para o desenvolvimento integrado e sustentável de uma região, na perspectiva econômica. “A função de um museu não se restringe ao âmbito sociocultural, o museu é uma instituição que integra fluxos econômicos de bens e serviços culturais” (REIS, 2010, p. 116). Por outro lado, Argenta (2013) afirma que a comunidade museológica atribuiu aos museus a capacidade de gerar mudança social como espaços de emergência política para as comunidades representadas por eles, através dos seus eventos internacionais realizados no Chile (1972) e na Venezuela (1992).
É importante destacar a diversidade e a abrangência dos espaços museais presentes na sociedade, ampliando as repercussões que eles provocam sob diferentes campos, não apenas no da memória histórica, como da ciência, da arte e do meio ambiente, conforme a conceituação do Estatuto de Museus, expressa no Art. 1º:
Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. (BRASIL, 2009).
Na Espanha, Bilbao capital da província de Biscaia, uma cidade industrial, com uma economia baseada no aço, em declínio desde a década de 1980, foi obrigada a reinventar-se. Uma orquestração público-privada viabilizou a revitalização da zona portuária da cidade, incapaz de competir em nível global com outras cidades na atração de novos investimentos. Entre as décadas de 1980 e 1990, o desenvolvimento global de Bilbao incluiu a política cultural como instrumento fundamental para a regeneração e transformação urbana. Pouco antes de a crise econômica atingir o seu ápice entre 1992 e 1993, foi tomada a decisão de criar um grande espaço cultural que tornasse Bilbao uma cidade competitiva por intermédio da cultura: o Museu Guggenheim Bilbao, inaugurado em 1997.
Segundo Otaolea (2014), as políticas da década de 1990 estavam focadas em estabelecer as condições necessárias para transformar Bilbao na cidade de serviços que é atualmente (67% da atividade econômica corresponde ao setor de serviços e 24% ao setor industrial).
Ainda segundo Otaolea (2014), a estratégia de políticas culturais de Bilbao foi formulada a partir de uma abordagem centrada na cultura como motor econômico e social. Durante os anos 2000, a política de desenvolvimento de Bilbao foi sustentada por novas atividades como serviços, lazer, cultura e turismo, e continuada no Plano de Governo 2011-2015 da Câmara Municipal, que destinou cerca de 10% do orçamento municipal, como forma de dinamizar a programação, consolidar a rede de funcionalidades, desenvolver eventos e promover a criação e formação artística em colaboração com o setor criativo, para fazer de toda esta atividade artística um elemento de geração de riqueza.
Como resultado dessa política, Bilbao apresentou crescimento do setor de arte e cultura (4% anual; 6% das empresas; 5% do uso total) do turismo (5,5%), e aproximadamente 5% do emprego total. No tocante ao impacto econômico do equipamento, o total de gastos diretos como consequência da sua atividade na região foi de 336,8 milhões de euros, tendo contribuído com 297 milhões para o Produto Interno Bruto (PIB) da região e, a sua atividade contribuiu para a manutenção de 6.375 empregos.
A Blackrock, empresa detentora do maior fundo de investimento do mundo, publicou em carta aberta aos seus acionistas, que é preciso investir em uma reconversão de grande parte dos atuais modelos de negócio com atenção especial às questões relacionadas à sustentabilidade (BLACKROCK, 2019).
No Brasil, entretanto, a alta concentração de empresas inovadoras e de instituições de ensino e pesquisa avançada não é capaz de fortalecer a vitalidade cultural tão essencial numa sociedade economicamente viável, ambientalmente responsável e socialmente justa. O incêndio devastador do Museu Nacional não é um caso isolado no país. Segundo Grampa (2018), a redução orçamentária que evidencia o descaso com os museus é mensurável. Houve redução de 90%, entre 2013 e 2018, nos repasses públicos de verrbas. Nesse sentido, várias instituições culturais sofrem com a falta de manutenção e de investimento, o que demonstra o descaso do governo com o patrimônio e a ciência. Já pegaram fogo a Cinemateca Brasileira em 2016 e 2021, o Museu da Língua Portuguesa em 2015, o Liceu de Artes e Ofícios em 2014, o Memorial da América Latina em 2013, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas em 2013, bem como o Museu de Arte Moderna, que teve seu acervo quase todo destruído por um incêndio em 1978.
De acordo com o International Council of Museums Committee For University Museums And Collections (ICOM UMAC), existem 3908 museus universitários em todo o mundo: América do Norte (522), América do Sul (326), Europa (2.232), África (23), Ásia (469) e Oceania (336). O Brasil possui 206 unidades registradas, e neste ano de 2022, o Núcleo de Arte Popular (NUPPO), o Museu do Brejo Paraibano, ambos da UFPB e o Museu de Arte Assis Chateubriant da Universidade Estadual da Paraíba, foram listados como museus universitários pelo ICOM UMAC (2022). Com exceção do NUPPO, que já teve prédio próprio e hoje está abrigado em uma área pequena no prédio da reitoria, os demais possuem prédios próprios.
Espaços museais da Universidade Federal da Paraíba
A maioria dos espaços museais da UFPB não se comunica entre si, e muitas vezes não sabem da existência um do outro. Via de regra, funcionam de forma precária, e contando com a abnegação dos que neles trabalham ou trabalharam. Acrescente-se também que apesar de o CONSUNI, por meio da Resolução N. 25/2018 (UFPB, 2018b), dispor sobre a criação e regulamentação do Comitê de Arte e Cultura, cujo parágrafo XIV do artigo 7º aponta para a necessária participação do REUMUS no comitê, no entanto tal participação ainda não foi oficializada. Atualmente, uma minuta de resolução sobre a questão já foi elaborada e revisada pela procuradoria jurídica da UFPB, aguardando aprovação pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) para ser encaminhada ao CONSUNI.
A REUMUS está vinculada à Coordenação de Extensão Cultural (COEX), órgão ligado à PROEX da UFPB, coordenada por uma museóloga que, juntamente com uma professora do departamento de Artes do Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), propôs-se a participar do edital PROEX Nº 07/2021 de financiamento interno para viabilizar a construção do Plano Museológico da Pinacoteca da Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 2021).
A equipe do projeto foi formada por um docente do campus de Areia e três técnicos da COEX, e prossegue fazendo projetos de extensão que asseguram o acompanhamento e levantamento desses espaços de cultura. Um desses projetos realizou um levantamento que identificou onze espaços de visitação e divulgação cultural na UFPB, são eles:
1. Pinacoteca da UFPB. Vinculada ao CCTA, foi criada em 26 de fevereiro de 987, por iniciativa do artista e professor, Hermano José, preocupado com a inexistência de um museu de arte em João Pessoa e na universidade;
2. Museu Casa de Cultura Hermano José. Vinculado ao Gabinete da Reitoria, criado em 2018, com o objetivo de ativar o cenário cultural das artes visuais contemporâneas na cidade de João Pessoa, abrindo espaços e impulsionando oportunidades para o surgimento de uma nova geração de artistas paraibanos;
3. Galeria Lavandeira. É um equipamento ligado ao Departamento de Artes Visuais do CCTA, cujo foco está centrado na produção emergente, prioritariamente universitária, com perfil no intercâmbio entre cursos de artes;
4. Sala Hermano José. É uma reserva técnica improvisada, ligada ao Gabinete da Reitoria da UFPB, e possui duas importantes coleções de obras de arte, entre pinturas e gravuras, que foram doadas pelos artistas Hermano José (PB) e Rossini Perez (RN) à UFPB em 2014;
5. Núcleo de Arte Popular (NUPPO. Criado em 1978, foi um dos primeiros espaços especializados em cultura popular na Paraíba. Surgiu como Superintendência de Artesanato (SUDART), que era um espaço de documentação voltado para o artesanato. Com o crescimento da universidade, a superintendência transformou-se no NUPPO;
6. Núcleo de Arte Contemporânea (NAC). Criado em 1978 e mantém as atividades até os dias de hoje, embora com atuação absolutamente diversa do seu período áureo, que durou até 1984;
7. Museu do Brejo Paraibano. Criado em 1997, incorporou o Museu da Rapadura, regulamentado pela Resolução nº. 70/1999 do CONSEPE/UFPB, localiza-se nas edificações da casa grande do antigo Engenho da Várzea;
8. Museu do Brinquedo. É um projeto de extensão do Centro de Ciências da Saúde (CCS) desde 2019; constituinte das ações da Escola Brincante, coordenado por dois grupos de pesquisa vinculados ao Departamento de Educação Física e ao Programa Associado de Pós-Graduação em Educação Física (PAPGEF);
9. Museu de Ciências Morfológicas. Fundado em 2021, é componente da estrutura física do Centro de Ciências da Saúde (CCS);
10. Memorial Colégio Agrícola Vidal de Negreiros. Criado em 2012. Seu acervo memorial tem a finalidade da guarda e preservação da memória da instituição agrícola. Servindo também como fonte de pesquisas para estudantes de pós-graduação, historiadores, professores e a comunidade estudantil da rede municipal, estadual e federal de ensino;
11. Museu de Biologia. Um projeto para criar uma estrutura administrativa, técnica e física que permita: (1) conservar as coleções zoológicas e botânicas da UFPB que são patrimônio da União; (2) fomentar a pesquisa científica sobre biodiversidade; (3) divulgar estas coleções científicas junto ao público não especialista; (4) fomentar ações educativas sobre biodiversidade; (5) agregar amantes da natureza para a conservação da biodiversidade, e (6) planejar a construção de um museu físico que possa viabilizar estas missões.
Ferramenta indispensável para a gestão dos museus, o Plano Museológico formulado pelo Instituto Brasileiro de Museus (2016), determina três políticas básicas. A primeira de cunho filosófico voltada para questões éticas diretamente relacionadas ao código de ética[3] do profissional museólogo. A segunda se associa ao desenvolvimento de recursos físicos e funcionais, como os gastos. A última, de cunho operacional, está relacionada a procedimentos de documentação, marketing, comunicação etc.
A Pinacoteca da UFPB e a elaboração do plano museológico
A pinacoteca da UFPB, um museu de artes visuais com um acervo de mais de 500 obras, até o presente não havia formulado seu plano museológico. Nesses 35 anos, a Pinacoteca já pertenceu a diversos setores dentro da Universidade. No princípio, era ligada à Coordenação de Extensão (COEX), subordinada à PROEX, depois foi transferida para o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), e agora está subordinada ao CCTA, permanecendo, no entanto, sem sede definitiva.
Em outubro de 2019, foi relocada, e continua alojada em duas salas no primeiro andar do prédio da Reitoria, em função do fechamento temporário, por motivo de reformas da estrutura física, da biblioteca central.
A Pinacoteca não tem dotação orçamentária, o que inviabiliza ações para a salvaguarda do acervo, bem como a falta de servidores nas áreas de museologia, restauração, história da arte, arquivologia, biblioteconomia, administração e equipe técnica para montagem de exposição, entre outros. Contudo a programação das mostras da Pinacoteca se manteve ativa desde a sua inauguração com interrupções apenas no ano de 1995, e desde 2020, em razão do contexto pandêmico, as exposições passaram a ser online no site da Pinacoteca.[4] Foram aproximadamente 100 exposições, com o acervo, com artistas convidados, com projetos externos, com mostras de alunos e colaborações com outros espaços.
Para tanto, alunos bolsistas e voluntários dos projetos de extensão desenvolvidos pela Pinacoteca participam de todas as etapas das exposições: escolha do tema, seleção das obras, curadoria, contato com os artistas, divulgação nas mídias sociais, montagem das molduras, pinturas dos módulos, identidade visual, montagem final da exposição. As despesas com impressão de etiquetas, cartazes e coffee break acabam correndo por conta dos coordenadores, já que não existe dotação disponível. A Pinacoteca também mantém uma parceria com a Galeria Lavandeira, do CCTA, realizando exposições e contribuindo com acervo para mostras desse espaço.
Pensando em ampliar a participação do público na elaboração do Plano Museológico, foi elaborado um questionário via Google forms, visando a ampliação e a interação com o público. A abordagem usada no questionário foi de caráter especulativo, que garantia o anonimato dos respondentes, uma vez que era de suma importância descobrir ou tentar se aproximar de um resultado relacionado ao conhecimento que o público respondente tem da Pinacoteca, sua interação e o nível de conhecimento sobre os canais eletrônicos nos quais a instituição habita atualmente. Foram obtidas respostas de 99 participantes.
A equipe que elaborou o Plano Museológico foi constituída por uma museóloga, um sociólogo, uma docente do Departamento de Artes Visuais do CCTA (pertencentes ao quadro da UFPB), uma aluna bolsista e uma voluntária. Todos foram capacitados, no primeiro semestre de 2021, no curso “Plano Museológico” oferecido pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, em seguida, essa equipe construiu o diagnóstico museológico da Pinacoteca.
A Pinacoteca possui um acervo de mais de 500 obras, além de doações que foram feitas entre 2020 e 2021 que ainda não foram catalogadas. O conjunto de pintores, gravadores e escultores, entre eles nomes consagrados, de projeção nacional e internacional, como Ana Letycia Quadros, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daniel Senise, Flávio Shiró, Francisco Brennand, Hermano José, José Rufino, Paulo Bruscky, Rossini Perez, Síron Franco, Tomie Ohtake, dão ao acervo da Pinacoteca da UFPB um panorama da Arte desde o século XX até os dias atuais.
Prosseguindo com o diagnóstico, foram listados como pontos fortes, dentre outros: (1) relevância artística e potencial de pesquisa do acervo artístico e documental, de caráter público; (2) abrangência e qualidade do acervo; (3) diversidade natural e cultural da área na qual o museu está inserido; (4) proximidade com escolas da região; (5) potencial dos públicos interno e externos à universidade; (6) possibilidade de parcerias com os cursos de graduação e pós-graduação para a realização de atividades educativas, de mediação e de pesquisa.
Como pontos fracos: (1) inexistência de dotação orçamentária na Lei Orçamentária Anual (LOA) / Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) ; (2) falta de profissionais técnicos na área de museus: museólogos, restauradores, historiadores da arte, bibliotecários, educadores, montadores; (3) inexistência da Associação de Amigos da Pinacoteca; (4) falta de espaço físico destinado a sediar a Pinacoteca e seu acervo e reserva técnica permanente. Hoje, encontra-se provisoriamente em duas salas no segundo andar do prédio da Reitoria, enquanto as obras de reforma da biblioteca central estão em andamento. Sem entrar no mérito do fato, da pinacoteca desde sua criação estar provisoriamente na biblioteca central; (5) precariedade do sistema de segurança interno, externo, do acervo e dos usuários; (6) ausência de um plano de conservação preventiva; (7) ausência de um projeto urbanístico de sinalização no campus universitário que facilite e indique o acesso e localização da Pinacoteca, bem como adequação do prédio para usuários com deficiência visual e auditiva.
A relação entre o público e a Pinacoteca: a participação na elaboração do plano museológico
As contribuições oriundas do questionário eletrônico, aproximou a equipe de um resultado relacionado ao conhecimento que o público respondente tem da Pinacoteca, que no seu entender demonstra a importância e urgência da construção do plano museológico. O grupo de 99 pesquisados apresentou o seguinte perfil:
a. Faixa etária: do universo pesquisado, 63,6% têm entre 19 até 30 anos; e 18,2% de 31 até 50 anos;
b. A que centro de ensino pertence: 74% do CCTA, 8,3% CCHLA. Demonstra que do universo pesquisado, a maior participação foi constituída pelo público interno da UFPB e oriunda do CCTA, o que aponta para uma falha na comunicação social da Pinacoteca com o mundo para além dos muros da UFPB;
c. Contato com a Pinacoteca, em uma escala de 0 a 10: 73,4% dos entrevistados têm interação mínima ou nenhuma com a Pinacoteca, e apenas 26,6% interagem de fato com a Pinacoteca;
d. Importância de um museu de arte na formação: as respostas se mostraram contraditórias, posto que 92,9% dos entrevistados afirmam que um museu de arte universitário pode influenciar na formação de sua área de conhecimento, no entanto, como visto anteriormente 73,4% deles têm interação mínima ou nenhuma com a Pinacoteca;
e. Conhece as redes sociais da Pinacoteca: 64,6% dos entrevistados não conhecem as redes sociais da Pinacoteca.
Os dados da pesquisa revelam o conhecimento da comunidade sobre o potencial da Pinacoteca. O que pode ser comprovado pelo compilado das respostas abertas para a pergunta: “Você acha que um museu de arte universitário pode influenciar na formação da sua área de conhecimento?”. Dos 99 entrevistados, tivemos apenas 06 respostas, conforme listadas abaixo:
“[...] um espaço para desenvolver potencial como artistas e ganhar experiência e oportunidades.” (E1)
“[...] como espaço de soma de conhecimentos e referências, que abre portas para novas visões e debates de diversas áreas.” (E2)
“[...] que traz a oportunidade de estar perto da vivência museal e curatorial.” (E3)
“[...] além da importância dos registros históricos de artistas e culturas mundo afora, um museu universitário pode promover eventos em que os(as) próprios(as) discentes irão trabalhar, agregando aprendizado de produção cultural à sua formação, o que também é essencial para artistas, comunicadores, jornalistas, publicitários etc. Mas sobretudo no contexto universitário é de total importância para o contexto sociocultural.” (E4)
“[...] como equipamento cultural e artístico que contribui para preservar a memória de uma comunidade, o pensamento de um povo.” (E5)
“[...] trazendo mais conhecimento, criatividade, abrindo possibilidades e horizontes, contribuindo para a formação humanística. A Pinacoteca UFPB situa a universidade no patamar de guardiã, divulgadora e impulsionadora da cultura, com reflexos na construção da identidade local, regional e nacional. Um museu pode ser um agente de desenvolvimento social.” (E6)
Todavia os depoimentos demonstram uma postura contraditória dos pesquisados, posto que, 92,9% dos entrevistados afirmam que um museu de arte universitário pode influenciar na formação de sua área de conhecimento, no entanto, como visto 65% deles têm interação mínima ou nenhuma com a Pinacoteca. O que corrobora com a já demonstrada falha na sua comunicação social.
É bem verdade que a ausência de uma política cultural, associada ao fato de a própria UFPB ter a necessidade de reestruturar constantemente a distribuição de suas receitas, leva, tanto a Pinacoteca como os demais espaços de visitação e divulgação cultural da UFPB, a raramente terem recursos garantidos. O que se observa neste trabalho é que, ao longo de 35 anos de existência, a Pinacoteca funcionou sempre de forma precária, contanto com a abnegação daqueles que compuseram e compõem o quadro de seus colaboradores.
Se faz importante mencionar o esforço de catalogação do acervo por meio de projetos de extensão realizados desde 2017, cujo resultado se encontra em uma publicação recente (BECHARA FILHO; RODRIGUES 2021), como uma forma de comunicação com o mundo exterior. Essa publicação é o primeiro catálogo da Pinacoteca e o único de arte da Paraíba que reúne todas as obras incluídas em sua coleção, cujo núcleo original foi constituído em 1987 (quando esse museu foi inaugurado provisoriamente na biblioteca central). Estão também registradas no catálogo, as doações de Hermano José e Rossini Perez, que aguardam a construção da sede definitiva da Pinacoteca para incorporação ao seu acervo geral.
O plano museológico da Pinacoteca da UFPB
A construção do Plano Museológico da Pinacoteca da UFPB é uma ação necessária tanto no âmbito cultural quanto patrimonial, ao reverberar no fortalecimento e consolidação das políticas de gestão de um museu universitário. Promoveu uma interação dialógica entre docentes, técnicos, discentes, especialistas e participantes da comunidade, por meio da troca de conhecimentos e do contato com as questões complexas contemporâneas presentes no contexto social.
Por se tratar de um museu universitário, a Pinacoteca da UFPB funciona também como laboratório, ateliê de pesquisa sobre curadoria, mediação, museografia e documentação museológica. Nesse sentido, seu plano museológico foi balizado num diagnóstico situacional acurado e o seu planejamento a curto, médio e longo prazo buscou promover a utilização da instituição pela sociedade, num processo ativo de apropriação e valorização de sua herança cultural.
Como resultados esperados, buscava-se: (1) o Plano Museológico da Pinacoteca UFPB elaborado; (2) a equipe da pinacoteca, bolsistas e voluntários capacitados no curso Plano Museológico Planejamento estratégico para museus do IBRAM; (3) a Pinacoteca da UFPB percebida enquanto uma iniciativa de educação patrimonial, um agente de transformação social que contribui para o despertar de uma relação de identidade com uma estética e com valores regionais por meio das obras dos artistas locais, bem como, da cidadania, e do desenvolvimento sustentável do território; (4) promover o conhecimento e a reflexão sobre o acervo da Pinacoteca UFPB, numa ótica que garanta a preservação, pesquisa, ensino, extensão, comunicação e dinamização do patrimônio museológico, proporcionando ao público o acesso e a visitação.
Obteve-se a conclusão nos itens 1 e 2, (1) Plano Museológico elaborado e (2) a equipe da Pinacoteca, bolsistas e voluntários capacitados, o que permitiu a construção de seu planejamento conceitual, ou seja, sua missão; visão; valores e objetivos estratégicos, citado a seguir.
Sua missão:
· A Pinacoteca da UFPB, enquanto um Museu de Arte Universitário, tem como missão garantir a preservação e difusão do seu acervo, assim como sua valorização, pesquisa, ampliação e reconhecimento como patrimônio artístico brasileiro de relevância regional, nacional e internacional para o campo das artes.
Sua visão:
· Ser a referência de Museu de Arte na Paraíba em interconexão nacional e internacional com ênfase nas Artes Visuais, pesquisa, curadoria e como laboratório de formação artística, crítica, teórica e prática da comunidade em geral e acadêmica com ênfase no curso de Artes Visuais da UFPB.
Valores:
· Acolhimento e respeito à diversidade e a acessibilidade universal;
· Ética no trabalho com os acervos, com os públicos e com sua equipe;
· Respeito à diversidade, integridade e dignidade da pessoa humana;
· Ética, transparência e compromisso com a sociedade e com o bem público;
· Incentivo à produção, preservação e disseminação da arte e da cultura;
· Promoção da cultura como um eixo do desenvolvimento sustentável.
Seus objetivos estratégicos:
· Implantar o Plano Museológico da Pinacoteca em consonância com o seu Regimento Interno, sua política de acervos, destacando a missão, visão e objetivos da instituição no desenvolvimento de suas atividades;
· Estabelecer a articulação do Plano Museológico da Pinacoteca com a política da UFPB e com a Política Nacional de Museus, apontando diretrizes para a execução dos seus diferentes programas e projetos;
· Apresentar a Pinacoteca como espaço aberto e propício à aplicação de saberes de diferentes campos do conhecimento em articulação com as artes, objetivando contribuir para a compreensão da importância do processo museológico na definição das políticas, dos programas, dos projetos e do perfil institucional;
· Consolidar uma visão dinâmica da Pinacoteca que preserva, documenta, pesquisa e divulga por meio da pesquisa científica e da formação de acervos, e se integra à comunidade universitária em particular e, com ela, à comunidade em geral.
Também foram elaborados os programas institucionais: de gestão de pessoas; de acervos; de exposições; de pesquisa; de comunicação; o socioambiental; de financiamento e fomento; de segurança; arquitetônico urbanístico; de acessibilidade; e o educativo cultural.
Entretanto o item 3 (a Pinacoteca da UFPB percebida enquanto uma iniciativa de educação patrimonial...) e o item 4 (promover o conhecimento e a reflexão sobre o acervo da Pinacoteca UFPB, numa ótica que garanta a preservação, pesquisa, ensino, extensão, comunicação...) necessitam de tempo e vontade política da UFPB para ser alcançados.
Os autores do Plano Museológico da Pinacoteca da UFPB defendem que os contextos, territórios e vocações culturais e criativas devem ser reconhecidos e potencializados pelos gestores, e a produção cultural, local e regional, deve estar plenamente inserida nas dinâmicas econômicas contemporâneas, com vistas à geração de trabalho, renda e oportunidades de inclusão social. Considerando inclusive o papel do museu universitário na formação e capacitação de profissionais para atuar nos museus do estado, de forma a se pensar em um mercado de trabalho voltado para gestão de museus e da criação de novos museus, a partir de profissionais locais.
Conclusão
A visibilidade não apenas da Pinacoteca como também da UFPB decorrerá da implementação de iniciativas apontadas no Plano Museológico, como a fruição das práticas culturais e linguagens artísticas, incluindo ações de promoção e incentivo à organização de programas de itinerância, circulação e difusão cultural, com acessibilidade física e comunicacional, pelo estímulo à capacitação e ao empreendedorismo nas atividades econômicas de base cultural, e pelo estudo e fomento à economia criativa.
Seu importante papel é o despertar do público local para valorização da sua arte e seus artistas. Nesse sentido, a Pinacoteca quando abre seus espaços para a exposição de um artista, está certificando a qualidade de sua produção, a importância da representação de seu trabalho para o fortalecimento e incentivo do setor cultural e artístico paraibano.
Além disso, a Pinacoteca, juntamente com o CCTA, está em negociação com a PROEX para transferência de parte do acervo do Núcleo de Arte Contemporânea – NAC para integrar seu acervo. Caso o parecer seja favorável, as obras serão catalogadas, de acordo com as regras museológicas e incorporadas ao acervo da Pinacoteca, identificada como coleção NAC.
Mesmo com todas as restrições orçamentárias e tecnológicas, a Pinacoteca conta com quatro canais digitais (comandados por alunos bolsistas e voluntários) para a difusão e comunicação de seu acervo, que disponibilizam informações e propagam as atividades desenvolvidas: encontros, depoimentos e exposições online. Dentre seus canais estão o Youtube, o Instagram, o Facebook e o site oficial hospedado no Portal da UFPB, apresentando o histórico de informativos acadêmicos e expositivos da Pinacoteca.[5]
A execução desse Plano Museológico, contribuirá para viabilizar as condições para que a criação, circulação e preservação cultural se realizem e se constituam em práticas profissionais inseridas na lógica produtiva do desenvolvimento social e econômico sustentável. Contudo se faz necessário ressaltar que dos onze espaços museais da UFPB, apenas dois realizaram a elaboração de seus planos museológicos, o Museu Casa de Cultura Hermano José e a Pinacoteca, o que demonstra não apenas a necessidade legal de cumprir a legislação pertinente, mas a necessidade da elaboração e implantação efetiva de uma política cultural para a UFPB.
Os resultados alcançados: (1) o Plano Museológico da Pinacoteca UFPB elaborado; (2) a equipe da pinacoteca, bolsistas e voluntários capacitados no curso Plano Museológico Planejamento estratégico para museus do IBRAM; (3) Plano Museológico aprovado pelo Conselho de Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA). Resultados ainda em andamento: (4) a Pinacoteca da UFPB percebida enquanto agente de transformação social que contribui para o despertar de uma relação de identidade com valores regionais por meio das obras dos artistas locais, bem como a busca pelo fortalecimento da cidadania, e do desenvolvimento sustentável do território; (5) promover o conhecimento e a reflexão sobre o acervo da Pinacoteca UFPB, numa ótica que garanta a preservação, pesquisa, ensino, extensão, comunicação e dinamização do patrimônio museológico, proporcionando ao público o acesso e a visitação.
Nesse sentido, para além de suas funções clássicas, a Pinacoteca da UFPB é um equipamento que integra fluxos econômicos de bens e serviços, e tem o potencial de contribuir na promoção da diversidade, da criatividade e colaborar com o desenvolvimento sustentável da região. Contribuindo com a UFPB no alcance dos ODS, junto ao PNUD.
Referências
ARGENTA, Denise. Museus e economia criativa: apontamentos para perspectivas futuras. Cadernos do CEOM, Santa Catarina, v. 26, n. 39, p. 149-167, dez./2013. Disponível em: http://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/issue/view/117 Acesso em: 16 maio 2020.
BECHARA FILHO, Gabriel; RODRIGUES, Marisa Pires. Catálogo geral da pinacoteca UFPB. João Pessoa: Ed.UFPB, 2021.
BLACKROCK INC. Sustentabilidade como o novo padrão de investimento da BlackRock: carta aos clientes. Site da BlackRock. 2019. Disponível em: https://www.blackrock.com/br/blackrock-client-letter . Acesso em 22 jun. 2020.
BRASIL. Lei n. 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o estatuto de museus e dá outras providências. Presidência da República, [2009]. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=11904&ano=2009&ato=c81gXVE90dVpWTed2. Acesso em: 20 maio 2019.
FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de crise. São Paulo: Paz e Terra, 1984.
GRAMPA, Victor Henrique. Incêndio no Museu Nacional: considerações sobre um infortúnio não fortuito. Site da OAB-SP. Publicado em 03 set. 2018. Disponível em: https://www.oabsp.org.br/noticias/2018/09/artigo-incendio-no-museu-nacional-consideracoes-sobre-um-infortunio-nao-fortuito.12562. Acesso em: 20 jun. 2019.
HAWKES, John. The fourth pillar of sustainability: culture’s essential role in public planning. Melbourne: Common Ground Publishing, 2001.
ICOM UMAC. Worldwide database of university museums and collections: Compiled by the ICOM committee UMAC (University Museums and Collections). 2022. Disponível em: https://university-museums-and-collections.net/. Acesso em: 20 nov. 2022.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS (IBRAM). Subsídios para a elaboração de planos museológicos. Brasília: IBRAM, 2016. E-book. Disponível em: https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2017/06/Subs%C3%ADdios-para-a-elabora%C3%A7%C3%A3o-de-planos-museol%C3%B3gicos.pdf . Acesso em: 08 mar. 2020.
OTAOLEA.
Ibone B. La cultura como motor económico de transformación social de Bilbao. Site
da OBS – Agenda21culture. Postado em 2014. Disponível em:
https://obs.
agenda21culture.net/es/good-practices/la-cultura-como-motor-economico-de-transformacion-social-de-bilbao
. Acesso em: 22 jun. 2020.
REIS, F. A. C. Museus e mercados de arte como agentes econômicos: um diálogo entre cultura e economia. Economia de Museus, Brasília, v. 1, n. 1, p. 115-139, dez./2010.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo : Companhia das Letras, 2010.
UNITED NATIONS (ONU). Transforming our world: the 2030 agenda for sustainable development. New York: ONU, 2015. E-book. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/21252030%20Agenda%20for%20Sustainable%20Development%20web.pdf . Acesso em: 22 abr. 2020.
UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). Culture for the 2030 Agenda: sustainable development goals. Paris: UNESCO, 2018. E-book. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000264687. Acesso em: 15 mar. 2020.
UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). The Hangzhou declaration placing culture at the heart of sustainable development policies: adopted in Hangzhou, people’s Republic of China, on 17 may 2013. Paris: UNESCO, 2013. Disponível em: https://www.icomos.org/images/DOCUMENTS/Working_Groups/SDG/UNESCO_2013_Hangzhou_Declaration-_Culture_and_Sustainable_Development.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO). Conférence mondiale sur les politiques culturelles: rapport final. Paris: UNESCO, 1982. E-book. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000052505_spa . Acesso em: 15 mar. 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB. Pró-Reitoria de Extensão. Edital PROEX N° 07/2021 - Programa UFPB no seu município. 2021. Disponível em: https://www.proex.ufpb.br/proex/contents/noticias/proex-principal/edital-proex-ndeg-07-2021-programa-ufpb-no-seu-municipio. Acesso em: 07 nov. 2022.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB. Conselho Universitário. Resolução n. 17, de 05 de julho de 2018. [2018a]. Estabelece a Política Ambiental da Universidade Federal da Paraíba. Disponível em: https://sig-arq.ufpb.br/arquivos/2018052046db8b895282d30894eb80a5/Runi17_2018.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB. Conselho Universitário. Resolução n. 25, de 16 de novembro de 2018. Criação e regulamentação do Comitê de Arte e Cultura. [2018b]. Disponível em: https://sig-arq.ufpb.br/arquivos/2018100213c1df1122224238bfcc64bc7/Runi25_2018.pdf . Acesso em: 18 mar. 2020.
WALEWSKI, A. Importância museológica na educação ambiental em escolas: estudo de caso. Estudos de Biologia, Curitiba, v. 29, n. 68/69, p. 347-251, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.7213/reb.v29i68/69.22791 Acesso em: 15 set. 2022.
YÚDICE, G. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
Recebido em: 10/04/2022.
Aceito em: 07/11/2022.
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.62787.p35-54
* Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB)/Brasil. E-mail: gracianocabral@yahoo.com.br.
** Museóloga da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)/Brasil. Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)/Brasil. E-mail: rodriguesmp@hotmail.com.
*** Professor do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)/Brasil. Doutor em Geociências pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/Brasil. E-mail: david@cca.ufpb.br.
[1] Alexandre Santos Arantes de Souza – Produtor Cultural UFPB; Andrey Alysson Chagas Câmara – Arquiteto UFPB; Glória Alejandra Guarnizo Luna – Museóloga UFSC; Graciele Karine Siqueira – Museóloga UFC; Letícia Julião – Docente UFMG; Luciana Ferreira da Costa – Docente UFPB; Luciana Palmeira – Museóloga IBRAM; Newton Fabiano Soares – Museólogo IBRAM; Rafael Muniz de Moura – Museólogo Museu Victor Meirelles; Saulo Moreno Rocha – Museólogo UFC; Sicilia Calado Freitas – Docente UFPB.
[2] Cf.: https://www.segib.org/pt-br/?document=declaracion-de-la-xx-conferencia-de-ministras-y-ministros-de-cultura-de-iberoamerica.
[3] Código de Ética Profissional do Museólogo, criado pelo Conselho Federal de Museologia (COFEM), publicado no Rio de Janeiro, e aprovado em Sessão Plenária de 23 de dezembro de 1992 do COFEM.
[4] Cf.: http://www.ccta.ufpb.br/pinacoteca/contents/menu/institucional/exposicoes.
[5] Cf.: http://www.ccta.ufpb.br/pinacoteca.
É permitido compartilhar (copiar e redistribuir em qualquer suporte ou formato) e adaptar (remixar, transformar e “criar a partir de”) este material, desde que observados os termos da Licença CC BY-NC 4.0.