DA SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO A BALZAC: diálogo sobre trajetória e interdisciplinaridade com Lília Junqueira

 

FROM THE SOCIOLOGY OF COMMUNICATION TO BALZAC: dialogue on trajectory and interdisciplinarity with Lília Junqueira

 

Lília Maria Junqueira *

Mohana Ellen Brito Morais Cavalcante **

 

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n30.66195.p226-248 

 

 

Lília Maria Junqueira, brasileira natural de Brasília, é professora universitária aposentada, graduada em sociologia, com passagem em duas universidades federais do Nordeste: UFPE e UFPB. É pós-graduada e mestre em sociologia pela Universidade de Brasília (1991). Doutora em sociologia política pela Universidade de Paris VII – Université Denis Diderot (1995), com pós-doutorado em Sociologia na École Normale Supérieure de Lyon, França (2010/2011). Seus estudos dão ênfase às interfaces sociologia e cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: teorias sociológicas disposicionalistas, cultura, comunicação, parassociologia e representações sociais. Autora dos livros: Desigualdades sociais e telenovelas: relações ocultas entre ficção e reconhecimento (2009); Balzac: escritor parapsíquico (2020); Balzac para sociólogos (2017) entre outros. Também organizou o livro Cultura e classes sociais na perspectiva disposicionalista (2010), coorganizou o livro: Dossiê Bernard Lahire (2012).  Recentemente, aposentou-se do magistério superior e atualmente atua como professora de língua francesa. A entrevista foi realizada a partir de um questionário semiestruturado e aconteceu de forma remota, via plataforma de vídeo conferência Google Meet, no dia 24 de fevereiro de 2023.

 

Mohana Morais — A nossa entrevista tem como pauta principal a sua trajetória. Vamos conversar um pouco sobre a sua passagem pela UFPB, mas também a sua passagem pelas ciências sociais, sociologia, para que a gente conheça a trajetória da professora Lília Junqueira. Então, gostaria de começar conversando sobre como foi a Lília aluna.

Lília Junqueira — Eu gostaria, em primeiro lugar de agradecer muito a lembrança do meu nome para fazer esta entrevista para compor a Revista Caos. Agradecer a Mohana, Adailton, e agradecer a indicação do professor Giovanni, com quem fiz algumas parcerias durante a minha estada na UFPB.

A “Lília aluna” entrou no Curso de Ciências Sociais na UnB em 1984, e ali foi uma descoberta, fiquei apaixonada pela teoria sociológica, em primeiro lugar, a clássica. Quando eu ouvia falar sobre as ideias de Marx, eu achava incrível que alguém tenha percebido isso na realidade; como certas coisas que a gente não ouve falar — a sociedade está aí mostrando a todo tempo a questão da desigualdade e ninguém fala. Então, assim, é como se tivesse se descortinado, de fato, um mundo totalmente novo quando eu entrei em contato com as ideias da sociologia.

Os outros clássicos também trouxeram a oportunidade de aprofundar mais ainda esse descortínio que a sociologia faz com a vida social. Eu fui muito marcada por um pensamento que estava em voga na época, no âmbito das ciências sociais no Brasil, que era o marxismo contemporâneo, baseado em reflexões sobre, principalmente, a questão da cultura. A sociologia clássica ficou muito focada na economia e na política, e mesmo no início da sociologia contemporânea, a gente via que os teóricos estavam muito focados na economia e política. Na UnB tinha um grupo de estudos que trabalhava a questão da cultura, mas não só a cultura como seção da vida social ou como dimensão da vida social; mais do que isso, como pensamento da sociedade pela ótica cultural. Era o entendimento da sociedade toda, de todas as manifestações e dimensões sociais, analisadas pela ótica da cultura. Por exemplo, eu fui aluna da professora Bárbara Freitag — esposa do falecido Sérgio Paulo Rouanet, o criador dessa lei da cultura, que desperta tanta polêmica até hoje, mas que é o que tem funcionado para classe artística conseguir algum recurso governamental.

Bárbara tinha toda uma produção na área da Escola de Frankfurt, ela foi aluna de grandes expoentes dessa escola: conheceu o Habermas e o Horkheimer. Ela foi aluna, me parece, do Habermas. Então ela tinha isso muito forte, e trouxe para a UnB. Nós, alunos, de fato, tomamos um banho de sociologia que era, realmente, energético. A aula que ela dava e o clima que ficava na sala! Eram ideias muito poderosas, a gente sentia isso, e isso me marcou profundamente. Também fui aluna do Venício de Lima, professor e pesquisador de comunicação, que trabalhava a política cifrada nas narrativas ficcionais da TV, pela ótica dos estudos culturais.

A Lília estudante trabalhava e era professora do ensino fundamental. Então eu fazia as duas coisas: eu dava aula num período do dia, e no outro período, ia para UnB fazer as aulas.

O meu TCC, defendido em 1989, foi uma análise de propaganda publicitária. Estudei algumas propagandas publicitárias da televisão, fazendo análise semiológica transformada em dado sociológico. O objetivo era ver como a mensagem da televisão é unidirecional, assim, no sentido que ela é gerada por um emissor para atingir o público em geral. Na época, eram 90% do público, pois a televisão era a mídia principal da época. Dos anos 1980 até o final dos anos 1990, a televisão era o veículo de comunicação mais importante, então, ela tinha um peso social. O que eu queria ver no meu TCC? Queria fazer essa análise de como acontecia a influência da mídia, todo o esforço, o empresariado, tudo o que tinha por trás daquela propaganda publicitária, como é que aquilo se relacionava com a sociedade, como é que as pessoas percebiam aquelas propagandas e o que aquilo fazia, vamos dizer, no imaginário, nas representações, sempre partindo do pressuposto que as representações interferem na ação social e no modo como a sociedade vai sendo construída, vai sendo atualizada, vai sendo remodelada do decorrer do tempo. Então, o meu TCC foi sobre propaganda publicitária. Era sobre juventude, peguei campanhas publicitárias muito boas que tinham um viés sociológico, e eu adorava, então peguei e destrinchei aquelas propagandas e fiz uma análise sociológica que ficou muito boa. Até hoje eu considero meu TCC como um dos meus melhores trabalhos, no sentido da satisfação de escrever a primeira análise sociológica.

 

Mohana Morais — A senhora falando, imaginei que em 1984, a discussão, realmente, sobre a teoria marxista, e a discussão cultural estavam à flor da pele no Brasil. Imagino que tenha sido uma experiência bem interessante, pensar as ciências sociais em Brasília dentro desse cenário político. Gostaria de ouvi-la sobre sua escolha pela docência.

Lília Junqueira — Antes de entrar para a UnB, eu fiz um concurso para professora do ensino fundamental, Fundação Educacional do Distrito Federal. Eu passei no concurso e comecei a dar aula nas periferias de Brasília, em Ceilândia, Taguatinga; depois eu fui chegando mais para o plano piloto que é onde eu morava. Enfim, eu acho que em primeiro lugar, a sociologia foi uma questão pessoal, depois foi uma questão mais prática da minha vida, porque, desde pequena, eu fazia muita crítica à questão das crenças, da religião, e quando foi pra fazer o vestibular — na época era vestibular —, eu não sabia muito bem qual curso eu gostaria de fazer; eu gostava muito de arte, mas eu não queria fazer educação artística porque eu achava que — enfim, todo mundo dizia e no fundo era um pouco verdade mesmo — a arte não ia me trazer um retorno financeiro rápido, e eu precisava de um retorno financeiro rápido. Enfim, eu era muito crítica desde pequena, mas estava em dúvida. Então pedi orientação para minha irmã mais velha — Mary, é o nome dela —, ela falou assim: “você é uma pessoa tão crítica das coisas da sociedade, é contrária às crenças, à religião, faz uma defesa da ciência sempre, então, por que você não faz sociologia? Eu acho que você ia gostar”. Ela falou, eu fiz, e, sabe, acabei gostando. Realmente, fiquei apaixonada. Eu já era professora, então comecei a querer dar aula de sociologia. Foi por isso que eu fiz mestrado. Assim que eu terminei a graduação, já fiz a seleção do mestrado e passei. Em 1989, saí da graduação e já entrei automaticamente no mestrado. Nessa época, estava acontecendo algo midiático importante em 89, a propaganda eleitoral da primeira eleição direta no Brasil, disputada por Collor e Lula. Como eu era, no mestrado, a única pessoa que vinha trabalhando com mídia, a professora que me orientou, inicialmente, aconselhou-me a fazer a dissertação sobre uma análise da propaganda eleitoral. Eu fiz a minha dissertação de mestrado sobre isso. A análise da propaganda eleitoral na TV da primeira eleição direta no Brasil. Ficou um trabalho interessante também, apesar de que me faltava um pouco de conhecimento na área da política, pois eu estava muito na comunicação, na cultura, na crítica cultural, e eu não tinha muito bem a noção da questão política. Então, o que ficou faltando para mim no mestrado, eu acho, e nessa dissertação, foi mais conhecimento na área da política, entender o que significava aquele momento mais profundamente, que, na verdade, eu não entendia.

Foi aí que eu tive vontade de estudar política, e eu acabei sendo aceita numa seleção para doutorado. Eu pedi uma bolsa ao CNPq para fazer doutorado no exterior. Eu já vinha estudando francês há muito tempo, aí eu pedi ao CNPq e ganhei, porque eu já tinha contato com a universidade na França, por meio da minha orientadora do mestrado, a Maria Luiza Belloni. Fui fazer, então, o doutorado na França, em Paris, sobre sociologia política. Mas era uma sociologia política moderna, que trabalhava com a mídia; não era aquela sociologia política que eu tinha visto na graduação, limitada a eleições e partidarismo no sentido clássico. Eles tinham uma abertura maior para ver coisas mais avançadas. Entrava tudo que eu vinha estudando: a teoria das representações, a questão da semiologia, então eu acrescentei a esse conhecimento que eu já tinha outro conhecimento mais na área da política propriamente dita, no doutorado.

Foi muito interessante, foi na Université Paris VII, Denis Diderot. A minha orientadora era do grupo de sociologia política, cujo nome é Sônia Dayan-Herzbrun. Ela me acompanhou durante os quatro anos do doutorado pleno. Eu fiquei 4 anos lá e produzi a tese a partir de uma análise de telenovela, mas pegando a questão da desigualdade social. O nome da tese foi O poder do telespectador: uma análise de recepção das novelas. Analisava novelas sendo exibidas naquele momento, e fazia grupos focais em escolas e comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo, ou entrevistas com famílias para gravar a interpretação que as pessoas faziam da novela. A ideia era saber como as pessoas recebiam, como elas interagiam com aquela mensagem, e a partir dali tentar tirar uma compreensão, uma reflexão, alguma conclusão a respeito da desigualdade social, relacionando com a política nacional. A sociologia política era importante como base teórica, porque a ótica sociológica é ver como a mídia e suas interrelações interferem na sociedade de forma mais perene. A política eleitoral pura, de um lado, e a mídia estritamente comunicacional de outro,  nunca me interessaram. Tudo só fazia sentido dentro do escopo sociológico. Foi então que comecei a perceber a importância do Pierre Bourdieu para a sociologia da cultura, e investi bastante nos estudos da teoria disposicionalista.

O doutorado começou em 1991 e terminou em 1995. Com o doutorado, eu entrei na carreira de professora, conforme você me perguntou. Entrei na Universidade Federal de Pernambuco em 1996. Terminei o doutorado em 95, em 96 eu entrei como professora do Departamento de Ciências Sociais. Na pós-graduação, o departamento necessitava de professor de metodologia. Como eu tinha feito a tese com essa parte de metodologia bem desenvolvida, fui dar aula de metodologia no início. Então foi assim que eu comecei. Deixei de dar aulas na escola primária e ensino médio.

Já havia me afastado 4 anos para fazer o doutorado na França. Quando voltei, já não foi para o ensino fundamental, voltei com bolsa para ficar seis meses em Pernambuco. Nesse período, fiz o concurso para professora na UFPE e passei. Eu preciso dizer que foi um desafio gigantesco dar aula de sociologia; olha a responsabilidade, no doutorado, no mestrado. Para mim foi... Olha, levei um tempo para me encaixar nessa profissão porque não foi fácil. Mas, ao mesmo tempo, foi extremamente estimulante, interessante. O que achei mais difícil foi o modo de funcionamento da universidade, a burocracia, nisso tive dificuldade. Quando eu estava no ensino médio, a gente tinha a burocracia da Fundação Educacional, só isso. Então, rapidamente eu dominei aquilo e não teve problema, mas quando cheguei à universidade federal, você tem a sobreposição de vários regramentos, universitário, acadêmico, da pós-graduação, federal, das instituições de fomento à pesquisa. E o profissional tem que lidar com todas elas. A primeira é a burocracia departamental, há todo um regramento a ser seguido; depois a burocracia das instituições de pesquisa, tem que atender séries de exigências; depois a pós-graduação. Começa, então, a ter um cruzamento de burocracias, e elas mudam no decorrer do tempo. Não é fácil você atender, mas, com o tempo, a gente consegue. O mais interessante é o desafio de você lidar com pessoas, de trocar ideias com pessoas que estão estudando a mesma coisa que você, a reflexão vai num nível mais alto. O que me estimulava mais, o que eu mais gostava era de publicar, e do debate, tanto nos congressos como na sala de aula com os alunos, como nos grupos de pesquisa que eu acabei montando e, realmente, ali você tinha um esforço conjunto para reflexão, compreensão, e transformava aquilo em publicação. Foi assim que a minha experiência de docência começou, e foi assim até o final.

 

Mohana Morais — A senhora conta com uma formação que passou por várias vivências, desde a experiência da educação fundamental, passa por algumas instituições como aluna e professora, até chegar à UFPB. O que essas experiências representaram para a construção do seu campo profissional?

Lília Junqueira — A UFPB é onde eu acabei chegando com toda certeza. Eu acho que a minha trajetória — uma trajetória que tem experiências diferentes e em diferentes países, realmente, em diferentes cidades com diferentes grupos de trabalho, e a própria natureza das experiências — foi bem diversificada. Eu não descartei, não abandonei, não deixei de lado nada do que eu vivi, eu fui acumulando. Fui tentando ampliar o meu escopo de compreensão e de ação, e cada ato desse que eu fazia, cada passo que eu dava: “Olha, agora eu vou para a França”; “Olha, agora eu vou para Pernambuco ser professora”; “Olha, agora eu vou para UFPB”. Eu fui tentando expandir e aumentar, e eu digo para você que muitas vezes eu estava no auge de uma grande atividade de pesquisa, mas eu ainda utilizava alguma coisa que eu aprendi lá no ensino fundamental. Então sempre utilizei tudo que eu vivi. Eu acho que isso é muito importante, porque como a gente tem hierarquias de status e de poder dentro da nossa profissão, muita gente quando alcança um degrau, quer apagar o degrau anterior. Não acho que seja por aí o crescimento do pesquisador.

Eu entrei como professora na UFPE, e lá fiquei até 2004. Nesse período, eu não produzi muita coisa, em termos de publicação, produção intelectual. Eu fiquei mais dando aula, pois logo que eu entrei, engravidei. Quando eu fiz o concurso, já estava grávida da minha única filha. Então, até 2004, dei prioridade a ela, por isso não fiz muita coisa até 2004. De 2004/2005 até 2009, a minha produção intelectual aumentou bastante. Conseguia ir aos congressos nacionais e internacionais, a publicação de artigos foi bem sólida, orientações de monografias, de TCC, de dissertações e teses. Hoje eu tenho orgulho de ter orientado 40 trabalhos, a maioria deles de teses de doutorado. Em 2005, criei um núcleo de pesquisa — Sociedade Cultura e Comunicação (SCC)— que integrava, na época, muitos alunos do jornalismo. A grande maioria dos meus alunos era advinda da comunicação, do jornalismo, porque na pós-graduação em comunicação da UFPE ainda não tinha o doutorado, então o pessoal da comunicação terminava o mestrado e vinha fazer doutorado comigo, na sociologia. Foram eles que me ajudaram na montagem desse grupo de pesquisa.  Alguns dos participantes, hoje, já são professores há bastante tempo, por exemplo, a Raldyanne Pereira, que é professora de comunicação na UFPE, a Sheila Borges, jornalista, na época eu orientei a tese dela, hoje, é professora de comunicação em Caruaru. Teve Márcio Sá, colega do nosso Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFPB. Havia outras pessoas. Com esse grupo começou a vir gente não só de Recife, mas do interior de Pernambuco, da Paraíba, começou-se a ter um diálogo. Foi aí que eu publiquei meu primeiro livro, de autoria individual,  no qual procurei sintetizar as coisas que eu fiz sobre as telenovelas, o título é Desigualdades sociais e telenovelas, foi publicado em 2009. Eu comecei a escrevê-lo em 2007, e foi publicado em 2009 pela Editora Annablume (JUNQUEIRA, 2009).

A nossa produção estava no auge. Nessa ocasião, eu fui a um congresso internacional convidada por Jessé Souza, que aconteceu na Universidade Federal de Juiz de Fora. Havia gente de vários países, e foi lá que eu conheci o Bernard Lahire. Foi interessante, porque alguém deveria fazer a tradução do professor Bernard Lahire, mas essa pessoa não pôde ir, e a única pessoa presente que sabia falar francês era eu, então, eu fiz a tradução da palestra que ele deu. Assim eu o conheci e nós ficamos amigos. Nós temos muitas coisas em comum, nascemos no mesmo ano, estudamos sociologia na mesma época, conhecemos os mesmos professores franceses. Então ficamos amigos. Foi assim que eu o convidei para vir a Pernambuco. Ele pediu que eu traduzisse um artigo dele para a revista da Pós-graduação, e mandou outros artigos para eu traduzir e publicar nas publicações do nosso grupo de pesquisa, a exemplo da coletânea Cultura e classes sociais na perspectiva disposicionalista (JUNQUEIRA, 2010). Organizei essa coletânea com trabalhos e debates ocorridos na visita do Lahire à UFPE. Nela tem um artigo dele por mim traduzido. Além disso, há vários artigos dos meus alunos do grupo SCC. Esse foi o nosso ápice, o máximo da minha profissão intelectual e do meu grupo.

Em 2009, Lahire veio a Recife, onde ficou uns 10 dias, a gente fez várias atividades, trocamos muita coisa e combinamos de eu ir para Lyon, onde ele trabalhava, para fazer o pós-doutorado. Nós nos organizamos, eu pedi bolsa, mas não consegui, fui com os meios próprios. Pedi uma licença e fui fazer o pós-doutorado em disposicionalismo, sociologia disposicionalista, em Lyon, na L'École des Hautes Études em Sciences Sociales. Foi lá, nesse pós-doutorado, que começou meu interesse pelas biografias, comecei a estudar biografia. A influência do Lahire me levou a aprofundar o Bourdieu, aprofundar o disposicionalismo, e pensar mídia no meio disso tudo.

Quando eu voltei desse pós-doutorado, em 2010, por uma série de problemas pessoais e familiares, eu pedi para sair da UFPE. Eu precisava de um lugar mais calmo, morava num lugar muito agitado, Recife estava crescendo muito rápido, houve um boom de crescimento. Eu morava em Boa Viagem que é um lugar central na cidade. A vida ficou muito difícil para a família, então eu resolvi sair da UFPE, e comecei a procurar outro lugar. De preferência uma cidade menor, porque eu vi como era a vida na Federal de Juiz de Fora, vi como era em Lyon, onde você consegue fazer um trabalho bem-feito se você estiver numa universidade não tão grande. Estava procurando um lugar assim, não queria mais ficar em Pernambuco. Acontece que, dando uma aula em Recife, eu fiz um comentário sobre isso. Disse que queria ir, por exemplo, para Paraíba, pois já conhecia João Pessoa, que era uma cidade que eu adorava. Eu não sei por que motivo comentei isso. Uma aluna de graduação ouviu o comentário, e no dia seguinte me disse: “Olha, professora, você quer ir para João Pessoa, mesmo? Porque o meu tio é professor em João Pessoa e quer vir para Recife porque a esposa dele trabalha aqui.” Eu falei: “Eu quero, mas como a gente faz isso?” Eu achava que não tinha como fazer, mas tinha. O professor (a) pode pedir uma permuta funcional como funcionário público. Se tiver uma pessoa que quer vir para a sua vaga e você quer ir para a vaga dessa pessoa, é possível fazer a troca. Eu achava que não era possível, já estava até meio deprimida. Eu o tio dessa aluna, o professor Artur Perrusi, e eu conseguimos, então, fazer a permuta funcional. Foi assim que eu entrei na UFPB. O processo demorou tanto tempo que eu só me efetivei em 2013, 3 anos após a solicitação.

Na UFPB, no Departamento Ciências Sociais, criei um grupo de pesquisa para continuar fazendo o que fazia em Pernambuco. Esse grupo reuniu muita gente da área de literatura. Se lá em Pernambuco as pessoas que apareceram eram da área de jornalismo, em João Pessoa, as pessoas eram da área de literatura, letras, que estavam trabalhando com ficção, com novela, esse tipo de coisa. Eu fazia parte de grupos nacionais, por exemplo, existe um laboratório de telenovelas em São Paulo, da USP, chamado Obitel — Observatório Ibero-americano da Ficção Televisiva — em que eles têm publicações, fazem acompanhamento bem detalhado da mídia, e eu fazia parte desse grupo e publicava com eles, a exemplo do capítulo que saiu em 2009, no livro organizado pela professora Maria Imaculada Vassalo Lopes, da comunicação, de São Paulo (JUNQUEIRA; TONDATO, 2009). No livro, você encontra um perfil da teledramaturgia brasileira, estudava as mensagens, as novelas do Brasil, da América Latina, do mundo inteiro, e trabalhava com a recepção. Como eu vinha com essa herança, foi fácil estruturar o grupo. Na área das ciências sociais, havia apenas três alunos interessados, mas na área de letras, tinha muita gente que se interessava por esse assunto.

Tudo isso acabou me levando a estudar biografia mais a fundo, e a primeira biografia que eu estudei foi a de um escritor, novelista, romancista francês do século 19, chamado Honoré de Balzac, o criador do romantismo realista moderno. Quando eu comecei a entender a importância do Balzac para França, para a sociedade francesa, eu comecei a perceber na obra dele ideias sociológicas. Nos romances, encontram-se as primeiras ideias sociológicas, porque a sociologia surgiu lá no final do século 18, começo do século 19, e era difícil você fazer uma linguagem científica sobre a sociedade, na época, porque já predominava uma linguagem que era romântica, de novela, sobre a sociedade. No Brasil mesmo, quando a gente vai estudar sociologia brasileira, a primeira obra sociológica considerada é Os sertões de Euclides da Cunha, um romance. Essa obra é considerada a primeira obra sobre sociologia do Brasil. Então, Balzac estava lá naquele tempo quando começa a surgir a sociologia, e a obra dele, por ser realista, ou seja, que traz a realidade social para dentro das novelas, eu via com muita clareza ideias sociológicas ali, e que muitas vezes foram aproveitados pelos primeiros sociólogos. Eu fiquei fascinada por essa temática, e mais ainda estimulada porque eu estava cercada de estudantes pesquisadores na área de letras, então eu fiz um grupo na UFPB e nós começamos a estudar, inicialmente, Balzac. Desse trabalho resultou a biografia do Balzac que eu chamei Balzac para sociólogos (JUNQUEIRA, 2017).

Eu comecei a me interessar pela biografia, vendo como ela pode ser um método muito interessante para sociologia, porque entra a questão das disposições sociais na medida em que você vê a trajetória do indivíduo, da personalidade que você está estudando, e esta trajetória fala muito sobre a sociedade na qual ele vive. Você vai vendo ali as disposições sociais acontecendo, e o que ele produz. O indivíduo sempre é um produto e um produtor da sociedade, então quando você analisa uma vida, é muito interessante você ver isso, como ele é construído pela sociedade e o que ele devolveu. Trabalhei bem profundamente nisso, e esse tempo todo que eu fiquei na UFPB, de 2013 até hoje, foi tentando aprofundar esses assuntos.

Existe até um certo preconceito em você trabalhar com biografia dentro da sociologia, porque a biografia é o método de você estudar uma única pessoa. Há controvérsias, porque nas biografias que estudei, eu nunca estava trabalhando com uma só pessoa; eu estava trabalhando com todo o entorno da pessoa. A pessoa é como se fosse um símbolo de grupos, dentro dos quais ela estava contextualizada. Mas existem biógrafos e biógrafos. A minha biografia nunca foi uma biografia individualista psicológica, ela sempre foi sociológica. Mas ainda existe um preconceito de estudar biografia dentro da sociologia, então isso me deixou um pouco, vamos dizer assim, isolada.

Por causa disso, a minha produção intelectual não foi muito à frente. Esse foi o meu último livro de sociologia: Balzac para sociólogos. Depois eu escrevi uma série de artigos sobre metodologia, mídia e política, voltando naquilo que eu já tinha trabalhado antes. Muita coisa sobre Bourdieu, porque lá nos anos 1980, ele era um autor não muito conhecido no Brasil, onde não tinha nem tradução dos seus livros. Mas eu o estudo desde os anos 1980, e quando chega no final dos anos 1990, nos anos 2000, as editoras nacionais começam a publicar traduções de Bourdieu, e começa a surgir um debate mais forte sobre ele nas universidades. Então eu tenho sido muito chamada para falar sobre Bourdieu.

O livro Bernard Lahire,  foi organizado por mim e pelo professor Ricardo Visser, e publicado pela UFMG em 2012 (JUNQUEIRA; VISSER, 2012). É uma coletânea de artigos do Lahire, inclusive tem uma entrevista que eu faço com ele. Assim, eu tenho sido chamada para falar sobre o Lahire, sobre Bourdieu, para falar sobre biografia. O meu último artigo, publiquei na revista do PPGS da UFPB, trata da biografia como uma metodologia interessante para a sociologia e para pensar o disposicionalismo de Bourdieu e do Lahire (JUNQUEIRA, 2019).

Essa foi a minha participação na UFPB. Tive participação também administrativa, pois ajudei na coordenação, trabalhando em comissões. Quando chegou em 2022, em plena pandemia mundial do vírus Covid-19, eu já tinha concluído meus anos de trabalho, e então, fiz a solicitação para aposentadoria. Em primeiro de novembro de 2022, a portaria de aposentadoria foi publicada no Diário Oficial. Parei, então, com a docência em sociologia.

Acho que o que eu mais gostei de fazer na UFPB foi esse trabalho. É como se eu tivesse chegado ao ponto máximo, não da quantidade de publicação, da quantidade de congressos, e pessoas com quem eu troquei informações, mas da maturidade, vamos dizer assim, a consolidação do conhecimento que eu tinha, dessa trajetória, passando em tantos lugares, estudando tantas coisas, influenciada por tantas pessoas e por tantos teóricos.

Eu acho que quando eu cheguei à Paraíba, eu amadureci, foi o tempo do amadurecimento, porque eu já não escrevia muito, mas aquilo que eu escrevia tinha uma qualidade muito superior a tudo que eu escrevi antes.  Apreciei muito as trocas intelectuais com professores, pesquisadores e alunos do Curso de Ciências Sociais. Por razões de interesse de pesquisa, eu tinha um projeto de pesquisa na área de saúde, em cujos curso lecionei bastante, oferecendo introdução à sociologia. Nesse período, também, foi muito boa a troca entre os alunos e eu.

 

Mohana Morais — A senhora lecionou por muitos anos disciplinas para cursos da área de saúde. Gostaríamos de ouvir sobre essa experiência e o que pensa sobre a sociologia e as ciências sociais conversando com outras ciências, como as exatas e as ciências da saúde.

Lília Junqueira — Excelente pergunta Mohana. Eu vejo assim, eu sempre fui uma entusiasta da interdisciplinaridade, desde o início, porque quando eu pensava sociologia, eu já estava pensando em mídia. Então o meu pensamento social já era interdisciplinar. Ele sempre foi interdisciplinar, nunca foi sociologia pura, nunca foi só a teoria. Nunca foi nenhuma disciplina pura. Mas, para mim, a interdisciplinaridade foi praticada. Porque o que eu via na academia é que havia um purismo. A interdisciplinaridade até é bastante valorizada, mas apenas do ponto de vista teórico e discursivo, como uma coisa que teoricamente seria muito boa. O que eu via nas universidades federais, o tempo todo, foram os campos de conhecimentos, campos de saber se fechando em si e tentando se defender para existir. É isso que eu vi o tempo todo, coisa que Bourdieu nos mostra muito bem com a teoria dos campos sociais. Ele nos diz que tal profissão é um campo social, ali existem atores, agentes, que vão ser formados, socializados, para chegar a atuar naquele campo, e quando ele chega naquele campo, ele já aprendeu tudo que ele precisava saber, e conseguiu entrar ali, não quer mais sair, é a casa dele, é a ciência dele. O que ele começa a fazer? A se defender, evitar as trocas com outras áreas. Elas, se ocorrerem, têm que ser muito pensadas, porque há uma concorrência. Cada área está concorrendo com as demais. Então a sociologia está concorrendo com a comunicação e com a política, do ponto de vista prático: a sociologia não quer que seus alunos vão ter aula na comunicação; a comunicação não queria que os alunos do mestrado viessem todos para mim, para eu ajudá-los a fazer tese de doutorado, porque eles consideram que, assim, estariam perdendo essas teses. Viam-me negativamente. Então, você pensar em ter interdisciplinaridade nesse contexto competitivo entre os campos científicos não é coisa simples, é difícil. Eu acho que a interdisciplinaridade funciona bem como um discurso de “abertismo”, de atualização, de modernização, mas na prática ele não funciona nada bem. No entanto, na minha prática de pesquisa e acadêmica, eu sempre fui interdisciplinar, nunca me deixei fechar nessas divisões. Por isso eu tive uma dificuldade, popis o panorama está configurado dessa forma, e você quer fazer diferente, você quer andar na comunicação, na sociologia, na política, é lógico que você vai ter problemas, e eu tive muitos problemas.

A minha entrada para a área da saúde na Paraíba, deveu-se, também, à grande demanda por disciplinas das ciências sociais pelos cursos da área da saúde. Então, pelo momento acadêmico que a UFPB estava vivendo, o mais importante a fazer era atender essa demanda externa por cursos de introdução à sociologia. Eu tinha algumas pesquisas na área, pois já tinha participado, em parceria com o professor Russell Perry Scott, que é professor da UFPE, da antropologia. Chegando à Paraíba, tinha essa demanda muito forte, coisa que se via nas reuniões do departamento: a necessidade de professores para dar aula nos cursos de fisioterapia, odontologia e terapia ocupacional. Aceitei o desafio. Fiquei uns bons anos ali, trabalhando nesses cursos com alunos da área da saúde. Isso foi me levando a me interessar mais do ponto de vista científico pela pesquisa, e aprofundá-la, até chegar à elaboração de um projeto de pesquisa sobre as organizações sociais na área da saúde. Procurei estudar como era a questão do campo social do trabalho na saúde, utilizando os conceitos de disposicionalismo de Bourdieu. Esse foi meu último projeto, que não cheguei a concluir, pois me aposentei antes, mas a gente já tinha um relatório bem elaborado, feito em parceria com o pessoal da área da saúde.

Foi assim minha inserção da área da saúde, veio de uma demanda muito prática que a UFPB tinha. Então fui ficando ali na área da saúde, que eu gostava, até me aposentar.

 

Mohana Morais — Seu trabalho contribui especialmente para a discussão sobre a sociologia disposicionalista. Qual o lugar que esse estudo ocupa em sua trajetória acadêmica? Ainda há espaços para novas sociologias? Conheceremos outros Durkheims, Webers, Marxs ou até Bourdieuxs e Lahires? O que a senhora diria aos que estão chegando agora?

Lília Junqueira — Posso definir as teorias disposicionalistas como as teorias mais importantes na minha trajetória, tanto em parte do que eu aprendi, do que eu recebi nessa minha vivência intelectual, passando aí por todas essas instituições, como foi em cima e dentro dessas teorias que eu publiquei o grosso da minha contribuição. Então aquilo que eu deixei, elaborei, refleti, produzi, a maior parte foi inspirada nelas. Foi a partir de, foi me referindo a, elaborando e melhorando essas teorias. Elas foram o ponto de chegada mesmo, e quando eu cheguei ao disposicionalismo, como eu falei antes, eu comecei a amadurecer, e daí não saí mais.

Como eu disse, o disposicionalismo de Bourdieu era mais avançado que o marxismo cultural da Escola de Frankfurt ou os estudos culturais.

Embora eu tivesse estudado e tivesse trabalhado com muita gente na área dos estudos culturais, eu vi um problema ali: é um pessoal que tem uma teoria muito elaborada, mas na hora de fazer pesquisa eles vão procurar outras áreas. Cito o exemplo de um congresso do qual participei com Jesús Martín-Barbero na USP. Foi naquele grupo de telenovelas que eu falei. Ele é um dos expoentes da teoria dos estudos culturais, e tratou do problema da cultura na América Latina, deu toda uma abordagem teórica política de amplo espectro, mas quando perguntaram como é que a gente pesquisava isso, ele mandou ver no Bourdieu. Eu fiquei pensando, como assim? Pedi para falar e perguntei: “Vocês dos estudos culturais têm uma visão muito teórica, forte, a respeito das suas análises, mas na hora da prática, o senhor manda procurar Bourdieu, como é que pode ser uma coisa dessa? Eu sei que criou ali um clima, e o Barbero ficou meio sem ter como responder. A minha própria experiência com os culturalistas me deixou essa dúvida: na hora da pesquisa, na hora da prática mesmo, eles não têm um desenvolvimento metodológico que acompanha o avanço deles. Isso me deixava incomodada, como eu sempre fui muito prática, gostava de fazer pesquisa, achava a abordagem deles mais teórica, querendo mais preservar o marxismo e menos a investigação científica isenta. Por isso eu acabei não indo para o lado dos estudos culturais, apesar de que eles tinham reflexões e livros simplesmente maravilhosos, a forma como eles conseguiam ver as desigualdades sociais, as classes sociais naquelas culturas. Era análise teórica de peso, de excelente qualidade. Só que no ponto de vista prático, metodológico, não havia desenvolvimento. Por isso fui para Bourdieu. Passei aqui, passei ali e não fiquei, só fiquei quando conheci o Bourdieu. E quando eu conheci o Lahire, reforçou-se essa escolha.

Lahire traz um desenvolvimento maior para esse disposicionalismo, que é da tradição do Bourdieu. Ali eu fiquei, porque essa teoria satisfaz meus questionamentos de pesquisa. Foi no contexto desta teoria que, como eu falei para você, eu dei, aquela parte mais elaborada da minha contribuição intelectual. Agora, acho que na minha época era muito mais difícil a gente trabalhar com Bourdieu do que vocês hoje. Nos anos 1980, 1990 não tinha nem tradução dos livros do Bourdieu para o português, eu tinha que ler em francês ou tinha que ler nas traduções do espanhol, que não é fácil, porque a linguagem do Bourdieu é complexa, ele escreve com parágrafos enormes, se você pegar A distinção (BOURDIEU, 2011), ele não facilita na didática da exposição; ele não escreve para o leitor, e quer que o leitor acompanhe o raciocínio dele, então, ele não é nada didático, já o Lahire é o oposto, é super didático. Ele crítica o Bourdieu até na forma de escrever, de se manifestar, porque Bourdieu não faz nenhuma questão de facilitar a compreensão. Então são parágrafos gigantescos, para você entender aquilo em outra língua, que não é nem a língua em que ele escreveu e nem a língua que você domina, depois você tem que sintetizar aquilo. Era bastante difícil. Nos anos 1980, era isso que a gente tinha que fazer se quisesse ter acesso à obra de Bourdieu. E outra coisa, os professores não se arriscavam porque não tinham material para indicar para o aluno, e eles tinhas dificuldade de entender também, Bourdieu não era fácil, e ele não era também muito aceito na sociologia no Brasil, pois ela é muito marcada pelo marxismo, sempre foi, e outras coisas fora desse marxismo, não eram bem aceitas. Então Bourdieu não era bem aceito no Brasil. Agora não, agora deu uma virada, todos estão lendo Bourdieu. Até quem era marxista agora é bourdieusiano porque tem tradução, tem interpretações, tem grupos de trabalho, congresso, tudo só sobre Bourdieu e sobre disposicionalismo.

O Brasil começou a receber muitos escritores e pesquisadores dessa área, começou a ter uma troca maior, o próprio Lahire começou a vir muito no Brasil, foi nesse escopo de tentar trazer as ideias do Bourdieu, e aí, essas ideias entraram. Foi nesse período da minha trajetória que as ideias do Bourdieu foram entrando no Brasil, devagar, nessa fase final dos anos 2000 para cá; 2010 para cá, o Bourdieu se popularizou nas ciências sociais. Então, hoje, não é tão difícil você conseguir fazer uma turma, uma disciplina específica sobre a sociologia da cultura pegando forte no Bourdieu; já na minha época, era muito mais difícil. Então, hoje, eu vejo que o campo está mais aberto, existe uma aceitação maior. Se você pegar os anais dos congressos de ciências sociais, os grandes congressos de ciências sociais no Brasil, você vai ver que tem um espaço grande ali preenchido pelas teorias do Bourdieu, ele é muito citado, existe muita gente estudando e pensando Bourdieu, e muita gente estudando e pensando disposicionalismo. Então, já é muito mais fácil do que era lá nos anos 1980 e 1990. Eu acho que dá para quem está em ciências sociais, investir nisso hoje. Eu posso dizer, invista nisso, mas lá nos anos 1980 eu não diria, e muitas vezes a gente não dizia. Os alunos vinham para orientação de mestrado e doutorado, e diziam que queriam fazer trabalho sobre Bourdieu. Aliás,  era uma dificuldade, pois não se conseguia montar uma banca para analisar o trabalho desse aluno, porque não existia disposicionalismo no campo acadêmico, nem passava na cabeça da comunidade, não tinha ninguém para dar uma opinião, então era muito difícil naquela época. Hoje não, hoje eu posso dizer tranquilamente vão em frente, vocês querem trabalhar com o disposicionalismo, vocês querem trabalhar com Bourdieu, vão em frente que vocês vão conseguir. Aí mesmo na UFPB, tem o Giovanni, tem outros professores que eu vi que estão trabalhando com disposicionalismo. Não tem mais esse problema, eu recomendo, estimulo mesmo as pessoas a estudarem, porque é um pensamento que eu acho mais completo, mais atual. É aquela teoria que consegue chegar no seu tempo e responder aos problemas desse tempo, em vez de você ficar muito purista—“não, eu vou trabalhar só com sociologia clássica” —, porque para estudar a sociedade contemporânea, tem que pegar ideias de uma sociologia da cultura. Não dá para fazer um curso de sociologia da cultura, não dá para você escrever uma tese ou uma dissertação sobre sociologia da cultura sem falar pelo menos que existe Bourdieu, o disposicionalismo. É incontornável.

 

Mohana Morais — Ao longo dos anos como docente do ensino superior, o status e a própria compreensão das ciências humanas no Brasil mudou consideravelmente. A senhora inicia na universidade no fim da Ditadura Militar, assiste às primeiras eleições diretas e acompanha uma considerável ampliação das universidades e institutos federais de ensino a partir dos anos 2000. Adventos que influenciaram com certeza na ciência brasileira. Agora, olhando de fora, como a senhora percebe as ciências humanas no Brasil?

Lília Junqueira — Nesses últimos anos, vamos dizer, e entrei em 2013 na UFPB. De 2015 para cá tenho sido testemunha de uma coisa que eu nunca passei nas ciências sociais. Quando a gente chega ali em 2014/2015, a gente começa a ter uma insegurança muito grande nas ciências sociais, eu sinto isso. Foi o que seu senti dentro do meu departamento na UFPB, mas é uma coisa que aconteceu no Brasil todo, que são as dúvidas a respeito da existência da própria área de conhecimento. São ameaças a nossa área de conhecimento. Isso começou a se tornar uma coisa forte lá em 2015/2014, no final do governo Dilma, depois teve o governo Michel  Temer, depois a extrema direita entrou. Quer dizer, de lá para cá, vem aumentando essa insegurança interna nas ciências sociais, o que traz ali sentimentos, as energias mais pesadas de medo, de dúvida. As pessoas pensam: “Estudei a minha vida inteira, agora estou aqui numa área ameaçada”. As dificuldades que a gente tinha, como cortes de verba, aumento salarial não se teve mais desde 2013, de lá para cá, eu não sei mais o que é aumento de salário, antigamente todo ano tinha campanha salarial, em março, os professores faziam junto com os sindicatos as suas demandas para que o salário acompanhasse a inflação, isso acabou. E vocês estão vendo pela mídia, estão acompanhando, sufocamento de instituições de pesquisa de toda a natureza, corte de bolsa de mestrado, de doutorado; as universidades não têm dinheiro nem para manutenção básica dos seus laboratórios, das suas estruturas físicas para atendimento básico dos alunos. Então, olha, essa fase final, realmente, depois de tantos anos, de décadas dentro da sociologia, eu nunca tinha passado por uma situação como essa, ver o nosso campo de conhecimento com medo de desaparecer.

Esses cortes que eu falei, foram para todas as ciências, pois a ciência como um todo, no governo de extrema direita, perdeu totalmente a importância. Para as ciências sociais havia perseguição mesmo dos profissionais, ou seja, o governo via não só como algo que não é importante, mas como algo que atrapalha seus projetos. Para eles as ciências sociais atrapalham muito mais do que ajudam a vida social, a organização das pessoas, porque traz ideias erradas para as pessoas. Era o modo de pensar governamental. A sociologia era como se fosse uma ideologia contrária a eles, então eles queriam acabar com ela. Não vão dar bolsa, salário, dinheiro, financiamento, de forma alguma, eles vão tentar sufocar. Alguns dos nossos colegas pesquisadores professores, os mais antigos, vivenciaram o governo militar dentro da universidade. Para eles aquilo estava voltando novamente, então foi um clima assim muito triste, de sofrimento, de dúvida, de medo que eu nunca tinha vivido, e isso, então, reformulou-se e se renovou nesse anos do governo Bolsonaro.

Eu acho que as ciências sociais têm um desafio maior do que nunca hoje, que é emergir dessa situação, pois nós sempre conseguimos fazer isso, superar esses problemas. A coisa que mais estimula, eu acho, o cientista social a superar as dificuldades é o desafio que a sociedade coloca em termos de novos problemas sem solução e sem esclarecimento e que a gente tem que solucionar e tem que apresentar a resposta para a sociedade a respeito desses problemas, que são novos, que estão sem pensar. Eu não vou falar dos grandes problemas que todo mundo sabe, como a questão ecológica, o aquecimento global, ameaça tecnológica, o avanço da tecnologia, que não é acompanhado de um avanço de reflexão ética minimamente, a desigualdade e os desafios da inclusão social, então isso são as grandes questões, mas eu vou falar da área que eu sempre trabalhei, que é a mídia. O que a gente tem que estudar hoje são redes sociais, a guerra das fake news, o que é verdade, o que não é verdade, o que é a minha verdade, o que é a sua verdade, como chegar a um conhecimento coletivo que seja útil para a organização e a vida social. São desafios imensos que penetram em todas as áreas da sociedade, porque a comunicação é uma só para a sociedade como um todo, e no mundo todo.

Eu acho que esse avanço das fake news e informações em massa são um grande desafio para a sociologia da cultura. O tempo todo que eu trabalhei em sociologia, durante toda a minha carreira, eu sempre vi que a mídia era muito importante para entender a sociedade. Ela é que está capacitada a falar, a comunicar as respostas vindas do campo científico. Hoje há mais confiança da sociedade nas redes sociais do que na ciência. Mas as redes sociais não estão capacitadas para ajudar as pessoas a sair de determinadas situações complicadas, que se colocam no dia a dia. Então, eu acho que estamos vivendo um momento crítico, mas os momentos mais críticos são os momentos em que a gente tem que reunir forças e dar um passo à frente, porque é daí que virá a grande contribuição: num contexto difícil, nós apresentamos soluções. Então, mais uma vez, a gente passou aí por isso no golpe militar, mais uma vez a gente está saindo de um período muito parecido com o período do golpe militar, e o que a gente vai fazer? Temos que crescer, impor-nos, nos espalhar, e a sociologia tem agora, mais do que nunca, o desafio e a responsabilidade de exercer o seu papel. Politicamente nós estamos agora, no Brasil, entrando numa via que pode ser mais favorável, num momento político mais favorável para nós, então é hora, realmente, de sacudir a poeira e bola para frente. Eu acho que é por aí, a sociologia, como eu falei, só ela pode; outras ciências não têm a preparação para uma crítica social do nível que a sociologia faz.

 

Mohana Morais — Caminhando para o fim de nossa conversa, nós imaginamos que depois de tantos anos dedicada às ciências sociais, a senhora tenha planos pós aposentadoria. E nós queremos saber onde vamos poder encontrar a professora Lília?  Aposenta-se das aulas e das atividades acadêmicas? Onde poderemos encontrá-la nos próximos anos? 

Lília Junqueira — Olha, eu estou encerrando os meus trabalhos na área da sociologia. Eu não tenho planos e projetos nessa área. [Mohana: “eu já queria colocar seu nome na lista de pareceristas” (risos)].

A aposentadoria foi realmente uma aposentadoria. Não é uma aposentadoria entre aspas, é uma aposentadoria de verdade das ciências sociais, por causa das minhas condições pessoais, familiares e de saúde, principalmente. Pois eu comecei a desenvolver problemas de saúde que me impedem, mesmo, de dar aula presencial, de ficar em pé.

A minha aposentadoria vai ser uma aposentadoria de verdade, mas eu sempre vou estar disponível para falar da minha produção intelectual, claro, para falar do que eu fiz, dos livros e artigos que escrevi. Não pretendo escrever novos livros e artigos em sociologia. Se houver interesse, eu sempre vou estar disponível para falar daquilo que eu produzi, assim como estou disponível para vocês aqui nesta entrevista. Sobre isso, eu posso falar porque, além disso exige um grau de atualização que eu não tenho trabalhado para poder me firmar e trazer algo sólido. A minha opinião a respeito dos problemas sociais é opinião de um cidadão comum, apesar de ter ali o fundo da crítica sociológica e a visão histórica recente mais elaborada. Mas não tem o aprofundamento necessário, não tem atualização. Então, realmente não vou poder contribuir muito para coisas novas. Mas esse é o caminho natural das coisas, a gente tem que sair, os mais velhos, para deixar espaço aos mais novos, para que eles entrem e façam também a sua contribuição, que se desenvolvam também. Eu não vou poder estar com vocês, mas eu tenho certeza de que tem muita gente competente aí, gente nova, professores, pesquisadores, alunos. Tem uma turma muito boa de pessoas maravilhosas, cheias de energia e que estão muito atuais no momento exato, ali, dos acontecimentos, acompanhando e se atualizando, e trazendo propostas interessantes para os alunos se engajarem. Isto que é importante: ter espaço para crescer e pessoas que  nos ajudam a crescer.

 

Mohana Morais — Um merecido descanso e conquistado. E qual o legado que a professora Lília Junqueira deixou para seus alunos?

Lília Junqueira — Olha o meu legado principal é a minha produção escrita. Eu acho que o legado se divide em três vertentes muito importantes: a primeira é da troca de experiência em sala de aula, que é a relação entre o professor e aluno, isso não tem preço, é uma vivência extraordinária porque todo mundo aprende, professora aprende, o aluno aprende, todo mundo cresce. Eu deixei esse legado com um número significativo de alunos, principalmente na UFPB, onde eu fiquei fazendo docência e não tanto fazendo produção intelectual, pesquisa, e nas outras universidades onde eu trabalhei. Então, eu acho que isso é muito importante, as pessoas que nós encontramos, as trocas de informações que nós fizemos, para engrandecimento e aprendizagem de todos. Esse é um legado, e quem foi meu aluno vai sempre se lembrar desse legado que eu deixei, da nossa amizade, da nossa troca de informação e de conhecimento.

A segunda vertente são as orientações de trabalhos, de TCC na graduação e na pós-graduação, mestrado e doutorado, porque aí a gente tem uma troca muito mais aprofundada. Nesse nível, o aluno traz muita novidade para gente, e a gente vai fazer o esforço do desafio para você ajudar o aluno a configurar aquela temática dentro do perfil de trabalho científico propriamente dito, de tese de doutorado, trazer o rigor da escrita da publicação científica para o aluno encaixar aquela ideia dele naquele formato. Então, isso é uma experiência fabulosa também, e eu acho que é um legado que eu deixo, os 40 trabalhos que eu orientei, dissertações de mestrado, TCCs e teses de doutorado. Sempre tem uma marca do orientador no trabalho do aluno, de alguma forma, então, é um legado que eu deixo.

A terceira vertente são as minhas publicações. Aí sim, o meu legado pessoal, as minhas ideias, as minhas elaborações. A contribuição propriamente científica. E a forma como eu produzi, escrevi, formatei as ideias, realizei as pesquisas que estou deixando, também são exemplos para os leitores. Nesse aspecto é um legado também que eu deixo. São essas três vertentes. Enfim, para quem quer conhecer o meu legado basta entrar no currículo lattes, vai lá ver a lista das produções, dos artigos, dos livros, dos trabalhos, dos grupos de pesquisa, e tudo isso, então, é um legado e ele está bem registrado no banco de dados dos pesquisadores no Brasil. 

 

Mohana Morais — Professora, muito obrigada. Eu poderia encerrar com essa pergunta, mas eu queria voltar em um detalhe. Quando estava falando de sua trajetória, a senhora falou que deu uma certa pausa na produção a partir de 1996 quando engravidou. Hoje nós temos um conflito grande de mulheres na ciência, um debate, não só na área de ciências humanas, mas todas, como é uma questão a mais para nós mulheres, além do direito do trabalho, o direito também de fazer ciência, filhos... o que quisermos fazer! Então, gostaria de ouvi-la sobre o fazer ciência, sendo mulher, sendo mãe, administrando a trajetória acadêmica e uma família.

Lília Junqueira — Ótimo. Essa é uma dimensão muito interessante, eu sempre estimulei muito que as sociólogas fizessem a crítica dessa condição, porque nós sociólogas, melhor do que outras cientistas e pesquisadoras de outras áreas, temos as ferramentas para fazer a crítica da nossa condição, de como o campo profissional em que a gente trabalha, como Bourdieu diz, reflete aquilo que está fora dele. Então, não é porque nós somos cientistas sociais que nós estamos fora daquela socialização de homens e mulheres que é feita na sociedade fora do nosso campo. Nós trazemos isso para o nosso campo de pesquisa, no entanto é preciso raciocinar sobre isso, refletir sobre essas divisões porque existe injustiça na divisão social do trabalho, na questão de gênero. Nós trabalhamos isso o tempo todo do ponto de vista teórico, a gente dá aula sobre desigualdade social de gênero, a gente faz pesquisa sobre isso, mas quando a gente está exercendo a nossa profissão, trabalhando com os nossos colegas, nem sempre a gente traz isso para nossa prática profissional. Eu passei e vi muita gente passando por preconceito de gênero; vi muitas colegas que nem quiseram ter vida familiar, vida pessoal, vida de casal, porque diziam assim: “Eu não vou conseguir conciliar as duas coisas”. Na minha época, lá anos 1980 e 1990, tinha gente que dizia: “Olha, não vou entrar nisso; ou eu faço vida acadêmica e vida intelectual de pesquisa ou eu faço uma vida pessoal, porque as duas não dá para fazer”. Eu tive muitas amigas que ficavam nesse dilema, tinha que escolher. Eu não quis escolher, quis fazer as duas coisas; eu tive muita dificuldade, mas eu consegui.

Agora o que importa não é ter conseguido, é a dificuldade que tive, porque não deveria existir essa dificuldade. Não é para a pesquisadora, a estudiosa ter dificuldade quando ela está no seu ambiente de trabalho. Se ela está grávida, tem que cuidar de uma criança, de uma casa, da saúde pessoal, da estética pessoal, tem que fazer tudo isso. E por que ela deve ter dificuldade? Só porque ela é pesquisadora? Pior ainda se ela é socióloga e está nas ciências humanas, porque nas humanas, e na sociologia em especial, somos responsáveis por esclarecer o problema de desigualdade de gênero para a sociedade. Deveríamos ser o grupo de mulheres mais respeitado, na prática do dia a dia, no trabalho, no que diz respeito a nossa condição feminina. Eu já vi alguns trabalhos bem interessantes que fazem essa crítica interna da sociologia, da questão de gênero, isso é muito importante, é muito sério, porque na minha experiência pessoal e no contexto que eu vivi, nós mulheres intelectuais estávamos contra a parede o tempo todo. Tipo assim: “Olha, cuidado, não ultrapasse determinados limites porque senão você pode ter problemas de aceitação dos seus trabalhos”. Enfim, a lista de formas pelas quais uma mulher pode ser punida é imensa na nossa área, e eu tenho certeza que em todas as outras áreas de trabalho intelectual.

Eu vi algumas pesquisas nessa área, alguns trabalhos, principalmente vindo da antropologia, de pesquisadoras que estavam estudando isso. Perguntando: “Eu, como mulher pesquisadora, como é a minha relação de gênero dentro da universidade, dentro do meu departamento, dentro da minha pós-graduação?” Eu achei muito interessante porque esse trabalho lançou luz. A sociologia lança a luz para fora, mostrando como é a sociedade, fora do nosso campo social. Esse tipo de pesquisa lança luz para dentro do nosso campo social, intelectual. A gente precisa acabar com o preconceito dentro do nosso campo de trabalho e não só na sociedade. O olhar do sociólogo é para fora, ele nunca olha para dentro do próprio campo, e uma das razões é a que já falei, a competição, pois a gente não vai fazer fogo amigo na gente mesmo para a gente ficar numa situação pior, e o outro passar na nossa frente. Mas é muito importante fazer essa crítica para dentro do campo e tentar extirpar esses problemas para você até fazer uma crítica externa, exercer seu trabalho de uma maneira mais coerente. Então, eu acho, vejo que tem havido muito avanço, melhorias nessa área. As mulheres estão tendo mais voz, tendo mais espaço, ocupando espaços, expandindo sua área de ação, e isso é extremamente positivo para a sociedade como um todo. Acho que a socióloga tem um instrumento para estar o tempo todo colocando isso muito claro, no seu dia a dia, no seu discurso, na sala de aula, na sala de reuniões, no grupo de pesquisa, no congresso, aonde ela for, ela tem que deixar isso muito claro. E você vê, ainda com todo avanço, nós ainda temos a desigualdade de rendimentos, então, ainda tem muito caminho ainda pela frente.

 

Mohana Morais — Obrigada, professora Lília, foi um prazer. Conversamos por quase duas horas e sinto que poderia ser quatro. Foi ótimo conhecê-la, não tive o prazer de ter sido sua aluna, apesar de ter feito a graduação na UFPB, mas fica o meu abraço, o meu desejo de que a senhora aproveite, goze bastante a vida e viva essa nova fase por anos felizes e longos, bem longos.

Lília Junqueira — Pois, Mohana e Adailton, eu quero agradecer a vocês o convite, e em nome e por meio de vocês, eu quero fazer o meu agradecimento ao Departamento de Ciências Sociais UFPB, por ter me acolhido quando eu precisei chegar nesse departamento. Foi por um caminho um pouco estranho, mas eu fui recebida de braços abertos, fiz tudo que pude para honrar o grupo de trabalho, os colegas — gente maravilhosa —, os alunos. Realmente eu me sinto muito feliz de ter passado pela UFPB. Acho que, como eu falei para você, na minha memória, sempre vai ficar a Paraíba, é a fase da minha maturidade intelectual, realmente. Eu não escrevi em quantidade, mas tudo que eu fiz foi em qualidade, o melhor que eu consegui fazer. Então, eu sempre vou ter as melhores lembranças dessa passagem pela Paraíba Então, por intermédio de vocês nesta entrevista, eu quero fazer esse agradecimento. E agradecer a vocês, agradecer a Giovanni pelo convite. Espero que seja bem útil esta entrevista para a Revista Caos.

 

Mohana Morais — Certamente é um ganho para a Revista. Obrigada! Abraços.

 

 

Referências

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2011.

JUNQUEIRA, Lília. Abordagens biográficas de pesquisa e disposicionalismo sociológico. Revista de Ciências Sociais Política e Trabalho, João Pessoa, n. 50, p. 29-42, 2019.

JUNQUEIRA, L. M.. Balzac para sociólogos: utopia e disposições sociais no século XIX. Curitiba: Appris, 2017.

JUNQUEIRA, Lília. (org.). Cultura e classes sociais na perspectiva disposicionalista. Recife: Editora da UFPE, 2010. Série Extensão, v. 11.

JUNQUEIRA, Lília. Desigualdades sociais e telenovelas: relações ocultas entre ficção e reconhecimento. São Paulo: Annablume, 2009.

JUNQUEIRA, L. M.; VISSER, R. (org.). Dossiê Bernard Lahire. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

JUNQUEIRA, L. M.; TONDATO, M. . Religiosidade e desigualdades sociais nas telenovelas. In: LOPES, Maria Immacolata Vassalo de (org.). Ficção televisiva no Brasil: temas e perspectivas. São Paulo: Globo, 2009.  p. 183-214.

 

Recebido em: 20/03/23.

Aceito em: 12/04/23.

 

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n30.66195.p226-248

 

 



* Professora aposentada da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Sociologia Política pela Universidade de Paris VII — Université Denis Diderot. E-mail: liliajunq@gmail.com.

** Doutora em Sociologia pela UFPB/Brasil. Editora da Revista Caos. E-mail: mohanamorais@hotmail.com.

 

 

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Desenho de um círculo

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