O COTIDIANO NA “FRONTEIRA ENTRE A VIDA E A MORTE”: narrativas dos coveiros do Cemitério do Gavião em São Luís/MA

EVERYDAY LIFE AT THE “BOUNDARY BETWEEN LIFE AND DEATH”:
 gravediggers narratives in Gavião Cemetery
São Luís/MA

 

Anderson Boás Viana *

Ariele DuCarmo Santos **

 

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n31.66560.p272-293

 

 

Resumo

O presente artigo apresenta o universo do Cemitério do Gavião, como um local de despedida que se caracteriza pela fronteira entre a vida e a morte. No entanto, escolhemos como sujeitos da pesquisa, os coveiros; e, a partir das suas narrativas é que este universo será apresentado. Desta forma, o objetivo deste estudo consiste em analisar as questões do dia a dia e os significados construídos pelos próprios coveiros que vivenciam o cotidiano do Cemitério. Para melhor compreensão da proposta deste artigo, a metodologia se deu em duas vertentes, sendo a primeira numa abordagem bibliográfica com referências de artigos, livros e dissertações; porém, o estudo se aprofunda na vertente empírica, pois ao longo do artigo, repleto de fotografias como ferramenta metodológica de análise(s) e, principalmente, lançamos mão da metodologia da história oral, a partir das narrativas desses profissionais, nos possibilitando conhecer histórias até então silenciadas. Com base nas narrativas, foi possível perceber a ideia de pertencimento que os profissionais têm com o Cemitério do Gavião, as emoções intrínsecas ao trabalho de serem testemunhas da despedida. Por fim, foi possível entender, como esses profissionais, que não possuem acompanhamento psicológico profissional, lidam diariamente com essa carga de emoções e as relações de afeto estabelecidas naquele ambiente.

Palavras-chave: Cemitério do Gavião; coveiros; narrativas; estigmas.

 

Abstract

This article presents the universe of Gavião Cemetery, as a farewell place characterized by the border between life and death. However, we chose gravediggers as research subjects; and it is from their narratives that this universe will be presented. In this way, the objective of this study is to analyze the day-to-day issues and the meanings constructed by the gravediggers themselves who experience the daily life of the Cemetery. For a better understanding of the purpose of this article, the methodology was carried out in two ways. The first being a bibliographical approach with references to articles, books and dissertations; however, the study deepens in the empirical aspect, because throughout the article, full of photographs as a methodological tool of analysis(s) and, mainly, we make use of the methodology of oral history, from the narratives of these professionals, allowing us to know stories hitherto silenced. Based on the narratives, it was possible to perceive the idea of belonging that professionals have with Gavião Cemetery, the emotions intrinsic to the work of being witnesses of the farewell. Finally, it was possible to understand how these professionals, who do not have professional psychological follow-up, deal daily with this load of emotions and the relationships of affection established in that environment.

Keywords: Gavião Cemetery; gravediggers; narratives; stigmas.

 

Considerações iniciais

 

Compondo o mosaico da historicidade da cidade de São Luís, sendo um lugar de memória e contribuindo de forma relevante para o enriquecimento artístico e cultural da cidade, encontra-se o Cemitério de São Pantaleão, mais conhecido como Cemitério do Gavião, em homenagem ao bairro em que está localizado: Quinta do Gavião, divisa dos bairros Madre Deus e Belira, no município São Luís, estado do Maranhão. O cemitério está localizado no final da Rua Rodrigues Fernandes, mais conhecida como Rua do Passeio, em frente à Praça da Saudade, no Largo do Gavião.

 

Imagem 1 — Entrada do Cemitério de São Pantaleão

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2021.

 

Destaca-se que o campo de estudo deste artigo é o cemitério, e o objeto de pesquisa é o cotidiano da atividade dos coveiros no Cemitério de São Pantaleão, analisando suas experiências vividas a partir de suas próprias narrativas e concebendo-os como guardiões da memória. Diante disso, é necessário destacar que este trabalho se baseia na dissertação de mestrado do primeiro autor, cujo objetivo geral foi analisar as relações no/do trabalho dos coveiros que atuam no cemitério, de modo a problematizar o estigma dessa profissão, e, ao mesmo tempo, refletir sobre a relação desses profissionais com o seu local de trabalho.

O Cemitério de São Pantaleão possui três coveiros em atividade. Eles tiveram participação efetiva na construção deste artigo, pois, como já evidenciado, o escopo desta pesquisa foi analisar as relações no/do cotidiano do trabalho dos coveiros que atuam no Cemitério de São Pantaleão, de modo a problematizar o estigma dessa profissão e as relações construídas no local de trabalho, a partir das narrativas dos próprios profissionais.

Como forma de resguardar a identidade pessoal — e manter o compromisso ético da pesquisa —, identificamos os sujeitos da pesquisa como Antônio, Benedito e Carlos, nomes fictícios.

Suas narrativas se estruturam em um tempo e espaço vivenciado por eles, não linear, inscritas em suas subjetividades a partir das experiências vividas, das representações e das interpretações que construíram e continuam a construir de si próprios e de todo seu cotidiano laboral. A narrativa é considerada por Walter Benjamin (1985) Por meio de histórias narradas, há troca de experiências entre o contador e o ouvinte. Portanto, a narrativa faz com que o acontecimento se integre na vida do contador de histórias para passá-lo aos ouvintes como experiência. Por isso, o contador de história deixa na experiência as suas marcas. A narrativa se constrói minuciosamente e “não está interessada em transmitir o puro em si da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele” (BENJAMIN, 1985, p. 205).

 

 

Imagem 2 Arte cemiterial e atividade laboral dos coveiros ao fundo

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2020.

 

Essa construção do objeto de estudo é interessante na medida em que é elaborado e reelaborado durante a pesquisa, sempre tendo um foco de abordagem, estabelecendo as fontes de pesquisa, mas que se amplia a cada leitura, a partir de novas possibilidades interpretativas e de narrativas.

 

A construção do objeto — pelo menos na minha experiência de investigador — não é uma coisa que se produza de uma assentada, por uma espécie de ato teórico inaugural, e o programa de observações ou de análises por meio do qual a operação se efetua não é um plano que se desenhe antecipadamente, à maneira de um engenheiro: é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas, sugeridos por, o que se chama de ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios práticos que orientam as opções ao mesmo tempo minúsculas e decisivas (BOURDIEU, 1989, p. 26-27).

 

Nesse sentido, a autora Natalia Scartezini (2011, p. 33) diz que o “objeto merece uma análise mais profunda e complexa que foge da autossuficiência e vai além da sua relação com os acontecimentos sociais”. A autora destaca a importância do campo, que ela define como “universo intermediário” (SCARTEZINI, 2011, p. 33). Dessa maneira, é possível depreender que neste universo intermediário é que as relações são construídas no tempo e espaço, ao mesmo tempo que é no próprio campo que surgem os produtos destas relações.

 

Caminhos metodológicos

 

É importante deixar claro que a metodologia deste artigo passou por diversos momentos de observação in loco e história oral. A observação não consistiu tão somente em ver ou ouvir, mas também em analisar de forma crítica e reflexiva. A partir dessa prática, foi possível identificar objetivos de que até então não tínhamos dado conta, exercendo importante papel no aspecto da descoberta, ponto inicial para esta investigação. Outras práticas incluíram conversas, fotografias, notas de campo, gravações e transcrições.

Conversas sobre a concepção da morte, sobre a preservação da memória por aquele espaço, sobre a relação da vida deles fora e dentro do ambiente de trabalho, sobre o próprio cemitério, sobre a própria percepção do seu trabalho e da importância dessa atividade para sociedade eram temas comuns em nossas sentadas, muitas vezes iniciadas pelos próprios sujeitos.

 

Imagem 3 — Sepultamento no Cemitério do Gavião

Fonte: Acervo do primeiro autor, 12 de fevereiro de 2021, sexta-feira.

 

Não queremos aqui denominar a metodologia desta pesquisa como observação flutuante de Colette Pétonnet (2008), pois seria ousadia, mas admitimos que esse tipo de metodologia serviu como inspiração para as últimas visitas ao campo.

 

[...] “Observação flutuante” [...] consiste em permanecer vago e disponível em toda a circunstância, em não mobilizar a atenção sobre um objeto preciso, mas em deixá-la “flutuar” de modo que as informações o penetrem sem filtro, sem a priori, até o momento em que pontos de referência, de convergências, apareçam e nós chegamos, então, a descobrir as regras subjacentes. (PETONNET, 2008, p. 102).

 

Estar naquele ambiente nos fazia experimentar o silêncio, perceber os detalhes, analisar o cuidado e o descaso em algumas situações. Durante os sepultamentos, sempre observávamos distantes, respeitando o momento dos familiares e dos amigos presentes.

Desse modo, compartilhamos como metodologia a observação e análise do cotidiano. Em essência, o cotidiano ocorre em um espaço e envolve os acontecimentos diários, assim como as realizações, ações e omissões. Seguindo os ensinamentos de Certeau (1995), que afirma que "o espaço é um lugar praticado, um lugar vivido" (1995, p. 202), estudar o cotidiano parte de uma análise espaço/tempo; não era algo entregue à observação simples. Estudar o cotidiano nos fez perceber pontos interessantes de reflexão, uma metodologia que nos desafiou a observar as experiências dos coveiros, desde a sua chegada, seu intervalo de almoço, seu descanso, seu laboro etc. Portanto, trata-se de uma metodologia que envolve o ordinário e o extraordinário; o complexo e o simplório das atividades comuns do dia a dia.

 

A opção por essa perspectiva metodológica justifica-se por configurar uma postura de abertura ao novo e ao inusitado, além de se valer de um conjunto de instrumentos que permitem “escavar o cotidiano”, numa espécie de arqueologia que tenta desencobrir o que está oculto. Dessa atitude decorrem tentativas de apreender e de compreender algo que está ali presente, em estado bruto, para ser talhado, detalhado, “escovado” (como os ossos que o arqueólogo descobre), mas que os condicionamentos arraigados às lentes interpretativas convencionais acabam por embaçar a visão e a percepção (STECANELA, 2009, p. 66).

 

Analisar o cotidiano dos coveiros nos fez perceber situações imprevisíveis no ambiente de trabalho, revelando que o imprevisível é uma característica inerente ao cotidiano laboral.

 

Imagem 4 — Coveiro do Cemitério do Gavião se deslocando para atividades diárias

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2021.

 

Sobre o imprevisível, apresentamos a seguinte ponderação de Juremir Machado da Silva, na sua obra As tecnologias do imaginário:

 

Mais do que demonstrar isso ou aquilo, deve mostrar, dar a ver, fazer vir, desentranhar, fazer emergir, revelar, descobrir, desvendar, expor à luz. Não lhe basta conhecer o poder (institucional explícito), deve perceber o fluxo da potência (subterrânea). Se não pode provar o que aconteceu no passado nem prever o futuro, cabe-lhe narrar bem o presente. Mescla de antropólogo, de fotógrafo, de repórter, de cronista e de romancista, necessita captar e narrar a fluência, o extraordinário e a complexidade do vivido. (SILVA, 2003, p. 73)

 

Analisar o dia a dia desses profissionais, relacionando-os como guardiões da memória, a partir de suas narrativas (experiências do vivido), apresentou-se como um universo desconhecido para nós, pois percebemos um mundo de possibilidades que aquele campo poderia oferecer aos pesquisadores.

 

[...] a história oral pode dar grande contribuição para o resgate da memória nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos. (THOMPSON, 1992, p. 17)

Logo, a história oral evoca a memória, revelada nas narrativas do vivido pelos sujeitos enredados com tantas histórias, nunca ou poucas vezes narradas. São sujeitos que são narradores, porém, poucas vezes ouvidos.

 

A riqueza inesgotável do depoimento oral em si mesmo, como fonte não apenas informativa, mas, sobretudo, como instrumento de compreensão mais ampla e globalizante do significado da ação humana; de suas relações com a sociedade organizada, com as redes de sociabilidade, com o poder e o contra poder existentes, e com os processos macroculturais que constituem o ambiente dentro do qual se movem os atores e os personagens deste grande drama ininterrupto — sempre mal decifrado — que é a História Humana. (ALBERTI, 1990, p. 8)

 

Nesse diapasão, a história oral se relaciona diretamente com a memória, com as lembranças do vivido e com o passado que permanece vivo.

 

Imagem 5 — Primeiro autor do artigo em conversa com o sujeito da pesquisa (história oral)

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2021.

 

O ato de observação permitiu-nos identificar as singularidades desse trabalho específico, enquanto a história oral proporcionou o conhecimento de diversas narrativas e percepções do lugar. Sendo assim, pretendemos apresentar essas percepções, investigando como os coveiros lidam com a experiência de trabalhar com a morte nesse lugar repleto de simbologias e singularidades. Buscaremos compreender os significados e sentidos das vivências daqueles que são testemunhas da última despedida e guardiões da memória.

Nesse aspecto de análise do cotidiano e do espaço, a fotografia surge como um recurso metodológico interessante. Além de ser produto da experiência humana dos autores, ela serve simultaneamente como objeto de reflexão e interpretação.

 

Imagem 6 - Uma tarde de sábado no Cemitério do Gavião

Fonte: Acervo do primeiro autor, 17 de outubro de 2020.

 

A fotografia nos permitiu ampliar o panorama de possibilidades das análises do campo de estudo.

 

A Antropologia não dispensa os recursos visuais — e não são recursos apenas como um suporte de pesquisa, mas imagens que agem como um meio de comunicação e expressão do comportamento cultural. A Antropologia Visual não almeja, dentro dos novos padrões de pesquisa, apenas esclarecer o saber científico, mas humanisticamente compreender melhor o que o outro tem a dizer para outros que querem ver, ouvir e sentir (ANDRADE, 2002, p. 110-111).

 

Imagem 7 — Uma tarde de quarta-feira no Cemitério do Gavião

Fonte: Acervo do primeiro autor, 23 de dezembro de 2020.

 

Para Barthes (1977, p. 44), “a fotografia é percebida como uma gravação tangível da realidade, a mensagem visual torna-se uma prova material de se ter estado lá”. Permitimo-nos ampliar esta compreensão, pois a fotografia está para além da prova de autenticidade, mas como forma visual de apresentar imagens que permite múltiplas análises e reflexões; por possuir essa característica polissêmica, permite ao pesquisador, no universo de pesquisa, diferentes percepções a partir das narrativas visuais.

 

Fotografias [...] são restituídas a um contexto vivo; não ao contexto temporal original em que elas foram criadas, mas ao contexto da experiência. E, lá, suas ambiguidades enfim tornam-se verdadeiras, permitindo que elas sejam apropriadas pela reflexão. O mundo que elas revelam, congelado, se torna tratável. A informação que elas contêm se torna permeada por sentimentos. Aparências se tornam a linguagem de vidas vividas (BERGER; MOHR, 1982, p. 289, tradução nossa).

 

Dessa forma, as fotografias representam o próprio campo no qual o cotidiano é vivido, no qual as atividades diárias são vivenciadas; local onde as relações nascem e se constroem, pois elas capturam momentos de vivências e momentos do lugar.

 

Fotografias retratam a história visual de uma sociedade, documentam situações importantes, estilos de vida, gestos, atores sociais e rituais, e aprofundam a compreensão de estilos artísticos. A interpretação de fotografias contribui para a compreensão da cultura material que foi transformada ou mantida com o passar do tempo (BITTENCOURT, 1993, p. 232).

 

Devemos ressaltar que não tomamos a fotografia como um complemento do diário de campo, nem como mera ilustração, mas como recurso metodológico que permite a reflexão e análises da dinâmica sobre o objeto de estudo e sobre o campo em si, pois ao mesmo tempo em que são discursos visuais, também podem ser possibilidades de representação. Nas fotografias, buscamos perceber aquilo que não foi possível recolher ou abstrair através de entrevistas e questionários.

 

A mensagem simbólica é impressa sobre a mensagem literal, onde ambas constroem um todo de sentidos que só pode ser desvendado com base em um conhecimento prévio. A mensagem simbólica depende de um conhecimento cultural e histórico que é fornecido pela mensagem linguística expressa pelo ensaio antropológico. Com a informação fornecida pelo texto escrito, outras dimensões de significação contidas na imagem são desvendadas. Quando o espectador percebe a imagem simbólica representada na imagem, ele é capaz de transcender o caráter informativo e perceber a imagem como um pronunciamento visual criado por um sujeito. E, através disto, o espectador se torna capaz de acrescentar novos laços de significação à imagem (BITTENCOURT, 1993, p. 234).

 

A fotografia apresentada neste estudo denota um percebido, porém pode despertar outras percepções, uma vez que seu caráter polissêmico oferece múltiplas dimensões de significado, possibilitando diversas interpretações da imagem.

 

Desdobramento do objeto: entre estigmas e relações de afeto

 

Nesse sentido, a construção deste artigo toma como base as narrativas desses sujeitos, demonstrando também como estes se percebem. Inicialmente, nosso diálogo parte de uma perspectiva ligada às funções desempenhadas no dia a dia da profissão, para assim conduzir a pesquisa e entrelaçar com o cotidiano de ações e de convívio no campo. Além desses entrelaces, os diálogos buscavam uma rede de conexões temáticas com o objeto de estudo.

As narrativas são compreendidas como discursos dos sujeitos pesquisados. Discursos construídos pelas percepções e subjetividades dos autores que os proferem. Acerca dos discursos, Lopes (2014) nos traz a seguinte contribuição:

 

Numa linha foucaultiana de reflexão, o sujeito do discurso, seja ele qual for, fala e se posiciona a partir de um jogo de enunciados que marcam certa contingência discursiva. Assim, pensar em discurso é, antes de tudo, pensar na construção dos sujeitos que o produzem e proporcionalmente se produzem. Cada sujeito existe dentro de seu próprio discurso e a partir dele. Nessa direção, os construtos discursivos constituem meios pelos quais os sujeitos se posicionam dentro de situações específicas, caracterizando-se com certo substrato subjetivo, em que é possível a cada um, dentro de suas condições objetivas e contingenciais, colocar-se como sujeito das relações sociais estabelecidas (LOPES, 2014, p. 16).

 

Portanto, o intuito foi dar visibilidade às experiências vividas, destacando relações sociais e espaciais construídas nesse universo laboral e simbólico. Convém, ainda, destacar que as narrativas eram acompanhadas muitas vezes por momentos de silêncio, o que nos permitiu experiências multivariadas de percepção. As conversas se davam em todos os lugares do cemitério. Muitas vezes aconteciam em meio aos afazeres diários; às vezes, entre os túmulos; outras vezes, nos bancos da capela e, principalmente, embaixo da árvore defronte à capela.

Atenção especial foi dada à percepção sobre as relações de afeto percebidas no cemitério e relacionadas à profissão do coveiro. Nessa análise de carga afetiva, destacamos o desgaste, o estresse e as emoções oportunizadas pelo trabalho diário no cemitério.

Antônio, certa vez, disse-nos: “Aqui é minha segunda casa, às vezes passo mais tempo aqui do que em casa. Não gosto de falar ou pensar na minha morte ou morte dos meus familiares, sei que vai chegar, mas não gosto de pensar nisso hoje” (informação verbal)[1]. Em seguida, Benedito, diz: “O nosso serviço é tão intenso, envolve tanto sentimento alheio que quando chego em casa, procuro não lembrar, procuro me distrair, não falar de morte, gosto de falar de vida, curtir minha família” (informação verbal).[2]

 

Imagem 8 — Uma tarde de quarta-feira no Cemitério do Gavião

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2020.

 

Imagem 9 — Sepultura deteriorada

Fonte: Acervo do primeiro autor, 2020.

 

A fala de Benedito nos fez rememorar um texto da autora Clarissa de Franco, quando, em 2008, fez uma pesquisa intitulada A cara da morte. No estudo, ela apontou que coveiros evitam pensar na morte ou sentir as emoções despertadas por esse fenômeno. Eles apresentam grande dificuldade em abordar o tema da morte.

Nesse mesmo estudo, a autora diz que:

 

O sepultador, que fica com o chamado “serviço sujo”: carregar  o peso (literal e metafórico) do morto, usar a pá e a enxada – instrumentos associados ao trabalho braçal –, e finalmente, ser invisível à família, não demonstrando nenhum sentimento que possa vir a interferir na dor dos parentes e amigos do morto. Em suma, uma máquina preparada para “limpar” a impressão  que a morte causa, enterrando seus resquícios. (FRANCO, 2008, p. 139)

 

Durante a pesquisa de campo, nas falas dos sujeitos desta pesquisa, recebemos respostas que vão de encontro à colocação de Franco. Em uma das conversas, Benedito falou:

 

Estar presente nesse momento de despedida, em que a família e os amigos estão chorando, é um momento de muita dor. Tem momentos que sinto a dor deles. Eu acho que é um fardo, uma carga emocional. Não lembro se já chorei em algum sepultamento, mas muitas vezes me vi emocionado e com um nó na garganta. Mesmo algumas pessoas achando que somos frios para trabalhar nessa profissão, não existe isso! Pois, somos humanos, não seria possível não me emocionar num momento como esse. Temos família! (informação verbal)[3]

 

Percebemos nessa fala de Benedito, que essa carga emocional caracteriza um elo, ainda que momentâneo, entre seres humanos, mesmo que aquele seja o primeiro e, talvez, o único encontro deles. Os sepultadores sentem a dor dos familiares e amigos que estão ali presentes na despedida. O que nos remete a Rousseau (1999), em sua obra Discurso sobre as origens da desigualdade entre os homens, quando sustenta o discurso da empatia, dizendo que o nosso primeiro sentimento do coração é a piedade/compaixão — o que nos faz sentir a dor do outro com o outro.

O coveiro, além de estar diante do morto, também está diante dos vivos. Isso o torna testemunha e partícipe da última despedida entre o morto e seus familiares e amigos. Estar presente nesse momento de despedida coloca os coveiros diante das emoções dos familiares despertadas pela morte, que podem variar desde a apatia até a agressividade (ZELENOVIC, 2008).

 

A hora do enterro é um momento de reflexão: ao fechar o caixão na sala de velórios, conduzi-lo até a sepultura e enterrá-lo, os coveiros acompanham a despedida entre os familiares e seu ente. [...] é o momento mais difícil, de mais dor. A dor da família diante da separação física emociona e comove os coveiros, pela pessoa que está sofrendo, pela pessoa que morreu e pelas lembranças que aquela situação provoca neles, porque a morte é também um momento de reflexão. Esse é um momento em que os coveiros olham também para si mesmos, para sua história e lembram-se das pessoas que perderam (RABELO, 2014, p. 86).

 

Acerca do momento do sepultamento e das relações estabelecidas, chamou-nos atenção quando Antônio falou: “não se trata de mais um morto, enterramos pessoas! São famílias e amigos que estão sofrendo uma perda” (informação verbal)[4]. Essa argumentação de Antônio nos fez perceber uma dimensão que aproxima o familiar do estranho. Uma relação de empatia se constrói em cada sepultamento.

 

Nesse sentido, a estrutura da vivência empática consiste em captar o que o outro experiencia. Sentir com a família a dor da morte de seu ente é expressão de humanidade para os coveiros. Nesse momento de dor, com sensibilidade e suavidade, por meio de suas presenças silenciosas e respeitosas. (RABELO, 2014, p. 120)

 

A contribuição acima se assemelha à narrativa de Antônio quando nos coloca:

 

[...] precisamos estar atentos ao momento e aos sinais, às vezes nós (coveiros) conversamos somente no olhar, ou num gesto discreto. Até pra saber a hora de fechar o caixão ou empurrar o caixão na gaveta precisamos de sensibilidade, pois até nesse momento buscamos o tempo adequado. Várias vezes a família impede ou tenta impedir o enterro (informação verbal).[5]

 

Benedito relatou que, normalmente, fica calado durante todo o sepultamento, respeita a relação do tempo e as emoções dos amigos e familiares do morto, mas relatou que já passou por muitas situações constrangedoras, já sofreu agressões verbais e físicas. “Às vezes, uma palavra ou olhar estraga o dia da gente. Às vezes, eles nem olham na nossa cara” (informação verbal)[6], conclui ele.

Nas interações com os familiares e amigos do morto, os sepultadores se colocam em uma posição de invisibilidade, na tentativa de ignorar as demonstrações de desprezo. Essa ideia nos remete aos ensinamentos de Batista e Codo (2018, p. 78), quando dizem que os sepultadores priorizam a dimensão afetiva do trabalho, pois lidam diariamente com o fenômeno da morte e com a subjetividade das emoções; a habilidade para lidar com o luto das pessoas é considerada o aspecto mais importante da profissão. Os trabalhadores precisam ser cuidadosos com o manuseio do caixão. A movimentação durante sua colocação na terra, os solavancos e ruídos despertam sempre a ira dos familiares, que desejam proteger a pessoa morta. Os trabalhadores percebem que precisam lidar com essas manifestações de forma adequada às diferentes circunstâncias no dia a dia.

Há sepultamentos em que o número de presentes é grande, enquanto outros acontecem com a presença de poucas pessoas. Há sepultamentos que são mais discretos; outros são mais pomposos. Quando indagamos Antônio sobre a percepção dele sobre alguns enterros terem muita gente e em outros tão poucas pessoas, ele ressaltou que desde o início da pandemia[7] tem sido comum haver sepultamentos com poucas pessoas, devido às imposições do estado. Conforme as portarias estaduais da Secretaria de Estado de Saúde do Maranhão, os velórios devem ocorrer em 10 minutos, sempre em ambiente aberto à circulação de ar, e ficaram limitados a participação de, no máximo, 10 pessoas. Sendo que para o sepultamento, a recomendação é o limite máximo de participação de 5 pessoas (MARANHÃO, 2020).

Desde o início da pandemia, houve um aumento significativo do número de sepultamentos, com quantidade pequena de familiares acompanhando o ritual devido às medidas sanitárias, porém o profissional coveiro sempre esteve lá presente, com a urgência de um trabalho célere que limitasse a expansão da contaminação, ao mesmo tempo em que ficava exposto. 

Sobre esse de período de pandemia, Antônio relata que

 

[...] muitos familiares alegam que não podem viver o luto como queriam. Pois, segundo a portaria, logo após a confirmação da morte por corona, o corpo deve ser colocado no caixão e lacrado imediatamente, além de ser desinfetado e enterrado rapidamente (informação verbal).[8]

 

Ainda sobre o período de pandemia, Carlos fez os seguintes apontamentos:

 

Neste período de pandemia me sinto cansado como nunca havia me sentido antes; além do cansaço físico vem a preocupação de levar algo pra casa; trabalho diariamente com sepultamento, mas o que vem acontecendo nesse período não é algo normal, nunca imaginei viver um momento como este! [...] Tenho descansado pouco. Estressado mentalmente. Ficar doente de corona vírus é uma preocupação constante. Quando chego em casa, tiro a roupa no terraço e já vou tomar banho no quintal mesmo. O pior é que nossas fardas somos nós que lavamos. (informação verbal).[9]

 

Segundo a diretoria do Cemitério do Gavião, antes da pandemia, o cemitério tinha uma média de cinco sepultamentos por dia, porém, desde março 2020, esse número vem crescendo. Antônio disse que no meio do ano de 2021 teve dia em que realizou catorze sepultamentos num único dia. “Com certeza, o dia mais difícil já trabalhado aqui, acabava um enterro, começava outro, uma tristeza sem fim. Cheguei em casa muito cansado e abalado!”, relatou ele.[10] A esse respeito, Benedito conclui: “Tenho muito medo de contaminação e o receio de levar o vírus “maldito” para minha família” (informação verbal).[11]

Sobre esse tema, muitas reflexões são possíveis, principalmente quando pensamos na invisibilidade social mencionada na seção anterior. Em tempos de pandemia, os coveiros continuavam sendo ignorados pela sociedade, mesmo que esta demandasse ainda mais frequentemente pelos seus serviços. Os próprios aparelhos midiáticos, em seus boletins diários, apresentavam os números crescentes da pandemia e os decorrentes sepultamentos, porém os coveiros responsáveis pelos sepultamentos continuavam invisíveis.

Antes de finalizarmos o assunto da pandemia, Antônio ressaltou que mesmo antes da pandemia já aconteciam alguns enterros com poucas pessoas, mas ele acredita que seja porque os familiares e amigos pudessem morar distantes, ou porque o morto tivesse poucos amigos mesmo. Sobre esse assunto, Carlos disse que as pessoas vão ao enterro para que o morto não se sinta abandonado.

As colocações acima nos fizeram refletir sobre questões de abandono e esquecimento. Com isso, é interessante lembrarmos uma ponderação de Renata Nogueira, em seu artigo Elos da memória: passado e presente, cemitério e sociedade:

 

Neste contexto, esses espaços cemiteriais podem ser compreendidos como o espaço onde se recusa esquecer, sendo este um desejo do homem vivo: o homem não quer ser esquecido depois de morto, e por isso, “constrói” espaços determinados à sua perpetuação. Esta construção exige o diálogo com as diferentes formas de controle simbólico do tempo e da individualização nas sociedades humanas na busca de traduzir uma experiência e as relações com a cultura na qual se insere a vida post-mortem, onde vivos e mortos dialogam a partir da carência de uns e da herança de outros. (NOGUEIRA, 2012, p. 82)

 

Portanto, o universo vivido pelos sujeitos pesquisados desperta vários questionamentos. Carlos, certa vez, nos fez a seguinte reflexão: “às vezes me pergunto: o que meus filhos e amigos vão pensar quando eu morrer?” (informação verbal).[12] Sua resposta nos remeteu a um texto de Paul Landsberg, que aborda o caráter reflexivo da experiência da morte (LANDSBERG, 2009). O que nos leva a refletir que a morte de alguém que seja próximo desperta muitos questionamentos e reflexões, desperta variadas formas de se lidar com a morte.

Ainda sobre os laços afetivos, Rabelo corrobora:

 

A morte de um próximo com quem se criou um laço afetivo provoca desestruturações e crises que abalam a estabilidade de um mundo que encontrava sustentação na existência dessa vida que morrera. Esse rompimento desencadeia ambiguidades, o “querer e não querer sofrer”, perda de sentido e fragmentação de um mundo que até então se mostrava estável. A dor vivida pelo desaparecimento do outro pode chegar a ser “demasiadamente desumana”, mas é ao mesmo tempo a confirmação do laço com o outro, agora ausente (RABELO, 2014, p. 31).

 

Logo, sobre relações de afeto perceptíveis no ofício do coveiro, vimos muitas relações possíveis: relações subjetivas, relações com os enlutados, relação com os colegas de trabalho, relações com o lugar e com a própria profissão. Benedito reconhece que seu trabalho envolve um “misto de reflexão e emoção” (informação verbal).[13]

Portanto, falar de afeto atrelado ao trabalho do coveiro nos fez refletir sobre várias questões. Percebemos que essa profissão possibilita momentos de dor (viver a dor do outro), sofrimento, angústias e preocupações. Ao mesmo tempo, os profissionais sustentam a satisfação pessoal do trabalho e enfatizam o controle emocional sobre o momento de sepultamento, mesmo sentindo diferentes emoções. O respeito ao outro é fundamental para o exercício da profissão. E mesmo tendo consciência dos preconceitos e invisibilidade da sua profissão, o coveiro se percebe como profissional necessário e como partícipe de um momento de despedida, no qual o ausente se faz presente, como disse Antônio: “Somos companheiros da morte e trabalhamos na fronteira entre a vida e a morte” (informação verbal).[14]

 

Considerações finais

 

Esta pesquisa teve como ponto de partida apresentar as narrativas dos coveiros, analisando as relações no/do cotidiano desses trabalhadores que atuam no Cemitério do Gavião, de modo a problematizar o estigma dessa profissão e as relações de afeto, a partir das narrativas dos próprios profissionais.

Reforçamos aqui a essencialidade dos coveiros (Antônio, Benedito e Carlos) para construção deste trabalho, o convívio, as trocas, as narrativas, cada detalhe possibilitou a construção deste artigo, a partir de uma metodologia que passou por diversos momentos de observação in loco e, principalmente, a história oral. As fotografias se constituíram importante aporte metodológico para esta pesquisa, pois se tornaram elementos de análises, representando ao mesmo tempo o cenário no qual as atividades diárias são vivenciadas e o local onde as relações nasciam e eram construídas, pois capturavam momentos singulares de vivências e detalhes do lugar.

Porém, como dito, após a definição do objeto de estudo, passamos a vivenciar o cotidiano do cemitério com um novo olhar: atento ao passo a passo dos coveiros em sua labuta diária, às práticas costumeiras e aos detalhes daquele lugar que a cada dia nos possibilitava uma reflexão diferente. As falas, a observação dos gestos, dos símbolos e das triviais subjetividades no dia a dia laboral nos faziam perceber o cotidiano em sua relação lugar/tempo. Proceder a essas reflexões, imersos na dinâmica do cotidiano daqueles profissionais, fortaleceu as percepções e observações, porém não nos livrou de enfrentar dificuldades na pesquisa

Ressaltamos também o caráter social de pesquisas com essa temática e com essa metodologia de cunho antropológico, quando abordamos a ideia da invisibilidade social de um grupo de trabalhadores que é demandado diariamente, que fazem parte de um momento singular de carga emocional, mas que ao mesmo tempo são ignorados e silenciados por essa mesma sociedade que demanda os seus serviços.

Aqui pudemos apresentar um pouco da característica do trabalho diário, o lidar com o trabalho estigmatizado, estar em meio a dor do outro e o lidar com esse momento de despedida.

Em meios às discussões iniciais da pesquisa, surgiram outros desdobramentos sobre o objeto; atenção especial foi dada às relações de afeto estabelecidas nesse lugar. Nas falas dos sujeitos da pesquisa, foi possível identificar a ideia de pertencimento, as emoções intrínsecas ao trabalho, de viver o momento da dor do outro, de serem testemunhas dessa última despedida, ou como dito por Antônio, quando ressaltou que os coveiros são companheiros da morte e de trabalharem na fronteira entre a vida e a morte. Foi possível entender, ainda, como esses profissionais, que não possuem acompanhamento psicológico profissional, lidam diariamente com essa carga de emoções e como se percebem em meio a essas situações diárias. “Estar presente nesse momento de despedida, em que a família e os amigos estão chorando, é um momento de muita dor. Tem momentos que sinto a dor deles” (informação verbal).[15]

Portanto, o intuito foi dar voz e visibilidade às experiências vividas, destacando relações sociais, afetivas e espaciais construídas nesse universo de trabalho e simbólico.

 

Referências

ALBERTI, Verena. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV, 1990.

ANDRADE, Rosane de. Fotografia e antropologia: olhares fora-dentro. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.

BARTHES, Roland. A câmara clara: Nota sobre a fotografia. Lisboa: Edições 70, 1977.

BATISTA, A. S.; CODO, W. Trabalho sujo e estigma: cuidadores da morte nos cemitérios. Revista de Estudios Sociales. Bogotá, n. 63,  p. 72-83, 2018. Disponível em: https://journals.openedition.org/revestudsoc/1270. Acesso em: 2 nov. 2020.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985.

BERGER, I; MOHR, J. Another way of telling. New York: Pantheon Books, 1982.

BITTENCOURT, Luciana. A fotografia como instrumento etnográfico. Anuário Antropológico, Brasília, v. 17, n. 1, 1993. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6536/7576. Acesso em: 12 nov. 2023.

BOURDIEU, Pierre. Compreender. In: BOURDIEU, Pierre (coord.). A miséria do mundo. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1989. p. 693–732.

CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. Campinas: Papirus, 1995.

FRANCO, Clarissa. A cara da morte: imaginário fúnebre no relato de sepultadores de São Paulo. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) — Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.

LANDSBERG, Paul Ludwig. Ensaio sobre a experiência da morte e outros ensaios. Rio de janeiro: Contraponto, 2009.

LOPES, Claudia Simone Carneiro. A identidade profissional pela tessitura do discurso de funcionários/as da escola pública estadual no Programa Profuncionário. 2014. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar Cultura e Sociedade) — Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2014.

MARANHÃO. Portaria/SES/MA Nº 202, de 30 de março de 2020. Disciplina o procedimento preventivo no manuseio de cadáveres cujo óbito foi decorrente de suspeita ou confirmação do novo Coronavírus (COVID-19) no âmbito do Estado do Maranhão. Disponível em: https://www.saude.ma.gov.br/wp-content/uploads/2020/03/portaria-prevencao-covid19-svo.pdf. Acesso em: 12 nov. 2023.

NOGUEIRA, Renata. Elos de memória: passado e presente, cemitério e sociedade. Vivência: Revista de Antropologia. Natal, v. 1 n. 39, p. 81-89. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/vivencia/article/view/1936. Acesso em: 12 nov. 2023.

PETONNET, Colette. A observação flutuante: o exemplo de um cemitério parisiense. Antropolítica. Niterói, n. 25, p. 99-111, 2008. Disponível em: https://static1.squarespace.com/static/5d38e623b83acd0001723688/t/61133461b9a8e778cd581370/1628648546048/Observa%C3%A7%C3%A3o+flutuante.pdf. Acesso em: 12 nov. 2023.

RABELO, Elizabeth Avelino. Morte e mundo-da-vida: análise fenomenológica de experiências de coveiros no Cemitério do Bonfim. 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia ) — Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.  São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Os pensadores). Publicação original: 1754.

SCARTEZINI, Natalia. Introdução ao método de Pierre Bourdieu. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, Araraquara, n. 14 e 15, p. 25-37, 2011. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/5159. Acesso em: 12 nov. 2023.

SILVA, Juremir Machado da. As tecnologias do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2003.

STECANELA, Nilda. O cotidiano como fonte de pesquisa nas ciências sociais. Conjectura, Caxias do Sul, v. 14, n. 1, jan./maio 2009. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/4/4. Acesso em: 12 nov. 2023.

THOMPSON, Paul. A voz do passado. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

ZELENOVIC, Cláudia Cristina Modesto. Representações e emoções de coveiros portugueses face à morte. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia) — Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2008.

 

Recebido em: 01/05/2023.

Aceito em: 01/11/2023.

 

 



* Mestre em cartografia social e política da Amazônia pela Universidade Estadual do Maranhão, Brasil. E-mail: anderson.boas@mail.uft.edu.br.

** Mestra em cartografia social e política da Amazônia pela Universidade Estadual do Maranhão, Brasil. E-mail: arieled.santosgeo@gmail.com.

[1] Trecho da fala de Antônio. 50 anos. Entrevista realizada em 16 de dezembro de 2020.

[2] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 16 de dezembro de 2020.

[3] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 14 de fevereiro de 2021.

[4] Trecho da fala de Antônio. 50 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[5] Idem.

[6] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[7] Esta pesquisa se desenvolveu durante o período de pandemia do coronavírus, fato que gerou outro elemento dificultador para esta investigação. Porém, ao mesmo tempo, encontramos nessa dificuldade uma ampliação do escopo do estudo, quando passamos a observar e perceber que, desde então, se intensificou a rotina de trabalho desses profissionais, o que desafiou ainda mais o lado físico e emocional desses sujeitos. Também foram perceptíveis as mudanças nos rituais praticados, inclusive nos sepultamentos.

[8] Trecho da fala de Antônio. 50 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[9] Trecho da fala de Carlos. 43 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[10] Trecho da fala de Antônio. 50 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[11] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 1 de outubro de 2021.

[12] Trecho da fala de Carlos. 43 anos. Entrevista realizada em 27 de maio de 2021.

[13] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 27 de maio de 2021.

[14] Trecho da fala de Antônio. 50 anos. Entrevista realizada em 27 de maio de 2021.

[15] Trecho da fala de Benedito. 42 anos. Entrevista realizada em 27 de maio de 2021.

 

 

_____________________

Desenho de um círculo

Descrição gerada automaticamente com confiança médiaÉ permitido compartilhar (copiar e redistribuir em qualquer suporte ou formato) e adaptar (remixar, transformar e “criar a partir de”) este material, desde que observados os termos da Licença  CC BY-NC 4.0.