MULHERES NA TATUAGEM: uma revisão integrativa sobre a representação e experiências

WOMEN IN TATTOOING: an integrative review on representation and experiences

 

Fernanda Cavalheiro Ruffino Rauber *

Fernanda de Aguiar Zanola **

Mônica Carvalho Alves Cappelle ***

 

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n31.67037.p294-315

 

 

Resumo

Este artigo explora a presença e o papel das mulheres no campo da tatuagem, uma prática que tem evoluído ao longo da história com diversos significados e contextos sociais. Apesar do aumento atual do número de mulheres tatuadoras, a desigualdade de gênero ainda persiste nessa profissão. A tatuagem e a ocupação de tatuador têm sido objeto de debates e estigmas, mas também estão passando por um processo de transformação cultural. Neste artigo, propomos uma investigação sobre a representação e a experiência das mulheres tatuadoras em estudos acadêmicos, por meio de uma revisão integrativa de literatura. Além disso, discutimos as barreiras enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho de forma mais ampla, incluindo os estereótipos de gênero e a desigualdade de oportunidades. Os procedimentos metodológicos adotados abrangem a busca sistemática de teses, dissertações e artigos científicos relacionados ao tema, com o objetivo de contribuir para uma compreensão mais aprofundada das questões de gênero no campo da tatuagem. Por meio da análise proposta, percebemos que as mulheres ainda são minoria nesse ambiente de trabalho, enfrentando barreiras como, o preconceito, falta de reconhecimento, desigualdade e outros problemas relacionados a gênero.

Palavras-chave: mulheres na tatuagem; trabalho; barreiras; revisão integrativa.

 

Abstract

This article explores the presence and role of women in the field of tattooing, a practice that has evolved throughout history with diverse meanings and social contexts. Despite the current increase in the number of female tattoo artists, gender inequality still persists in this profession. Tattooing and the occupation of a tattoo artist have been subject to debates and stigmas but are also undergoing a process of cultural transformation. In this article, we propose an investigation into the representation and experience of female tattoo artists in academic studies through an integrative literature review. Additionally, we discuss the barriers faced by women in the workforce more broadly, including gender stereotypes and inequality of opportunities. The methodological procedures adopted encompass a systematic search for theses, dissertations, and scientific articles related to the topic, with the aim of contributing to a deeper understanding of gender issues in the field of tattooing. Through the proposed analysis, we realized that women are still a minority in this work environment, facing barriers such as prejudice, lack of recognition, inequality and other gender-related problems.

Keywords: women in tattooing; work; barriers; integrative review.

 

Introdução

 

A prática de marcar o corpo é apontada em diferentes contextos ao longo da história, variando os motivos de sua realização, a forma de ser realizada, além dos indivíduos que são alvo e quem realiza esta atividade (JEHA, 2019), fazendo com que o contexto social em que o indivíduo realizou a tatuagem se torne tão importante quanto a tatuagem em si (DEMELLO, 2000). A pele é a tela na qual se pode projetar tanto as maiores fantasias quanto os medos mais profundos; perfurar ou marcar o corpo pode significar assumir uma posição de contracultura (MIFFLIN, 2001). Dependendo de quem é o tatuado, o que a tatuagem representa, onde é colocada e a natureza do relacionamento entre o tatuado e sua avaliação por outras pessoas nas sociedades (CURRA, 2011), a tatuagem pode ser vista como símbolo de prestígio ou um símbolo de estigma (BARRON, 2017).

Um exemplo disso é a situação das mulheres no Brasil. Os registros encontrados, apesar de poucos, na literatura mostram uma avaliação negativa. No contexto brasileiro, entre a segunda metade do século XVIII e metade do século XX, mulheres com tatuagem eram desprezadas, pois a tatuagem exacerbava uma sexualidade que não deveria ser exteriorizada. Os registros associam a tatuagem, principalmente, às prostitutas, fazendo parte do seu universo e da própria história da tatuagem na mulher até a década de 1970. Essa associação está ligada ao fato de que era o corpo da mulher prostituta — ou classificada como prostituta — que estava ao dispor para ser “fotografado, descrito e abusado” (JEHA, 2019, p. 208). Embora a prostituição em si não fosse considerada crime, nesse período, as mulheres também poderiam ser presas por vadiagem. Por lei, sujeitos que não tivessem uma ocupação considerada honesta para a sociedade da época poderiam ser presos. Seja nas ruas, prostíbulos ou prisões “seus corpos, já estigmatizados, não teriam nada a perder com a tatuagem” (JEHA, 2019, p. 16).

Mesmo diante desse cenário, o pioneirismo na implantação de loja de tatuagem no padrão europeu e americano no Brasil é atribuído a Ana Velho, historicamente registrada como a primeira tatuadora profissional do país. Com o registro como tatuadora obtido na Secretaria Municipal de Fazenda e a declaração do Conselho Regional de Medicina atestando que ela “trabalhava em condições perfeitas de assepsia” (MARQUES, 1997, p. 200), a Tropical Tattoo foi criada em março de 1980 em Ipanema, Rio de Janeiro. Apesar do pioneirismo feminino, no final da década de 1990, Marques (1997) registra a diferença existente entre homens e mulheres exercendo o ofício. De acordo com o autor, o número de tatuadores homens em território nacional era incontável, contrastando com o registro de apenas sete mulheres realizando a mesma atividade.

A tatuagem e o próprio trabalho do tatuador permanecem envoltos em questões que oscilam entre a aceitação e a censura, a celebração e a rejeição ao longo do tempo nas sociedades (BARRON, 2017). Embora a tatuagem esteja passando por um processo caracterizado por Kosut (2006) de “reinscrição cultural”, diferentes significados estão sendo formulados em função da exposição midiática, evolução tecnológica, além das razões que levam diversos públicos a tatuarem seus corpos (BARRON, 2020; FERREIRA, 2013; KOSUT, 2006).

Mesmo que o cenário atual pareça ter mudado, e que a participação das mulheres no campo da tatuagem tenha aumentado, pesquisas mostram um descompasso entre a inserção e a aceitação. De acordo com o levantamento realizado por Oliveira e Moura (2019, p. 63), “o mercado da tatuagem atualmente é construído por muitas mulheres tatuadoras que são reconhecidas por seus pares e possuem clientela grande e fiel”, entretanto não é possível afirmar que é um espaço igualitário. Diante desse contexto,  questionamo-nos como o trabalho de mulheres tatuadoras pesquisadas em publicações de estudos indexados no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES) e no Google Acadêmico é abordado?

Uma vez que o trabalho com a tatuagem é alvo de debates a respeito de suas finalidades, alcances, limitações e legitimidade no mercado de trabalho ao longo do tempo em contextos sociais distintos (BARRON, 2017; HALL, 2014; STECKDAUB-MULLER, 2019), este artigo tem por objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura para identificar como o trabalho de mulheres tatuadoras é abordado em estudos indexados em duas bases de pesquisas acadêmicas.

Academicamente, a pesquisa é pertinente por explorar um objeto de estudo com sujeitos investigados de maneira incipiente em pesquisas na área da administração. Buscas realizadas por pesquisas acadêmicas tendo as mulheres tatuadoras como sujeitas não retornaram resultados significativos, apesar de diversas matérias em revistas, sites e redes sociais on-line discutirem sobre como elas estão modificando a estética dos estúdios e o próprio mercado da tatuagem (OLIVEIRA; MOURA, 2019). Nesse sentido, Oliveira e Moura (2019, p. 61) acreditam que a falta de trabalhos acadêmicos tendo as tatuadoras como sujeitas pode sinalizar que este ambiente “ainda é predominantemente encarado como um trabalho masculino”.

A pesquisa justifica-se socialmente pois poderá contribuir para melhor compreensão sobre os contextos e experiências vividas por aquelas que atuam na ocupação de tatuadora no Brasil, auxiliando em reflexões coletivas e individuais sobre a carreira que vivenciam e (re)interpretam. Trata-se de um grupo com atividades laborais que são alvos de debates sobre suas distintas finalidades, alcances, limitações e legitimidade no mercado de trabalho em diversos contextos sociais ao longo do tempo (BARRON, 2017; HALL, 2014; JEHA, 2019; STECKDAUB-MULLER, 2019). Diante disso, é um tema que se mantém atual e que reforça a pertinência de estudos continuados sobre as trajetórias das tatuadoras.

Como justificativa pessoal, em pesquisa anterior, deparamo-nos com dificuldades em localizar mulheres tatuadoras para um estudo exploratório. Embora muitos estúdios parecessem ser operados por mulheres, a realidade era frequentemente diferente, com elas desempenhando funções administrativas. Essas experiências nos levaram a questionar a presença efetiva das mulheres nesse campo, o que nos motivou a explorar o tema.

O tema proposto abrange questões relevantes tanto para os estudos organizacionais quanto para pesquisas em administração. Investigar então o trabalho de mulheres na ocupação de tatuador é pertinente por não ser uma profissão convencional, envolvendo aspectos marcantes no que se refere à sua aceitação e reconhecimento por parte da sociedade em geral. Além de estar presente na agenda de estudos de diferentes autores (DELUCA, 2015; MENDES, 2017; OLIVEIRA; MOURA, 2019).

Este trabalho, além da presente seção introdutória, ainda possui uma seção de fundamentação teórica sobre trabalho, além dos procedimentos metodológicos em que os processos realizados para a consecução do estudo são apresentados. Ainda, possui uma seção de resultados, em que são apresentados o conjunto de textos e análises do estudo. E, finalmente, uma seção de considerações finais, em que algumas limitações e sugestões de estudos futuros são apresentados.

 

Mulheres no mercado de trabalho: as barreiras construídas

 

Em decorrência da busca pelo protagonismo da mulher na sociedade, diversas questões emergem para estudos, e apesar da falácia de igualdade de oportunidades e condições para todos, desigualdades ainda são registradas. As diferenças variam entre remuneração recebida à impossibilidade de ocupar determinadas posições no ambiente organizacional. Os estereótipos de gênero existentes no âmbito empresarial podem gerar desconforto para mulheres, de quem a sociedade espera um comportamento de mãe, não de empresária (CRAMER et al., 2012; GOMES; LIMA; CAPPELLE, 2013; VALE; SERAFIM; TEODÓSIO, 2011). Vale destacar que em muitos casos elas desenvolvem um sentimento de culpa, estimulado por elas e pela família, que exigem dedicação às tarefas domésticas. Consideradas adereços e objetos de satisfação, são cobradas de forma negativa pela família quando se dedicam aos negócios, pois estariam deixando de desempenhar o papel de mãe e/ou esposa. Entretanto, existe a luta constante por parte destas para romper com os rótulos sociais e culturais construídos ao longo da história (CAPPELLE; MELO; SOUZA, 2013; CRAMER et al., 2012; SILVA; LASSO; MAINARDES, 2016).

Para Acker (2006), em todas as organizações há processos de desigualdade, desenrolando-se mesmo nas que possuem objetivos igualitários explícitos onde a visibilidade da desigualdade parece estar aumentando e sua legitimidade diminuindo. As mulheres precisam trabalhar e se reinventar mais do que os homens, especialmente remodelando sua interioridade e subjetividade, como se tornar mais assertivas ou resilientes no local de trabalho (GILL; KELAN; SCHARFF, 2017). Mesmo sendo o trabalho desenvolvido em ambientes de estúdio, ainda necessitam lidar e contornar com a estigmatização da atividade, como revela a pesquisa conduzida por Silva e Saraiva (2014).

Um ponto interessante discutido no trabalho de Acker (2006) é a relação de poder existente dentro das organizações. De acordo com a autora, o poder está localizado nas mãos dos homens, que se encontram no topo de grandes organizações econômicas e estatais. Esses fatos não são novidade, e as vertentes feministas surgiram nos estudos organizacionais para apontar a natureza problemática do óbvio. Portanto, esse posicionamento ontológico, epistemológico e paradigmático é profícuo, pois esclarece a segregação do trabalho por gênero, que são parcialmente criados por meio de práticas organizacionais. Desta forma, as organizações se apresentam como uma arena na qual as imagens de gênero são inventadas e reproduzidas.

Por essa ótica, a “teoria e a pesquisa sobre desigualdade, dominação e opressão deve prestar atenção às interseções de, pelo menos, raça/etnia, gênero e classe” (ACKER, 2006, p. 442). Nesse contexto, a interseccionalidade revela diversos espaços discursivos, buscando examinar uma variedade de categorias sociais e culturais. Seu propósito é compreender de forma interconectada as raízes da opressão, discriminação, injustiça e desigualdade social. Sob essa perspectiva, emerge uma abordagem teórico-metodológica que visa capturar as intrincadas consequências provenientes da interação entre duas ou mais formas de subordinação. Além disso, é um paradigma feminista que oferece uma contribuição teórica significativa para os estudos sobre relações de gênero nas organizações (ILMONEN, 2019; SAMUELS; ROSS-SHERIFF, 2008; PISCITELLI, 2008).

Do ponto de vista epistemológico, o pensamento acadêmico requer que os estudiosos considerem uma variedade mais ampla de indivíduos para enriquecer suas análises e, assim, evitarem cair na armadilha do essencialismo ou universalismo, que tenta generalizar a compreensão das experiências de grupos diversos na sociedade contemporânea (SAMUELS; ROSS-SHERIFF, 2008). Essa abordagem ajuda a evitar a fragmentação, o reducionismo e a falta de clareza nos conceitos inter-relacionados (PALUDI; HELMS MILLS; MILLS, 2019; SAMUELS; ROSS-SHERIFF, 2008).

Com essa perspectiva, torna-se possível examinar as diversas experiências de indivíduos não privilegiados em contextos mais amplos. Compreender múltiplas práticas requer uma apreciação mais profunda que destaque principalmente momentos e cenários específicos no espaço e no tempo (KANG; CHAI; MCLEAN, 2015; VALENTINE, 2007). Em outras palavras, a realidade com a qual os indivíduos interagem diariamente, como nas dinâmicas cotidianas de (re)formulação de suas trajetórias profissionais (KANG; CHAI; MCLEAN, 2015).

Conforme Holvino (2010) destacou, a imperatividade de adotar essa abordagem nos estudos organizacionais deriva da negligência em relação às vivências daqueles que não se encaixam no cenário predominantemente branco, heterossexual e elitista. Em outras palavras, indivíduos que desafiam essas normas, como mulheres nativas americanas, latinas, asiáticas e negras, foram sumariamente desconsideradas no campo. Segundo a autora, a teoria interseccional visa reintegrar as interconexões entre identidades, práticas institucionais e sociais, abrangendo uma variedade de pessoas nas agendas de pesquisa contemporâneas. Além disso, auxilia as organizações a promoverem aplicações práticas e facilitar mudanças políticas (HOLVINO, 2010).

Nesse contexto, a abordagem proposta não apenas desafia e supera as representações simplificadas e uniformes das organizações, mas também se concentra na criação de uma imagem de grupos de indivíduos que estão fora do espectro convencional (HOLVINO, 2010). Essa perspectiva prepara o terreno para análises mais abrangentes, que buscam explorar a complexidade dessas experiências diversificadas dentro das estruturas organizacionais. Além disso, fornece uma lente para interpretar o contexto (ACKER, 2006; PALUDI; HELMS MILLS; MILLS, 2019). Para interpretar e compreender o objetivo proposto neste estudo, a seção seguinte refletirá sobre os procedimentos metodológicos fundamentais necessários para o debate.

 

Procedimentos metodológicos

 

O presente artigo teve por suporte metodológico a revisão integrativa de literatura. Trata-se de um método de pesquisa que permite a criação de novos conhecimentos a partir da análise, crítica e síntese da literatura sobre determinado tema (TORRACO, 2016; WHITTEMORE; KNAFL, 2005). Para Botelho et al (2011, p. 133), a utilização desta metodologia em estudos organizacionais justifica-se por sua capacidade de sistematização do conhecimento científico podendo “ser considerada, portanto, um método para o desenvolvimento da revisão da literatura no campo organizacional”. Construir uma revisão integrativa fornece, a partir de protocolos, um caminho apropriado para identificar a bibliografia relevante, indicar como ocorreu a evolução, e quais são as perspectivas futuras para o campo (TORRACO, 2005, 2016). Ainda, a utilização desta metodologia fornece subsídios para o pesquisador revisar, criticar e sintetizar o conhecimento sobre o tópico, o que fornece subsídios para a construção de novos conhecimentos, estruturas e apontar perspectivas futuras sobre o tópico abordado (SCULLY-RUSS; TORRACO, 2020; TORRACO, 2016), possibilitando como contribuição, a identificação de aspectos comuns que são abordados nos estudos e apontar possíveis lacunas para pesquisas futuras.

Mediante o exposto por Torraco (2005), para o presente trabalho, optou-se pela revisão crítica e síntese dos dados encontrados, visto que por meio desses processos é possível atingir o objetivo deste estudo. Quanto à organização e estrutura dos resultados, optou-se pela estrutura conceitual, isto é, os resultados do estudo decorrem de conceitos apresentados na literatura que são organizados em torno do objetivo deste trabalho, não sendo utilizado recorte temporal.

Tendo como objetivo este artigo propõe uma investigação para identificar como o trabalho de mulheres tatuadoras é abordado em estudos no contexto brasileiro, sendo examinados teses, dissertações e artigos científicos que tratam desta temática. As buscas foram realizadas no mês de novembro de 2022 no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES) e no buscador Google Acadêmico. Foram utilizados os termos “tatuagem” ou “tatuador” como itens principais a serem localizados nos títulos dos documentos. Para delimitar o resultado a textos concernentes à pesquisa, os termos “trabalho”, “feminismo”, “gênero” e “mulher” foram combinadas de diferentes formas em cada plataforma a fim de potencializar o resultado da busca. Os filtros aplicados estão descritos na Figura 1, que sintetiza as etapas para a realização da pesquisa.

 

 

Figura 1 – Síntese do processo de pesquisa

Fonte: Elaborada pelas autoras.

 

 

 

A busca agrupada no Catálogo de Teses e Dissertações resultou em 77 estudos em diferentes áreas do conhecimento. Para refinamento dos dados para teses e dissertações, foram excluídos: i) documentos repetidos; ii) estudos sem, ao menos, um dos termos de busca no título. Como segunda etapa de refinamento, foi realizada leitura dos resumos para identificar a relação do estudo com o objetivo da pesquisa, totalizando 6 dissertações e uma tese publicadas entre os anos de 2004 e 2021. Já a busca realizada por meio do Google Acadêmico retornou um resultado de 512 documentos. Para refinamento dos dados, além dos dois critérios descritos na primeira etapa, foram excluídos: iii) artigos de congresso; iv) trabalhos de conclusão de curso e; v) capítulo de livros. A busca foi limitada para páginas em português, teses e dissertações foram desconsideradas por estarem incluídas na etapa anterior. A última etapa consistiu na leitura dos resumos dos artigos, na qual foi avaliada a relação com o objetivo da pesquisa. Artigos, teses e dissertações que não tinham o tatuador como sujeito principal de sua análise foram excluídos da amostra. Para fins desta pesquisa, considerou-se como sujeito aquele que tanto constrói significados como aquele que é autor dos acontecimentos (CHIZZOTTI, 2005).

Os filtros estabelecidos possibilitaram a redução do grande número de documentos retornados na pesquisa inicial, além de evidenciar aqueles que auxiliariam a atender o objetivo proposto para a revisão integrativa pretendida. Por fim, o conjunto de textos aceito para a leitura integral foi submetido à revisão de referências. Torraco (2016) explica que textos potencialmente importantes para o estudo podem ser encontrados nas referências dos documentos aceitos para revisão, permitindo que a amplitude da busca seja suficiente para cobrir boa parte da literatura relevante sobre o tema. Nessa última etapa, nenhum novo documento foi incorporado ao conjunto final, sendo, portanto, estabelecido em 7 textos oriundos de estudos empíricos, publicados entre 2004 e 2022.

As pesquisas foram agrupadas com base na similaridade dos conceitos ou teorias de interesse dos textos selecionados (TORRACO, 2016). Dessa forma, os resultados foram organizados com a intenção de capturar a dinâmica dos estudos, visando identificar a base teórica utilizada e agenda de estudos proposta. Essa identificação lança luz sob os conceitos sobre o tema, assim, demais pesquisadores poderão utilizar esta pesquisa como base para estudos futuros.

 

Resultados

 

Esta seção é dedicada à apresentação dos resultados deste estudo. No quadro 1, pode-se consultar o conjunto de textos aceitos para análise final. Os dados oriundos do conjunto de textos compuseram as categorias que formam as subseções desta seção. Essas seções correspondem a duas categorias: presença das mulheres nos estudos e agenda futura proposta envolvendo mulheres e/ou gênero.

Com relação à presença de mulheres nos estudos, buscou-se identificar de que forma elas são inseridas como sujeitas. O objetivo é identificar pontos marcantes em relação à divisão do trabalho, papéis desempenhados, além de outras informações relevantes para traçar o perfil destas sujeitas. Já em relação à agenda futura, foram observadas as sugestões de estudos propostos pelos autores do conjunto de textos analisado. Vale lembrar que esta não é prática habitual entre os autores. Torraco (2005, 2016) destaca a importância de a revisão integrativa investigar as possibilidades de futuro para o tópico ou campo, além de identificar possibilidades de pesquisas adicionais.

Em relação à análise do banco de dados, Torraco (2005) recomenda a desconstrução dos temas centrais em subtópicos que podem incluir interações, aplicações e métodos de pesquisa, dentre outros. Assim, este estudo realizou uma revisão com o objetivo de identificar as abordagens existentes. Espera-se, portanto, que tal organização e análise ajudem a verificar as interações (ou falta disso) entre abordagens presentes nos estudos que compuseram o corpus de análise (RASTOGI et al., 2018).

 

Quadro 1 – Conjunto de textos estudados

Tipo do documento

Título

Autor

Ano de publicação

Dissertação

Do porão ao estúdio: trajetórias e práticas de tatuadores e transformações no universo da tatuagem

Zeila Costa

2004

Dissertação

Artesão da pele: aprendendo a ser tatuador

Diego de Jesus Vieira Ferreira

2012

Dissertação

“Você só tatua?” A trajetória profissional no campo da tatuagem

Gabriela DeLuca

2015

Dissertação

Trabalho artístico? A ocupação tatuador (a)

Jeane Pereira Gomes da Silva Mendes

2017

Tese

Ser tatuador/a, ser artista: uma análise sociológica sobre os processos de ratificação da tatuagem na capital paulista

Beatriz Patriota Pereira

2021

Artigo

Profissão: Tatuadora – Mulheres Trabalhadoras em um Mundo (e Mercado) Eminentemente Masculino

Renata Couto de Azevedo Oliveira et al.

2021

Artigo

“Cadê o tatuador?” Construção da identidade profissional e estigma de mulheres na profissão tatuadora

Rafaela de Almeida Araújo et al.

2022

Fonte: Elaborado pelas autoras

 

 

Mulheres como sujeitas

 

No estudo etnográfico de Costa (2004), a autora observou que dos cinco estúdios em que esteve, apenas em um deles a função de atendimento era realizada por um homem. A autora se deparou também com mulheres atuando juntamente com seus cônjuges exercendo atividades administrativas, com exceção de um estúdio em que o casal atuava como tatuadores. A única tatuadora entrevistada pela autora é identificada como Natália, que atuava com o seu marido em um estúdio de tatuagem. Natália iniciou como secretária no estúdio do casal, ela afirma que a vontade de aprender surgiu dessa atuação, passando posteriormente para etapa de aprendiz, sendo ela mesma sua primeira cobaia.

A pesquisa de Ferreira (2012) mostra as preferências de homens e mulheres para a escolha do local da tatuagem, e a liberdade de marcar os corpos permeia as discussões da pesquisa. Embora não tenha conhecido nenhuma tatuadora durante a sua pesquisa, e nem mesmo os profissionais que entrevistou tenham citado mulheres atuantes na região de Fortaleza, Ceará, o autor afirma que a inserção das mulheres no circuito da tatuagem tem aumentado, sendo possibilitada, em parte, pela profissionalização do ofício e sua saída de locais improvisados, denotando em “status de ofício doméstico, artesanal, praticado por amadores” (PÉREZ, 2006, p. 181).

DeLuca (2015) faz a discussão da construção da carreira dos tatuadores, procurando equilíbrio entre a quantidade de entrevistados do sexo feminino e masculino. A pesquisa foi realizada em um estúdio em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e contou com a participação de seis tatuadores (sendo um aprendiz), duas tatuadoras e uma gerente administrativa. As tatuadoras Stefani e Keka, como foram identificadas na pesquisa, têm sua trajetória analisada em conjunto com os demais tatuadores. Uma das falas que chamou atenção foi da administradora Maria, utilizando a metáfora da família, demonstra que desempenha o papel de mãe nesse contexto. Embora tenha apontado que existam relações de dominação no ambiente da tatuagem, não foram encontradas na dissertação indícios claramente descritos dessa situação.

Na pesquisa conduzida por Mendes (2017), a autora adota a abordagem sociológica do trabalho para investigar a carreira do tatuador. Entre os vinte e dois entrevistados, apenas dez são mulheres. A autora continua a pesquisa realizando uma análise sobre a participação das mulheres na tatuagem e realiza uma significativa reflexão sobre a integração das mulheres no mercado de trabalho em geral e no contexto da tatuagem em particular. Em relação aos resultados, a autora aborda a contradição entre a expansão do espaço ocupado por mulheres e a persistência da desigualdade de gênero, observando que muitas mulheres acabam abandonando a profissão devido às dificuldades enfrentadas ao longo de suas trajetórias. Segundo a autora, é comum que as mulheres, por vezes, não percebam as relações de desigualdade e dominação a que estão submetidas, naturalizando essas condições.

Pereira (2021, p. 406) corrobora com o apresentado nos trabalhos anteriores. A autora afirma que “o campo da tatuagem é marcado pelo machismo e as tatuadoras encontram obstáculos e dificuldades para se estabelecer”. Como consequência, mulheres acabam tendo mais clientes mulheres, pois não detêm a confiança dos homens, o que leva a uma contundente constatação: “Com participação reduzida, não há representatividade” (PEREIRA, 2021, p. 406).

Para Oliveira e Moura (2021), a presença da mulher na tatuagem sempre foi atravessada por questões de gênero, estereótipos sociais e autodeterminação. Como tatuadoras e mulheres tatuadas são alvo de avaliações sociais a partir da quantidade de tatuagens que possuem, do desenho e do tamanho da tatuagem que ocupam sua pele, “o que sugere que o corpo feminino ainda é produzido discursivamente dentro de parâmetros socialmente estabelecidos” (OLIVEIRA; MOURA, 2021, p. 32). O exposto confirma os apontamentos de Curra (2011) e Barron (2017) de que a tatuagem pode ser vista como símbolo de prestigio ou estigma dependo de quem é o tatuado, onde é realizada ou o que representa, além da natureza do relacionamento entre o tatuado e sua avaliação por outras pessoas nas sociedades.

A pesquisa de Araújo, Catrib, Paiva e Lima (2022) teve como sujeitas apenas mulheres, atuando profissionalmente a mais de 5 meses. Muitas delas com formação acadêmica e contato anterior com ilustração e/ou desenho técnico, relatam incentivo de familiares e amigos para se inserirem na tatuagem. Mesmo com esse incentivo, a falta de reconhecimento profissional é identificada. A profissão é vista como algo provisório, um trampolim para outras atividades ligadas à estética e com melhor avaliação para uma mulher, como a micropigmentação. Diferentes marcadores de desigualdade são identificados, dentre eles a preferência dos clientes por tatuadores homens por acreditarem que somente eles desenvolvem um trabalho “bem-feito” na tatuagem. Um capítulo à parte são os relatos de assédio que as tatuadoras vivenciam.

Ferreira (2012) mencionou a maior participação das mulheres nesse espaço, situação também percebida por Araújo, Catrib, Paiva e Lima (2022). DeLuca (2015) apontou relações de dominação no ambiente da tatuagem, embora não tenha aprofundado a investigação na temática. De acordo com Pereira (2021), a tatuagem ainda se apresenta como um campo majoritariamente masculino, no qual as mulheres encontram dificuldade tanto para se estabelecer como profissionais quanto para dar visibilidade aos seus trabalhos. Por vezes, relatam sentirem-se como intrusas na profissão, o meio alimenta a imagem de que apenas o trabalho realizado por homens seria desempenhado com qualidade (ARAÚJO; CATRIB; PAIVA; LIMA, 2022).

A forma como mulheres estão descritas nas pesquisas exemplifica o exposto por Acker (2006), de que em todos os espaços organizacionais há o processo de desigualdade, havendo maior esforço por parte das mulheres para trabalhar e/ou se reinventar no mesmo ambiente em que os homens estão inseridos (GILL; KELAN; SCHARFF, 2017), e o poder ainda se mostra centrado nas mãos dos homens (ACKER, 2006). Mesmo com percepção de maior participação das mulheres no cenário da tatuagem, os dados das pesquisas analisadas mantêm a diferença existente entre homens e mulheres, tal como apresentada por Marques (1997), ainda na década de 1990, em que homens estavam numericamente à frente em relação às mulheres.

Adicionalmente, ao adotar uma perspectiva interseccional, torna-se evidente como o gênero e as trajetórias de carreira se entrelaçam, estabelecendo conexões entre categorias que influenciam a diferenciação social de maneira interconectada e mutuamente constituída. Essa abordagem sublinha como as dinâmicas de poder, privilégio e desvantagem são incessantemente moldadas e reproduzidas (CASTRO; HOLVINO, 2016). Paralelamente, sob enfoque interseccional, argumenta-se que muitos estudos, incluindo aqueles com fundamentos feministas, negligenciam o fato de que a categoria gênero está intrinsecamente interligada com fatores como classe, raça, sexualidade, entre outros (ACKER, 2006; LUGONES, 2010)

Segundo Patrícia Hill Collins (2000), os paradigmas interseccionais não podem ser simplificados em uma única abordagem fundamental. Adotar uma visão excessivamente reducionista tornaria desafiador identificar os mecanismos subjacentes na criação de injustiças (OIKELOME; HEALY, 2013a). Dada a sua importância, a demanda para a aplicação dessas abordagens nos estudos organizacionais tem crescido (CASTRO; HOLVINO, 2016). O uso dessas perspectivas, portanto, amplia a compreensão das várias manifestações de desigualdade que se entrelaçam nas interações mediadas pela cultura em contextos específicos. Isso, por sua vez, ajuda a remediar lacunas, possibilitando estratégias mais robustas para a inclusão e promoção de grupos marginalizados no cenário organizacional (CASTRO; HOLVINO, 2016; KANG; CHAI; MCLEAN, 2015).

Com essa orientação, amplia-se a capacidade de abordar questões como: Existe uma percepção diferenciada das barreiras de carreira entre grupos? Como a raça, gênero, sexualidade, nacionalidade e outros fatores impactam as decisões de carreira? As demandas das origens culturais são relevantes? Outras formas de identificação social limitam a participação em trajetórias profissionais? Quais obstáculos enfrentam grupos socialmente marginalizados ao buscar carreiras em áreas “tradicionais”? (OIKELOME; HEALY, 2013b)

Além disso, para Marshall (1989), nos estudos de carreira, a perspectiva feminista ilustra a amplitude de abarcar diversas perspectivas. Assim, o feminismo para as carreiras destaca que tanto o ser quanto o agir são processos em constante evolução e mudança. Dentro desse contexto, as transformações sociais, econômicas, identitárias e organizacionais que emergiram do movimento feminista desde a década de 1960 abriram espaço para uma multiplicidade de abordagens teóricas. Essa diversidade vai desde o âmbito psicológico até o estrutural, do biológico ao social, e ainda mais além. Portanto, no estudo das carreiras, o feminismo desempenha um papel crucial ao compreender a complexa interação entre indivíduos e os contextos nos quais operam.

Em resumo, as teorias feministas aplicadas aos estudos de carreira adotam uma perspectiva dinâmica e vivencial. Isso implica que as trajetórias profissionais, juntamente com suas interações nas diferentes esferas contextuais, desenvolvem-se no cotidiano dos indivíduos, produzindo impactos amplos e significativos tanto na teoria quanto na prática, no cenário contemporâneo, bem como no âmbito acadêmico e profissional (MARSHALL, 1989; HOLVINO, 2010; ACKER, 1990, 2006).

 

Agenda futura

 

Embora nem todos os trabalhos sugiram uma agenda de estudos, foi possível identificar claramente alguns caminhos pelos quais outros pesquisadores podem seguir, tendo mulheres como sujeitas no ofício da tatuagem.

O incentivo para análise de gênero, tornando mulheres tatuadoras como sujeitas centrais, é encontrado de forma recorrente em pesquisas em que homens e mulheres foram abordados. Dentre as possibilidades de ampliação de estudos, Costa (2004) sugere a discussão de gênero tendo tatuadoras como sujeitas e as implicações de sua atuação no universo da tatuagem. Assim como DeLuca (2015) salientou a importância da abordagem de gênero, dentre outros aspectos, no campo ocupacional da tatuagem, além de perceber sinais de dominação masculina, identificados posteriormente por Mendes (2017). A autora afirma haver desigualdades entre homens e mulheres na profissão, muito embora seja propagado que a tatuagem é um meio que se desvincula dos valores morais tradicionais.

Oliveira e Moura (2021) acrescentam a opção metodológica da análise do discurso foucaultiana para analisar de forma qualitativa os relatos das mulheres inseridas na profissão, além de buscar compreender o sentido e o significado do trabalho para essas sujeitas.

Araújo, Catrib, Paiva e Lima (2022) sugerem a ampliação do estudo por meio da perspectiva masculina, comparando a construção da identidade profissional entre homens e mulheres na tatuagem, assim ampliando a compreensão no campo da tatuagem.

Marshall (1989) ilustra em seu capítulo que as teorias feministas atuam como um guarda-chuva de perspectivas. Logo, a partir dessa visão, informa-se que o ser e o fazer são contínuos e estão em constante evolução e mudança. Assim, as transformações sociais, econômicas, identitárias e organizacionais, que ocorreram nas perspectivas feministas a partir de 1960, ascenderam a várias posições teóricas que variam do psicológico ao estrutural, do biológico para o social, e assim por diante. Desse modo, para o estudo de carreiras, o feminismo se faz fundamental por compreender a complexa interação entre indivíduos e estruturas contextuais nos quais operam.

 

Considerações finais

 

Este artigo objetivou identificar como o trabalho de mulheres tatuadoras é abordado em estudos indexados no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e Google Acadêmico. Para isso, foi realizada uma revisão integrativa de parte da literatura nacional. Foram identificados estudos que, de alguma forma, abordam o trabalho do tatuador, buscando identificar a forma como mulheres eram abordadas nas pesquisas. Dentre as limitações, destaca-se a utilização de apenas duas bases de dados nacionais e a dificuldade para transposição dos dados para outros programas, a fim de verificar arquivos duplicados e aplicação dos demais filtros de pesquisa.

Para além das limitações encontradas, este trabalho traz contribuições teóricas por mapear pesquisas e identificar a forma como as mulheres são retratadas. Observa-se que a agenda de estudos se mostra profícua para pesquisas que queiram se aprofundar no tema a partir das relações de poder e dominação ou, ainda, sobre as desigualdades de gênero. Como destacado por Marshall (1989), ao utilizar a teoria de carreira como lente de análise, é possível dar enfoque às questões de gênero, especialmente no que diz respeito aos impactos negativos gerados por estereótipos, em certos aspectos, mesmo que ela não aborde de forma central a desvalorização enfrentada por grupos socialmente marginalizados. Sob esse olhar, emerge a necessidade de reexaminar teorias.

Vale lembrar que é preciso entender o movimento de mudança em curso no cenário da tatuagem. Como apontado nos trabalhos de Costa (2004) e Ferreira (2012), a tatuagem tem passado por um processo de transformação. Nas palavras de Costa (2004, p. 103) “da clandestinidade — e seus significados metafóricos associados à marginalidade — para a visibilidade, seja dos estúdios — um espaço de sociabilidade — ou dos corpos tatuados que circulam pelas ruas”, rompendo, por exemplo, barreiras de geração, classe e gênero.

Para Kosut (2006), a tatuagem tem passado por um processo definido por ele de reinscrição cultural, por meio da qual outros significados estão sendo criados, em parte, devido à exposição midiática, à evolução tecnológica, além das razões que levam as pessoas a tatuarem seus corpos (BARRON, 2020; FERREIRA, 2013; KOSUT, 2006). O tatuador também acompanha essa transformação, saindo de seu status clandestino, passando pela profissionalização e caminhando para a artificação. O movimento percebido nos trabalhos analisados visa a valorização social da tatuagem e do próprio trabalho do tatuador.

Esse movimento de mudança ainda parece incipiente em se tratando da inserção das mulheres. Pelo levantamento realizado, embora haja um número cada vez maior de mulheres no circuito da tatuagem, elas ainda não possuem representatividade. Relações de poder e dominação ainda estão presentes, mesmo que o contexto da tatuagem projete uma imagem de espaço igualitário e sem opressões de gênero ou sexo. O pioneirismo feminino no Brasil quase não é citado, a atenção permanece voltada para o homem estrangeiro que ganhou o porto de Santos, em São Paulo. O trabalho com a tatuagem pode não ser visto como um trabalho predominantemente masculino (OLIVEIRA; MOURA, 2019), mas mostra-se como um espaço desigual, em que mulheres sofrem um duplo preconceito; tanto clientes quanto outros tatuadores as colocam em lugar subalterno.

Para conduzir novas revisões, é fundamental analisar as trajetórias profissionais ao longo da vida do indivíduo, o que requer uma análise crítica das abordagens utilizadas para compreendê-las. Assim, uma agenda que adote essa perspectiva terá o potencial de revelar os processos nos quais os participantes cocriam significados durante a pesquisa, demonstrando sensibilidade conceitual e linguística ao mapear e valorizar as múltiplas considerações que influenciam as escolhas individuais e, por conseguinte, as trajetórias de carreira. Além disso, em combinação com as teorias de carreira, as teorias feministas adotam uma abordagem dinâmica e vivencial, implicando que as carreiras, interagindo com diversas esferas contextuais, desenvolvem-se no cotidiano dos indivíduos, gerando impactos tanto na teoria quanto na prática, no cenário contemporâneo e no âmbito acadêmico (MARSHALL, 1989; HOLVINO, 2010; ACKER, 1990, 2006).

 

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Recebido em: 20/06/2023.

Aceito em: 14/09/2023.

 

 



* Mestra em Gestão, Organizações e Sociedade pela Universidade Federal de Lavras, Brasil. E-mail: fernanda.rauber2@estudante.ufla.br.

** Mestra em Marketing, Estratégia e Inovação pela Universidade Federal de Lavras, Brasil. E-mail: fernada18az@gmail.com.

*** Doutora em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Professora da Universidade Federal de Lavras, Brasil. E-mail: edmo@ufla.br.

 

 

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Desenho de um círculo

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