“TODOS NÓS NASCEMOS PELADOS E O RESTO É CDZINHA”: uma netnografia no Bate-Papo uol de Cuiabá-MT
“WE ARE ALL BORN NAKED AND THE REST IS CDZINHA”: a netnography on Chat UOL in Cuiabá-MT
Heron Cristiano Mairink Volpi *
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n33.70710.p239-256
Resumo
Este estudo investiga as cdzinhas de Cuiabá (MT), homens que temporariamente se vestem como mulheres para fins sexuais, buscando compreender suas motivações e interações no Bate-Papo UOL. Para pensá-las, devemos estudar quem as precederam no campo das performances temporárias de gênero: as crossdressers dos anos 90 e 2000. No Brasil, estes estudos se aprofundaram há apenas vinte anos, com rápidas mudanças desde então. Utilizando como método a netnografia, foram feitas observações livres e perguntas diretas aos participantes do Bate-Papo UOL. O objetivo é entender como as cdzinhas ocupam esse espaço online, ao perguntar por que estão naquele lugar, e por desdobramento, como se beneficiam sexualmente de um travestimento temporário. Os achados revelam que as cdzinhas exercem poder ao atrair homens heterossexuais, mantendo suas próprias identidades em sigilo. Além disso, as cdzinhas não se declaram necessariamente homens gays e muito menos travestis. A pesquisa se baseou em autores como Azevedo (2020) e Braga (2015), que discutem a relação entre masculinidade e feminização do outro. Ademais, este estudo buscou traçar um perfil geral do público das cdzinhas, destacando que são homens héteros, casados e sem trejeitos femininos. Revelando a complexidade das relações de gênero e sexualidade nesse contexto.
Palavras-chave: cdzinha; crossdresser; bate-papo UOL; netnografia.
Abstract
This study investigates cdzinhas of Cuiabá (MT), men who temporarily dress as women for sexual purposes, seeking to understand their motivations and interactions on Chat UOL. To understand them, we need to study those who preceded them in the field of temporary gender performances: the crossdressers of the 90s and 2000s. In Brazil, these studies were deepened just twenty years ago, with rapid changes since then. Using netnography as a method, free observations and direct questions were addressed to the participants of Chat UOL. The objective is to understand how cdzinhas occupy this “online space”, by asking why they are in that “place”, and as a result, how they benefit sexually from temporary transvestism. The results reveal that the cdzinhas exert power by attracting heterosexual men, keeping their identities secret. Furthermore, cdzinhas do not necessarily declare themselves to be gay men, much less transvestites. The research was based on authors such as Azevedo (2020) and Braga (2015), who discuss the relationship between masculinity and the feminization of others. Furthermore, this study sought to delineate a general profile of the cdzinhas audience, highlighting that they are straight men, married and without feminine mannerisms. Revealing the complexity of gender and sexuality relations in this context.
Keywords: cdzinha; crossdresser; Chat UOL; netnography.
Introdução
De fronte é preciso delinear que o autor deste estudo é uma pessoa jovem que tem passagens acadêmicas dentro do contexto da pós-graduação no Brasil, mais especificamente dentro do campo da Antropologia. Além disso, tem inserções pessoais dentro da comunidade LGBTQIAPN+[1], de maneira que estive perto de pessoas com identificações de gênero diversas: trans, travestis, queers, afeminados, lésbicas, bissexuais e outras, sendo eu mesmo uma dessas pessoas. O interesse pelo tema é anterior à escrita desse artigo, já que ele perpassa a minha própria sexualidade e o meu corpo no mundo.
O programa de televisão estadunidense RuPaul’s Drag Race, com certeza, tem um impacto importante para toda a comunidade LGBTQIAPN+. Nesse programa, várias drags disputam a coroa de melhor drag da temporada. Essa atração encorajou e, principalmente, interiorizou, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo a arte drag. E por consequência, uma arte feita por homens muito afeminados e, mais recentemente, por homens e mulheres trans. O programa se desenvolve sem colocar rótulos cômicos e demeritórios nesses personagens da vida real. RuPaul,[2] assim como toda a onda progressista que o acompanha no show, estava ciente dos conhecimentos acadêmicos feitos por autores que serão reproduzidos ainda neste artigo. Contudo, sabemos que a arte tem dois poderes: dispersão discursiva rápida, portanto com impacto imediato, e um fazer audacioso.
Quando fui despertado pelos autores que falam sobre gênero através de uma disciplina na pós-graduação, me interessei em fazer uma pesquisa que envolvesse o lugar em que morava: Cuiabá. As cdzinhas vieram à cabeça por dois motivos: (i) o instigante artigo de Pietra Azevedo (2020) “Fazendo a linha cdzinha”: performance transidentitária de crossdressers brasileiras em Lisboa/PT — o segundo artigo mais acessado do Portal de Periódicos eletrônicos da UFRN no ano de 2023 — e (ii) o contexto do momento da pesquisa: durante a pandemia de Covid-19, no ano de 2021. Sendo assim, esta pesquisa se viabilizou pela possibilidade de fazer uma pesquisa regional e online.
Os corpos transidentitários, aqueles corpos não conformes às clássicas regras ocidentais do que é masculino ou feminino, são temas frequentes de conversas na nossa sociedade. Estudá-los não é somente enunciá-los, mas também disseminar seus conhecimentos, suas vontades e, principalmente, suas estratégias de subversão. A drag RuPaul, em seu livro A casa dos significados ocultos (Charles, 2024), sugere que ela e as pessoas de seu convívio passam a vida toda querendo ser alguém na “hierarquia sexual”[3]. RuPaul conta que nunca experimentou a atenção de seu pai, diferente de suas irmãs, que eram mimadas por ele. RuPaul, ressentido pela falta de atenção paterna e pela preferência de seu pai por suas irmãs pensou: “[...] e se em um ato de atuação eu me transformasse na figura feminina mais bonita de todas?”. E foi isso que ele fez. Esse pensamento de RuPaul exemplifica um de seus interesses em se travestir transitoriamente. Há sempre um propósito subjacente nas performances de gênero. RuPaul, com sua perspectiva única, ajuda a iluminar as motivações e significados por trás da prática de se travestir. Em síntese, toda cdzinha procura a atenção de um homem hétero. Aprofundar-nos-emos nesse tema mais adiante.
A subversão de RuPaul é conhecida no mundo todo. Mas e quanto aos que nos estão próximos? E quanto a nós mesmos? A antropologia nos ajuda a olhar esse campo, pois a prática do homem se vestir de mulher e a mulher se vestir de homem não é nada nova:
A prática do crossdressing – ou vestir-se com roupas que socialmente são identificadas com o sexo biológico e o gênero diferente do da pessoa que as vestem – tem sido objeto de estudo da antropologia desde os berdaches, entre os nativos americanos (Mead, 2000), passando pelos hijras da Índia (Nanda, 1996) e os guayaki do Brasil (Clastres, 2003), entre outros grupos (Vencato, 2009b, p. 101).
Segundo Raewyn Connell (2016, p. 231), crossdresser é uma pessoa que performa o gênero oposto ao qual foi designado ao nascer; a autora sugere que sexualidade pode ser diversa e a identidade de gênero uma expressão de transgeneridade. Há diversas formas de se fazer crossdressing[4], entrando no espectro diverso das sexualidades e expressões de gêneros humanos. “Grosso modo uma crossdresser é uma pessoa que eventualmente usa ou se produz com roupas e acessórios do guarda-roupa tido como do ‘sexo oposto’ ao seu ‘sexo biológico’ (Vencato, 2009b, p. 95). Marcela Barbosa (2014) aponta que, em geral, as crossdressers vivem uma vida social como sujeitos do sexo masculino e se “montam transitoriamente”.
Um dos clássicos de antropologia é o livro Naven: um esboço dos problemas sugeridos por um retrato compósito realizado a partir de três perspectivas da cultura de uma tribo de Nova Guiné, de Gregory Bateson (2006). O Naven é um ritual das tribos Iatmul, onde os homens se vestem de mulher e as mulheres de homem. Trata-se de um cerimonial para celebrar um feito, geralmente de jovens da tribo. Uma celebração que pode ter diversas raízes, como um homicídio, um nascimento, a caça de um animal etc. Geralmente, a festa se dá devido ao cumprimento de tarefas adultas bem-sucedidas alcançadas por jovens, importantes para a tecnicidade da vida. O Naven, no nascimento, tem como desdobramento, o tio, por parte de mãe, dar ao sobrinho um nome. Na terra dos mortos, o fantasma do sobrinho viverá sob o nome que lhe fora dado por seu tio. Bateson localiza o aspecto sistêmico do ritual Naven, lembrando que é o tio do(a) jovem que protagoniza o ritual, que, na maioria das vezes, constrange o(a) sobrinho(a). Segundo Bateson, o Naven deseja pôr em comunicação, religar aquilo e aqueles que tendem a se separar, compensar ou conectar as relações familiares que se não fossem contrabalanceadas levariam à cisma, à divisão e à ruptura social. Sendo assim, reequilíbrio em outros planos.
O termo cdzinha é uma forma de abrasileirar uma palavra que veio do inglês: crossdresser (Azevedo, 2020, p. 51). A autora afirma que o uso persistente da língua inglesa em nosso dia a dia é uma forma hegemônica de normatizar a fala, contudo, nós do Sul global, de maneira insurgente, procuramos maneiras de ressemantizar algumas palavras, contestando a hegemonia da fala e abrasileirando certos vocábulos.
A pandemia de Covid-19 instigou o campo das ciências sociais a realizar mais pesquisas em contextos de interações humanas em ambientes virtuais. A pesquisa aqui proposta insere-se nessa abordagem de investigação. Optou-se por buscar as participantes denominadas cdzinhas no Bate Papo-UOL, uma vez que esse é o ambiente virtual onde elas mais aparecem.
No entanto, não foi possível criar um roteiro de perguntas replicável para todas as participantes. Embora tivesse sido preparada uma variedade de perguntas para serem feitas, nem sempre as interlocutoras demonstravam paciência para respondê-las. Isso ilustra que o campo de pesquisa se desenvolveu de maneira orgânica e adaptativa.
Com o aumento da adesão ao uso da internet e a expansão da sociabilidade em mídias digitais, a etnografia encontrou novas formas de estudo, alguns pesquisadores chamam isso de netnografia. Essa nova forma de campo antropológico vem de encontro às novas formas de interações mediadas principalmente por computadores. Souza e Duque (2020), que fizeram uma netnografia no Bate-Papo UOL, sugerem que:
Entendemos que se trata de uma observação participante porque ela estava inserida naquele meio, e as pessoas a “viam” e buscavam in-teração. De maneira ainda provisória, imaginamos que a sala pudesse ser como uma praça pública. Muitas pessoas que passam, permanecendo ou não na praça. (Souza; Duque, 2020, p. 06)
Na minha metodologia, além de abordar os nicks[5] de possíveis cdzinhas, fiz diversas perguntas para as próprias cdzinhas e para homens que me abordaram quando eu coloquei um nick de cdzinha.
Publicização da prática crossdresser
Ana Paula Vencatto estudou o Clube Brasileiro de Crossdressers de 2007 a 2009 em São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse momento, havia uma polêmica devido ao fato de a diretoria conceder entrevistas à mídia impressa ou televisiva em nome do BCC[6]. Com a exposição do clube, houve um fluxo enorme de pedidos de aderência de novas candidatas, o que também gerou revolta em outras crossdressers que prezavam por um certo tipo de anonimato. A autora descobriu que a maioria das pessoas que faziam crossdressing tinham um bom padrão de consumo e pertenciam, em maioria, à faixa dos 50 anos. “Com relação à classe social, caso observado o padrão de consumo aparente dessas pessoas, pode-se pensar que pertencem quase sempre, às classes médias [...], a maior parte se situa na faixa dos 50 anos” (Vencato, 2009b, p. 111).
[...] foi comum a negação à ideia de uma associação entre crossdressing e fetiche. Para elas, o objetivo do clube não era proporcionar encontros sexuais para as associadas. É como se uma “crossdresser de verdade” fosse, ao mesmo tempo, um modelo de feminilidade imbuído de atributos que a tornariam atraente para outros homens, mas que, ao mesmo tempo, fosse casta e quase “assexuada”. A ideia de Sodoma e Gomorra diz respeito tanto à falta de adequação das candidatas a fazer parte do grupo seleto de “reais” quanto à possibilidade de estarem ali com propósitos distintos daquele de apenas “se montar lindamente”, conforme ouvi inúmeras vezes. Ainda, sobre as virtuais sempre recaía a suspeita de que poderiam ser homens “disfarçados de cds” que procuravam encontros ou, mesmo “cds fetichistas” que queriam “transar montadas”. (Vencato, 2015, p. 38)
Assim, percebemos que as crossdressers da década retrasada ainda entendiam suas sexualidades de forma não relacional de suas expressões enquanto crossdressers.
Vemos aqui uma clara fração entre os dois termos. As crossdressers, estudadas por Vencato (2009a) e Kogut (2006) durante a primeira década deste século, preferem se “transformar em uma linda mulher”, sem conotação sexual. Já as cdzinhas têm sua montação fortemente ligadas a performances sexuais.
Borramento transgênero
Como aponta Vencato (2015), a maioria das crossdressers que ela conheceu recusam a transexualidade[7] para seus próprios corpos. Elas sempre repetiam para a antropóloga que não eram transexuais ou travestis. “No entanto existem crossdressers que fazem Terapia Hormonal (TH), como algumas estudadas por Anna Paula Vencato (2009a) e Garcia et al. (2010) e travestis que não optam pela TH” (Azevedo, 2020, p. 10).
Vencato (2009a) e Garcia et al (2010) têm estudos relacionados às crossdressers dos anos 90 e 2000, que em sua maioria eram homens héteros, e até mesmo assumir-se homossexual dentro destes grupos e clubes era considerado uma bizarrice. Estas crossdressers (homossexuais) sofreriam retaliações, pois as crossdressers retratadas por essas autoras, geralmente eram pais de família.
Contudo, o crossdressing é para muitas mulheres trans uma porta de entrada. Através de pesquisas feitas na blogosfera, Marcela Barbosa observa:
Apresentaram-se também mulheres trans que ainda gostam de falar sobre a prática do crossdressing por esta ter sido a sua “porta de entrada” e experimentação do universo feminino, propiciando a descoberta de que gostariam de se assumir como mulheres. A advogada transexual Luisa Stern conta em seu blog cultura cd.com como sempre se sentiu uma mulher e que a comunidade crossdresser a acolheu em uma época em que gostava de se montar em casa. Aos poucos percebeu que, para além de gostar de vestir roupas e acessórios femininos, queria viver totalmente como mulher. (Barbosa, 2014, p. 18)
Vencato (2009b) alerta para o fato de que existem diversas formas de praticar o crossdressing, de maneira que essa prática, dependendo do grupo, assume formas diferentes. Em sua tese de doutorado, a antropóloga ainda usava o termo “GLS”, era o ano de 2009. Hoje é inviável não pensar em inserir as iniciais dos outros grupos da sigla: LGBTQIAPN+. Esse higienismo usado na sigla pode nos mostrar como as coisas mudaram rápido. A escolha do termo higienismo se revela pertinente ao analisarmos a evolução da terminologia relacionada às identidades de gênero e orientação sexual. A sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), amplamente utilizada em décadas passadas, não implicava na inexistência de outras identidades, como as pessoas trans, queers, bissexuais, entre outras formas de expressão de gênero. Estas identidades já existiam e estavam presentes na sociedade, no entanto, permaneciam invisibilizadas pela limitação da sigla utilizada. Essa ocultação pode ser vista como uma forma de higienismo social, onde apenas certas identidades eram reconhecidas e legitimadas, enquanto outras eram marginalizadas e excluídas do discurso.
Etnografia on-line: reflexões metodológicas
Carla de Souza e Tiago Duque (2020) fizeram uma etnografia no Bate-Papo UOL na região pantaneira e fronteiriça de Corumbá. Quando essa pesquisadora usou o nick Carolzinha, vinte e seis usuários, de trinta e dois que estavam on-line, entraram em contato com ela. Tendo vinte e cinco desses usuários apelidos descritos no masculino, ela repetiu o nome em outra oportunidade e seu empreendimento fora um “sucesso” novamente; quando, entretanto, a pesquisadora usou nicks como Laura e Flor, ela não foi contatada por tantos usuários. Os autores cunham o termo “performance geracional”:
[...] é um marcador social da diferença que se destaca em usuários/as dentro do campo apresentado na etnografia on-line. Isto é, foi observado que há uma maior procura por pessoas que colocam seus nicknames no diminutivo e, geralmente, esta procura parte de nicknames no masculino, sobretudo quando o nick se expressa ser do gênero feminino. Dito de outra forma, quando a pesquisadora utilizou de apelidos que a descrevia no feminino e diminutivo, como quando usou “Carolzinha”, a procura de usuários no masculino aumentaram. (Souza; Duque, 2020, p. 16)
A sala do Bate-Papo UOL traz certo obscurantismo em relação à identidade das pessoas. Ninguém é de ninguém e ninguém sabe quem é o outro, mas, em última instância, o que todos estão procurando é a interação no real, ou seja, ao vivo, cara a cara. Sobre isso, Carla de Souza e Tiago Duque (2020) sugerem:
Vemos por outro ponto, a de que não há atriz/ator interpretando, investindo em avatares, criando papéis, pois mesmo que estes sejam escolhidos aleatoriamente com pré-caracteres disponíveis pela plataforma on-line, há processos de escolhas subjetivas de pessoas reais, que interagem, através desses “outros corpos”, com outras também reais, no contexto fronteiriço em questão. Isso faz com que seja legítima a compreensão desse ambiente como uma continuidade de lugares off-line, e não uma invenção, um mundo à parte, como já apontado anteriormente. (Souza; Duque, 2020, p. 05)
Sobre as novas formas de pesquisa e o que já se aferiu das relações demarcadas pelos contextos das salas de Bate-Papo UOL, usamos os mesmos autores para indicar que, em vários níveis as salas de Bate-Papo, “não podem ser consideradas num “mundo à parte” (Souza; Duque, 2020, p. 16), pois as práticas sexuais, ou mesmo apenas os encontros, ocorrem em diversas regiões da cidade, em espaços off-line, isto é, a sala surge como um medidor dos desejos (Souza; Duque, 2020, p. 17).
Dentro do Bate-Papo UOL existem diversas maneiras de fazer etnografia. Souza e Duque (2020), por exemplo, testaram nicks como Carolzinha. Também observaram o que se passa de “modo público” nesses chats, já que se pode falar no privado, onde somente as duas pessoas envolvidas podem ler. A observação etnográfica, portanto, foi participante pela presença do nick na sala. Mas eles escolheram não interagir ao não responder aos participantes do chat.
Diferença entre transexual, cdzinha e drag queen
Neste ponto do texto, é necessário esclarecer que não abordaremos mais o tema das crossdressers. A semelhança mais aparente entre as crossdressers e as cdzinhas é a montação temporária, ou seja, homens que se transvestem de mulher para um evento específico. No entanto, as cdzinhas estão relacionadas à sexualidade, enquanto as crossdressers rejeitaram essa associação. Assim, a partir deste momento, focaremos nas cdzinhas.
“Bebidinha na boquinha. A bunda empinadinha. Tô dançando, tô quicando. Atura essa cdzinha”. Esse verso da música E aí, bebê?, da drag queen Kaya Conky, diz bastante sobre o termo cdzinha. Estas meninas estão mais ligadas à sexualidade, e suas performances estão mais restringidas ao campo do prazer. Espera-se que as drag queens não performem somente gênero, mas que também executem outras performances, como a performance visual, ir além do parecer mulher, cabelo, maquiagem, expressão facial, dança, entre outros elementos que são esperados das drag queens. Esses mesmos elementos não são esperados das cdzinhas. O menos pode ser mais na obtenção de uma aparência feminina natural para quem faz cdzinha; isso não quer dizer que as cdzinhas não convivam com pressões estéticas, há grandes imposições, como afinamento da voz, subserviência na linguagem corporal, maquiagem e o extermínio completo dos pelos e barba.
Os atos “performativos das cdzinhas se apoiam no campo das possibilidades que a montagem estratégica viabiliza, no processo de montar e desmontar o palhaço esporadicamente” (Azevedo, 2020, p. 09). Ou seja, as cdzinhas são homens que se montam de mulher apenas quando desejam ter um encontro sexual com algum outro homem. É justamente nesse campo que há reclamações de mulheres trans; elas dizem que as cdzinhas têm o privilégio de ser homem de dia e mulheres quando querem, ao contrário delas, que nadam contra a corrente social o tempo todo e não somente quando lhes é útil.
A maioria das cdzinhas começa a exercer o cding somente quando estão longe da família. “Nenhuma de nossas famílias sabia dessa expressão transgênero de nossas identidades, muito embora nós já tenhamos nos montados no Brasil, porém com o caráter muito mais artístico, político ou carnavalesco” (Azevedo, 2020, p. 06). Com isso, a autora sugere que as cdzinhas são “personas” escondidas socialmente. Os homens que fazem cdzinha não abrem isso para suas famílias ou amigos, tanto fazer cdzinha quanto estar com uma cdzinha costuma exigir um alto nível de sigilo.
Ao procurar o termo cdzinha no Google, dos 10 primeiros resultados, 9 são relacionadas à pornografia, somente o sétimo resultado, de cima para baixo, é referente ao que se produz academicamente sobre o assunto, sendo justamente o artigo de Pietra Azevedo (2020) que ocupa esse espaço em uma página pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Nem mesmo produções jornalísticas aparecem nesta lista.
As cdzinhas cuiabanas do Bate-Papo UOL
Existem quinze salas de chat no Bate-Papo UOL destinadas à cidade de Cuiabá, com média de 30 pessoas por sala; às 20h costuma ser o horário de pico, quando todas as salas estão lotadas. Em média, durante o dia, somente sete salas ficam lotadas. Alguns nicks se repetem em mais de uma sala, o que nos leva a pensar que a mesma pessoa abre mais de um chat, estando assim presente em mais de um ambiente virtual.
A presença de nicks masculinos é predominante nestas salas: 40ãoDeixaMamar, BancoMaxo, DeixoVoceMamar, Diego, Felipe, Gustavo, H busca coroa H. Esses são alguns nomes presentes no chat. Quando há nomes femininos, na maioria das vezes, vêm acompanhados do cifrão $, que representa que a mulher está no chat para trabalhar, ou seja, fazer um programa.
Algo que parece óbvio, mas não é citado diretamente por outros autores que fizeram etnografia no Bate-Papo UOL, é que essa comunidade online tem intenções quase que exclusivas para interações sexuais reais, a dinâmica que está instaurada é de uma rápida conversa online para depois ocorrer o sexo. O Bate-Papo UOL surgiu em 1996, portanto há 27 anos, e suas funções continuam quase que inalteradas. Este chat é muito velho para os tempos de internet, sobreviveu à ascensão, apogeu e queda do Fotolog, Orkut, Blogspot e tantas outras redes sociais, mas ao contrário das redes sociais mencionadas anteriormente, o Bate-Papo UOL tem em seus desdobramentos, claras intenções sexuais. O sexo nunca sai de moda e não pode ser substituído por layouts mais modernos e eficazes, nem marketing pesado. Há pessoas neste chat com mais de 18 anos de idade, de todas as faixas etárias, como podemos constatar através da etnografia, o que representa a sua vivacidade e renovação.
Neste espaço cibernético, há algo que outras interações na internet não têm, ou melhor, falta algo. O interesse de um pelo outro deve ser despertado somente através de um nick, ou seja, poucas palavras ou signos, o que torna o Bate-Papo UOL um lugar de mistério e também de aceitação. O peso, altura, tamanho do pênis, preferências e foto, não estão escancarados no primeiro contato com o outro, como em outras redes sociais, principalmente as de interação de cunho sexual, como os aplicativos Grindr, Hornet e Femme.
A primeira intenção desta incursão etnográfica era conversar com diversas cdzinhas e traçar um perfil geral de quem elas são. Mas durante a pesquisa de campo, fui percebendo que essa abordagem metodológica foi ficando impossibilitada. O primeiro aspecto a ser considerado é que o Bate-Papo UOL aceita cerca de trinta membros que não são assinantes por sala. Se mais pessoas quiserem participar de uma sala lotada, elas devem se tornar um usuário VIP, ou seja, desembolsar algum dinheiro pela assinatura. O segundo aspecto, o mais determinante, é que ao contrário do que eu pensei, não era tão fácil assim encontrar as cdzinhas no chat. Quando pensei na pesquisa, a impressão que tive é que sempre havia alguém que era cdzinha nesses chats. Mas não foi exatamente isso que aconteceu. De qualquer maneira, encontrei algumas cdzinhas pelo chat, interagi diretamente com elas. As perguntas eram feitas no chat mesmo, sem a interação por meio de webcam. Portanto, não tive contato com a aparência física dessas cdzinhas.
Nas primeiras incursões no chat, entrei com o nick: cdzinhas?. Minha intenção era achá-las, não que me confundissem com uma. Neste nick, eu era abordado diversas vezes por muitos homens. Pude aferir, sem querer, a grande busca por cdzinhas. Consegui abordar uma cdzinha com esse nick e expliquei que eu estava em uma pesquisa de faculdade. Mas os homens do chat mandavam tantas mensagens no privado que eu tive que mudar de estratégia e troquei meu nick para procuro cds.
A primeira cdzinha que abordei foi muito solícita em me atender e, por vezes, ao responder a uma pergunta, já estava ávida por responder à próxima. Seu nick era Rabudo de Sainha Sig, então, vamos usar a linguagem no masculino, visto que ele se identifica como rabudo. Ele me disse que não era cdzinha. As aspas marcam o uso dos termos de nossos interlocutores. Ele só usa sainha, por que os “machos gostam”. Ninguém, além de seus “comedores”, sabe que ele usa saia. Na cama, ele se considera versátil. Então lhe perguntei se quando ele está de sainha faz ativo, e ele me respondeu que quando está com essa vestimenta é exclusivamente passivo. Sua sexualidade não é hétero, nem bi, nem gay, é livre. Seu público, em maioria, é homem hétero casado.
Pesquisador: Por que você acha que esses homens procuram alguém de sainha ou mesmo as cdzinhas?
Rabudo de Sainha Sig: Eles procuram alguém para ser a puta deles. As esposas em casa não usam roupas curtas e etc... Eles admiram, mas não aceitam que suas esposas façam o mesmo[8].
Quem está de sainha nessa relação se transforma automaticamente no polo feminino, este que só pode ser passivo. Sem esse adorno corporal, a dinâmica sexual, muito provavelmente, seria completamente outra. A sainha transforma nosso interlocutor em uma mulher para as cabeças de seus pares sexuais.
Outra cdzinha que pude abordar apresentava-se através do nick: CDzinha Ker Carona. Então, eu lhe pergunto: “Como você está?”. Ela responde: “Estou muito a fim de imaginar uma fantasia bem safada... rsrs... seu dote?”.
Essa cdzinha tem quarenta e nove anos, conta praticar o cding há uns dez anos. Faz isso por sentir “tesão em ser dominada”. Nunca saiu montada na rua e nem tem vontade. Sua cdzinha tem como finalidade “realização de fetiches”. Ela é bissexual, mas “com homem é muito passivinha”. Foi casada com mulher durante dez anos. Atualmente está solteira. Descobriu o cding através de pesquisas na internet. Pergunto a ela por que os homens se interessam em sair com as cdzinhas; ela conta que a maioria são homens casados e “normalmente as esposas não curtem anal, principalmente os bem-dotados”.
Ainda com o nick procuro cds, fui abordado por Educado, que dispara: “pra que cd se hoje em dia tem pen drive?”. Homem ksado também me aborda e diz que nunca transou com homens, mas que seu sonho é ser uma cdzinha. Erika cdzinha também me diz “oi”.
As barreiras do prazer
Podemos nos perguntar por que esses homens heterossexuais e casados extrapolam a barreira do que é uma conduta sexual desejável somente no obscurantismo social proporcionado pelo Bate-Papo UOL.
Marcelo Natividade e Leandro Oliveira (2013), em Diferenças indesejáveis: reinventando a “ameaça homossexual” em tempos de cidadania LGBT, mostram que no Brasil existem alguns paladinos da heterossexualidade que pregam a inteligibilidade, a materialidade e a importância do sexo biológico. Alguns teólogos, psicólogos, pastores, parlamentares etc. formam uma complexa rede de articulação e são propulsores de discursos homofóbicos. “Uma compreensão socioantropológica da homofobia deve [englobar] aspectos fenomenológicos, sociais, culturais e políticos como interdependentes, construindo associações nos pontos de aparente descontinuidade” (Natividade; Oliveira, 2013). O termo homofobia deve ser contextualizado em uma forma social muito recente, os autores mencionam Marcel Mauss, ao dizer que a homofobia pode ser considerada um fato social total, já que envolve a cultura em níveis corporais e subjetivos.
Para Michel Bozon (2004), o Ocidente irá reter duplamente essa oposição radical entre o sexo no casamento e o fora do casamento. O casamento sendo o arranjo exclusivo do sentimento amoroso e do desejo, assim como essa tensão dialética entre o amor-sentimento e amor-carnal. Na Idade Média, as casas tinham um grande ambiente comum, e a sexualidade não era exercida com o segredo do entre quatro paredes como é hoje. Resultando daí duas esferas da vida humana, uma íntima e secreta e outra aberta; um comportamento clandestino e outro público.
A medicina, durante o século XIX, reforça o que é normal sexualmente, discurso que deságua em políticas públicas que intencionam controlar a sexualidade das pessoas. A religião começa a tonificar o espaço de confissão, confissões essas quase sempre sexuais. Mesmo espaço exercido pelo divã do setting analítico. O que Bozon faz é um contra-fluxo ao materialismo, pois defende a ideia de que nós não conseguimos acessar a totalidade da realidade, o que racha os conceitos dicotômicos de macho e fêmea. Conceitos estes que balizaram o nível evolucional dos povos para o Ocidente, como mostra Estevão Fernandes (2017), em seu livro Existe índio gay?: a colonização das sexualidades indígenas no Brasil.
No capítulo A governamentalidade, de Microfísica do poder, Michel Foucault (1979) reexamina as ideias fundamentais que ajudaram a pensar os Estados modernos. Entre os autores que contribuem para suas conclusões nesse capítulo, destacam-se especialmente Maquiavel, Guillaume de La Pirriére e Rousseau, cujas teorias e conceitos foram visitados e revistos por Foucault para elucidar sua própria visão sobre a governamentalidade e suas implicações no contexto contemporâneo.
Através do trabalho de Rousseau, Foucault sugere que, desde os séculos XVI e XVII, governar um Estado significa estabelecer a economia ao nível geral do Estado. Para tanto, os governos passaram a vigiar os habitantes, as riquezas e os comportamentos individuais e coletivos, de forma a controlar as pessoas tão atentamente quanto o pai de família. Quesnay foi um autor do século XVIII que usou a expressão “governo econômico”. Para Foucault essa expressão usada pelo autor, é precisamente uma forma de dizer que a arte de governar é a arte de exercer o poder segundo o modelo de economia (Foucault, p. 279-80, 1979).
Considerações finais
A principal motivação para as pessoas que se identificam como cdzinhas começarem a se vestir como mulheres é a busca por um homem de verdade, ou seja, alguém sem comportamentos considerados femininos. Como gays ou bissexuais, as cdzinhas encontram dificuldades em atrair esses indivíduos, o que as leva a adotar uma performance transidentitária. Como reiterado por nossas interlocutoras, os parceiros sexuais que elas encontram no Bate Papo-UOL se autodeclaram heterossexuais.
O autor Gibran Teixeira Braga (2015, p. 20) sugere que modelos normativos coexistentes de parceria homoerótica podem ter uma aproximação com práticas heterossexuais pelo tradicionalismo de colocar em oposição pares passivo/feminino e ativo/masculino. Ou seja, a masculinidade depende da feminização do outro. Como nos foi relatado pelas nossas cdzinhas, para seus parceiros, elas não representam um homem, mesmo que aquela seja somente uma identidade sexual completamente passageira e efêmera.
Percebemos que o termo cdzinha, além de ser uma forma de abrasileirar o termo crossdresser, como mostra Azevedo (2020), é uma performance geracional. Souza e Duque (2020) nos mostram como o “inha” equivale a mulheres novas no Bate-Papo UOL. Ademais, o inha, no mundo da prostituição online, também é uma instituição estabelecida. Vanessinha$ e Carolzinha$ são nicks comuns do Bate-Papo UOL. Geralmente, o inha vem acompanhado pelo cifrão “$” ou do pg, o que indica que essas mulheres estão no chat para trabalhar. Aliás, na maioria dos casos, qualquer nick feminino é usado por garotas de programa, o inha, no Bate-Papo UOL, reduz o papel da mulher frente ao homem, concedendo poder a ele, mesmo que somente na fantasia.
Contudo, isso não significa que quem está atrás da sua cdzinha não está tendo prazer e exercendo poder. Nestes momentos performáticos de completa subversão das lógicas sexuais, as cdzinhas fazem o que querem e quando querem, atraindo aqueles homens que estariam fora do radar de atração se elas não estivessem performando feminilidade. Nas conversas que tive com as cdzinhas no chat, elas foram diretas no que queriam e como queriam as coisas, como demanda nossa interlocutora através do nick: Cdzinha ker Carona, e quando ela já inicia a conversa perguntando o tamanho do dote.
Além de demandas, principalmente sexuais, não pude aferir outros aspectos de suas personalidades, isso também seria bastante difícil, pois parte importantíssima dessa prática é o sigilo; as cdzinhas não são suas identidades públicas, o apreço pela privacidade das relações é parte estruturante desses intercoitos. O fetichismo que as cdzinhas desempenham é claro, mas ainda não conseguimos estabelecer quais tipos de relações elas realmente querem estabelecer com seus corpos e com os outros.
A fração entre os dois termos: crossdresser e cdzinha é clara, porém percebemos que é recente, as crossdressers dos anos 90 e 2000 parecem ter desaparecido da internet, mesmo seus sites não existem mais. Os trabalhos de Kogut (2006) e Vencato (2009a) registraram crossdressers que se envergonhavam da publicizacão de suas práticas, porém, hoje, vemos homens vestidos de mulher em horário nobre na TV, são as drag queens, muitas dessas estão estampando capas de revistas, e isso faz diferença. É, portanto, mais fácil assumir as montações e suas potencialidades, inclusive as sexuais. Onde e como estão aqueles homens que são as crossdressers dos anos 90 e 2000 são perguntas que obviamente estão fora das capacidades desta pesquisa, mas em quinze anos muitas coisas mudaram.
Pudemos perceber a vivacidade do Bate-Papo UOL e sua renovação geracional, não houve tantas pessoas que se identificam como cdzinhas que pudemos abordar, mas organicamente fomos confrontados por outras formas de performances sexuais e por pessoas que queriam trocar ideias sobre como e por onde começar a ser cdzinha. Tanto as cdzinhas quanto quem se interessava em ser cdzinha tinham idades entre vinte e cinquenta anos.
“Todos nós nascemos pelados e o resto é drag” é uma frase célebre de RuPaul. Tal pensamento nos mostra como a maquiagem, ou mesmo uma sainha, são atos performáticos que embaraçam completamente as relações de gênero.
Este artigo não tem a intenção de esgotar os estudos das cdzinhas cuiabanas e muito menos das cdzinhas brasileiras, contudo, esse grupo de pessoas com certeza é uma nova expressão de gênero que vem aparecendo com muita força na internet. Na rede social X (antigo Twitter), existem milhares de perfis de cdzinhas que compartilham suas experiências sexuais através de vídeos, e muitas delas vendem esses conteúdos estendidos em plataformas de vídeos adultos, como o Privacy e o OnlyFans. Recentemente, uma cdzinha foi assassinada na cidade de Balneário Camboriú (SC), o site Camburiú News (2024) anuncia: “Vida de riscos e fetiches: a trajetória fatal de ‘Phamella Cdzinha’. Crime brutal em Balneário Camboriú: crossdresser Phamella Cdzinha encontrada morta em seu apartamento”. Phamella vendia conteúdo adulto através das plataformas, e o site sugere que ela “vivia uma existência marcada pela promiscuidade e pelo vício em situações extremas”. Estudar as cdzinhas pode, no futuro, contribuir para que essas pessoas tenham existências mais dignas e plenas. Alternativamente, suas vidas podem continuar a ser caracterizadas pela necessidade de sigilo e privacidade.
Referências
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Recebido em: 01/07/2024.
Aceito em: 13/09/2024.
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n33.70710.p239-256
* Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. E-mail: heronvolpi@gmail.com.
[1] Sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, queer, questionando, intersexo, curioso, assexuais, pan e polissexuais, amigos e familiares, two-spirit e kink.
[2] Dragqueen cantora, apresentadora, atriz e roteirista mais famosa do mundo. No ano de 1993, RuPaul, um homem gay e negro, fez muito sucesso nas paradas dos EUA e da Europa com a música Supermodel (You Better Work), através de sua persona drag, que era curvilínea e alta como as super modelos da época. RuPaul é considerado pela comunidade LGBTQIAPN+ dos EUA como um precursor midiático e um grande militante.
[3] Para RuPaul (2024), a hierarquia sexual se refere à valorização e categorização das pessoas com base na sua atratividade e desempenho sexual, frequentemente ditada por normas sociais e culturais.
[4] O crossdressing é a prática; e a crossdresser é a praticante.
[5] A palavra nick é muito conhecida entre os usuários de internet em chats e salas de bate-papo pelo uso em conjunto com name e tornando-se nickname, o que significa apelido (Carvalho, 2023).
[6] Brazilian Crossdresser Club. Segundo minhas pesquisas em sites como Google e Facebook, o Brazilian Crossdresser Club não existe mais. Nada foi encontrado em relação à articulação online do clube etnografado por Anna Paula Vencato (2009a).
[7] Transexual é uma pessoa que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu, ou seja, é alguém que não se sente adequado ao gênero que recebeu no nascimento. Assim, podemos dizer que uma pessoa é definida como transexual quando sente desconforto com seu sexo biológico. Por exemplo: uma pessoa nasce biologicamente mulher, mas não se reconhece dessa forma. Apesar de ter nascido com a genitália feminina, sente-se um homem. (Transsexual, [2024]).
[8] Os típicos erros de ortografia praticados no Bate-Papo UOL foram corrigidos para melhor compreensão da(o) leitora(o).
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