COTAS DE GÊNERO NA POLÍTICA: ENTRE A HISTÓRIA, AS URNAS E O PARLAMENTO

Autores

  • Eneida Desiree Salgado Universidade Federal do Paraná
  • Guilherme Athaides Guimarães Universidade Federal do Paraná
  • Eric Vinicius Lopes Costa Monte-Alto Universidade Federal do Paraná

Palavras-chave:

Participação política, cotas de representação, cotas de legislatura

Resumo

Em 8 de setembro de 2015, o Senado aprovou, em segundo turno, proposta de Emenda Constitucional que implementa progressivamente cotas de legislatura de gênero no Brasil, na proporção de 10%, 12% e 16%, respectivamente, nas três legislaturas seguintes. Caso a proposta seja posteriormente aprovada pela Câmara dos Deputados, será garantida temporariamente às mulheres a ocupação efetiva de um percentual dos cargos legislativos em todas instâncias, com exceção do Senado. Além disso, o Brasil já adota cotas de representação desde 2009, determinando que ao menos 30% dos candidatos indicados pelos partidos políticos para as eleições sejam de um gênero. Esta medida, porém, não surtiu efeito prático, pois não garante a ocupação efetiva dos cargos, como as cotas de legislatura. Isto pode ser verificado na composição das casas legislativas federais, nas quais as mulheres respondem por cerca de 10% dos cargos da Câmara e 16% dos do Senado. A baixa participação política das mulheres está relacionada a uma história marcada pela sua exclusão da vida pública, espaço que foi restrito aos homens, e ao seu confinamento às tarefas domésticas. Este artigo está dividido em três partes. Primeiramente, busca-se apresentar como historicamente as mulheres foram excluídas da vida pública. Em seguida, realiza-se análise do sistema de cotas de representação de gênero adotadas pelo Brasil e questiona-se sua real efetividade. Por fim, será objeto de análise o sistema de cotas de legislatura femininas, apontando suas vantagens e a forma como tem sido implementado em vários países do mundo e como será no Brasil caso a proposta de emenda do Senado seja aprovada pela Câmara dos Deputados.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eneida Desiree Salgado, Universidade Federal do Paraná

Doutora em Direito pela UFPR, pós-doutora pela UNAM, professora de Direito Constitucional e de Direito Eleitoral na UFPR, pesquisadora e vice-líder do Núcleo de Investigações Constitucionais.

Guilherme Athaides Guimarães, Universidade Federal do Paraná

Graduando do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisador do PET-Direito UFPR.

Eric Vinicius Lopes Costa Monte-Alto, Universidade Federal do Paraná

Graduando do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pesquisador do PET-Direito UFPR.

Referências

Abreu, Maria Aparecida Azevedo de Abreu (2011), “Cotas para mulheres no legislativo e seus fundamentos republicanos”, IPEA, 1645. Consultado a 29.07.2015, em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=9816.

Abreu, Zina (2002), “Luta das mulheres pelo direito de voto: movimentos sufragistas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos”, Arquipélago, 6(2), 443-469. Consultado a 14.07.2015, em https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/380/1/Zina_Abreu_p443-469.pdf.

Almeida, Cybele Crossetti de (2008), “Poder e divisão do trabalho. A participação das mulheres no sucesso das famílias dirigentes”, in Seminário Internacional Fazendo Gênero: Corpo, Violência e Poder, Florianópolis. Consultado a 14.07.2015, em http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST70/Cybele_Crossetti_de_Almeida_70.pdf.

Alváres, Maria L. M., Mulheres e participação política. Belém: GEPEM/UFPA. Consultado a 15.07.2015, em http://www.ufpa.br/ifch/administrator/mulheresepolitica.pdf.

Amaral, Renata de Lima Machado (2013), “A Luta pelos Direitos das Mulheres, a Violência Doméstica e a Igualdade Substancia”, EMERJ, 14, 130-138. Consultado a 13.07.2015, em http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/14/capacitacaoemgenero.pdf.

Araújo, Clara M. O. (2001), “Analisando Estratégias. Potencialidades e Limites das Políticas de Cotas no Brasil”, Revista Estudos Feministas, 9(2), 231-252. Consultado a 16.07.2015, em http://200.18.45.28/sites/afirme/docs/Artigos/bra03.pdf.

Araújo, Clara M. O. (2013), “Cotas femininas e financiamento de campanha”, Cadernos Adenauer, 3, 11-30. Consultado a 16.07.2015, em http://www.kas.de/wf/doc/11282-1442-5-30.pdf.

Araújo, Clara M. O. (1998), “Mulheres e Representação Política. A Experiência das Cotas no Brasil”, Revista Estudos Feministas, 6(1).

Aristotle (1999), Politics. Kitchener: Batoche Books.

Bastos, Maria H. C. (2008), “Manuais escolares franceses no Imperial Colégio de Pedro II (1856-1892)”, História da Educação, 12(26), 39-58. Consultado a 26.08.2015, em http//fae.ufpel.edu.br/asphe.

Beauvoir, Simone du (1970), O Segundo Sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro.

Bolognesi, Bruno (2012), “A cota eleitoral de gênero: política pública ou engenharia eleitoral?”, Paraná Eleitoral, 1(2), 113-129. Consultado a 26.08.2015, em http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tre-pr-parana-eleitoral-revista-2-artigo-1-bruno-bolognesi.

Bourdieu, Pierre (2002), A dominação masculina. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil

Buonicore, Augusto. C. (2009), “As mulheres e os direitos políticos no Brasil”, in Diva Nolf Nazario, Voto feminino e feminismo. São Paulo: Empório do Livro.

Câmara dos Deputados (2015), “Pontos votados na reforma política: vagas para mulheres no legislativo”. Página Consultada a 18.06.2015, em http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/490092-REFORMA-POLITICA-VEJA-O-QUE-FOI-VOTADO.html.

Câmara dos Deputados (2015). “Projetos de Leis e outras Proposições. PEC 182/2007”. Página consultada a 29.07.2015, em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=373327.

Couto, Priscilla Alves Juvino (2012), “Mulheres e política: percepção e atuação política das vereadoras de Campos dos Goytacazes”, 122 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Sociologia, Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Consultada a 15.07.2015, em http://uenf.br/pos-graduacao/sociologia-politica/files/2013/03/DISSERTAÇÃO-PRISCILLA-A.-JUVINO-COUTO.pdf.

Comparative Study of Electoral Systems (2011), “Estudo Eleitoral Brasileiro 2010”, Opinião Pública, 17(2), 516-540.

Constituição Portuguesa de 2 jan. 1976. Lisboa. Consultado a 26.08.2015, em http://www.parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf.

Dahlerup, Drude et al (2013), Atlas of Electoral Gender Quotas. Estocolmo: IDEA; IPU; Stockholm University. Consultado a 29.07.2015, em http://www.idea.int/publications/atlas-of-electoral-gender-quotas/.

Dahlerup, Drude (2005), “Increasing Women's Political Representation. New Trends in Gender Quotas”, in Women in Parliamen. Beyond Numbers. Estocolmo: IDEA, 141-153. Consultado a 20.07.2015, em http://www.idea.int/publications/wip2/.

Gitahy, Raquel Rosan Christino; Matos, Maureen Lessa (2007), “A evolução dos direitos da mulher”, Colloq Humanarum, 4(1), 74-89. Consultado a 15.07.2015, em http://revistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.php/ch/article/viewFile/223/606.

Gomes, Joaquim Benedito Barbosa (2001) “As Ações Afirmativas e os Processos de Promoção da Igualdade Efetiva”, Cadernos do CEJ, 24, 86-123. Consultado a 20.07.2015, em http://sites.multiweb.ufsm.br/afirme/docs/Artigos/var02.pdf.

Gualda, Linda Catarina (2006), “A mulher como anjo e monstro: representações do feminino em The Turn of the Screw e Dom Casmurro”, Seminário de Teses em Andamento, 1, 371-377. Consultado a 11.08.2015, em http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/seta/article/view/275/237.

Gubin, Eliane (2014), Les revolutions du XVIIIe siècle et les femmes. Bruxelas: Centre d’Archives pour l’histoire des femmes. Consultado a 25.08.2015, em http://mskgent.be/upload/pdf/gericault/Les_femmes_et_revolutions_defv1_fr.pdf.

Guillaume, James (1911), “Mirabeau”, in Buisson, Ferdinand, Nouveau dictionnaire de pédagogie e d’instruction primaire. Paris: Institut Français de l’Éducation. Edição eletrônica. Consultado a 25.08.2015, em http://www.inrp.fr/edition-electronique/lodel/dictionnaire-ferdinand-buisson/document.php?id=3198.

Htun, Mala (2001), “A política de cotas na América Latina”, Revista Estudos Feministas, 9(1), 225-230. Consultado a 15.08.2015, em https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2001000100013.

Institute for Democracy and Electoral Assistance et al (2015), “Quota Project: Global Database Quotas for Women”. Página consultada a 29.07.2015, em http://www.quotaproject.org/.

Inter Parliamentary Union (2015), “Women in national parliaments”. Página consultada a 20.07.2015, em http://www.ipu.org/wmn-e/classif.htm.

Karawejczyk, Mônica (2013), “As suffragettes e a luta pelo voto feminino”, História; imagem e narrativas, 2(17). Consultado a 14.07.2015, em http://www.historiaimagem.com.br/edicao17outubro2013/03suffragettes.pdf.

Lei nº 9.096 de 19 de setembro de 1995. Diário Oficial da União de 20.9.1995. Brasília. Consultado a 19.09.2015, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9096.htm.

Lei nº 9.100 de 29 de janeiro de 1995. Diário Oficial da União de 2.10.1995. Brasília. consultado a 26.08.2015, em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9100.htm.

Lei nº 9.504 de 30 de setembro de 1997. Diário Oficial da União de 1.10.1997. Brasília. Consultado a 26.08.2015, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9504.htm.

Lei nº 12.034 de 29 de setembro de 2009. Diário Oficial da União de 30.09.2009. Brasília. consultado a 26.08.2015, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm#art3.

Lewandowski, Ricardo (2012) Acórdão da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 186/DF. Brasília: Supremo Tribunal Federal. Consultado a 27.07.2015, em http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6984693.

Luz, Alex Faverzani da; Fuchina, Rosimeri (2009), “A evolução histórica dos direitos das mulheres sob a ótica do direito do trabalho”, in Anais do II Seminário Nacional de Ciência Política da UFRGS. Porto Alegre: UFRGS. Consultado em 23.07.2015, em http://www.ufrgs.br/nucleomulher/arquivos/artigoalex.pdf.

Pateman, Carole (1993), O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Pinheiro, Luana Simões (2006), “Vozes femininas na política: uma análise sobre mulheres parlamentares no pós-Constituinte”. 248 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia)-Universidade de Brasília. Consultado a 15.07.2015, em http://hdl.handle.net/10482/2121.

Pisier, Evelyne; Varikas, Eleni (2002), “De l’invisibilité du genre dans la théorie politique: le débat Locke/Astell”, in Anais do Colloque AFSP: Genre et Politique. Consultado a 26.08.2015, em http://www.afsp.msh-paris.fr/archives/2002/genretxt/pisier.pdf.

Projeto de Emenda Constitucional 182/07: Emenda Aglutinativa nº 57 de 16 de junho de 2015. Brasília. Consultada a 29.07.2015, em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1349292&filename=EMA+57/2015+%3D%3E+PEC+182/2007.

Rainha, Jamila Coco (2011), “Quem disse que lugar de mulher não é na política? A difícil inserção das mulheres no espaço de tomada de decisão”, in Anais do XI Congresso Luso Afro-brasileiro de Ciências Sociais. Salvador: Universidade Federal da Bahia. Consultado a 15.07.2015, em http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1306330912_ARQUIVO_RAINHA_Jamila_Quemdissequelugardemulhernaoenapolitica.pdf.

Rogers, Simon (2013), “International Women's Day: political rights around the world mapped”. Página consultada a 15.07.2015, em http://www.theguardian.com/world/datablog/interactive/2013/mar/08/international-womens-day-political-rights?commentpage=1.

Rothenburg, Walter Claudius (2008), “Igualdade material e discriminação positiva”, NEJ, 13(2), 77-92. Consultado a 27.07.2015, em http://www6.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/1441.

Senado Federal (2015), “Parecer nº 697 de 2015”. Brasília. Consultado a 10.09.2015, em http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=177924&tp=1.

Silva, Lenina Vernucci da (2013), “Contribuições feministas para o pensamento político brasileiro: as sufragistas nos anos 20”, in Anais da I Semana de Pós-Graduação em Ciência Política. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos. Consulta a 15.07.2015, em http://www.semacip.ufscar.br/wp-content/uploads/2014/12/Contribuições-feministas-para-o-pensamento-político-brasileiro-as-sufragistas-nos-anos-1920.pdf.

Silva, Lianzi dos Santos (2009), “Mulheres em Cena: As novas roupagens do primeiro damismo na Assistência Social”, 155 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Departamento de Serviço Social, PUC-Rio. Rio de Janeiro.

Sow, Marilene Mendes (2009), A Participação feminina na construção de um parlamento democrático”, 78 f. Monografia (Especialização) - Curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados. Brasília, Consultada a 15.07.2015, em http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/5066.

Tribunal Superior Eleitoral (2015), “Estatísticas de candidaturas”. Página consultada a 25.08.2015, em http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais-2014-resultado.

Tribunal Superior Eleitoral (2012), “Voto da mulher”. Página consultada a 09.09.2015, em http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/voto-da-mulher.

Vaz, Gislene de Almeida (2008), “A participação da mulher na política brasileira: a lei de cotas”, 65 f. Monografia (Especialização) - Curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados. Brasília. Consultado a 15.07.2015, em http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/5813.

Verjus, Anne (2014), La citoyennet´e politique au prisme du genre. Droits et représentation des individus entre famille et classe de sexe (XVIII`ème-XXI`ème siècles) . Paris: École Normale Supérieure. Consultado a 25.08.2015, em https://hal.archives-ouvertes.fr/tel-00998659/document.

Xavier, Antônio Roberto; Xavier Lisimere Cordeiro do Vale (2010), “Cidadania das mulheres: o longo percurso”, Revista Internacional de Direito e Cidadania, 8, 17-28. Consultada a 25.08.2015, em http://www.reid.org.br/arquivos/00000201-02-antonio_xavier.pdf.

Publicado

2015-12-23

Como Citar

SALGADO, E. D.; GUIMARÃES, G. A.; MONTE-ALTO, E. V. L. C. COTAS DE GÊNERO NA POLÍTICA: ENTRE A HISTÓRIA, AS URNAS E O PARLAMENTO. Gênero & Direito, [S. l.], v. 4, n. 3, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ged/article/view/25973. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Movimento feminista, história da dominação e gênero