VIGIANDO A VIOLÊNCIA – O USO DE MEIOS DE CONTROLO E FISCALIZAÇÃO À DISTÂNCIA EM PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DOMESTICA

Autores

  • Nuno Lopes
  • Catarina Sales Oliveira

Resumo

A violência de género e dentro dela a violência doméstica é um fenómeno de proporções alarmantes à escala mundial: a Organização Mundial de Saúde alertou para que um terço das mulheres do mundo já teriam vivenciado uma situação de violência física ou sexual perpetrada por um parceiro íntimo (WHO, 2014). O combate a este flagelo tem mobilizado uma diversidade de atores sociais, tais como ativistas, grupos organizados de pessoas, académicos e investigadores em prol da compreensão do fenómeno, para a mudança legislativa e respostas estatais (Kaladelfos & Featherstone, 2014). Uma das respostas encontradas nos últimos anos foi a vigilância electrónica. Especificamente em Portugal desde 2011 que o sistema jurídico-legal Português aplica esta medida em processos de violência doméstica para intervir de forma diferenciada nestas situações, procurando promover a prevenção da reincidência e aumentar o grau de segurança da vítima. Este artigo analisa as primeiras experiências de implementação do sistema de vigilância electrónica no distrito da Guarda bem como o acompanhamento efetuado aos primeiros processos de violência doméstica com uso de meios de controlo e fiscalização à distância. Debate-se a eficácia da medida do ponto de vista dos seus resultados e das perceções das vítimas, dos agressores e da equipa técnica que acompanhou os processos. A metodologia do estudo empírico recorreu essencialmente à análise documental e de conteúdo. Os resultados encontrados permitem perceber que existem obstáculos à vigilância electrónica destes processos que se relacionam com as próprias raízes do fenómeno da violência doméstica e a forma como o processo de vigilância é deslegitimado não só por agressores como pelas próprias vítimas. Neste contexto o sucesso da aplicação do mecanismo está profundamente dependente da capacidade de trabalhar os processos em diversas vertentes bem como da continuidade do processo de mudança social de mentalidades em prol da não violência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

APAV (2014), APAV Estatísticas – Relatório Anual 2014. Lisboa: APAV. Disponível in http://apav.pt/apav_v2/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2014.pdf (consultado a 3 março 2015)

APAV (2010). Manual Alcipe – Atendimento de Mulheres Vitimas de Violência Doméstica. Lisboa: APAV. 2º edição. Disponível em http://www.apav.pt/apav_v2/images/pdf/ManualAlcipe.pdf (consultado a 26 Junho 2015)

Archer, C. (2000), “Sex differences in aggression between heterosexual partners: A meta-analytic review”. Psychological Bulletin, 126, 651-680.

Bourdieu, Pierre (1998). La domination masculine. Saint-Amand-Montrond: Éditions du Seuil.

Casimiro, C. (2008) “Violências na conjugalidade: a questão da simetria do género”. Análise social, vol. XLIII, 579-601

CIG (2011) IV Plano Nacional contra a Violência domestica 2011/13 disponível in http://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2014/01/V_PL_PREV_COMBATE.pdf (consultado a 12 maio 2015)

CIG (2014) V Plano Nacional contra a Violência domestica 2014/17 disponível in http://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2013/12/IV_PNVD_2011_2013.pdf (consultado a 12 maio 2015)

Costa, D. (2002) “Percepção social da mulher vítima de violência doméstica”. Estudo exploratório realizado no conselho de Lisboa. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa.

Debert, G. e Gregori, M (2008) “Violência e Gênero, Novas propostas, velhos dilemas”. Revista Brasileira de Ciências Sociais Vol. 23, 66, Fevereiro/2008

DGRSP (2013) “Síntese Estatística da Atividade Operativa relativa à Vigilância Eletrónica 2012” disponível in http://www.dgrs.mj.pt/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1004.1&p_p_id=20&p_p_action=1&p_p_state=exclusive&p_p_mode=view&p_p_col_id=&p_p_col_pos=0&p_p_col_count=0&_20_struts_action=%2Fdocument_library%2Fget_file&_20_folderId=45&_20_name=S%C3%ADntese+estat%C3%ADstica+vigil%C3%A2ncia+eletr%C3%B3nica+-+2012.pdf (consultado o 10 Outubro 2014)

Dias, I. (2004), Violência na Família- Uma Abordagem Sociológica. Porto, Edições Afrontamento

Dias, I. (2010) “Violência doméstica e justiça: respostas e desafios”. Sociologia: Revista do Departamento de Sociologia da FLUP, vol. XX, 245-262.

Dobash, R. P. e Dobash, R.E. (1979). Violence against Wives. New York: The Free Press.

Dobash, R. P. e Dobash, R.E (1983), “The Context Specific Approach” in D. Finkelhor et al, (eds.), The Dark Side of Families. Beverly Hills: Sage

Duarte, M. (2011) “Violência doméstica e sua criminalização em Portugal: obstáculos à aplicação da lei”. Sistema Penal & Violência, v.3, 2, 1-12

Duarte, M. (2013) “O lugar do Direito na violência contra as mulheres nas relações de intimidade”. Revista Género e Direito, 1, 25-45

Gelles, R. (1993). Family violence, in Robert L. Hampton et all. (eds). Family violence -Preventing and Treatment, California, Sage Publications, 1-24.

Giddens, A. (2007). Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 7ª Ed.

Hampton, R, e Coner-Edwards, A (1993), “Physical and sexual violence in marriage”, in Robert L. Hampton et al . (eds.), Family Violence – Prevention and Treatment, Newbury park, Sage Publications, 113-141

Gomes, R.M (2012) “Mulheres Vítimas de Violência Doméstica e Transtorno de Estresse Pós-Traumático: um enfoque cognitivo comportamental”. Revista de Psicologia da IMED, vol.4, 2, 672-680

Kaladelfos, A. & Featherstone, L. (2014) “Sexual and gender-based violence: definitions, contexts, meanings” , Australian Feminist Studies. 29:81, 233-237

Lyon, D. (1994) The electronic Eye – The Rise of Surveillance Society. Cambrigde: Polity Press

Lyon, D. (ed.) (2006) Theorizing Surveillance: The Panopticon and Beyond. Devon: Willan Publishing.

Parente, E. et al (2009) “Enfrentamento da violência doméstica por um grupo de mulheres após a denúncia”. Rev. Estud. Fem. [online]. vol.17, 2, 445-465. ISSN 0104-026X. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2009000200008. (consultado a 4 Fevereiro 2015)

Moreira, C. D. (2007). Teorias e Práticas de Investigação. Lisboa: ISCSP.

Pagelow, M. (1984) Family violence. New York: Praeger Publishers

Pizzey, E. (1974) Scream quietly or the neighbors will hear. Baltimore: Penguin Books.

Straus, M. e Gelles, R. (1986) Societal change and change in family violence in Journal of Marriage and the Family nº 48, (August) 465-479

Silva, G. (2005). Pulseiras Eletrónicas Uma Oportunidade À Liberdade. Compilação do Instituto de Reinserção Social. Vigilância Eletrónica 2002- 2004. Lisboa. Instituto de Reinserção Social. pp. 61- 68.

WHO (2014) “Fact sheet-Violence Against Women” disponível in http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs239/en/ (consultado a 3 maio 2015)

Publicado

2016-05-03

Como Citar

LOPES, N.; OLIVEIRA, C. S. VIGIANDO A VIOLÊNCIA – O USO DE MEIOS DE CONTROLO E FISCALIZAÇÃO À DISTÂNCIA EM PROCESSOS DE VIOLÊNCIA DOMESTICA. Gênero & Direito, [S. l.], v. 5, n. 1, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ged/article/view/27540. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Direitos Humanos e Políticas Públicas de Gênero