O “Direito” dos Agrotóxicos e a Soberania Alimentar: Entre Saúde, Economia e Escolhas Políticas

Autores

  • Thiago Henrique Costa Silva Universidade Federal de Goiás
  • João da Cruz Gonçalves Neto Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.1678-2593.2017v16n31.33940

Palavras-chave:

Agrotóxicos, Soberania Alimentar, Agronegócio, Políticas Públicas.

Resumo

Aliados ao aumento da produção e às questões econômicas, o consumo e utilização de agrotóxicos vêm aumentando em todo o mundo, tornando-se um dos esteios do denominado agronegócio, especialmente no Brasil, que já é apontado como um dos maiores consumidores. Em terras brasileiras, a conjugação de interesses governamentais – de alguns dos agentes do Estado – e privados – de indústrias químicas multinacionais – delineia uma rede de proteção aos agrotóxicos, que passam a contar com uma série de aparatos jurídicos e políticos para a manutenção de um sistema de produção que o preconize. Por outro lado, estudos apontam os malefícios relacionados à exposição e ao consumo, mesmo em pequenas quantidades, desses insumos agrícolas. Dessa forma, o presente artigo tem a função de, através de uma abordagem dialógica, baseada em pesquisa bibliográfica e análise indireta de dados, questionar o modelo de produção atual e o papel do poder público para essa manutenção, com legislações, políticas públicas e fiscalizações permissivas. Nesse sentido, o conceito de soberania alimentar e a agroecologia será apontado como uma das alternativas, que buscará o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o direito à saúde, em vez de aspectos econômicos que favoreçam apenas uma pequena parcela de grupos políticos e empresariais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Thiago Henrique Costa Silva, Universidade Federal de Goiás

Possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG) - 2012. Atualmente é Perito criminal da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (GO). Especialista em Direito Público (Constitucional e Administrativo) pela Uni-anhanguera e em Direito Penal e Processo Penal pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), onde e possui um MBA em Perícia Contábil em andamento . Mestrando em Direito Agrário pela UFG, em que é bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG). É pesquisador e estágiário-docente da disciplina de Direito Constitucional na Universidade Federal de Goiás. Docente na UNIALFA. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Penal, Direito Público e Direito Agrário.

João da Cruz Gonçalves Neto, Universidade Federal de Goiás

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (1989), graduação em Direito pela Universidade Federal de Goiás (1998), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (2000) e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2006). Atualmente é professor adjunto II na Universidade Federal de Goiás. É docente permanente do programa de pós-graduação em Direito Agrário da UFG e docente colaborador no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Filosofia do Direito, atuando principalmente nos seguintes temas: direito e arte, teorias da justiça, conflitos agrário-ambientais e direitos humanos.

Referências

ALEM, Daniel; et al. Segurança Alimentar e Soberania Alimentar: construção e desenvolvimento de atributos. XXV Encontro Nacional de Economia Política. Foz do Iguaçu, 2015.

ALMEIDA FILHO, Niemeyer; SCHOLZ, Vera. Soberanía alimentaria y seguridad alimentaria. Anais do XLVI Congresso da Sober, Rio Branco: 2008.

ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 5ª Edição. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2004.

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Relatório das análises de amostras monitoradas no período de 2013 a 2015. Brasília: ANVISA, 2016.

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Relatório de atividades de 2011 e 2012. Brasília: ANVISA, 2013.

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária; UFP, Universidade Federal do Paraná. Relatório ANVISA – UFPR sobre Mercado e Regulação de Agrotóxicos. Brasília: ANVISA, 2012.

ARAÚJO, José Newton Garcia; et al. Agrotóxicos: a semente plantada no corpo e na mente dos trabalhadores rurais. Psicologia em Revista, v. 19, n. 3. Belo Horizonte, dez. 2013. p. 389-406.

BOER, Pieter. El declive de las abejas: peligros para los polinizadores y la agricultura de Europe. Nota técnica de la Unidad científica de Greenpeace. França: 2013.

BRASIL. Decreto n° 8.950, de 29 de dezembro de 2016. Aprova a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI. Diário Oficial da União, Brasília, 30 dez. 2016a.

BRASIL. Decreto nº 7.4004, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2010a.

BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 17 jun. 2009.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 3 ago. 2010b.

BRASIL. Lei nº 13.301, de 27 de junho de 2016. Dispõe sobre a adoção de medidas de vigilância em saúde quando verificada situação de iminente perigo à saúde pública pela presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chikungunya e do vírus da zika; e altera a Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977. Diário Oficial da União, Brasília, 28 jun. 2016b.

BRASIL. Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 12 jul. 1989.

BRASIL. Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos. Agrotóxicos na ótica do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2016c.

BRASIL. Projeto de Lei nº 3.200, de 2015. Dispõe sobre a Política Nacional de Defensivos Fitossanitários e de Produtos de Controle Ambiental, seus Componentes e Afins, bem como sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de defensivos fitossanitários e de produtos de controle ambiental, seus componentes e afins, e dá outras providências. 2015. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=E59BD7220A57E1018DF8C717F4B4846E.proposicoesWebExterno1?codteor=1412079&filename=PL+3200/2015. Acesso em: 15 abr. 2017.

BRASIL. Projeto de Lei nº 337, de 2008. Altera o art. 7º da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, para instituir a rastreabilidade de agrotóxicos. 2008. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=2969710&disposition=inline. Acesso em: 15 abr. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 5553. Requerente: Partido Socialismo e Liberdade. 1 ago. 2016d.

CAMPANHA NACIONAL CONTRA O USO DE AGROTÓXICOS PELA VIDA. Golpe na ANVISA: agrotóxico na comida é “aceitável”?, 2016. Disponível em: http://www.mst.org.br/2016/11/28/golpe-na-anvisa-agrotoxico-na-comida-e-aceitavel.html. Acesso em: 10 mar. 2017.

CAMPANHA NACIONAL CONTRA O USO DE AGROTÓXICOS PELA VIDA. Situação do Mercado de Agrotóxicos no mundo e no Brasil. São Paulo: mai 2012.

CARNEIRO, Fernando Ferreira, et al (org.). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015.

CARSON, Rachel L. Primavera Silenciosa. Tradução Claudia Sant’Ana Martins. São Paulo: Gaia, 2010.

CNA. Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil. PIB e Performance do Agronegócio – Balanço 2016. Brasília: CNA, 2016.

CONSEA. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Mesa de controvérsias sobre impactos dos agrotóxicos na soberania e segurança alimentar e nutricional e no direito humano à alimentação adequada: relatório final. Brasília: Presidência da República, 2014.

CONSEA. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Princípios e Diretrizes de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional: Textos de Referência da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: Brasília, Presidência da República, 2004.

CORRALO, Vanessa da Silva; et al. Presença de pesticidas organoclorados no leite materno: fatores de contaminação e efeitos à saúde humana. HYGEIA, Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde. v. 12, n. 22. Uberlandia: jun. 2016. p. 101-108.

DELGADO, Nelson Giordano. Política econômica, ajuste externo e agricultura. in LEITE, Sérgio Pereira (coord.). Políticas Públicas e Agricultura no Brasil. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2001.

FOLGADO, Cleber Adriano Rodrigues. Agrotóxicos: Um problema invisibilizado. Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA. CLOC – Via Campesina/ Brasil. Brasília, abr. 2014.

TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. Bahia: AATR, 2002. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/ dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf. Acesso em: 15 mai. 2017.

IARC, International Agency for Research on Cancer; WORLD HEALTH ORGANIZATION. IARC Monographs Volume 112: evaluation of five organophosphate insecticides and herbicides. Lyon: IARC, 2015.

IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Relatórios de comercialização de agrotóxicos. Boletins Anuais de produção, importação, exportação e vendas de agrotóxicos no Brasil. Boletim 2014. Brasília: IBAMA, 2014.

IDEC, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. IDEC critica relatório da Anvisa sobre resíduos de agrotóxicos em alimentos, 2016. Disponível em: http://www.idec.org.br/em-acao/em-foco/idec-critica-relatorio-da-anvisa-sobre-residuos-de-agrotoxico-em-alimentos. Acesso em: 10 mar. 2017.

INCA, Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Posicionamento do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva acerca dos agrotóxicos. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/posicionamento_do_ inca_sobre _os_ agrotoxicos_06_abr_15.pdf. Acesso em 10 mar. 2017.

LEONARDO, Rodrigo Xavier. Sujeito de direito e capacidade: contribuição para uma revisão da teoria geral do Direito Civil à luz do pensamento de Marcos Bernardes de Mello in EHRHARDT JR, Marcos; DIDIER JR, Fredie. Revisitando a teoria do fato jurídico: homenagem a Marcos Bernardes de Mello.São Paulo: Saraiva, 2010.

MACHADO, Luís Carlos Pinheiro; MACHADO FILHO, Luís Carlos Pinheiro. A dialética da agroecologia: contribuição para um mundo com alimentos sem veneno. São Paulo: Expressão Popular, 2014.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 2, de 3 de Janeiro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, 08 jan. 2008.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Secretaria de Política Agrícola. Projeções do Agronegócio - Brasil 2015/16 a 2025/16 – Projeções de Longo Prazo. Brasília: MAPA, 2016.

MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Panorama do Agronegócio Brasileiro. Brasília-DF: MAPA, 2017.

MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da eficácia. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

MINISTÉRIO DA FAZENDA et al. Reduz a base de cálculo do ICMS nas saídas dos insumos agropecuários que especifica, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 4 nov. 1997.

PERES, Frederico; et al. Desafios ao estudo e contaminação humana e ambiental por agrotóxicos. Ciência & Saúde Coletiva, vol. 10. Rio de Janeiro: 2005. p. 27-37.

PIGNATI, WA; MACHADO, JMH. O agronegócio e seus impactos na saúde dos trabalhadores e da população do estado de Mato Grosso in GOMEZ, CM; MACHADO, JMH; PENA PGL (orgs.). Saúde do trabalhador na sociedade brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.

REIS, Vilma. Nota contra a pulverização aérea de inseticidas para o controle de vetores. 2016. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/institucional /nota-contra-pulverizacao-aerea-de-inseticidas-para-controle-de-vetores-de-doencas/ 17430/. Acesso: 10 mar. 2017.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível 0305822-62.2015.8.21.7000. Apelante: Transporte e Comércio de Hortifrutigranjeiros D’Agostini LTDA. Apelado: Ministério Público. Diário da Justiça do Rio Grande do Sul, 11 jul. 2016.

RODRIGUES, Roberto. O céu é o limite para o agronegócio brasileiro. Conjuntura Econômica, v.60, n.11. Rio de Janeiro: nov. 2006. p.14-15.

SEVILLA GUZMÁN, E. Uma estratégia de sustentabilidade a partir da agroecologia. Porto Alegre, vol. 2, n. 1, p. 35-45, 2001 Disponível em: <http://mstemdados.org/biblioteca> Acesso em: 10 mar. 2017.

SILVA, Thiago Henrique Costa Silva. O Desenvolvimento como paradigma da questão agrária: o capitalismo agrário em discussão in XXV Congresso do CONPEDI – Curitiba. Direito Agrário e Ambiental. Florianópolis: CONPEDI, 2016. p 236 a 256.

SOARES, Wagner Lopes; PORTO, Marcelo Firpo. Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no cerrado brasileiro. Revista Ciência & Saúde Coletiva, vol. 12. Rio de Janeiro: 2007. p 131-143.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão de literatura. Revista Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006.

TENDLER, Silvio. O Veneno está na mesa II. Documentário. Brasil: 2015.

TENDLER, Silvio. O Veneno está na mesa. Documentário. Brasil: 2011.

VEIGA, Marcelo Motta; et al. A contaminação por agrotóxicos e os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Revista Brasileira Saúde Ocupacional, n. 32. São Paulo: 2007. p. 57-68.

Downloads

Publicado

2017-06-15

Como Citar

SILVA, T. H. C.; NETO, J. da C. G. O “Direito” dos Agrotóxicos e a Soberania Alimentar: Entre Saúde, Economia e Escolhas Políticas. Prim Facie, [S. l.], v. 16, n. 31, p. 01–31, 2017. DOI: 10.22478/ufpb.1678-2593.2017v16n31.33940. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/primafacie/article/view/33940. Acesso em: 19 abr. 2024.