“NEGA BIGA, VÉIA BASTIANA E MARIA PITÚ”
VIDAS INFAMES DE MULHERES DE RUAS NO INSTAGRAM
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-9979.2023v18n1.66669Palavras-chave:
Estudos Discursivos Foucaultianos, Mulheres de Rua, Narrativas Infames, InstagramResumo
Este artigo insere-se nas discussões acerca da invisibilidade e discriminação enfrentadas por mulheres de ruas na cidade baiana de Jacobina, durante a década de 1970. Suas vidas foram ressignificadas no Instagram, particularmente no perfil do grupo @ciasaraudasseis em 2021, através da publicação do texto da historiadora Amanda dos Santos. Tendo essas vidas infames sido recuperadas por essa rede social, em condições de existência específicas no domínio da atualidade, pode-se dizer, pela discursivização dos fatos sociais, que tais mulheres escaparam ou foram tocadas pelo discurso do poder, dentro das microrrelações cotidianas, através das suas práticas mais ínfimas, uma vez que provocaram repúdio por serem curandeiras, bêbadas e transgressoras das normas sociais. Nosso foco é investigar essas narrativas infames, a partir de enunciados selecionados no Instagram. Para tanto, mobilizamos principalmente os postulados dos Estudos Discursivos Foucaultianos, com ênfase nas noções de sujeito, corpo discursivo, enunciado e vidas infames. Em nosso escopo teórico, utilizamos Foucault (2003), para discutir a vida dessas mulheres a partir do conceito da infâmia; bem como Jean-Jacques Courtine e Carlos Piovezani (2018), para pensar o binômio corpo e discurso e ainda Judith Butler (2017), com o olhar para o lugar de fala que essas sujeitas ocuparam/ocupam na sociedade. Também adotamos o método arqueogenealógico, no intuito de evidenciar como essas mulheres de ruas tiveram que alçar esforços desesperadores para permanecerem vivas e fugir do lugar que o poder determinou para elas, ao lhes aplicar a disciplina e a docilização, mas sobretudo para mostrar o deslocamento de subjetividades nas narrativas do espaço digital.