ESTRATÉGIAS FEMININAS PARA CONCILIAR TRABALHO REMUNERADO E TRABALHO DOMÉSTICO NO SÉCULO XXI
Autores
Lena Lavinas
Alinne Veiga
Maria Guerreiro
Resumo
Esse artigo tem por objetivo sistematizar as principais características do emprego feminino ao longo de 40 anos, de modo a destacar os hiatos e déficits de gênero que se perpetuam. Para tal, servimo-nos de duas bases de dados internacionais — OIT e OCDE, que permitem uma análise longitudinal e comparada do perfil do trabalho feminino em pouco mais de 20 países (desenvolvidos e em desenvolvimento) em várias regiões (Américas, Europa, Ásia e África). A análise descritiva indica que, nas últimas décadas do século XX, as mulheres beneficiaram-se fortemente da relação salarial, sobremaneira em virtude da queda acentuada da sua taxa de fecundidade e do aumento acelerado de seu capital humano. Exercícios econométricos, cuja metodologia leva em consideração as características intrínsecas de cada país, confirmam a prevalência desses dois fatores como os de mais alta significância no impulso à elevação da taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho. O estudo indica que outros fatores explicam o aumento da taxa de atividade feminina, e que tais fatores mudam em função da faixa etária das mulheres ocupadas. O artigo indaga se tais fatores tão relevantes estariam se esgotando e perdendo eficácia para assegurar uma trajetória profissional capaz de reverter, no futuro, as assimetrias e desigualdades de gênero que persistem. E coloca em debate duas estratégias de inserção ocupacional das mulheres, uma first best e outra second best, cristalizadas pelo esgotamento de um padrão de inserção ocupacional de primeira geração.