APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ: juventude, participação política e educação
DOSSIER PRESENTATION: youth, political participation and education
Geovânia da Silva Toscano *
Ivan Fontes Barbosa **
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DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n25.56627.p11-14
O dossiê para a revista Caos decorre da parceria de professores e professoras que atuam no campo das ciências sociais e educação. A criação do curso de Licenciatura em Ciências Sociais na UFPB em 2009, e o debate que precisou efetuar com o campo da educação fez com que diversos trabalhos de conclusão de curso em ciências sociais (bacharelado e licenciatura), tendo como referência o período de 2013 a 2019.2, flertassem direta ou indiretamente com o tema da juventude, participação política e educação. Considerando o contexto em que os jovens, mulheres, indígenas, ciganos, negros e trabalhadores são profundamente atingidos por crises sanitária e epidemiológica da Covid-19, dando visibilidade às desigualdades sociais estruturais do capitalismo global, o presente dossiê busca contribuir para o entendimento de como a juventude tem assumido o papel de protagonista de significativas lutas sociais.
No que se refere à juventude brasileira, retornamos a 2013, pois aquele ano nos foi revelador na retomada das manifestações nas ruas dos jovens reivindicando diversos direitos, ano também que deu os sinais da crise de institucionalidade e de representatividade no governo da Presidenta Dilma Rousseff, e foi nesse mesmo ano que ocorreu a aprovação do Estatuto da Juventude, Lei 12.852 de 5 de agosto de 2013, que considera a responsabilidade do Estado, independente de governo, atuar na elaboração de políticas públicas destinadas às pessoas de 15 a 29 anos, e reconhecê-las como sujeitos de direitos. Trata-se, portanto, de um tema importante na agenda das ciências sociais contemporâneas e que contribui para refletir sobre as dificuldades que essa parcela da população enfrenta para fazer valer seus direitos. Nesse cenário, é mister que propostas como essa arejem os olhares sobre esse importante fenômeno.
Para nós, que atuamos na sociologia da educação, ainda marginal no campo das ciências sociais brasileiras, observamos que muitos jovens nas últimas décadas tiveram oportunidades de ampliar a sua escolarização via expansão e criação dos institutos federais e a ampliação das vagas no ensino superior em vários municípios brasileiros. Entretanto associar este campo do acesso à educação às formas de participação política da juventude, o seu processo diverso de socialização, aos diversos perfis, as suas resistências e lutas para conquistar outros espaços sociais, nos parece pertinente enquanto pretensos “intelectuais” públicos que atuam no campo das ciências sociais para além dos muros da universidade.
No Brasil, o último censo realizado em 2010, revelou aproximados 51 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos, idade das juventudes indicada no Estatuto da Juventude. Esse extrato, que representa 54% da população brasileira, é um manancial de reflexões sobre os dilemas que a sociedade brasileira tem diante de si nos próximos anos.
Nossa proposta, com este Dossiê: juventude, participação política e educação, é convidar o leitor à reflexão coletiva com nossos colaboradores formados nas ciências sociais, a respeito das alternativas de organizações dos jovens nos municípios, sobre sua participação política nos diversos espaços sociais e sobre a pertinência do ensino de sociologia para a juventude no ensino básico brasileiro.
Abre o dossiê, o artigo de autoria de Adailson Regis de Oliveira que reflete a respeito da participação política da juventude na formação da Rede de Jovens do Nordeste, quais foram essas formas de participação, as articulações e as possibilidades de atuação lançadas para eles nos organismos governamentais. O autor nos traz, ainda, as concepções dos jovens sobre os temas da participação, democracia e cidadania, sendo as suas práticas fortalecidas no ambiente em rede.
Em seguida, Geziane do Nascimento Oliveira apresenta sua pesquisa sobre a formação e a construção do Conselho Municipal de Juventude da cidade de João Pessoa/ PB, instituído em 2011, destacando como ocorreu a articulação do poder público com a sociedade civil para a escolha dos conselheiros, as dificuldades, a mobilização dos jovens, os desafios e limites presenciados durante o processo da implementação, quais os desmembramentos da participação articulada destes dois setores no sentido da fiscalização das políticas públicas na cidade voltadas para a juventude.
Na sequência, o estudo de Raphaella Ferreira Mendes e Geovânia da Silva Toscano, nos possibilita compreendermos como foi o movimento de Ocupação do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) campus Cabedelo, no ano de 2016, estabelecendo a relação com outros movimentos de ocupação em território nacional, porém com ênfase na identificação de quais os sentidos atribuídos da apropriação do espaço-escolar pelos jovens após a ocupação. Dar voz aos jovens foi fundamental para captar o sentido da escola relacionado ao tema da participação e deliberações coletivas com vistas às mudanças nas suas vidas cotidianas.
No artigo seguinte, convidamos Ana Olívia Costa de Andrade para falar sobre o ensino de sociologia no ensino médio. De início, a autora nos lança algumas perguntas: Para que se formar em ciências sociais? O que faz um cientista social? Sociologia para quê? A sociologia deve ser neutra ou intervencionista? Para dialogar sobre estas questões, apresenta-nos dois sociólogos norte-americano Michael Burawoy e Jonathan Turner, divergindo sobre o que seria uma sociologia pública; traz ainda a relação desse debate com a obrigatoriedade do ensino de sociologia no ensino médio brasileiro a partir de 2008, conduzindo-nos à reflexão se esta ciência pode ou não assumir, para além do rigor acadêmico e científico, um caráter de ciência engajada e articulada com os setores subalternizados, para fugir das amarras da lógica do mercado, que escraviza, que exclui, e que mata.
Encerra a seção dos artigos, a pesquisa em andamento, da mestranda da UNESP/Araraquara, Fernanda Stella Cavicchia, que atualiza o debate sobre a participação dos jovens, ao nos trazer uma interpretação das manifestações de ruas ocorridas no Brasil em 15 e 30 de maio de 2019, propondo uma leitura da teoria de luta por reconhecimento do filósofo Axel Honneth para análises daqueles atos. O tom que perpassa tais manifestações é de denúncia aos cortes na educação anunciados pelo Governo do Presidente ex-militar Jair Bolsonaro, eleito em 2018.
Esperamos que a publicação deste dossiê contribua nas discussões sobre a juventude brasileira, abrindo caminhos para as reflexões a respeito dos desafios anunciados no contexto contemporâneo quanto à necessidade de institucionalização e consolidação das políticas públicas voltadas para as juventudes e à reafirmação da importância da sociologia no ensino médio. Os resultados dos trabalhos aqui apresentados nos fornecem elementos que reafirmam a emergência de diálogos com os setores da sociedade civil e instituições envolvidas com ações para/com os jovens para que reconheçam as suas potencialidades, escutem as suas vozes e os legitimem como sujeitos de direitos. O convite está lançado!!
Recebido em: 05/12/20.
Aceito em: 14/12/20.
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n25.56627.p11-14
* Doutora em ciências sociais pela UFRN/Brasil. Professora do Departamento de Ciências Sociais da UFPB/Brasil. E-mail: geotoscano@gmail.com.
** Doutor em sociologia pela UFPE/Brasil. Professor do Departamento de Ciências Sociais e do PPGS da Universidade Federal de Sergipe/Brasil. E-mail: ifb@bol.com.br.