TRAJETÓRIAS ESCOLARES DE ESTUDANTES DA LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA (UFPB)
SCHOOL TRAJECTORIES OF UNDERGRADUATE STUDENTS IN SOCIAL SCIENCES AT THE FEDERAL UNIVERSITY OF PARAÍBA (UFPB)
Aina G. Azevedo *
Joery Pereira de Oliveira **
Mariana P. de M. Novais ***
https://doi.org/10.46906/caos.n28.62687.p102-117
Resumo
Este relato de pesquisa se baseia em textos produzidos por estudantes da licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) acerca de suas trajetórias escolares. A pesquisa foi feita no âmbito da disciplina “Educação e Sociedade no Brasil” em parceria com projetos de monitoria. Fragmentos desses textos foram selecionados, destacando experiências positivas e negativas, expectativas, dificuldades e estratégias significativas da/na vida estudantil. Privilegiamos especialmente relatos sobre racismo, questões de gênero e a importância de políticas públicas educacionais, tais como cotas de ação afirmativa, bolsas de estudo e auxílios estudantis. Entretanto, é importante enfatizar que não se tratou de identificar um perfil estudantil. Algumas experiências mostraram-se mais comuns, outras mais pontuais. Ao reuni-las neste relato, nosso objetivo foi conhecer um pouco melhor a trajetória desses/dessas estudantes, buscando reconhecer potenciais que podem ser mais bem explorados e fragilidades que devem ser mais bem cuidadas por parte do corpo docente e da UFPB de maneira mais geral.
Palavras-chave: juventude; políticas educacionais; trajetória escolar, ciências sociais.
Abstract
This research report is based on texts produced by undergraduate students in Social Sciences at the Federal University of Paraíba (UFPB) about their school trajectories. The research was carried out within the scope of the discipline “Education and Society” in partnership with tutorial projects. Fragments of these texts were selected, highlighting positive and negative experiences, expectations, difficulties and significant strategies of/in student life. We especially privilege reports on racism, gender issues and the importance of public educational policies, such as affirmative politics, scholarships and student aid. However, it is important to emphasize that it was not our aim to trace a student profile. Some experiences were more common, others more individual. In this report, by bringing them together, our objective was to get to know a little more the trajectories of these students, seeking to recognize potentials that can be better explored and weaknesses that must be more carefully observed by the faculty members and by UFPB in general.
Keywords: youth; educational policies; school trajectory, social sciences.
Imagem 1 — Síntese dos lugares onde estudei ao longo da vida |
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Autor: Natanael de Alencar Santos, 2018. |
Este relato de pesquisa se baseia em textos produzidos por estudantes da Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) acerca de suas trajetórias escolares. Essa produção textual foi fomentada pela professora Aina G. Azevedo, quando lecionava a disciplina de “Educação e Sociedade no Brasil” nos períodos de 2018.2 e 2019.2. Na época, foram produzidas cerca de 45 trajetórias escolares, das quais selecionamos 13 para recolher os excertos apresentados aqui. Os/as estudantes também foram incentivados/as a produzirem desenhos, como é o caso do trabalho de Natanael que serve ao presente texto como uma forma de apresentar, de forma ampla, os percursos e as inquietações vividos pelos/as estudantes. A trajetória escolar foi orientada a ser escrita contemplando os seguintes eixos: i) experiências escolares marcantes antes do ingresso na UFPB; ii) a escolha pela licenciatura em Ciências Sociais; iii) dificuldades/facilidades encontradas na UFPB e estratégias que consideravam importantes para a sua permanência na universidade. Assim, o presente relato de pesquisa também está estruturado a partir desses eixos.
Além de contar com o apoio e consentimento dos/das estudantes[1] que cursaram “Educação e Sociedade no Brasil”, esta pesquisa se desenvolveu em parceria com o projeto de monitoria “Trajetórias escolares — diagnóstico dos impactos da política de cotas entre estudantes da UFPB” (Parte I 2018-2019 e Parte II 2019-2020), coordenado também por Aina G. Azevedo e com a participação de cinco monitoras[2] do curso de Ciências Sociais. Tal projeto dedicava-se a atividades relativas à docência e à produção e análise de um questionário sobre o perfil socioeconômico[3] dos/das estudantes de Ciências Sociais e Artes Visuais. Esses questionários foram analisados e seus resultados apresentados no ENID 2019, faltando a análise e apresentação que seria feita em 2020. Entretanto, em abril de 2020, no início da pandemia de Covid-19, o projeto foi bruscamente interrompido pela UFPB, sem aviso prévio, o que nos desmobilizou a dar continuidade às análises que vínhamos fazendo.
Desde então, como sabemos, muita coisa aconteceu nas trajetórias escolares de milhares de estudantes no Brasil e no mundo, cujos efeitos ainda são difíceis de dimensionar. Mesmo assim, julgamos que as experiências pré-pandêmicas que trazemos aqui, elucidam desejos, expectativas, críticas e sofrimentos dos/das estudantes de licenciatura em Ciências Sociais da UFPB que ainda são válidas de serem compartilhadas. Assim, mais que nos atermos às análises quantitativas dos questionários, aqui nos baseamos exclusivamente nas trajetórias escolares escritas pelos/pelas estudantes.
A escolha dos fragmentos de texto que compõem o presente relato de pesquisa se orientou pela prevalência de certos discursos nas trajetórias escolares dos/das estudantes ou por considerarmos que certas experiências reportadas eram mais significativas que outras. Privilegiamos especialmente relatos sobre racismo, questões de gênero e a importância de políticas públicas educacionais, tais como cotas de ação afirmativa, bolsas de estudo e auxílios estudantis. Por meio das trajetórias escolares dos/das estudantes, pretende-se perceber, entre outras questões, a importância da Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) (BRASIL, 2012) que completa 10 anos em 2022. Afinal, até pouco tempo, não se dispunha de políticas educacionais capazes de democratizar o acesso ao ensino superior e técnico público, gratuito e de qualidade.[4] Além disso, busca-se apontar questões que devem ser observadas e aprimoradas para que os/as estudantes sejam acolhidos no ambiente universitário e tenham condições de permanecer e se formar.
Experiências escolares marcantes antes do ingresso na UFPB
Entre as diversas experiências escolares anteriores ao ingresso na UFPB, destacamos o racismo como uma delas, percebido no nível pessoal e estrutural. O relato de uma estudante negra nos mostra as dificuldades enfrentadas pelas crianças em aceitar o seu próprio corpo, ao mesmo tempo em que percebem o lugar subalterno ocupado pelas pessoas negras no ambiente escolar de classe média. A estudante ainda destaca a surpresa que sua capacidade de aprendizagem gera nas pessoas:
Aos 10 anos mudei novamente de escola, mas ao contrário das outras, essa era frequentada por alunos de classe média, que sempre dispuseram de atividades extraclasse bancadas pelos pais. Não era o meu caso. Eu vinha de uma realidade muito diferente e foi um baque. As cores das peles haviam clareado, os cabelos estavam agora lisos, haviam aparelhos nos dentes tortos, os materiais escolares eram os mais caros; agora as mulheres negras ocupavam cargos como porteiras, cozinheiras e faxineiras. Fiquei nessa escola até os meus 14 anos – embranqueci. Meu cabelo foi alisado, minha depilação não atrasava, aprendi a rir de boca fechada por não ter como bancar o uso de aparelho, em viagens à praia com a família nem sequer saía debaixo do guarda-sol — eu sempre procurava ficar o mais branca possível. Outra diferença que tive que enfrentar foi o nível da escola, e era incrível como havia um discurso ao meu respeito quando comecei a superar as dificuldades: “incrível como uma menina como você que vem de uma escola de bairro se adapta tão rápido.” (informação verbal, grifo nosso).[5]
Além de experiências de racismo, uma outra estudante travesti faz eco ao que Bento (2011) define como “heteroterrorismo” na escola.[6] No caso desta estudante, a trajetória escolar se apresenta marcada desde o princípio até a universidade por experiências de violência:
A questão é que a escola sempre tentou me expulsar dali, bem como qualquer outro meio público institucional. Eu não me sinto bem-vinda. Entretanto, acredito que esse seja o pulso durante toda a minha trajetória escolar, provar que eu consigo, provar que eu tenho capacidade para me travestir da identidade que eu quiser e ocupar o espaço que eu quiser sem ter que calar a voz para ninguém. (informação verbal, grifo nosso).[7]
Entre as experiências positivas marcantes antes do ingresso na UFPB, a passagem por Institutos Federais (IFs) em diferentes estados do Nordeste se destacou como algo que abriu as perspectivas escolares de muitos/muitas estudantes. Estudantes que não teriam acesso a um ensino de qualidade se não fosse público e gratuito:
Cursei todo o ensino médio concomitante ao ensino Técnico de Informática para Internet, período integral, no Instituto Federal de minha cidade. Ingressei por meio de processo seletivo e cota de baixa renda. Minha experiência no Instituto fora diferente de tudo que havia vivido no âmbito escolar referente à estrutura, à formação docente, aos conteúdos ministrados, à merenda… O IFPE de Belo Jardim me proporcionou amigos e uma nova perspectiva do que era a Escola. Fiz muitos e bons amigos. (…) No IFPE tive a oportunidade de participar de monitoria e projetos de extensão. Tive contato com pessoas que me ajudaram a me descobrir enquanto indivíduo e explorar minha subjetividade. (informação verbal, grifo nosso).[8]
Ainda sobre a experiência no IF:
Lá o mundo se abriu para mim, havia muita liberdade, tinha disciplinas de artes, como dança, pintura, teatro. [...] No IFCE comecei a participar do grêmio estudantil, na época intitulado ‘REBELE-SE’. Ajudei a organizar eventos esportivos na instituição, participei de congressos, fui à Brasília como diretora de Assuntos Estudantis do grêmio da minha instituição. Comecei também a ter maior consciência crítica perante a educação brasileira. (informação verbal, grifo nosso).[9]
Nos dois relatos acima, observamos que experiências com monitoria, projeto de extensão e política estudantil nos IFs foram fundamentais para as transformações das perspectivas educacionais. Por outro lado, a experiência no IF também foi marcada pela menção às dificuldades enfrentadas, conforme relato de outro estudante: “A discrepância entre o ritmo de estudos que eu tinha antes e o que eu me deparei para conseguir seguir minimamente o ritmo no IF, se alinharam aos processos de reafirmação da minha sexualidade e ao de aceitação do meu corpo gordo.” Apesar dessas dificuldades, ele relata que seu ingresso na UFPB foi proporcionado pelo ensino de qualidade desfrutado anteriormente:
O IFPB sempre teve a maior média das notas no ENEM da minha cidade, ficando atrás apenas da escola particular mais cara da cidade. Quase que exclusivamente por isso, consegui fazer uma ótima média no ENEM mesmo sem ter estudado para a prova. A média era suficiente para que eu pudesse escolher vários cursos. (informação verbal, grifo nosso).[10]
A escolha pela licenciatura em Ciências Sociais
Como as trajetórias escolares aqui apresentadas se baseiam principalmente nos relatos de estudantes do curso noturno de licenciatura em Ciências Sociais, a opção pelo curso se refere bastante à figura do/da professor/professora (isso poderia ser diferente para estudantes do bacharelado em Ciências Sociais, mas não dispomos de dados para saber). E, algumas vezes, a opção pela licenciatura vem antes mesmo da escolha pelo curso específico, como neste caso:
Ele [o ensino médio] foi marcado por uma forte participação minha na escola, na presidência de turma, no grêmio estudantil e nas tentativas de provocar debates acerca de temáticas que, ao meu ver, precisam ser discutidas entre a juventude, como igualdade de gênero, racismo, sexualidade, religião e etc. Essa articulação política dentro do ambiente escolar me trouxe um grupo de amigas/os e apoiadores bem sólido e motivador, existindo entre elas/es algumas/uns professores que me inspiraram posteriormente na escolha de uma licenciatura. (informação verbal, grifo nosso).[11]
Em outro exemplo, o estudante se inspira na figura do professor. Não o professor que ele teve, mas aquele que gostaria de ser:
Deslumbrado com leituras pedagógicas sobre o caráter transformador da educação que era sistematicamente negado na escola onde eu estudava, a ideia de ser um professor diferente daquilo, fez com que eu olhasse com mais carinho para a área de licenciatura. O curso escolhido ainda era uma incógnita para mim: ficava entre História, Jornalismo e Psicologia, pois ainda havia interesse meu nessas áreas, o que mudou depois da minha leitura de “O Povo Brasileiro” do Darcy Ribeiro, que me influenciou muito na escolha de Ciências Sociais. (informação verbal, grifo nosso).[12]
Para alguns, a manifestação do desejo de se tornar professor/a ocorre de forma bastante “natural” como no relato deste estudante: “[...] vindo de família de professores, sempre vi na docência um modo digno e majestoso de transpor conhecimento aos que querem conhecimento.” (informação verbal).[13]
Entretanto, para outros/as, não é bem assim. O relato de uma estudante negra sobre o desejo de se tornar professora esbarra na constatação cruel de que esse lugar nem sempre é percebido como natural para todas as pessoas:
Foi nessa escola, em uma conversa durante o intervalo das aulas que uma menina, que ainda hoje caminha ao meu lado, falou que queria ser professora. Aquilo mexeu comigo de uma forma, porque, assumi tempos depois, eu NUNCA imaginei que era possível se tornar professora. Nunca vi como uma opção, era quase como se não existisse. Terminei meu terceiro ano sem querer admitir o curso que queria, pois minha família me empurrava para Publicidade, mas eu queria algo mais “humano”. Eu já estava decidida que queria lecionar. Tinha pesquisado tanto antes de realizar o ENEM, eu me apaixonei por sociologia por ter uma professora incrível, lhe pedi orientações e sabia que queria cursar Ciências Sociais. (informação verbal, grifo nosso).[14]
Algumas vezes, o relato sobre o ingresso na universidade e a opção por Ciências Sociais se parece com um sonho impossível, pois a universidade não é percebida como um lugar para todos/as. Um estudante branco, de baixa renda e oriundo de área rural, mostra que foi impulsionado por padres da teologia da libertação e pela família a seguir seu sonho:
Durante esses anos, fui conhecendo muitos padres que eram muito entendidos de Filosofia, Sociologia e História, e que me ensinaram muito, ao mesmo tempo em que me envolviam em lutas nos movimentos sociais da região. Por alguns anos me envolvi nessas lutas, mas sem o objetivo de cursar algumas das matérias citadas acima, até porque eu não me via entrando no ensino superior por entender que era um objetivo muito distante, considerando até impossível. (…) Passei todo o ano de 2017 estudando em casa e revendo tudo o que já tinha estudado na escola (ou em teoria, o que deveria ter visto na escola). Nesse período, me envolvi na parte de Sociologia para que me ajudasse nas questões do ENEM e na prova de Redação, acabei gostando bastante da área e cogitando a ideia de cursar Sociologia. (...) Ao esperar os resultados da seleção, tive a feliz surpresa de ser aprovado em 3º lugar de quatro vagas na modalidade de cotas “alunos de escola pública com renda igual ou inferior a um salário-mínimo”, na Universidade Federal da Paraíba. (informação verbal, grifo nosso).[15]
Além da carreira de professor, a escolha por Ciências Sociais surge também pelo despertar da curiosidade por meio da leitura e o envolvimento político no ensino médio, como mostram os relatos abaixo:
Acredito que o elemento crucial que me fez ir para as Ciências Sociais fora a leitura que se tornou muito maior com minha entrada no IFPE. A excitação em ler e escrever. A curiosidade — palavra-chave — de, senão conhecer, ao menos compreender um pouco melhor o mundo, me levou às Ciências Sociais. Já que tudo é matéria de interesse para essa área do conhecimento. (informação verbal, grifo nosso).[16]
Esse também foi o ano do estopim do processo de impeachment da presidenta Dilma e das ocupações que aconteceram no Brasil, com isso, alinhei-me com alguns alunos e professores no desenvolvimento de atos de reivindicação. Chegamos a organizar várias passeatas pela cidade e fechar escolas em manifestação, sem dúvida, esses foram momentos chave que fizeram optar por cursar Ciências Sociais. (informação verbal, grifo nosso).[17]
Dificuldades/facilidades encontradas na UFPB e estratégias que consideravam importantes para sua permanência na universidade
Na licenciatura em Ciências Sociais na UFPB, os relatos sobre a experiência universitária são diversos, mas é notório, em termos positivos, o destaque dado aos programas de pesquisa, extensão e monitoria. A importância de um conjunto de auxílios e bolsas para a permanência e imersão na vida universitária é apresentada por um estudante:
No último processo de assistência estudantil, consegui ter acesso ao auxílio moradia e ao restaurante universitário, me tornei bolsista PIBIC ainda no ano passado. Sem dúvida poder me emancipar financeiramente, se colocou como um fator crucial para que eu conseguisse me debruçar dentro da universidade e me possibilitou usufruir de todas as possibilidades que estão disponíveis por aqui. (informação verbal, grifo nosso).[18]
No relato abaixo, a estudante demonstra a importância das bolsas para o seu envolvimento com a universidade. E destaca ainda algo extremamente recorrente: que os/as estudantes do curso noturno de licenciatura em Ciências Sociais têm mais dificuldade de conciliar o trabalho com a universidade, e de participar de programas como pesquisa, extensão e monitoria:
Durante os dois primeiros anos da graduação (UFCG), fui privilegiada ao me dedicar apenas à vida acadêmica, com a ajuda do auxílio do PIBID […]. Como eu não queria concluir o curso em Campina Grande, decidi optar pela transferência, também porque houve cortes dos programas e, consequentemente das bolsas, precisei voltar ao mercado de trabalho, porém, nada me apareceu e decidi me mudar para João Pessoa. Com o curso trancado durante um ano, esperando processos burocráticos para a transferência oficial, estive inserida no mercado de trabalho e ainda estou. Hoje, tento conciliar o trabalho e a Universidade. Durante vários meses fiquei “parada” nos estudos, pois passei por uma trajetória desgastante trabalhando em Shopping. Hoje meus horários e cobranças são mais flexíveis no trabalho, assim, ainda consigo conciliar, mas dentro do Shopping eu não conseguiria. Hoje não participo de nenhum projeto acadêmico, pois a rotina se torna muito corrida, então apenas sigo com o curso. (informação verbal, grifo nosso).[19]
O tema da conciliação de trabalho com estudos leva os/as estudantes a postergar ou abandonar o curso, eventualmente, mais de uma vez. Esse é o caso de um estudante que ingressou em outras universidade antes da UFPB, sem nunca conseguir concluir o curso:
[...] ao fim do primeiro semestre na faculdade percebi que não dava conta da labuta e decidi fazer novo vestibular para o ano seguinte. Fui aprovado na mesma instituição para o curso de Ciências Sociais, que era vespertino e me forçaria a trabalhar somente um expediente. Contudo, do mesmo modo precisei abandonar, principalmente por necessidade da renda que o trampo integral me proporcionava. (informação verbal, grifo nosso).[20]
No relato abaixo, há uma síntese do contexto histórico e político que permitiu a realização do sonho de se tornar uma estudante de universidade pública, com destaque para políticas de transferência de renda e ações afirmativas. Ao mesmo tempo, aponta-se, novamente, as dificuldades enfrentadas na permanência de estudantes do período noturno que, muitas vezes, precisam conciliar estudos e trabalho. Nesse cenário, as pessoas são desafiadas a se deslocarem do lugar que lhes era destinado pela sociedade, rumo a uma conquista transformadora que passa pelo nível pessoal:
Literalmente, eu não estava preparada para o ensino da universidade, para atender às demandas de leitura e trabalho. Consegui até certo ponto, me mantive blocada por um tempo, até as coisas apertarem e eu precisar trabalhar. No primeiro momento da vida acadêmica, eu não trabalhei, conseguia só estudar. Graças ao esforço da minha mãe, que além de diarista, também recebia ajuda do governo, com programas como Bolsa Família, isso no governo Lula. Nesse governo, pela primeira vez, eu vi crescer uma esperança na minha casa e sair do total vermelho em que sempre estivemos. Conseguimos, nesse governo, adquirir bens tais como um computador, televisão e minha aprovação na universidade, que foi por meio de cotas. A vida acadêmica não foi fácil, não é fácil para mim, sinto-me com grandes lacunas. Ao trabalhar fora, trabalhar e estudar, meu desinteresse pela universidade foi ficando cada vez mais forte. Até chegar o momento de eu quase desistir. Sempre me achei inferior, burra, eu não conseguia dar conta. Não tinha mais tempo de ler tudo e enfrentei alguns problemas na vida pessoal que me distanciavam cada vez mais da universidade. [...]. Nessa época não via nenhuma preocupação por parte dos professores com os alunos. A universidade me trouxe alguns traumas, que venho lutando contra hoje. Hoje eu me sinto voltando para a universidade, depois de desistir inúmeras vezes, por ter esses sentimentos depreciativos com minha própria pessoa. Sinto que preciso terminar o meu curso e ocupar o meu lugar dentro da universidade. Hoje é esse o motivo pelo qual eu consegui voltar, por acreditar que eu devo e posso estar estudando numa universidade pública e eu espero conseguir. (informação verbal, grifo nosso).[21]
Uma estratégia considerada significativa é o momento de trocas propiciado pela recepção dos/das “feras”. Uma das alunas relata a importância de ouvir conselhos de um veterano e, mais importante ainda, perceber que ela, enquanto professora em formação, deveria ter o mesmo cuidado no futuro com estudantes de escolas públicas — que poderiam enfrentar dificuldades semelhantes às que ela mesma enfrentou:
Na semana de recepção, houve uma frase que me marcou. Um veterano falou sobre as dificuldades que os alunos que não tiveram um bom ensino enfrentavam na universidade, mas que, acima de tudo, não desistíssemos. E, realmente, houve uma dificuldade imensa de absorção dos assuntos, de concentração nas leituras que, inevitavelmente, refletiu nas primeiras notas. Essa dificuldade inicial foi cessando e o hábito de leitura foi sendo construído. (informação verbal, grifo nosso).[22]
Em sua trajetória escolar, uma estudante relata que estar em uma universidade pública é extremamente importante para sua família, visto que, no passado, fora impensável para seus pais cursarem o ensino superior. Mas ao entrar na universidade encontrou um ambiente androcêntrico e teve que se firmar nas redes de apoio para prosseguir:
Meu primeiro ano na universidade foi bastante intenso, me dediquei exclusiva e exaustivamente à UFPB — muito por achar que eu precisava alcançar o patamar de conhecimento de colegas que vieram de instituições particulares, por exemplo. Isso culminou em crises de ansiedade e pânico, além da depressão, o que me fez adoecer também fisicamente, desenvolvendo um refluxo gastroesofágico, doenças com as quais convivo até os dias atuais. Eu imaginava que adentrando a universidade eu me veria ainda mais livre e liberta para estudar e me dedicar a assuntos com os quais me identificava, o que teria um impacto pessoal positivo. Porém, ocorreu o oposto pelo fato da academia e da ciência ainda permanecerem como espaços androcêntricos, o que, desde o início, me causou um desconforto enorme, até mesmo para expor minhas opiniões sobre um simples texto em sala de aula, travando toda a espontaneidade que eu desenvolvi nos meus primeiros anos de ensino médio. Assim, o que era para ser um espaço de mais liberdade acabou me prendendo em uma bolha masculina, academicista e engessada. Por essas dificuldades de permanência, embora “apenas simbólicas”, que encontrei na universidade, o que tem propiciado minha manutenção nesse espaço foi a rede de apoio que construí com amigas/os que encontrei nesse espaço — um tanto quanto opressor —, sobretudo as mulheres que conheci no movimento feminista e as/os companheiras/os de curso com os quais me juntei para compor o Centro Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes. Essa rede me mostra, dia após dia, que a ciência é feita por pessoas e que essas pessoas mantêm relações entre si. Desse modo, para o processo do fazer científico ser saudável, essas relações também precisam ser saudáveis e é isso que venho buscando como forma de existir dentro desse sistema. (informação verbal, grifo nosso).[23]
Embora para muitas pessoas a experiência universitária seja opressiva, há relatos de transformação pessoal, em que a estudante se sente feliz com o novo mundo que experimenta. Mundo que tem diversas contradições — como a desigualdade socioeconômica —, mas que também permite um olhar crítico ou uma subversão de normas seguidas anteriormente:
Esqueci de mencionar, mas durante todo o ensino médio, eu era, eu me tornei evangélica, por influência de um colega de sala. […] Ressalto isso, pois entrei na universidade nessa condição e conforme o curso ia avançando, eu ia cada vez mais entrando em profundos estados de reflexão. Então, sai da igreja, terminei o namoro de mais de 5 anos. Fiquei louca, conforme disse minha mãe. Foi nessa época que eu vi acontecer novos processos de mudanças na minha vida. Rompi com Deus, com namorado e com tudo que dizia respeito a minha vida até aquele momento. Me deparei novamente e agora muito mais forte com as diferenças de classes. Tornei-me amiga de pessoas com poder aquisitivo maior que o meu. Conheci outra realidade totalmente diferente da minha. Tornei-me uma pessoa subversiva e que provavelmente queimaria no fogo do inferno. Eu gostei! Apesar de sofrer por algum tempo com a influência da igreja. (informação verbal, grifo nosso).[24]
Para algumas pessoas, por mais contraditórios que sejam os sentimentos experimentados na universidade, o fato de conhecer e ter consciência do que ocorre à nossa volta é fundamental para significar positivamente a experiência:
De todas as fases da minha vida escolar, a atual é a única de que gosto de falar, de relembrar. Não que seja sem dores, já passei por violências psicológicas dentro da universidade que ainda me aterrorizam, mas eu tenho vontade de aprender mais do que nunca. Eu conheço a mim e aos meus direitos como nunca. Tenho consciência de que é aprendendo sobre o que me rodeia que posso dizer o que não me serve, qual espaço eu devo ocupar, qual a minha voz e quando ela é silenciada. (informação verbal, grifo nosso).[25]
Por fim, percebe-se que a transformação da universidade pública com a entrada de estudantes cotistas é recente, pois o corpo docente permanece embranquecido: “Podemos perceber que esse espaço ainda carrega traços de que há pouco tempo, não poderíamos estar ali, sentados como aluno(a), e essa representação se vê nítida na ausência de professores negros.” (informação verbal, grifo nosso).[26]
Considerações finais
Este relato de pesquisa trouxe alguns fragmentos das trajetórias escolares dos/das estudantes da licenciatura em Ciências Sociais da UFPB a fim de destacar experiências positivas e negativas, expectativas, dificuldades e estratégias significativas da/na vida estudantil. Com isso, percebemos algumas particularidades nas trajetórias desses/dessas estudantes que serão sumarizadas a seguir. Entretanto é importante enfatizar que não se tratou de identificar um perfil estudantil. Algumas experiências se mostraram mais comuns, outras mais pontuais. Ao reuni-las neste relato, nosso objetivo foi conhecer um pouco melhor a trajetória desses/dessas estudantes, buscando reconhecer potenciais que podem ser mais bem explorados e fragilidades que devem ser mais bem cuidadas por parte do corpo docente, e de maneira mais geral, da UFPB.
Não é novidade que as experiências de racismo acompanham as trajetórias escolares de estudantes negros e negras, assim como de indígenas e quilombolas. Neste relato de pesquisa, a trajetória de uma estudante negra se destacou ao longo dos três eixos que estruturam nossa exposição. Começando com experiências de racismo sofridas antes do ingresso na UFPB e passando pela “constatação” de que o lugar de professora não estava contemplada no seu horizonte profissional, a estudante encontrou na universidade a possibilidade de compreensão crítica da sociedade que lhe permitiu atuar de forma consciente em relação às opressões sociais. Mesmo que na universidade também existam experiências de sofrimento, podemos dizer que este espaço é considerado libertador, em termos de consciência de si e do mundo.
Por outro lado, na trajetória de um estudante negro, a percepção do racismo se fez presente na universidade pela constatação da ausência de professores/professoras negros/negras no corpo docente, indicando que, se há maior diversidade de estudantes hoje em dia, essa diversidade além de ser recente, não é fortalecida por políticas educacionais que, de fato, efetivem a contratação de professores/professoras negros/negras. Assim, podemos dizer que ao longo da trajetória escolar desses/dessas estudantes, não ter professores/professoras negros/negras — antes de ingressar na universidade ou no ensino superior —, marca suas expectativas profissionais e a possibilidade de ocupar espaços de poder, como são as escolas e as universidade. Em se tratando de uma pesquisa realizada entre estudantes de licenciatura, o sonho de se tornar professor/professora e sua realização não deve ser subestimado. Nesse sentido, a questão da representatividade se torna ainda mais acentuada.
Dentre as experiências marcantes antes do ingresso na UFPB, teve destaque a passagem por IFs no ensino médio e técnico. Em geral, esses/essas estudantes ingressaram nessas instituições por meio de cotas de ação afirmativa, acessando um ensino público, gratuito e de qualidade muito distinto do que teriam acesso sem essa política. A oportunidade de ter um ensino de qualidade se mostrou fundamental, em termos de continuidade, para o acesso à universidade. A experiência nos IFs também foi reportada como transformadora, em termos positivos, do entendimento do que seria uma “escola”, levando os/as estudantes ao autoconhecimento e ao envolvimento com atividades, como o movimento estudantil.
A participação em movimentos estudantis, a inspiração na figura do/da professor/professora e o despertar por meio da leitura foram as principais razões elencadas pelos/pelas estudantes para a escolha pelo curso de licenciatura em Ciências Sociais. Isso nos leva a pensar que as experiências propiciadas pelo ambiente escolar no ensino médio, quando ricas, são fundamentais para despertar o interesse nos/nas estudantes para esta área do conhecimento.
Após o ingresso na UFPB, uma das maiores dificuldades reportadas nas trajetórias escolares dos/das estudantes foi a conciliação do trabalho com os estudos. Embora nos relatos não tenhamos percebido que a escolha da licenciatura tenha se dado pelo fato desse curso ser noturno na UFPB, é de se esperar que estudantes que tenham compromissos de trabalho optem pela licenciatura em função do turno. À falta de tempo para estudar, soma-se também a falta de oportunidade de participar em programas de pesquisa, extensão e monitoria, que não são exclusivos do bacharelado, mas acabam sendo ofertados para estudantes com mais disponibilidade de horário. Os auxílios financeiros propiciados por esses programas, e que poderiam possibilitar que os/as estudantes se dedicassem com mais exclusividade ao curso, se tornam mais escassos para esses/essas estudantes. Assim, não são raras as experiências de abandono ou reprovação em função de compromissos extra-acadêmicos entre os/as estudantes da licenciatura, um problema complexo, mas que pode receber maior atenção e percepção de que esses/essas estudantes também podem e devem ter oportunidades de participar de atividades universitárias extraclasse.
Para além de programas acadêmicos e de assistência estudantil, a permanência na universidade é garantida por estratégias de acolhimento, como a recepção dos/das “feras”, que indica um espaço importante de compartilhamento de experiências entre estudantes novatos/novatas e veteranos/veteranas. Diante de um ambiente universitário reportado como androcêntrico, os grupos de apoio relacionados a movimentos sociais feministas e/ou ao movimento estudantil — como as articulações do Centro Acadêmico — também se mostraram importantes no fortalecimento das redes de apoio.
Somado a tudo isso, o contexto mais amplo político do país, quando positivo, também foi mencionado como propulsor do sonho com a formação universitária. Programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, foram fatores importantes na melhoria das condições de vida que, em conjunto com outras oportunidades, como as cotas de ação afirmativa, propiciaram o ingresso na UFPB. Diante de um contexto político desfavorável, as fragilidades envolvendo as vidas dos/das estudantes se tornam mais latentes, impedindo que o direito à educação pública, gratuita e de qualidade seja realmente desfrutado por todos/todas, o que fica evidente em relação às dificuldades enfrentadas na permanência na universidade.
Referências
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LIMA, Maria Luciene Ferreira. Políticas públicas no ensino superior: ações afirmativas na UFPB. 2014. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas) — Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/7773. Acesso em: 1 mar. 2022.
Recebido em: 30/03/2022.
Aceito em: 05/05/2022.
https://doi.org/10.46906/caos.n28.62687.p102-117
* Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba/Brasil. Doutora em Antropologia Social pela Universidade de Brasília/Brasil. E-mail: ainaazevedo@gmail.com.
** Aluna do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba/Brasil. E-mail: joery2012@gmail.com.
*** Aluna do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba/Brasil. E-mail: mariana_novais97@hotmail.com.
[1] Aproveitamos a oportunidade para agradecer aos/às estudantes que permitiram que suas trajetórias escolares fossem lidas, analisadas e, quando necessário, publicadas. Optamos por utilizar nomes fictícios aqui para não expor a vida pessoal de cada um.
[2] Em sua primeira edição (2018-2019), o projeto contou com as estudantes Ingrid Rodrigues Cirino e Anna Beatriz Ramos Dias. Na segunda edição (2019-2020), com Joery Pereira de Oliveira, Mariana Pereira de Melo Novais e Maria Eduarda Araújo Pereira. Agradecemos igualmente a todas. Este relato de pesquisa é fruto de um trabalho coletivo.
[3] O questionário apresentava questões de múltipla escolha acerca do seguinte: renda familiar per capita, identidade étnico-racial e de gênero, formação superior dos pais/mães, escola em que cursaram o ensino médio (pública, privada, técnica, militar) e forma de ingresso na UFPB (ampla concorrência ou cotas de ação afirmativa).
[4] Notamos que a UFPB foi uma das últimas universidades federais a implementar tal política e o fez sob forte pressão do NEABI/UFPB, dos movimentos sociais e, finalmente, do Ministério Público (LIMA, 2014, p. 93).
[5] Excerto da trajetória escolar de Emanuela, mulher, negra, 20 anos de idade.
[6] Nas palavras de Bento (2011, p. 552): “As reiterações que produzem os gêneros e a heterossexualidade são marcadas por um terrorismo contínuo. Há um heteroterrorismo a cada enunciado que incentiva ou inibe comportamentos, a cada insulto ou piada homofóbica.”
[7] Excerto da trajetória escolar de Vilma, travesti, negra, 20 anos de idade.
[8] Excerto da trajetória escolar de Edson, homem, branco, 20 anos de idade.
[9] Excerto da trajetória escolar de Sara, pessoa trans não-binarie, branca, 22 anos de idade.
[10] Excerto da trajetória escolar de Leonardo, homem, indígena, 22 anos de idade.
[11] Excerto da trajetória escolar de Cecília, mulher, branca, 20 anos de idade.
[12] Excerto da trajetória escolar de Henrique, homem, branco, 20 anos de idade.
[13] Excerto da trajetória escolar de Rafael, homem, negro, 22 anos de idade.
[14] Excerto da trajetória escolar de Emanuela, mulher, negra, 20 anos de idade.
[15] Excerto da trajetória escolar de Lucas, homem, branco, 20 anos de idade.
[16] Excerto da trajetória escolar de Edson, homem, branco, 20 anos de idade.
[17] Excerto da trajetória escolar de Leonardo, homem, indígena, 22 anos de idade.
[18] Excerto da trajetória escolar de Leonardo, homem, indígena, 22 anos de idade.
[19] Excerto da trajetória escolar de Antônia, mulher, branca, 25 anos de idade.
[20] Excerto da trajetória escolar de Vicente, homem, negro, 29 anos de idade.
[21] Excerto da trajetória escolar de Juliana, mulher, preta, 28 anos de idade.
[22] Excerto da trajetória escolar de Luana, identidade de gênero, raça/etnia e idade não informados.
[23] Excerto da trajetória escolar de Cecília, mulher, branca, 20 anos de idade.
[24] Excerto da trajetória escolar de Juliana, mulher, preta, 28 anos de idade.
[25] Excerto da trajetória escolar de Emanuela, mulher, negra, 20 anos de idade.
[26] Excerto da trajetória escolar de Rafael, homem, negro, 22 anos de idade.
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