DO SKATE STREET AO SKATEPARK: as políticas públicas nas ruas e nas praças de Imperatriz/MA
FROM SKATE STREET TO SKATEPARK: public policies in the streets and squares of Imperatriz/MA
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.62734.p55-71
Resumo
O presente artigo visa analisar as políticas públicas de esporte e lazer na cidade de Imperatriz/MA a partir do caso da construção do skatepark (pista de skate) da Praça Mané Garrincha. Baseado em autores como Lejano (2012), Hincapié (2015) e Peres (2010), buscaremos compreender como os agentes públicos dialogam diretamente com os praticantes de skate na cidade sobre a aplicação de investimentos em esporte e lazer. Para tanto, desenvolvemos uma análise na perspectiva processual construída por meio de relatos, imagens e documentos que sinalizam os principais momentos dos embates dos skatistas e o poder público dessa cidade em torno da construção do referido skate Park.
Palavras-chave: skate; política pública; esporte; lazer.
Abstract
This article aims to analyze the public policy of sport and leisure in the city of Imperatriz/MA from the case of the construction of the skatepark (skate rink) at Praça Mané Garrincha. Based on authors such as Lejano (2012), Hincapié (2015) and Peres (2010) we seek to understand how public agents dialogue directly with skaters in the city about the application of investments in sport and leisure. To do so, we conducted an analysis from a procedural perspective built through reports, images and documents that signal the main moments of the skaters' clashes with the public power of this city around the construction of the aforementioned skatePark.
Keywords: skateboard; public policy; sports; leisure.
Introdução
Dentro de uma perspectiva cidadã é possível compreender que esporte e lazer são direitos sociais previstos na Constituição Federal, especificamente no Art. 217 que explicita que “é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um.” (BRASIL, 1988, p. 121). Nesse âmbito, notamos que no ano de 2007, o governo federal lançou o programa “Praça de Juventude” que visava a difusão de modernas praças destinadas a oferecer equipamentos públicos de esporte e lazer, possibilitando integração e realização de atividades culturais. No âmbito da prática do skate na cidade de Imperatriz[1], ocorreu a implementação dessas praças no centro da cidade e no bairro Recanto Universitário. Apesar disso, o ponto mais frequentado por todos é o skatepark da Praça Mané Garrincha — o mais antigo da cidade. Diferentemente das referidas praças, pensadas a partir dos órgãos de gestão, veremos que esse caso específico resulta de relações dos skatistas com aquele lugar[2] e com os poderes municipais e estaduais. Provavelmente por isso que, contrariamente aos obstáculos da Praça da Juventude do centro, a Praça Mané Garrincha possui rampas fiscalizadas e calculadas pelos próprios praticantes, durante a construção. Quando observamos a Praça da Juventude do centro da cidade, recordamos dos apontamentos da Confederação Brasileira de Skate([ca. 2020]) quando explica que as construtoras não possuem experiência com esse tipo de construção, e geralmente erram na distância entre as rampas. Além disso, a falta de comunicação com os praticantes também favorece a construção de obstáculos tidos como “elefantes brancos”.
Partindo de uma perspectiva que compreende as políticas públicas como produto de um processo sociocultural que envolvem os mais diversos grupos, desde tecnocratas até movimentos sociais e pessoas que se beneficiam delas (HINCAPIÉ, 2015), o presente artigo busca explorar essa relação entre governos e skatistas a partir do caso da construção do skatepark da Praça Mané Garrincha. Tal perspectiva é endossada por Peres (2020) quando, ao estudar o hip hop na cidade satélite de Ceilândia, em Brasília, problematiza o fato de as políticas públicas serem compreendidas exclusivamente como aquilo que “os governos fazem ou deixam de fazer”, o que geraria uma espécie de ruptura entre a vida política e a vida cotidiana, ou seja, a autora tenciona com um conceito que não sinaliza para as pessoas em suas experiências comuns.
Por esse caminho, é importante considerar que as experiências cotidianas e os saberes práticos dos cidadãos são elementos fundamentais na implementação de políticas públicas. Tal viés é defendido por Lejano (2012, p. 205), para quem a “experiência é a base do entendimento do sucesso de uma política pública”. Para tal compreensão nos valemos de relatos dos próprios praticantes e frequentadores da praça, de fotografias dos acervos deles, de reportagens antigas e estudos já realizados, assim buscamos compreender várias dimensões que podem auxiliar no entendimento de uma política pública de esporte e lazer na Praça Mané Garrincha, mais especificamente no caso da prática de skate. Tais dados foram organizados de forma a demonstrar o processo sócio-histórico de construção do skatepark na referida praça.
Entrada em campo
Apesar de a cidade de Imperatriz, localizada no sudoeste maranhense, ter se destacado nacionalmente, em 2021, graças à medalha de ouro obtida pela skatista Rayssa Leal nas olimpíadas de Tokio, essa prática urbana iniciou-se na cidade durante a década de 1980, graças à circulação de revistas, fitas VHS e os próprios skates oriundos da cidade de São Paulo.
Assim, vale ressaltar que embora localizada no interior do Maranhão, a cidade de Imperatriz é totalmente conectada com outras capitais, seja por conta da BR 010 (Belém-Brasília), construída durante a década de 1950, seja pelo aeroporto construído no final da década de 1990. Tal contexto possibilita o que Diógenes (1998) chama de uma estética global no consumo relacionado à cultura juvenil. Colocando em outros termos, significa dizer que o uso de tênis ou determinados assessórios que marcam os agrupamentos juvenis circulam em escala global, podendo ser observados de forma similar nas cidades mais distintas do globo.
Como forma de aproximação desse campo, seguimos orientados pelo viés etnográfico de Agier (2011) — que pensa uma operação epistemológica ancorada em duas ações: 1) ver a cidade como se a estivesse olhando por cima dos ombros dos citadinos; e 2) pensá-la como resultante de processos humanos e se indagar: o que faz a cidade? Trata-se de um viés que nos possibilitou criar uma ideia das experiências cotidianas e compreender como tais processos históricos e olímpicos se conectam ao espaço da Praça Mané Garrincha.
Trata-se da Praça que ganhou destaque na mídia regional e nacional, no dia 28 de outubro de 2021, após Rayssa Leal ser fotografada no local tampando os buracos da pista, junto com outros skatistas. Tais imagens repercutiram nas redes sociais e reacenderam o debate em torno da responsabilidade da prefeitura em torno daquele logradouro público.
Para compreender a referida praça e sua relação com as políticas públicas municipais, pelos “ombros” dos próprios usurários daquele lugar público, buscamos aproximação dele por meio das redes sociais. Essa estratégia foi adotada por Diógenes (2015) quando realizou uma pesquisa sobre graffiti na cidade de Lisboa, onde se valeu do meio virtual para estabelecer contatos e estimular laços de confiança com os interlocutores daquele campo. Assim, partimos da compreensão daquele lugar enquanto um pedaço (MAGNANI, 2002) que resulta de processos humanos e que sinaliza uma referência identitária importante para o grupo.
Buscando esse viés de perto e de dentro (MAGNANI, 2002), realizamos contato com um skatista chamado Leonardo Clemente por meio de uma rede social virtual. Por meio dele, tivemos os primeiros contatos presenciais no referido lugar, no ano de 2017, e com outros skatistas mais antigos, como Wanderson Ferreira (conhecido como Japa) e seu amigo mais experiente, Junior Freitas, que é o proprietário da marca Go skateboard. Tanto por meio dessa rede constituída em torno da referida marca quanto por contato com outros praticantes como Audierio Marinho, da marca Hardflip, tivemos acesso a um conjunto de fotografias e relatos sobre todo o processo de construção e manutenção das pistas de skate da referida Praça.
Além desses contatos realizados em 2017 (direcionados para pesquisas na área de sociologia urbana), é necessário explicitar que foi na condição de apoiador da prática que retornamos o contato no ano de 2021, pois entre agosto e outubro daquele ano estivemos na frente da produção e apresentação de cinco lives nas quais dialogamos com 7 atores vinculados ao skate da cidade. Trata-se do Programa Skate em Imperatriz: conversas e biografias[3] que é vinculado ao Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Cidades e Imagens da Universidade Federal do Maranhão. Esse segundo contato possibilitou uma reaproximação importante para acompanhar os últimos fatos sobre a referida pista e atualização de algumas informações relacionadas à própria história da prática.
É importante enfatizar que, apesar da rivalidade existente entre as marcas e grupos constituídos em torno delas[4], quando se trata da construção e história do skate na cidade, a defesa da Praça Mané Garrincha é uma bandeira levantada por todos os lados que compõem esse campo.
Da rua para a praça
Como nota Pereira (2019), a prática de skate em Imperatriz remonta ao final da década de 1980 na modalidade skate street, ou seja, no contexto em que a inexistência de uma pista de skate (skatepark) estimulava que os praticantes ocupassem as ruas da cidade. Por essas ruas, eles construíam seus próprios itinerários marcados por locais que consideravam “sk8taveis” — também conhecidos como picos. Isso significa que esses locais caracterizados em calçadas, escadarias e bancos eram interpretados como obstáculos a serem “dominados” pelas manobras (sk8tavél). Em diálogo com Divino Noleto Freitas, skatista desde 1991, soubemos que as avenidas Dorgival Pinheiro, Getúlio Vargas e Luís Domingues tinham suas inclinações aproveitadas para a prática de skate, situação que é praticamente impossível de ser pensada atualmente por conta do grande fluxo de veículo naqueles locais. Dentre vários locais, ele recorda das escadas da Broadway, do coreto da Praça de Fátima, do viaduto das lojas Garoti entre outros.
Além desses picos que compunham a própria paisagem urbana, também ocorriam concentrações em torno de obstáculos produzidos por eles próprios. Em termos históricos, podemos observá-los desde 1992. Na composição da figura1 é possível observar três situações dos usos dos obstáculos em diferentes bairros e tempos: na fotografia maior (a direita) é possível ver Jr. Freitas (em 1992) utilizando um corrimão na área de lazer de um condomínio localizado no Bairro Nova Imperatriz, na fotografia menor (superior) veremos o uso de obstáculos na rua Bahia, no bairro Juçara em 2002; já a última figura é do primeiro campeonato da Gringo Skate Wear ocorrido em 1992, no centro da cidade.
Figura1 – Mosaico: obstáculos produzidos |
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Fonte: Arquivos de Audierio Marinho e Divino Jr. Freitas, 1992. |
Audierio Marinho explica que ocorriam concentrações na Rua Bahia, na loja do Chiquinho, e que iam se formando vários núcleos de praticantes na cidade. Apesar dos atritos com motoristas, transeuntes e outros atores urbanos, tal prática passou a ganhar um número maior de adeptos resultando na promoção do primeiro campeonato da cidade, em 1992. Para se ter noção desse processo, encontramos o seguinte trecho jornalístico:
Os praticantes de skate de São Luís estarão neste final de semana em Imperatriz participando de competições promovidas por praticantes deste esporte nesta cidade. [...]. O skate começa a tomar impulso em Imperatriz, com um grande número de jovens iniciando a prática deste esporte, principalmente porque é considerado radical e cercado de emoções. Desta forma o número de praticantes cresce a cada dia. Como ainda não possui um local próprio para a prática de suas competições, os skatistas realizam suas manobras radicais pelas avenidas planas, sendo as mais usadas a Luís Domingues, Getúlio Vargas e Dorgival Pinheiro de Souza. (DOMINGO, 1992, p. 11, grifo nosso).
O referido campeonato ocorreu ao lado do prédio que hoje é o restaurante popular, próximo à Praça Mané Garrincha. A reportagem enfatiza o aumento no número de praticantes e justifica a ocupação das ruas pelos skatistas (citando as mesmas ruas apontadas por nosso interlocutor) por conta da ausência de um espaço próprio para o skate. Tal campeonato foi organizado pela loja Gringo Skate Wear e sinaliza bem esse período em que a prática era muito atrelada à rua e à utilização de obstáculos privados. Antes de seguir, é importante destacar que o interlocutor (Audierio Marinho) é vinculado à marca Hard Flip, na qual atua no processo de busca de novos atletas e produção de vídeos de manobras, com o uso dos shapes[5] Hard Flip. Ele possui 37 anos e prática skate desde novembro de 2000, quando tinha 16 anos.
No final dessa década, mais precisamente em 1997, foi reinaugurada a Praça Mané Garrincha, com a construção de uma “mini ramp” que significou um marco na história dessa prática. Por meio de um recorte jornalístico (figura 2), observamos a mini ramp (circulada em verde) e que os equipamentos atuais não passavam de um grande espaço plano e vazio (linha vermelha).
Figura2 – Praça Mané Garrincha em 1997 |
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Fonte: Jornal Capital, 1997, n. 893, p.1. |
No dia 12 de outubro de 1997, a Praça Mané Garrincha foi reinaugurada com uma série de competições esportivas, dentre as quais, “na apresentação de skate, o garoto Cláudio[6] recebeu o título de melhor atleta na categoria mini-ramp” (RAMALHO, 1997). Os skatistas Audierio Marinho e Cesar Faraó me narraram que a referida mini-ramp é um símbolo do skate da cidade, e que aquela área plana foi estratégica, pois a partir dela se iniciou todo o processo de construção do skatepark da Mané Garrincha. É importante ressaltar, também, que com a reforma, a referida área plana deixou de ser de bloquetes para ser de cimento, facilitando a ocupação do lugar. É a partir desse período que a Praça Mané Garrincha passa a ser observada como um pico, pois até então a área plana era apenas um espaço onde ocorriam eventos e pequenas festas. Dessa forma, quando perguntamos sobre o processo da pista de skate, Audierio e Cesar explicam:
Audierio: Quem construiu foi um antigo prefeito. Ele construiu, construiu a miniramp (...). Inclusive fiquei chateado com nessa última reforma porque eles fizeram a transição dela errada e ela era um marco para nós.
Cezar Faraó: Teve um tempo que tava quadrada também.
Audierio: Tava quadrada, foi reformada duas vezes, mudadas as placas. Ficou quadrada e tudo. Não quiseram ouvir a gente né... Mas ficou lá.
É um símbolo do nosso skate na cidade, foi aquela mini ramp ali e a área plana.
Cesar Faraó: É um dos mais antigos!
E ali na área plana a gente começou a construir obstáculos Jesus. A galera levava palco. A galera começou a construir obstáculos... levava um corrimãozinho solto... trilhozinho, prego, martelo.
Dizia: Cara, vamos começar a construir nossos obstáculos aqui. Isso aqui é nosso!
Iae a gente começou a botar um palcozinho de madeira, começou a carregar os cofres dos lixos para servir lá jogar manobras manobra.
Aí foi juntando. Foi vindo a galera de fora. A gente fazia campeonato no antigo Juçara, nas ruas lá mesmo na Mané.
Então a gente foi juntando ali. Já tinha alguns obstáculos da Mané mesmo que eram esses pouquinhos. Tipos os que tinham na minha rua (Rua Bahia), mas que a galera das antigas já sabia construir. Eu mesmo aprendi muito com eles nas construções. Com a galera das revistas... Jorge Rotatória...E a Mané Garrincha foi ganhando aquela identidade skateboard. (SKATE..., 2021. Grifos nossos).
Do breve diálogo, é possível destacar: 1) um marco inicial na relação entre o poder público e uma política pública direcionada para a juventude praticante de skate; 2) um desejo de diálogo relacionado à aplicação dos saberes “nativos” na construção de obstáculos; 3) uma relação territorial com a praça, que por meio de um trabalho coletivo a institucionalizou como o lugar da “identidade skateboard” local. Grosso modo, a primeira década dos anos 2000 foi marcada por uma série de concentrações e eventos, dos quais destacamos um campeonato promovido pela Marola, em 2002, na Beira Rio; o Qix ocorrido no freiras Park em 2007 e 2008 (SEGUNDA..., 2008) dentre outros também promovidos pela Hard Flip.
Contudo é importante ressaltar que esse processo de ocupação da pista e de expansão do skate em outros lugares da cidade não ocorreu sem que houvesse choques que podem ser compreendidos em relação à própria história e mentalidade econômica da cidade de Imperatriz. Queremos dizer com isso que nessa cidade, narrada em termos de ciclos econômicos e como herdeira do desenvolvimento oriundo da construção da estrada Belém-Brasília, a concepção de “trabalho” e uso do tempo é totalmente oposta ao contexto de concentração de jovens praticando skate. Esse choque com a moral e as representações locais se manifestou principalmente sobre o estigma de drogados ou vagabundos manifestado sobre os jovens praticantes de skate. Com o processo de profissionalização, esportivização e com as medalhas de ouro nas olimpíadas, verifica-se que o status é totalmente diferente de antes, pois a prática passou a ser vista como um tipo de trabalho que pode gerar bastante dinheiro.
Se há duas décadas era possível vivenciar o estigma, por outro lado, a própria existência da área plana foi colocada a prova. Mesmo sem citar nomes, por medo de represálias políticas, três praticantes afirmaram que a referida área já foi cogitada por determinados governos para a construção de um estacionamento para o estádio de futebol Frei Epifânio — localizado ao lado da pista. Fato que atribuiu sentido maior para o diálogo com Audierio e Cesar, principalmente quando enfatizam que a iriam ocupar com obstáculos porque a área pertence a eles.
Tanto pela conversa com o skatista e grafiteiro, Rubão, quanto pelo vídeo do Cem por Cento Skate (SKATE Nordestino, 2021) tivemos acesso a imagens de 2012 que mostram o processo de construção das primeiras rampas maiores na área plana. Segundo Audierio Marinho, cansados de reivindicar para autoridades, como vereadores, prefeitos e secretários, eles uniram forças e construíram a primeira parte da pista que perdurou até o ano de 2016. Na composição da figura 3, é possível visualizar a área plana com obstáculos de matéria e corrimão, na parte superior, e o processo de construção nas figuras inferiores.
Apesar de o estigma, pautado em um modelo de desenvolvimento colonizado (SILVA, 2010) e hierarquizador que compreende o desenvolvimento da cidade como atrelado aos grandes ciclos expressos nas indústrias e comercio, as práticas de construção de obstáculos, de roupas, acessórios e, mesmo, na fabricação de shapes sinalizavam uma concepção criativa de economia, já que os jovens promoveram tipos de serviços que resultavam a interação de aspectos econômicos, culturais e tecnológicos (LEITÃO et al., 2022).
Figura 3 – Mosaico: obstáculos de madeira e primeira construção |
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Fonte: SKATE Nordestino, 2021; arquivos pessoais do skatista Rubens Augusto Montana, 2021. |
Em Imperatriz havia um determinismo cultural que pensava o desenvolvimento como o domínio e transformação da natureza, muito materializado na ideia de integração da Amazônia por meio dos grandes projetos e construção de estradas e linhas de ferro. Em tal contexto, a imagem de poder se materializa em empresários heróis e desbravadores que se integram nessa narrativa de desenvolvimento (por mais que os jovens tivessem a iniciativa própria de construção de um equipamento público).
Pelas leituras de Leitão, Guilherme, Oliveira e Gondim (2011), podemos compreender que o estilo de vida dos skatistas significou um tipo de desenvolvimento potencialmente endógeno e criativo, pois ao se conectar com jovens e atores sociais dos mais diversos segmentos, promoveram uma verdadeira revolução nos modos de viver a cidade e na capacidade de extrapolar os domínios da técnica.
Para ficar mais evidente esse argumento, podemos citar o estudo de Pereira (2019) quando cita e explica a existência das duas únicas marcas de shapes do Maranhão, localizadas na cidade de Imperatriz. E o fato dessa dinâmica da cidade ter atraído o campeonato nordestino de skate para o lugar por duas vezes seguidas. Retomando a frase de Audierio, o skate “Não é só algo legal, radical e doido, não. É algo que tem uma cultura, que sustenta famílias, é algo que gera negócios e rendas em um país[7]. Gera impostos” (informação verbal).[8] Acrescentaríamos que é a situação que mescla os três elementos: culturais, econômicos e tecnológicos. Se por um lado as marcas movimentam a economia, por outro representam elementos culturais que por hora questionam o próprio sistema, no modo de ocupar a cidade, na valorização da não competição (como princípio preponderante) e solidariedade entre skatistas e na capacidade de mobilização.
O diálogo observado entre os skatistas e a sociedade pode ser sintetizado na resposta de Audierio Marinho (citada anteriormente). Soando como uma espécie de justificativa que tenta situar a prática do skate em um universo mais amplo, ela se defronta com uma representação ultrapassada de trabalho, economia e concepção de cidade. Assim, podemos refletir sobre estigmas que parecem ser pautados primeiramente numa questão cultural, já que a prática do skate esteve ligada à construção de pequenos empreendimentos na cidade e à produção de shapes.
Retornando à narrativa sobre a construção da pista, notamos que ocorreu uma tensão com o poder público, pelo fato de os próprios stakistas iniciarem a construção dos obstáculos fixos em 2012. Após as ações deles, a prefeitura passou a atuar de forma mais direta na produção dos equipamentos urbanos. Sobre esse contexto de tensão, verificamos a notícia que trazia o seguinte relato:
Na manhã de ontem (31) o secretário de esportes, Joaquim Quirino Cruz, o Neto da Ampere, esteve no local vistoriando a obra. Ele aproveitou para esclarecer boatos de que a obra estaria sendo feita pelos próprios skatistas. “A Prefeitura que está fazendo essa obra aqui. Nós estamos fazendo o que, na verdade, é uma reforma. A pista já estava construída, pronta. Nós estamos reformando”, disse ele. Segundo Neto da Ampere, a participação dos skatistas no processo de reforma da pista é importante, já que são eles, usuários, que serão diretamente beneficiados. Para o secretário, a Sedel tem se mantido sensível às solicitações do grupo, no entanto, não abriu mão de reformar a pista. “Eles usam diariamente a pista, conhecem os defeitos melhor que eu. Participam para que a pista fique como querem. Eles estão certos em fazer isso. Não quer dizer que a reforma é feita por eles”, garantiu. (ARAÚJO, 2012, grifos nossos).
Pela fala oficial da prefeitura, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Sedel) estava à frente da construção, e os skatistas estariam participando de forma ativa junto aos operários da prefeitura, sendo boato a história de que eles estariam construindo a pista sozinhos. Para averiguar essa situação, fomos além das fotografias fornecidas por Rubão, e dialogamos com Audierio Marinho que nos explicou o seguinte:
A prefeitura viu que não tinha mais jeito mesmo né. O prefeito da época era a madeira. Daí eles deslocaram um pessoal para ajudar. Daí eles fizeram as bases. Com a ajuda deles foi muito, muito bom porque fez bem estruturada. E nós arrochamos de encher de barro e entulho para ficar forte. Em 2012 quando a gente começou a construir do zero. Ali pelo começo do ano. Primeiro foi a gente né... foi botando dinheiro e fazendo. Daí pedimos contribuição de alguns pais que levavam os filhos pra lá. Eles compreenderam. Aí teve empresários também, o Cláudio, o Romeu da Marola ... alguns caras que deram dinheiro a mais é. Daí a gente ia lá e metia a mão da massa. Em 2012 foi à galera do skate mesmo, alguns pais, empresários do meio do skate e a prefeitura ajudou nessa parte que te falei aí mesmo, para resumir mesmo. E outra coisa, esses blogs são muito politiqueiros. Eles sempre vão falar que foi político que fez, mas a gente sabe que não foi (informação verbal).[9]
Tais relatos são totalmente distantes da perspectiva normativa do art. 207 da CF ou do projeto “Praça da Juventude”, demonstrando uma experiência política do dia a dia dos próprios atores sociais que ocupam a praça, e como a interação deles como o governo municipal foi capaz de materializar uma estrutura de lazer e desporto.
De forma resumida, observamos que a partir de 2015 ocorreu a ascensão pública de Rayssa Leal que, naquele ano, ganhou os campeonatos brasileiros de skate street e catarinense de skate street mirim, além de chamar a atenção do skate internacional por conta de um vídeo no qual executa uma manobra heelflip (HEELFLIP, 2015). Apesar de todo esse processo ter ocorrido sem um apoio de alguma política pública e ter contato de apoio de fãs (FADA, 2015) e de amigos skatistas que frequentavam a Mané Garrincha, podemos dizer que as medalhas e a notabilidade que trouxe para o skate da cidade de Imperatriz influenciou uma reforma promovida pelo governo do estado do Maranhão, ocorrida no ano seguinte.
Figura 4 – Reforma da praça Mané Garrincha feita pelo Governo do Estado |
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Fonte: Governo do Estado, 2016. |
Podemos observar que nessa última reforma, o governo do estado fez questão de explicitar que o projeto de ampliação foi discutido com os praticantes do esporte. O site do governo enfatiza (GOVERNO, 2016) a fala de Lilian Mendes, mãe de Rayssa Leal, quando afirma que na falta de local apropriado para treinar, a reforma da Praça Mané Garrincha é uma grande conquista para a comunidade. Pela atitude do governo, pela mídia e todo prestígio gerado em torno do nome da “Fadinha” (apelido de Rayssa Leal), observamos que estamos vivendo uma situação distinta daquela observada na década de 1990, principalmente pelo fato de a prática de skate, hoje, ser associada ao status olímpico e à possibilidade de retorno financeiro, aspectos que têm influenciado as posturas públicas.
Por outro lado, a prefeitura local ganhou destaque na mídia da cidade no dia 16 de março de 2022, quando a notícia (figura 5) da construção de uma pista de nível internacional rondou os dois grupos (WhatsApp) de skate da cidade. Tratava-se de uma reunião ocorrida um dia antes entre representantes da prefeitura e Silvio Azevedo, representante da Skate Total Urbe[10], que é uma espécie de coletivo de atores, que até o momento promoveram 17 campeonatos em um pouco mais de quatro anos de existência dessa organização.
Figura 5 – Construção de uma nova pista |
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Fonte: Notícia veiculada nos grupos de WhatsApp: Opressão Skateboarding e inrruGadu″S skateboard, 16 de março de 2022. |
Com essa nova possibilidade, observamos que a relação entre skatistas, gestores municipais e espaços públicos parece ter alcançado um patamar diferente daquele observado em 1997. Paralelo a isso, verificamos que as formas de organização política dos praticantes também se modificou ao longo dos anos, pois as reuniões e mobilizações têm ocorrido não apenas nos espaços físicos da Praça Mané Garrincha, mas também em grupos de WhatsApp, como demonstra a figura 5. Finalizamos com essa breve constatação de que as experiências desses atores têm delineado uma maneira de fazer a cidade (AGIER, 2011) ao fornecer importantes subsídios para compreender como têm sido impulsionadas as políticas públicas de lazer, na cidade de Imperatriz.
Considerações finais
Tal como o skateboard emergiu, na cidade de Imperatriz, do estilo street praticado nas ruas para o estilo skatepark praticado na Praça Mané Garrincha, as ações que fomentaram a visibilidade dessa prática e primeiros esforços no sentido de uma política pública de esporte e lazer também precisam ser compreendidas na própria rua por onde trafegam os shapes da juventude local. As falhas e êxitos na construção dos obstáculos, apontados pela Confederação Brasileira e Skate ([ca. 2020]), sinalizam a importância de compreender que os projetos precisam dialogar com a base social para qual são direcionados. Pelo presente estudo, compreendemos que uma perspectiva antropológica da política pública seja a alternativa mais racional para romper com ideologias, colonialismos e pensar uma perspectiva criativa e atenta às especificidades culturais.
Pela perspectiva processual, verificamos que a pista de skate da Praça Mané Garrincha resulta das ações cotidianas dos skatistas que, entre outras coisas, demarcaram uma posição política em prol de uma política pública de esporte e lazer. Possibilita-nos assim, encontrar outros caminhos que valorizem a experiência dos citadinos que dinamizam aquela paisagem.
Assim, quando analisado por uma perspectiva histórica, observamos que as relações entre essa ação estatal e os espaços destinados à prática de skate em Imperatriz foram impulsionadas, e só assim podem ser compreendidas, por um conjunto de atores e seus esforços na construção da pista da Praça Mané Garrincha — principal símbolo do skate na cidade de Imperatriz.
Referências
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DIÓGENES, Glória. Cartografias da cultura e da violência: gangues, galeras e o movimento Hip Hop. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretária da Cultura e Desporto, 1998.
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FADA skatista vai a torneio no sul do país com ajuda de fãs pela internet. Portal G1, 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/10/fada-skatista-vai-torneio-no-sul-do-pais-com-ajuda-de-fas-pela-internet.html. Acesso em: 27 dez. 2021.
GOVERNO amplia skate parking da praça mané Garrincha em Imperatriz. Site do Governo do Estado do Maranhão. 2016. Disponível em: https://www.ma.gov.br/governo-amplia-skate-parking-da-praca-mane-garrincha-em-imperatriz./ Acesso em: 27 dez. 2021.
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Recebido em: 05/04/2022.
Aceito em: 19/11/2022.
DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.62734.p55-71
* Professor adjunto da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)/Brasil. Doutor em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba/Brasil. E-mail: jesusmarmanillo@hotmail.com.
[1] É importante contextualizar que não estamos tratando de uma metrópole ou cidade grande, mas de uma cidade maranhense que possui 247.505 habitantes (IBGE, 2010), que está localizada no sudoeste do estado, na margem direita do rio Tocantins, e é considerada a segunda maior do estado. Nesse sentido, a própria prática do skate, assim como outros hábitos dos jovens imperatrizenses também sinaliza a expansão e difusão de uma estética global, norte americana, que se manifestou no Brasil, durante a década de 1970, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
[2] Provavelmente por isso que contrariamente aos obstáculos da Praça da Juventude do centro, os construídos na Praça Mané Garrincha possuem medidas que favorecem o desenvolvimento das manobras. Segundo a Confederação Brasileira de Skate([ca. 2020]) a construtoras não possuem experiência com esse tipo de construção e geralmente erram na distância entre as rampas. Além disso, a falta de comunicação com os praticantes também favorece a construção de obstáculos tidos como “elefantes brancos”.
[3] Cf.: https://www.youtube.com/channel/UCuy3VjD_WmaXPBhQqyjIKeg/videos.
[4] Tal processo foi descrito de forma mais detalhada em Pereira (2019).
[5] Pranchas de skate.
[6]É o atual dono de uma das principais marcas de skate na cidade. Mais informações podem ser consultadas em Pereira (2019).
[7] Para se ter noção, basta observar a circulação de notícias como “STU National de skate deve movimentar mais de R$ 2 milhões na economia criciumense: Competição deve receber mais de 100 atletas na cidade entre os dias 21 e 24 de janeiro”. Cf.: http://www.engeplus.com.br/noticia/esportes/2021/stu-national-de-skate-deve-movimentar-mais-de-r-2-milhoes-na-economia-criciumense. Acesso em: 27 dez. 2021.
[8] Trecho de entrevista realizada com Marinho e Audierio em 10 de março de 2017. Grifos nossos.
[9] Trecho de entrevista realizada com Marinho e Audierio em 10 de março de 2017. Grifos nossos
[10] Cf.: https://skatetotalurbe.com.br/.
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