EDITORIAL

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.64892.p6-8

 

S

e 2018 foi um arauto de quatro anos de incertezas e ameaças à educação pública superior, 2022 termina com um sopro auspicioso. Nesse contexto, que envolve o certo, o duvidoso e o possível reavivamento, a Revista Caos publica a edição de número 29. Se a negligência marcou, durante 48 meses, as políticas públicas no Brasil, queremos terminar este ciclo falando sobre elas. A condição social, o acesso aos espaços públicos, a invisibilidade política e a marginalização das minorias ganham protagonismo nas linhas que se seguem.

Esta edição traz o dossiê Antropologia e Políticas Públicas: confluências epistêmicas, oferecendo ao público leitor oito artigos e um ensaio visual. Completando o número, trazemos um artigo livre. O dossiê foi organizado por Maristela Oliveira de Andrade, Alícia Ferreira Gonçalves e Alberto dos Santos Cabral.

Maristela Oliveira de Andrade é antropóloga, professora titular aposentada da Universidade Federal da Paraíba. É coordenadora adjunta do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura, Sociedade e Ambiente (GIPCSA). Tem pesquisado e publicado ativamente sobre os temas: território, populações tradicionais, desenvolvimento e meio ambiente, bem como no campo da religião, religiosidades e movimentos religiosos contemporâneos.

Alícia Ferreira Gonçalves é professora do Departamento de Ciências Sociais  e do Programa de Pós-graduação em Antropologia(PPGA), ambos na Universidade Federal da Paraíba. É coordenadora do GIPCSA desde 2016. Em 2017, com patrocínio da CAPES,  coordenou a Escola de Altos Estudos: Sociedade, Cultura e Ambiente, ocorrida na UFPB. Tem se dedicado às pesquisa e publicações nos temas: políticas sociais e desenvolvimento; território, identidade e meio ambiente.

         Alberto dos Santos Cabral é cientista social com destacada formação interdisciplinar. Graduado em Ciências Sociais, especialista em Gestão Estratégica de Negócios,  com MBA em Planejamento, Gestão e Marketing do Turismo, mestre em Engenharia de Produção, doutor em Desenvolvimento Sustentável e com pós-doutorado em Antropologia Social. Enquanto pesquisador, privilegia uma abordagem transversal dos temas: objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS); economia circular; tradições culturais, identidade e sustentabilidade; etnodesenvolvimento; argumentação técnica e gestão de projetos; análise, desenvolvimento e adequação de políticas públicas; construção de cenários prospectivos e certificações socioambientais.

         Pertinente ao momento histórico brasileiro, nesta edição, o debate sobre a antropologia e as políticas públicas conversa com a situação vivida pelos cidadãos brasileiros nos últimos anos. Os momentos de retrocesso dos vários tipos de direitos que se presenciou nesse período refletem facetas da nossa fragilidade política, cujo resultado foi a eleição de um presidente com comportamento inconsistente, pouco articulador e — como lembram Santos e Andrade, em artigo deste dossiê, evocando as ideias do filósofo camaronês Achille Mbembe — fiel seguidor da necropolítica. Tivemos ausência de políticas públicas efetivas e a iminente ameaça de extinção das já conquistadas, sobretudo no tocante aos espaços públicos; às crianças, jovens e adolescentes; aos povos originários; quilombolas; grupos minoritários; atletas; artistas, entre outros grupos que foram/são silenciados por uma política negacionista, contra as culturas, contra o meio ambiente e contra as universidades.

Esta edição também fala sobre alteridade cultural. Sobre contextos múltiplos, que vão das cidades e territórios, passando pela arte de rua, pixo, skate, praças e parques até chegar ao caso dos indígenas Xokó de Sergipe e ao povos do mar de Camocim/CE. Envereda pelos caminhos que nos levam aos museus como fator de desenvolvimento cultural, toma a sinuosa estrada que nos conduz à extinção do CONSEA, e no final da jornada, o olhar se volta para imagens do Talhado. Este é o dossiê, cuja apresentação é feita por seus organizadores no primeiro artigo.

O artigo livre, escrito por Bernardo Fortes, doutorando do Programa de Pós-graduação em Sociologia (UFPB) — O uso do retrato sociológico como recurso para observar as condições sociais necessárias para a manifestação do “gosto” pela arte —, apresenta o “retrato sociológico” de um jovem artista de classe média, morador da cidade do Recife/PE. Por meio de conceitos e métodos das sociologias de Pierre Bourdieu e Bernard Lahire (sociologia disposicionalista e em escala individual), o autor reconstrói as experiências socializadoras de Villa — nome fictício — a fim de compreender as disposições e os contextos que alimentam o consumo e o seu gosto pela arte.

O processo editorial é uma troca de conhecimentos, editores/as, autores/as e pareceristas aprendem e contribuem na construção e produção científica, sobretudo, nas ciências sociais. Sabemos que a ciência tem sido “atacada”, questionada e até mesmo desqualificada por um Estado anticiência, representantes da elite do atraso,  como diz Jessé Souza. A subjetividade das ciências humanas transforma as diferenças e individualidades em saberes potentes, únicos, base constituinte de uma sociedade mais igualitária. Ser pesquisador/a, antropólogo/a, sociólogo/a, cientista político/a, cientista social e/ou professor/a no Brasil é ter sua função questionada, desvalorizada. O ano 2022 se conclui trazendo a esperança que sempre ocupa o horizonte de pesquisadores/as brasileiros/as: que nossa valorização seja fiel à contribuição efetiva a uma nação que cresce.

Estamos felizes por oferecer ao público uma edição provocativa:  este conjunto de textos atravessados pelo mesmo ponto de partida: – Qual a parte que nos cabe na construção de um Brasil de direitos? – Políticas públicas como direito ou como mecanismo de busca por direitos?

Este número é fruto de um trabalho coletivo, por isso devemos agradecer a todas/os que participaram do processo de sua produção: aos organizadores do dossiê, às oito autoras, aos oito autores, às treze avaliadoras e aos seis avaliadores. É importante também agradecer, por eles/as terem procurado a Caos, aos/as autores/as dos seis artigos que foram rejeitados durante o processo editorial. Como de costume, destacamos a atuação de Aina Guimarães (responsável pela capa), de Terry Mulhall (revisor de inglês), de Jonas de Sene Pinto (artista e designer gráfico responsável pela produção da capa).

Por último, jubilosos, queremos registrar a chegada de Mohana Morais à equipe Caos, como editora assistente, a quem damos as boas-vindas.

 

 Boa leitura.

            Os editores.

 

DOI: https://doi.org/10.46906/caos.n29.64892.p6-8

 

 

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Desenho de um círculo

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