PREFÁCIO À FILOSOFIA POSITIVA DE AUGUSTE COMTE
PREFACE TO THE POSITIVE PHILOSOPHY OF AUGUSTE COMTE
Harriet Martineau *
Tradução: Fernanda Henrique Cupertino Alcântara **
https://doi.org/10.46906/caos.n28.61604.p210-219
Pode parecer estranho que, nestes dias, quando a língua francesa é quase tão familiar para os leitores ingleses como a sua própria, eu devesse ter passado muitos meses na interpretação para o inglês de um trabalho que não apresenta nenhuma dificuldade de linguagem, e que é, indubitavelmente, conhecido de todos os estudantes filosóficos. Raramente como o nome de Comte é mencionado na Inglaterra, não existe dúvida nas mentes dos estudantes de seu grande trabalho, que a maioria ou todos daqueles que adicionaram substancialmente ao nosso conhecimento, por muitos anos passados, são completamente familiarizados com isso, e estão sob obrigações para as quais teriam felizmente reconhecido, exceto pelo medo de ofender os preconceitos da sociedade na qual vivem. De qualquer forma que nós olhamos sobre todo o campo da ciência, nós vemos as verdades e as ideias apresentadas por Comte aparecendo da superfície e tacitamente reconhecidas como a fundação de tudo o que é sistemático em nosso conhecimento. Sendo este o caso, pode parecer ser um trabalho desnecessário trazer dentro de nossa própria língua o que está claramente existindo em tantas das mentes que estão guiando e formando as visões populares. Mas não foi sem razão que empreendi um trabalho tão sério, enquanto muito trabalho estava aguardando para ser feito, que poderia parecer ser mais urgente.
Uma razão, embora não a principal, foi dizer que me parece injusto, por medo ou indolência, usar os benefícios que nos foram conferidos pelo Sr. Comte sem reconhecimento. Sua fama está sem dúvida salva. Tal trabalho como esse tem certeza de receber a devida homenagem, cedo ou tarde. Antes do fim do século, a sociedade em geral terá se tornado ciente de que este trabalho é uma das principais honras do período, e que o nome do seu autor será classificado com aqueles dos dignos que ilustraram épocas anteriores: mas não me parece correto ajudar a atrasar o reconhecimento até o autor de tão nobre serviço estar fora do alcance de nossa gratidão e honra: e que é desmoralizante para nós mesmos aceitar e usar tal vantagem, como ele nos deu, em um silêncio que é um fato de ingratidão. Suas honras nós não podemos compartilhar: elas são dele e incomunicáveis. Seus ensaios nós podemos compartilhar, e, por compartilhar, esclarecer; e ele tem a reivindicação mais forte sobre nós por simpatia e companheirismo em qualquer descrédito popular que, nesse caso, como em todos os casos de sinalizar o serviço social, atende a um primeiro movimento. Tal simpatia e companheirismo serão despertos e estendidos, eu confio, na proporção com o espalhar entre nós de um conhecimento popular do que o Sr. Comte fez: e essa esperança foi uma razão, embora, como eu disse, não a principal, para meu compromisso em reproduzir seu trabalho na Inglaterra de uma forma tão popular quanto sua natureza admite.
Uma razão mais forte foi que o trabalho do Sr. Comte, em sua forma original, não faz justiça à sua importância, mesmo na França; e muito menos na Inglaterra. É na forma de palestras, a entrega da qual foi espalhada sobre um longo curso de anos; e essa extensão do tempo necessitou de uma quantidade de recapitulação muito injuriosa, para seu interesse e aspecto filosófico. O estilo do Sr. Comte é singular. É ao mesmo tempo rico e difuso. Toda sentença é carregada com significados; e ainda está sobrecarregada com palavras. Seu escrúpulo honesto o conduz a guardar suas enunciações com epítetos que são constantemente repetidos, apesar disso, para sua própria mente, eram necessários em cada instância individual, tornam-se cansativos, especialmente em direção ao fim do trabalho, e perdem seu efeito pela constante repetição. Essa prática, que pode ser forte em uma série de instruções espalhadas sobre 20 anos, torna-se fraqueza quando aquelas instruções são apresentadas como um todo; e pareceu-me que vale a pena condensar seu trabalho, se eu não empreendesse mais, em ordem para despojá-lo de desvantagens surgindo apenas da redundância. Minha crença é que, então, se nada mais fosse feito, poderia ser trazido eco perante as mentes de muitos seria desterrado do estudo dele por sua massa. O que dei nesses dois volumes ocupa no original seis volumes com, em média, quase 800 páginas: e, ainda, acredito será percebido que nada essencial de cada declaração ou ilustração foi omitido.
Meu incentivo mais forte para esse empreendimento foi minha profunda convicção de nossa necessidade deste livro em meu próprio país, em uma forma que renderia acessível para amplo número de leitores inteligentes. Nós estamos vivendo em um tempo notável, quando o conflito de opiniões rende uma firme fundação de conhecimento indispensável, não apenas para nosso progresso intelectual, moral e social, mas para nossa manutenção de tal terreno como nós ganhamos de tempos passados. Enquanto nossa ciência está dividida em divisões arbitrárias; enquanto as ciências abstrata e concreta são cofundadas juntas, e mesmo misturadas com suas aplicações para as artes, e com a história natural, e enquanto as pesquisas do mundo científico são apresentadas como meros acréscimos para uma massa heterogênea de fatos, não pode existir esperança de um progresso científico que deva satisfazer e beneficiar aquelas amplas classes de estudantes cujos assuntos são, não para explorar, mas para receber. O crescimento de um gosto científico entre as classes trabalhadoras deste país é um dos mais impressionantes sinais dos tempos. Eu não acredito que ninguém possa inquerir dentro do modo de vida do homem jovem do círculo das classes médias operativas sem ser golpeado com o desejo que é mostrado, e os sacrifícios que são feitos, para obter os meios do estudo científico. Que tal disposição devesse estar confusa, e tal estudo rendesse quase ineficaz, pelo caráter inconstante da exposição científica na Inglaterra, enquanto tal trabalho como de Comte foi em existência, não foi para ser carregado, se um ano ou dois de uma humilde labuta pudessem ajudar, mais ou menos, para promover a necessidade.
Em ligação próxima com isso estava outra de minhas razões. O pavor supremo de todos aqueles que cuidam para o bem da nação ou da raça é que os homens deveriam estar à deriva pela falta de uma ancoragem para suas convicções. Eu acredito que ninguém questiona que uma muito ampla proporção de nosso povo está agora, então, à deriva. Com dor e medo, vemos que a multidão, que poderia e deveria estar entre o mais sábio e melhor dos nossos, cidadãos, está alienada para sempre do tipo de fé que bastou para tudo em um período orgânico que passou, enquanto ninguém lhes apresentou, e não podem obter por si mesmos, qualquer base de convicção tão firme e clara quanto esta que bastou para nossos pais em seus dias. Os perigos morais de tal estado de flutuação como tem crescido, então, são temerosos no extremo, quer a transição do estágio de uma ordem de convicções para outra seja longa ou curta. O trabalho do Sr. Comte é inquestionavelmente o maior esforço individual que foi feito para obviar este tipo de perigo; e minha profunda persuasão é que será encontrado para recuperar uma vasta quantidade de errantes, de especulação doentia, de apatia ou dúvida imprudente, e de uma incerteza e depressão moral. Para qualquer outra coisa que possa ser pensada do trabalho, não será negada que verifica com sagacidade singular e solidez as fundações do conhecimento humano, e seu verdadeiro objeto e escopo; aridez que estabelece a verdadeira filiação das ciências dentro de seus limites de seus próprios princípios. Alguns podem querer interpolar isso ou aquilo; alguns amplificar, e talvez, aqui e lá, no mais escuro recesso do grande edifício, para transpor, mais ou menos: porém, qualquer que questione a solidez geral da exposição, ou das relações de suas partes, são de outra escola, e simplesmente negligenciarão o livro, e se ocuparão como se nunca tivesse existido. Não é para isso que tenho estado trabalhando! Abrigo para estudantes que não são escolásticos; que precisam de convicção e devem melhor conhecer quando sua necessidade é satisfeita. Quando esta exposição da Filosofia Positiva se desdobrar em ordem perante seus olhos, eles encontrarão nela, eu estou persuadida, no mínimo um lugar de descanso para o seu pensamento (um ponto de encontro de suas especulações disseminadas) e, possivelmente, uma base imóvel para suas convicções intelectuais e morais. O tempo virá quando o próprio livro será, por um tempo, mais discutido por conta das deficiências que o próprio Sr. Comte pressiona sobre nossa atenção; e quando sua filosofia sustentará amplificações das quais ele mesmo não sonha. Deve ser assim, no inevitável crescimento do conhecimento e evolução da filosofia; e é o destino do qual o próprio filósofo deveria cobiçar, porque é apenas um livro verdadeiro que poderia sobreviver a ser apenas tratado: mas, no meio tempo, dá-nos a base que nós demandamos, e o princípio de ação que nós queremos. E como muitas instruções no proceder, e informação tanto para o que já tem sido alcançado, quanto poderia ser dado em nosso tempo; — possivelmente mais do que poderia ter sido dado por qualquer outra mente do nosso tempo. Mesmo a matemática está aqui primeiro constituída uma ciência, venerável e inquestionável como verdades matemáticas foram por tempos passados: e somos conduzidos, traçando como vamos a clara genealogia das ciências, até nos encontrarmos entre os elementos das Ciências Sociais, como ainda muito brutos e confusos a serem estabelecidos pelos outros, por uma revisão do que foi alcançado antes; mas agora, pelas mãos de nosso mestre, discriminada, arranjada e consolidada, de forma a estar pronta para preencher as condições da ciência verdadeira quanto a gerações futuras, trazendo suas contribuições de conhecimento e experiência para construir sobre a fundação aqui assentada. Uma familiaridade completa com o trabalho no qual tudo isto é feito iria aproveitar mais para extinguir a anarquia da opinião popular e secional neste país do que qualquer outra influência que já tem sido exercida, ou, acredito, proposta.
Foi sob tais convicções como essas que comecei, na primavera de 1851, a análise deste trabalho, em preparação para uma tradução. Uns poucos meses mais tarde, uma inesperada ajuda se apresentou. Minha proposta estava relacionada com a do falecido Sr. Lombe, que foi então residir em Florença. Ele era um perfeito desconhecido para mim. Ele me contou, em uma carta subsequente, que tinha desejado, por muitos anos, fazer o que eu estava tentando então e somente tinha sido impedido por má saúde. Minha estima do trabalho de Comte e minhas expectativas de sua introdução na Inglaterra na forma de uma condensada tradução eram totalmente compartilhadas com ele; e, para meu espanto absoluto, ele enviou-me, como o primeiro ato de nossa correspondência, uma ordem de £500 para seus banqueiros. Houve tempo, antes de sua lamentada morte, para me comunicar com ele sobre minhas visões quanto à disposição deste dinheiro e para obter a garantia de sua aprovação. Nós planejamos que a maior proporção deveria ser gasta em lançar o trabalho e promover sua circulação. As últimas palavras de sua última carta eram uma súplica de que deveria informá-lo se mais dinheiro, de qualquer forma, fosse melhorar a qualidade da minha versão ou ajudaria na disseminação do livro. Era uma questão profunda, no que diz respeito a mim, o fato de ele morrer antes que pudesse obter sua opinião quanto à forma como fiz meu trabalho. Tudo o que permaneceu era para realizar seus desejos tanto quanto possível; e para fazer isto, nenhuma dor foi poupada por mim ou por Sr. Chapman, que lhe deu a informação que invocou sua generosidade.
Quanto ao método como implementei meu trabalho — existirão diferentes opiniões sobre isso, claro. Alguns irão desejar que não tivesse havido omissões, enquanto outros teriam reclamado do comprimento e peso, se eu tivesse oferecido uma tradução completa. Alguns irão perguntar por que não é uma versão mais próxima tanto quanto foi o original; e outros, eu tenho razão para acreditar, teriam preferido um breve relato, da minha mente, do que a filosofia de Comte ser acompanhada pelas ilustrações de minha imaginação. Uma expectativa mais ampla parece ser a de que deveria registrar minha dissidência e de alguns críticos de muito mais peso, de certas visões do Sr. Comte. Eu pensei muito e ansiosamente sobre isto; e não fui insensível à tentação de ofertar meu protesto, aqui e lá, contra uma declaração, uma conclusão, ou um método de tratamento. Eu deveria ter ficado bem satisfeita, ainda, para ter aduzido alguma opinião crítica de muito alto valor do que qualquer das minhas pode ser. Mas minha deliberada conclusão foi que este não era o lugar nem a ocasião para qualquer controvérsia. O que me engajei a fazer foi apresentar o primeiro grande trabalho de Comte em uma forma útil para o estudo inglês: e me parece que seria presunçoso empurrar-me em meu próprio criticismo e fora do lugar para inserir aquelas de outros. Aqueles outros podem falar por si mesmos e os leitores do livro podem criticar por eles mesmos. Sem dúvida, podem estar seguros não para confundir meu silêncio por assentimento, nem para me modificar com negligência de tal criticismo como o trabalho já foi evocado neste país. Enquanto omiti algumas páginas dos comentários do autor sobre assuntos franceses, não tentei alterar sua visão francesa da política europeia. Em resumo, tenho me esforçado para trazer o Sr. Comte e seus leitores ingleses face a face, com tão poucas desvantagens de intervenção quanto possível.
Isso de jeito nenhum implica que esta seja uma tradução próxima. É uma muito livre tradução. É mais uma condensação do que um resumo: mas é um resumo também. Meu objetivo foi transmitir o significado do original na forma mais clara que pude; e, para isso, todas as outras considerações aqui feitas para render. A visão séria que tenho tomado de minha iniciativa está provada pela quantidade de trabalho e de sacrifício pecuniário que tenho devotado a minha tarefa. Onde errei, é por falta de habilidade, por ter tomado todas as dores que poderia.
Uma sugestão que fiz para o Sr. Comte, e que ele aprovou, foi que as três seções (Matemática, Astronomia e Física) deveriam ser revisadas por um qualificado homem de ciência. Meu amigo pessoal, professor Nichol, de Glasgow, foi o tipo suficiente para empreender este serviço. Depois de duas cuidadosas leituras, ele não sugeriu nenhum material na forma de alteração, no caso das primeiras duas seções, exceto a omissão da especulação de Comte sobre a possível verificação matemática da cosmogonia de Laplace. Exceto que mais tivesse que ser feito com relação ao tratamento da Física. Todo leitor verá que esta seção é a parte mais fraca do livro, com relação a ambas para a organização e os detalhes do assunto. Com relação ao primeiro, o autor explica o fato, da natureza do caso — que a física é, ao invés de um repositório de um pouco fragmentárias porções de ciência física, a correlação das quais ainda não é claro, do que uma ciência circunscrita isolada. E nós devemos dizer para ele, no que diz respeito ao outro tipo de imperfeição, que tais avanços têm sido feitos em quase todo departamento de Física desde que seu segundo volume foi publicado, que seria injusto apresentar o que escreveu sobre aquilo o que tinha na cabeça em 1835, com o que ele teria para dizer agora. A escolha assenta, portanto, entre quase reescrever esta porção do trabalho de Comte, ou, então, amplamente resumi-la num somente esqueleto apresentado dos princípios gerais que devem permanecer. Mas como o sistema de filosofia positiva é muito menos uma exposição do que um trabalho crítico, a última alternativa sozinha parecia aberta, sob duas considerações de justiça para com o autor. Eu tinha adotado, portanto, o plano das omissões extensivas, e tinha retido o bem curto memorando no qual o professor Nichol sugeriu isso, como notas. Embora o cavalheiro tenha sancionado minha apresentação dos capítulos de Comte sobre Matemática e Física, não deve ser inferido que ele concorde com este método em Filosofia Mental ou consente para outras conclusões realizadas de principal importância para os discípulos da Filosofia Positiva. O contrário, de fato, está, então, aparente no tom dos seus próprios escritos, que tão longe quanto seus numerosos leitores são considerados, esta observação necessita não ter sido oferecida. Com a reserva que tenho feito, estou limitada a tomar a inteira responsabilidade — o trabalho sendo absoluta e inteiramente meu.
Será notado que os trabalhos tardios do Sr. Comte não serão referidos em nenhuma parte deste livro. Parece para mim que eles, como nosso criticismo inglês sobre o presente trabalho, tinham que ser melhor tratados se separadamente. Aqui seu gênio analítico tem escopo completo; e o que existe de síntese é, em consideração com a ciência social, apenas o que é necessário para renderizar sua análise possível e disponível. Por razões vítreas, penso ser melhor parar aqui, sentimento seguro que este trabalho cumpre sua função, todo o resto com o qual o Sr. Comte pensou bem para acompanhar será obtido como é demandado.
Durante o inteiro curso de minha longa tarefa, tenho apelado a mim mesma que o trabalho de Comte está fortemente encorpado, repreensão sempre dada para a forma da intolerância teológica, que censura a Filosofia Positiva pelo orgulho da razão e baixeza de morais. A imputação não será descartada e o inimigo das religiões mundiais para o livro não irá afrouxar a sua aparição entre nós numa versão inglesa. Não pode ser de outra forma. O mundo teológico não pode exceto odiar um livro que trata das crenças religiosas como um estado transitório da mente humana. E, de novo, os pregadores e os professores, de todas as seitas e escolas, que mantêm a antiga prática, uma vez inevitável, de contemplar e julgar o universo pelo ponto de vista de suas próprias mentes, em vez de aprender a tomar seu destaque de nós mesmos, investigando frente ao universo para dentro, e não de dentro para fora, deve necessariamente pensar em um trabalho que expõe a futilidade de seu método e a inutilidade dos resultados para os quais leva. Como o Sr. Comte trata da teologia e metafísica como destinada a falecer, teológicos e metafísicos devem necessariamente abominar, temer, e desprezar seu trabalho. Eles apenas expressam seus próprios sentimentos naturais em nome dos objetos de sua reverência e o propósito de suas vidas, quando cobram a filosofia positiva com irreverência. Falta de aspiração, rigidez, falta de graça e beleza, e assim por diante. Eles não são juízes do caso. Aqueles que são — aqueles que têm passado pela teologia e metafísica e descobriram o seu valor, têm passado além deles — pronunciarão um julgamento muito diferente sobre os conteúdos deste livro, embora nenhum recurso para tal julgamento seja feito nele, e esse tipo de discussão não está expressamente previsto. Para aqueles que têm aprendido a difícil tarefa de postergar sonhos para realidades, até a beleza da realidade é vista em sua completa divulgação, enquanto de sonhos derretidos dentro da escuridão, o charme moral deste trabalho será tão impressionante quanto suas satisfações intelectuais. O aspecto no qual apresenta o Homem é tão favorável para sua disciplina moral, quanto é novo e estimulante para seu gosto intelectual. Nós nos encontramos de repente vivendo e movendo no meio do universo — como parte disso, e não como seu objetivo e objeto. Nós nos encontramos vivendo, não sob condições caprichosas e arbitrárias, desconectadas com a constituição e os movimentos do todo, mas sob grandes, gerais e invariáveis leis, as quais operam sobre nós como uma parte do todo. Certamente não posso conceber de instrução tão favorável para a aspiração como que quais nos mostra quão grandes são nossas faculdades, quão pequeno o nosso conhecimento, quão sublime esta altura que nós podemos esperar para alcançar, e quão sem limites um infinito pode ser assumido para se espalhar além. Nós encontramos aqui indicações em passar dos males que nós sofremos por nossos baixos objetivos, nossas paixões egoísticas, e nosso orgulho ignorante; e, em contraste com eles, animando exibições de beleza e glória das leis eternas, e da doce serenidade, coragem elevada, e nobre resignação que são as consequências naturais de propósitos tão puros, e objetivos tão verdadeiros, como aqueles da filosofia positiva. O orgulho do intelecto certamente permanece com aqueles que insistem sobre crenças sem evidência e sobre uma filosofia derivada de sua própria ação intelectual, sem material e corroboração de fora e não com aqueles que são tão escrupulosos e tão humildes para transcender a evidência, e para adicionar, fora de suas próprias imaginações, para o que esta é, e pode ser referida, para outros julgamentos. Se será desejado para extinguir a presunção, afastar de objetivos baixos, preencher a vida com ocupações dignas e prazeres elevados, e criar a esperança humana e o esforço humano para o mais alto ponto atingível, me parece que a melhor fonte é o propósito da Filosofia Positiva, com seu trem de verdades nobres e incentivos irresistíveis. Os prospectos abertos são sem limites; para entre as leis estabelecer que do progresso humano é conspícuo. As virtudes que promovem são todas aquelas das quais o Homem é capaz; e os mais nobres são aqueles que são mais eminentemente promovidos. O hábito de buscar a verdade e falar a verdade, e a negociação verdadeira consigo e com todas as coisas, é evidentemente um requisito primário; e seu hábito uma vez aperfeiçoado, a consciência natural, então disciplinada, treinará até todos os outros atributos morais para alguma igualdade com ela. Para todos os que sabem o que o estudo de filosofia realmente é (o qual significa o estudo da Filosofia Positiva) seu efeito sobre a aspiração e a disciplina humana é tão claro que qualquer dúvida pode ser explicada somente sobre a suposição de que acusadores não sabem o que é que eles estão chamando em questão. Minha esperança é que este livro possa conseguir, ademais, o propósito entretido pelo seu autor e o mais um que ele não pretendeu, de transmitir uma suficiente repreensão para aqueles que, no egoísmo teológico ou orgulho metafísico, falam mal de uma filosofia que é tão suave e tão simples, tão humilde e tão generosa, para o hábito de suas mentes. O caso está claro. A lei do progresso está conspicuamente no trabalho em toda a história humana. O único campo do progresso é agora este da Filosofia Positiva, sob qualquer nome que possa ser conhecida para os estudantes reais de toda seita; e, portanto, deve esta filosofia ser favorável para aquelas virtudes, cuja repressão seria incompatível com o progresso.
Referência da tradução
MARTINEAU, Harriet. Preface by Harriet Martineau. In: MARTINEAU, H. (org.). The positive philosophy of Auguste Comte. London: John Chapman, 1853. p. v-xv. Vol. 1. Versão PDF. Disponível em: https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=hvd.32044012632121&view=1up&seq=5. Acesso em: 8 fev. 2022.
Recebido em: 05/12/2021.
Aceito em: 15/04/2022.
https://doi.org/10.46906/caos.n28.61604.p210-219
* Harriet Martineau (1802-1876) é considerada a primeira socióloga e sistematizadora dos métodos de pesquisa de campo. Apesar de sua vasta obra, com dezenas de livros, inúmeros artigos e editoriais para jornais e revistas, geralmente é lembrada apenas por ter condensado e traduzido o Curso de filosofia positiva, de Auguste Comte, para a língua inglesa. Trazer aos leitores o contato com o prefácio desta obra ajuda a esclarecer algumas confusões a respeito e mostrar o papel ativo de Martineau (já com 50 anos de vida e 30 de carreira como escritora) na divulgação tardia da obra de Comte e sem, entretanto, figurar como uma seguidora deste ou uma positivista. Martineau produziu na primeira metade do século XIX obras fundamentais para a fundação da Ciência da Sociedade, entre elas: Sociedade na América (1837) e Como observar: morais e costumes (1838).
** Professora do Departamento de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora/Brasil. Doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ)/Brasil. E-mail: fernandahcalcantara1980@gmail.com.
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