INICIAÇÃO CIENTÍFICA COMO DISPOSITIVO PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM INFORMAÇÃO E DA MEDIAÇÃO CONSCIENTE DA INFORMAÇÃO

SCIENTIFIC INITIATION AS A DEVICE FOR DEVELOPING INFORMATION SKILLS AND CONSCIOUS MEDIATION OF INFORMATION

Henriette Ferreira Gomes1

Ingrid Paixão de Jesus2

Raquel do Rosário Santos 3

RESUMO

A iniciação científica pode ser caracterizada como um dispositivo pedagógico que colabora com o desenvolvimento do pensamento crítico, porque além de potencializar a criatividade dos sujeitos, os conduz a alcançarem uma postura protagonista enquanto profissionais e o desenvolvimento de competências em informação, assim como para a mediação consciente da informação. Nesse contexto, essa pesquisa tem como objetivo analisar em que medida a iniciação científica tem contribuído para a formação dos discentes dos Cursos de Arquivologia e Biblioteconomia e Documentação, como também seus profissionais. Quanto à metodologia, esta pesquisa de caráter descritiva se caracteriza como estudo de caso, tendo como universo os discentes que participam e egressos que atuaram na iniciação científica, sendo a amostra aqueles que integram o Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação – GEPEMCI, da Universidade Federal da Bahia. Como resultados, pode-se perceber o desenvolvimento de competências adquiridas a partir das experiências na iniciação científica, assim como, o acesso às novas informações que contribuíram para o desenvolvimento acadêmico e profissional. Outras constatações identificadas nos depoimentos dos respondentes foram quanto às contribuições que as professoras-orientadoras proporcionaram na superação das dificuldades e limitações indicada pelos discentes e egressos no processo de execução das atividades provenientes da iniciação científica. Constata-se a necessidade de realização de novos estudos que investiguem o desenvolvimento de competências por meio das atividades realizadas na iniciação científica e que conduzam bibliotecários e arquivistas a atuação consciente de sua profissão.

Palavras-chave: Iniciação Científica. Competência em Informação. Formação-ensino superior. Mediação consciente da informação.

ABSTRACT

Scientific initiation collaborates with the development of critical thinking, besides enhancing the creativity of the subjects, leading them to achieve a professional attitude and the development of information skills. In this context, this research aims to analyze the extent to which scientific initiation has contributed to the training of students of Archivology and Library and Documentation Courses, as well as their professionals. As for the methodology, this descriptive research is characterized as a case study, having as universe the students who participate and graduates who worked in the scientific initiation, being the sample those who are part of the Study and Research Group on Mediation and Communication of Information - GEPEMCI, Federal University of Bahia. As a result, one can perceive the development of competences acquired from the experiences in scientific initiation, as well as the access to new information that contributed to the academic and professional development. Other findings identified in the testimonies of the respondents were regarding the contributions that the guidance counselors provided in overcoming the difficulties and limitations indicated by the students and graduates in the process of performing the activities from the scientific initiation. There is a need for further studies that investigate the development of competences through the activities performed in the scientific initiation and that lead librarians and archivists to consciously perform their profession.

Keywords: Scientific Initiation. Information Skills. Training-higher education.

Artigo submetido em 11/10/2019 e aceito para publicação em 05/03/2020

1 INTRODUÇÃO

A iniciação científica contribui para a qualificação do discente de graduação, oportunizando o aprofundamento do conhecimento em torno das metodologias científicas, instigando e realizando debates sobre fenômenos sociais, auxiliando o exercício do pensamento crítico, para o desenvolvimento de competências para a produção teórica e empírica. Nesse sentido, este estudo descritivo teve por objetivo analisar em que medida a iniciação científica tem contribuído para a formação dos discentes dos Cursos de Arquivologia e Biblioteconomia e Documentação, como também seus profissionais.

Quanto ao método, esta pesquisa se caracteriza como estudo de caso, tendo como universo os discentes que participam e egressos que atuaram na iniciação científica, sendo a amostra aqueles que integram o Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação – GEPEMCI, da Universidade Federal da Bahia.

Os resultados coletados por meio da aplicação do questionário apontaram o desenvolvimento de competências adquiridas a partir das experiências na iniciação científica, assim como, o acesso às novas informações que contribuíram para o desenvolvimento acadêmico e profissional.

Por meio deste estudo, também foi possível identificar as principais dificuldades e limitações que os respondentes tiveram no processo de execução de atividades provenientes da iniciação científica, por exemplo, a leitura e a elaboração de textos científicos. Contudo, os mesmos desenvolveram habilidades – a exemplo de: leitura seletiva; elaboração de fichamentos; exercício contínuo da escrita e a discussão de textos científicos entre os pares - para superar as dificuldades. Além disso, um fator evidente na fala dos respondentes foi quanto às contribuições que as professoras-orientadoras proporcionaram na superação dessas barreiras. Sobre essas contribuições, destaca-se a relação entre as professoras– orientadoras e os discentes, conduzindo-os a alcançarem uma postura profissional e o desenvolvimento de competências em informação.

Constata-se a necessidade de realização de novos estudos que investiguem o desenvolvimento de competências por meio das atividades realizadas na iniciação científica e que conduzam bibliotecários e arquivistas a atuação consciente de sua profissão, além de contribuírem com as atividades acadêmicas e científicas. Assim, a iniciação científica colabora com o desenvolvimento do pensamento crítico, além de potencializar a criatividade dos sujeitos, subsidiando o crescimento mútuo entre pesquisadores- docentes e pesquisadores – discentes.

2 A INICIAÇÃO CIENTÍFICA COMO AÇÃO MEDIADORA DO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS EM INFORMAÇÃO E DA MEDIAÇÃO CONSCIENTE DA INFORMAÇÃO

Ambientes que produzem conhecimento, como por exemplo, as instituições educacionais, contribuem para a formação dos sujeitos impulsionando o exercício científico, tecnológico e cultural. Entre esses ambientes, a universidade fomenta discussões que proporcionam aos sujeitos adquirirem uma formação voltada para o pensamento crítico e social contribuindo com a sua autonomia e atuação na sociedade da informação. O ensino superior pode ser entendido como um dos estágios, constituído no meio social, que auxilia na formação e transformação dos sujeitos em agentes sociais. Durante a formação superior, o sujeito tem acesso ao conhecimento construído durante a trajetória histórica da humanidade, entre esses, o conhecimento científico, que orientará também o desenvolvimento crítico das práticas profissionais.

Quanto às práticas profissionais, é notável a necessidade tanto do mercado de trabalho, quanto dos campos acadêmicos, de profissionais e pesquisadores que estejam aptos a atender as demandas informacionais que a sociedade solicita. Em consonância com essa afirmação, Siqueira (2014, p.5) aponta que é “[...] no ensino superior, especificamente a partir da graduação, o momento para a ocorrência mais frequente da construção de conhecimentos e do exercício do pensamento-crítico.” A responsabilidade destes profissionais e pesquisadores é constantemente analisada, identificando novas habilidades que venham contribuir com os diversos contextos sociais. Assim, as universidades auxiliam o processo de formação de cidadãos que tenham um olhar sensível com seu local de atuação e criatividade para superação de obstáculos que possam surgir nesse espaço.

Em relação aos sujeitos que estão nesse espaço de reflexão e criação, torna-se necessária a conscientização do seu papel social. Gomes (2013, p. 402) afirma que “[...] a educação universitária libertadora é aquela que transita entre os saberes instituídos e instituintes, atuando como mediadora do processo permanente de exercício crítico da ciência, gerando novos conhecimentos.” É possível afirmar que a contribuição para a constituição de novos conhecimentos ocorre em um processo de desenvolvimento sistemático e coletivo voltado à formação de profissionais comprometidos com o desenvolvimento ético, político e social na comunidade em que está inserido.

Neste contexto, a realização de pesquisas científicas pode subsidiar a formação desses profissionais, fomentando a autonomia, a criatividade e o senso de responsabilidade. Trujillo Ferrari (1982, p.167) afirma que a “[...] pesquisa é uma atividade humana, honesta, cujo propósito é descobrir respostas para as indagações ou questões significativas que são propostas.” É através da pesquisa que surgem dados científicos solidificados, contribuindo para a produção em um determinado conhecimento ou saber, permitindo assim o seu avanço. (DUARTE et al., 2009, p. 171).

Na perspectiva de Kobashi (2002), o conhecimento adquirido por meio da pesquisa científica pode proporcionar aos alunos, por exemplo, a compreensão de determinados aspectos da realidade. As atividades de ensino-aprendizagem nos espaços da universidade tornam-se, portanto, imprescindíveis no que tange a formação de sujeitos autônomos. Em consonância com essa afirmação, Siqueira (2014, p.4, grifo nosso) afirma que

[...] é necessário, estimular os acadêmicos a desenvolverem suas capacidades intelecto-críticas. E nesse contexto a universidade preocupada em instrumentalizar os estudantes de graduação para a produção científica, promovem políticas que favorecem certa autonomia e implica fortemente para a capacidade construtiva. Nessa perspectiva surge a iniciação científica.

A iniciação científica (IC) contribui para a qualificação do discente de graduação, oportunizando o aprofundamento do conhecimento em torno das metodologias científicas, instigando e realizando debates sobre fenômenos sociais, auxiliando o exercício do pensamento crítico, para o desenvolvimento de competências para a produção teórica e empírica. As autoras Menezes e Lucas (2018) publicaram um relato de experiência relacionado às vivências de uma discente que é bolsista em iniciação científica e as mesmas afirmaram nesse estudo que as capacidades intelecto-críticas e as habilidades cognitivas e comportamentais podem ser desenvolvidas por meio da iniciação científica, sendo um diferencial competitivo na formação profissional. Em complementação com essa reflexão, segundo Calazans (2002, p. 65)

A equipe de pesquisa como um todo deve assumir o compromisso de trabalhar individualmente e coletivamente a pesquisa como uma proposta pedagógica – inventariando fenômenos, analisando e historicizando situações, adentrando-se na realidade para melhor situar-se –, aprendendo a articular o referencial teórico que respalda a prática.

A iniciação científica também pode ser considerada como um importante apoio na formação acadêmica, que se destaca por introduzir o discente no campo do conhecimento especializado, aprofundando o seu domínio em relação à literatura científica e fomentando discussões, por exemplo, em grupos de pesquisa, coordenados por docentes-pesquisadores, que atuam como orientadores.

Os grupos de pesquisa oportunizam o compartilhamento de diálogos que associam a teoria e a prática científica, favorecendo leituras e reflexões sobre textos científicos e o desenvolvimento de estudos, com base em procedimentos metodológicos. Sobre isso, Gomes (2013, p. 407, grifo do autor) afirma que “[...] a experiência de integrar um grupo de pesquisa permite a compreensão mais direta do modus operandi da ciência e da existência de um universo científico ligado ao fazer profissional para qual ele está sendo formado.”

O fazer profissional está relacionado à competência em informação que movida por uma sociedade cada vez mais dinâmica, solicita a capacitação de sujeitos que tenham habilidades e competências na busca e no uso da informação. Segundo Miranda (2004, p. 115), competência pode ser definida como um “[...] conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionados que afeta parte considerável da atividade de alguém; se relaciona com o desempenho, pode ser medida segundo padrões preestabelecidos.” Em consonância com essa afirmação, Gasque (2011, p.23) menciona que “[...] as competências envolvidas compreendem as buscas ativa ou passiva da informação, o planejamento, as estratégias e a motivação para atingir objetivos.” A autora também destaca que entre as habilidades para o uso da informação está a decodificação, a interpretação, o controle e a organização do conhecimento (GASQUE, 2011, p.23). Assim, compreende-se que a organização do conhecimento é fundamental para a interpretação e produção da informação e de novos conhecimentos, portanto, para ser competente em informação o sujeito precisa ser preparado para compreender a organização do conhecimento e como ela se dá.

Sobre a competência em informação, Belluzzo (2006) destaca que é importante que os sujeitos possam compreender a lógica da organização do conhecimento, como buscar, utilizar e comunicar o conhecimento gerado. Nesse sentido, a iniciação científica favorece o desenvolvimento dessa competência, já que ela possibilita aos sujeitos participantes a experiência com atividades da pesquisa bibliográfica, leitura crítica, debate e interpretação de textos da literatura científica, que já se apresenta de acordo com a lógica da organização do conhecimento científico, assim como a experiência com o fazer da pesquisa científica, fundamental à construção do conhecimento científico, produzindo textos para compartilhar o conhecimento gerado na pesquisa, além de outras competências fundamentais como a do trabalho colaborativo. Enfim, pode-se afirmar que o conjunto de competências desenvolvidas na iniciação científica envolve a competência em informação, mas também a competência para a pesquisa e para a conduta protagonista, dentro dos princípios da ciência, todas elas necessárias para que os estudantes vivenciem o processo de apropriação da informação, de construção de conhecimentos e de compartilhamento da informação.

Nesse contexto, é possível afirmar que as competências em informação são necessárias e podem ser evidenciadas na atuação e na formação dos discentes e dos professores-orientadores. Conforme Calazans (2002, p. 68)

As discussões produzidas em torno de um tema-objeto da investigação a rigor são férteis, merecendo, portanto, muita atenção dos pesquisadores que assumem a responsabilidade de desenvolver pesquisa procurando tornar cada passa um ato de libertação e de crescimento individual e social.

Áreas do conhecimento como a Arquivologia e a Biblioteconomia estão diretamente associadas à preservação, organização, disseminação, acesso, uso e apropriação da informação. Desse modo, intensifica-se a necessidade de estudos que tratem do desenvolvimento dessas competências atribuídas ao arquivista e ao bibliotecário, em suas atuações profissionais, acadêmicas ou científicas. Esses profissionais serão mediadores da informação e deverão, por princípio, atuar do desenvolvimento de ações mediadoras, entre as quais estão situadas aquelas voltadas ao desenvolvimento de competência em informação. Assim, precisam viver na sua formação experiências nesse sentido que, inclusive, os prepare para atuar na mediação da informação, conscientes de que devem ter como meta fazer com que essas ações alcancem as dimensões dialógica, formativa, estética, ética e política, estabelecidas por Gomes (2014, 2016, 2017). No caso das ações de mediação do desenvolvimento de competências em informação, observa-se que as dimensões de primeiro foco são a formativa e a estética. No entanto, no sucesso desse desenvolvimento. A mediação acabará por conduzir os sujeitos envolvidos a experimentarem a dimensão ética e a política dessa ação.

Entende-se que a universidade, por meio da iniciação científica, fomenta o desenvolvimento do pensar crítico e da criativa, auxiliando os sujeitos em seu crescimento profissional e acadêmico. Nesse sentido, tanto os bibliotecários quanto os arquivistas precisam desenvolver suas habilidades e suas competências informacionais para que possam elaborar ações que possibilitem a mediação da informação, partindo do conceito apresentado por Almeida Júnior (2015) de que a mediação da informação é toda ação de interferência realizada por um profissional da informação, sejam elas, diretas ou indiretas; conscientes ou inconscientes; que visa à apropriação da informação satisfazendo momentaneamente ou parcialmente uma necessidade informacional.

Para o exercício profissional é necessário que os bibliotecários e os arquivistas desenvolvam perfil de pesquisadores, identificando e adotando estratégias, métodos, técnicas e tecnologias que auxiliam os usuários no acesso à informação. Nesse contexto, a iniciação científica favorece a formação desses profissionais, enquanto pesquisadores, que desenvolvem e atuam no desenvolvimento de competências em informação. Estas competências podem, por exemplo, auxiliar no processo de compartilhamento das experiências do bibliotecário e do arquivista quanto às práticas realizadas no seu local de atuação, elaborando e disseminando textos científicos, como também participando de eventos acadêmicos, favorecendo a constituição de redes de colaboração.

A consciência sobre a importância e a missão da mediação da informação também pode ser construída a partir da experiência da iniciação científica, que além de introduzir o estudante no fazer científico, também pode favorecer a formação de profissionais protagonistas e preparados também para realizar a mediação consciente da informação.

Além das contribuições citadas, a iniciação científica também pode favorecer a formação profissional no que tange a preparação de novos pesquisadores que poderão contribuir para construção de conhecimentos. Como assinala Demo (2008, esclarecimento nosso), quando se defende a importância da educação pautada na pesquisa, não se está afirmando que se trate “[...] de fazer de cada estudante um pesquisador profissional, mas um profissional pesquisador, quer dizer, [formar um estudante] que sabe manejar as virtudes metodológicas e, sobretudo pedagógicas da pesquisa.” Portanto, concordando com Demo, compreende-se que os discentes que experienciaram a atuação como bolsistas de iniciação científica poderão atuar, tanto em ambientes acadêmicos quanto mercadológicos do mundo do trabalho, de maneira consciente do seu papel social e profissional. Sendo a iniciação científica uma atividade de pesquisa e formação realizada pelos pesquisadores do GEPEMCI, buscou-se então realizar este estudo.

3 METODOLOGIA

Estudo descritivo, que conforme Gil (2007, p. 44) “[...] tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.” Quanto ao objetivo proposto, este estudo buscou analisar em que medida a iniciação científica tem contribuído com os estudantes e profissionais de Biblioteconomia e Arquivologia. Para alcançar este objetivo, foi adotado o método de um estudo de caso, tendo como objeto de investigação o Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação – GEPEMCI, que possibilitou o conhecimento sobre as contribuições da iniciação científica para a formação discente e profissional.

Como universo deste estudo, consideraram-se os egressos e discentes dos Cursos de Arquivologia, como também do Curso de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal da Bahia. Pela extensão do universo, delineou-se como amostra os egressos e os discentes que desenvolveram e desenvolvem planos de pesquisa vinculados ao Gepemci, assim foram identificados 16 participantes. A seleção desta amostra se baseia nos critérios da intencionalidade, porque se estabeleceu que somente os estudantes que tiveram essa experiência formal, assim como o da acessibilidade, visto que se buscou estabelecer contato com egressos, entre os quais alguns já não mantem os mesmo contatos telefônicos e de e-mails, o que impossibilitou o acesso com sucesso.

É importante salientar que o Grupo de Pesquisa é conduzido por duas professoras-orientadoras, que possuem seus subgrupos, que atuam em seus respectivos projetos de pesquisa. O primeiro subgrupo, coordenado pela líder do Gepemci, participou de pesquisas já concluídas, sendo que uma parte mais recente participou e outra participante de uma pesquisa de caráter teóricos, subdividida em duas etapas, sendo uma delas a que se encontra em curso no momento. Assim, este primeiro subgrupo foi composto por 11 integrantes, sendo estes: 9 egressos, todos do Curso de Biblioteconomia e Documentação (que atuaram em pesquisas anteriores e nas primeiras etapas do estudo de caráter teórico), como também de 2 discentes, sendo 1 estudante do Curso de Arquivologia e outro do Curso de Biblioteconomia e Documentação (que atuam na etapa em curso da pesquisa). O segundo grupo, coordenado pela vice-líder do Gepemci, realiza ações diretas de pesquisas de intervenção, caracterizando estudos de cunho empírico, composto por 2 egressas do Curso de Arquivologia (que participaram de etapas já concluídas da pesquisa) e 3 discentes do Curso de Biblioteconomia e Documentação (que atuam na etapa em curso da pesquisa).

Para coleta dos dados foi adotada a técnica de aplicação do questionário que Gil (2007, p. 121) define como “[...] a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas [...].” Foram aplicados questionários junto aos dois subgrupos que desenvolveram e desenvolvem planos de pesquisa no GEPEMCI, destacando-se que todas as pesquisas (concluídas ou em andamento) tiveram e têm como foco temático a mediação da informação. O instrumento foi composto por 8 questões, que possibilitaram o registro de respostas objetivas e discursivas. Este instrumento foi aplicado no período de maio a junho de 2019. Com a aplicação do questionário, obteve-se o retorno de 14 respondentes, desse modo a amostra foi composta por 10 integrantes do primeiro subgrupo e 4 do segundo subgrupo.

Vale ressaltar que do primeiro subgrupo da amostra, associado às pesquisas da líder do Gepemci, a partir das experiências que a iniciação científica proporcionou, a primeira bolsista deu continuidade a carreira acadêmica, cursou o mestrado e doutorado em Ciência da Informação, sendo atualmente docente efetiva de uma universidade pública e já desenvolve pesquisas de iniciação científica como docente-orientadora.

Quanto à interpretação e análise das informações obtidas por meio da aplicação do questionário, adotou-se a análise de conteúdo, com a adoção da abordagem qualitativa, que, de acordo com Bardin (2007, p.33), é “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.” Para uma interpretação estruturada do texto, é preciso codificar e categorizar os dados para uma compreensão mais adequada dos mesmos. Como também foi adotada a abordagem quantitativa, para os resultados que foram passiveis de mensuração. Os dados coletados são apresentados e discutidos na seção a seguir.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

O Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI) se insere na Linha de Pesquisa Produção, Circulação e Mediação da Informação do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, da UFBA. Sua criação, em 2006, foi resultado da conjunção de esforços de pesquisadores da Instituição que se propuseram a: produzir conhecimento nos campos gerais e específicos do grupo; criar espaço de discussão e estudo; fortalecer a comunicação e a troca de experiência entre os pares com interesses comuns; fortalecer intercâmbio com outras instituições acadêmicas e de pesquisa e estimular a relação estudante/docente.

A partir da aplicação dos questionários aos 14 respondentes que integraram a amostra desta pesquisa, foi possível identificar o período que estes permaneceram no Gepemci. Dessa totalidade, 3 participaram dos projetos das professoras-orientadoras, enquanto bolsistas de iniciação científica por 6 meses, outros 8 permaneceram vinculados a iniciação científica entre 1 e 2 anos e 3 respondentes por mais de 3anos. Vale ressaltar que 2 discentes do curso de Biblioteconomia e Documentação e 1 discente do curso de Arquivologia continuam vinculados à iniciação científica e ao grupo de pesquisa.

Vale ressaltar que no período de uma graduação dos cursos de Arquivologia ou Biblioteconomia e Documentação, que dura em média 4 anos, os discentes são apresentados a outras opções de ensino - aprendizado como: estágios extra curriculares; monitorias em disciplinas do Curso e atuação em grupos de extensão. Contudo, a partir dos dados indicados anteriormente, é possível constatar que os estudantes se identificam com as propostas apresentadas pela iniciação científica, estando vinculados a esse tipo de ação por um período equivalente a 50% do Curso.

Pode-se inferir que essa disponibilidade e permanência dos estudantes em relação à iniciação científica se deve a eles se identificarem não apenas com a proposta temática e metodológica, como também, e especialmente, a desejarem seguir e construir uma carreira acadêmica.

4.1 Contribuições da iniciação científica para a formação dos discentes e egressos

A partir da aplicação do questionário foram obtidos resultados referentes à percepção dos estudantes e dos egressos de iniciação científica dos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia e Documentação que integram o Gepemci. Nesse sentido, 14 respondentes afirmaram positivamente quanto à contribuição da iniciação científica para sua formação. A seguir, apresentam-se algumas respostas que foram mais representativas, sobre a percepção dos discentes e egressos quanto à sua vivência na iniciação científica.

A iniciação científica foi o principal alicerce para a minha formação acadêmica. Contribuiu muito para a questão da metodologia dos trabalhos acadêmicos e principalmente sobre pesquisa científica. (Respondente 3 - egresso do curso de Biblioteconomia)

A iniciação científica colaborou muito na minha formação acadêmica, agregando grandes contribuições na minha área de formação. Com essas contribuições da iniciação cientifica, consigo por em prática as habilidades que adquirir durante a faculdade, principalmente na área da mediação da informação. (Respondente 6 - egresso do curso de Biblioteconomia)

Os resultados apontaram a qualificação do discente de graduação por meio da iniciação científica, oportunizando o aprofundamento do conhecimento em torno das metodologias científicas, instigando e realizando debates sobre fenômenos sociais, auxiliando no exercício do pensamento crítico, para o desenvolvimento de competências para a produção teórica e empírica.

A partir dos exemplos apresentados, é possível afirmar a significativa contribuição que a iniciação científica pôde proporcionar aos respondentes. Enfatiza-se que a iniciação científica proporcionou a vivência de novas experiências que foram essenciais na formação dos discentes e egressos do Gepemci. Essa constatação está em consonância com o que defende Siqueira (2014) ao afirmar que a iniciação científica está integrada às atividades de ensino e/ou extensão, favorecendo o desenvolvimento cognitivo do acadêmico.

[...] O conhecimento adquirido através deste exercício deu-me a capacidade de ter uma visão mais ampliada do curso facilitando a minha compreensão das disciplinas estudadas melhorando o meu desempenho. Além disso, as leituras e discussões de diversos textos realizadas durante as reuniões do grupo de pesquisa trouxeram para mim novos conhecimentos e as apresentações dos resultados dos trabalhos em eventos me ajudaram a ter mais segurança para expressar meu entendimento sobre o tema e para falar em público. (Respondente 9 - egressa do curso de Biblioteconomia)

Evidenciam-se também por meio das falas de discentes e egressos no que tange a colaboração da iniciação científica em relação à formação acadêmica que a universidade fomenta discussões por meio da iniciação científica, que proporcionam aos sujeitos adquirirem uma formação voltada para o pensamento crítico e social contribuindo com a sua autonomia e atuação na sociedade da informação. A constituição de novos conhecimentos ocorre em um processo de desenvolvimento sistemático e coletivo voltado à formação de profissionais comprometidos com visão holística da sua área e campos do saber que se relacionam a ela, além do desenvolvimento ético, político e social na comunidade em que está inserido. Esse resultado possui relação com a reflexão apresentada por Gomes (2013) que compreende a educação universitária como libertadora e que atua como ação mediadora do processo permanente de exercício crítico da ciência que gera novos conhecimentos e transita entre os saberes instituídos e instituintes.

A iniciação científica representa um grande marco em minha vida acadêmica. Foi a partir do encontro com a pesquisa, por meio da orientação, que pude perceber a relevância da área da Informação, das contribuições dos estudos e pesquisa, como também da relevância da Biblioteconomia, pois alcancei um olhar mais amplo sobre o fazer teórico e prático. A partir da iniciação científica me descobrir como pesquisadora, como monitora e me concedeu base para hoje ser orientadora de IC. É importante registrar que por meio da pesquisa da minha orientadora que descobrimos pistas para meu TCC, que gerou minha dissertação, tese e meu projeto atual. Me apaixonei pela mediação da informação. Passei a entender a base teórica que os estudos nessa temática proporcionam para o agente mediador, uma reflexão sobre o seu fazer, sua contribuição e responsabilidade com o outro. (Respondente 13 - egresso do curso de Biblioteconomia)

Esse depoimento também sinaliza que esses estudantes experimentaram a dimensão dialógica da mediação da informação, quando assinalam a experiência das leituras, discussões e trabalho colaborativo na iniciação científica, assim como a dimensão formativa e estética quando afirmam o aprendizado que experimentaram, associado ao prazer da criação estética, o que os tornou mais conscientes dos compromissos e escopo de atuação da sua área de formação, sinalizando que a mediação realizada pelas docentes na orientação, em articulação com o processo dialógico no interior do Gepemci, provavelmente também contribuiu para experiência das dimensões ética e política. Enfim, observa-se que as dimensões da mediação da informação propostas por Gomes (2014, 2016, 2017) ficaram mais evidenciadas na experiência da iniciação científica vivida pelos estudantes do caso estudado, o que deve ter contribuído para que, enquanto profissionais, realizem a mediação consciente da informação, com um protagonismo enriquecido pela conduta de profissional pesquisador.

Nesta pesquisa também se investigou sobre as possíveis dificuldades ou limitações no processo de execução das atividades que compõem a iniciação científica. Dos 14 respondentes, 4 afirmaram que não existiram dificuldades, por outro lado, 10 indicaram a existência de alguma dificuldade nessa experiência. Entre as constatações, identificou-se que a pouca prática de leitura e de produção de textos, anterior a iniciação científica, foram os primeiros e os principais obstáculos na vivência da pesquisa. Contudo, os respondentes também mencionaram quais foram às estratégias utilizadas para superar essas barreiras.

Vale ainda ressaltar que entre os 10 respondentes que indicaram a existência de alguma dificuldade na execução das atividades de iniciação científica, esses afirmaram que apesar das barreiras iniciais conseguiram superá-las, conforme pode-se observar nos relatos abaixo:

A principal dificuldade foi na prática de produção de texto científico. Mas com a orientação da professora-orientadora, essa dificuldade foi superada através da orientação, indicação de textos e fichamentos. (Respondente 1 - egressa do curso de Arquivologia)

No começo, sim por conta das minhas limitações com as tecnologias, com o tempo logo superei. Consegui superar as dificuldades solicitando ajuda da orientadora e dos colegas. (Respondente 3 - egressa do curso de Biblioteconomia)

Por meio das falas dos respondentes, é possível identificar como a iniciação científica contribui para a formação acadêmica, introduzindo o discente no campo do conhecimento especializado, aprofundando o seu domínio em relação à literatura científica e fomentando discussões, pois, compreende-se que é através da pesquisa que surgem conhecimentos científicos solidificados, contribuindo para a produção de determinado conhecimento ou saber, permitindo assim o seu avanço. (DUARTE et al. 2009, p. 171).

As orientações da professora durante a iniciação científica contribuíram no sentido de identificar na descrição e análise das atividades bibliotecárias a prática da mediação. (Respondente 11 - egressa do curso de Biblioteconomia)

Nesse contexto, é perceptível a menção dos respondentes quanto às contribuições que as professoras-orientadoras proporcionaram para a superação das dificuldades e limitações e a influência das mesmas quanto ao desempenho e progresso na atuação da iniciação científica, evidenciando as competências em informação desenvolvidas na iniciação científica, competências estas que Gasque (2011) destaca como habilidades para o uso da informação como a decodificação, a interpretação, o controle e a organização do conhecimento.

A atuação da Professora Orientadora foi impar em minha formação. Como egressa de escola pública, cheguei com muitos limites e foi com a paciência que ela teve comigo, seus ensinamentos, que pude desenvolver a escrita, a leitura e a comunicação em público. Além dos ensinos básicos, ela me ensinou com exemplo: a humildade de sempre aprender com o outro, o olhar crítico, observador e atento, a compartilhar o conhecimento e como realizar essa ação. A minha orientadora me ensinou e ensina até hoje, pois tento seguir seu exemplo, como profissional humana que é. (Respondente 13 – egressa do curso de Biblioteconomia).

Participar do grupo de pesquisa me fez ter mais confiança quanto minha produção e também aumentou minha autonomia na pesquisa de textos acadêmicos que servem como base para a elaboração dos trabalhos. As leituras sobre gestão da informação e do conhecimento me proporcionaram uma melhor noção de organização pessoal. (Respondente 10 – discente do curso de Biblioteconomia e Documentação).

A confiança e a autonomia, aspectos indicados pelo Respondente 10, são características necessárias para o desenvolvimento de competências, que de acordo com Belluzzo (2006), está relacionada ao processo de comunicação do conhecimento, ação que o Respondente afirmou ter alcançado a partir da vivência na iniciação científica. Dessa maneira, a iniciação científica pode apoiar os sujeitos no desenvolvimento de habilidades e competências que subsidiarão sua atuação de maneira consciente tanto em sua carreira profissional quanto acadêmica.

Nesse contexto, entre as habilidades e as competências mais citadas pelos egressos e discentes participantes do Gepemci destacam-se: técnicas para a leitura seletiva; aperfeiçoamento quanto a produção escrita e comunicação oral; aprofundamento quanto aos métodos científicos; compreensão quanto aos conteúdos das disciplinas curriculares; elaboração e desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso. É possível afirmar que a iniciação científica pode ser considerada como um importante apoio na formação acadêmica, pois introduz o discente em uma realidade na qual é possível articular o referencial teórico e a prática, aprofundando o seu domínio em relação à literatura científica e fomentando discussões (CALAZANS, 2002).

Os respondentes também citaram que a iniciação científica colaborou com a vivência do trabalho desenvolvido em equipe, onde ações como o planejamento, a elaboração e a execução são realizadas a partir de decisões tomadas no grupo de pesquisas.

[...] enfatizo os aspectos da sociabilidade e interação em decorrência das constantes reuniões com o grupo de pesquisa, todos esses elementos potencializaram quem sou como profissional e pessoa humana. (Respondente 5 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Por meio da fala do respondente, é possível identificar que os grupos de pesquisa oportunizam o exercício da crítica, compartilhamento de ideias, em um processo dialógico entre orientadores e bolsistas de iniciação científica por meio do qual torna-se possível a associação entre teoria e prática, a aprendizagem e o processo criativo, gerador do prazer estético.

Vale ressaltar que o papel pedagógico da iniciação científica não se restringe ao âmbito acadêmico, mas envolve também a formação do profissional protagonista, já que a postura adotada pelo orientador tende a ser vista como exemplo a ser incorporado pelo bolsista na sua futura atuação profissional, como também a visão orgânica que esse orientador tenha e transmita acerca da profissão. Assim, não apenas a associação entre o conhecimento teórico e prático é apropriado na iniciação científica, mas também são desenvolvidas competências, atitudes e comportamentos ligados ao compromisso social e protagonista no exercício profissional, com compreensão clara acerca da função social do fazer informacional, com foco especial no processo de conscientização quanto ao papel mediador do profissional da informação.

Quanto à formação profissional, os estudos indicam que as capacidades intelecto-críticas e as habilidades cognitivas e comportamentais podem ser desenvolvidas por meio da iniciação científica, sendo um diferencial competitivo no mercado de trabalho. (MENEZES; LUCAS, 2018). Nesse contexto, 11 egressos, que atualmente são bibliotecários e arquivistas, relataram como a iniciação científica pôde auxiliá-los no exercício de seu fazer profissional, como se pode observar nos destaques feitos pelos participantes da pesquisa nos depoimentos apresentados a seguir:

Como trabalho em uma biblioteca jurídica, preciso constantemente realizar busca por doutrinas e jurisprudências e para tanto é necessário a realização de estratégias de busca, a avaliação da informação de forma crítica, competências essas, que adquirir durante minha permanência na iniciação cientifica (Respondente 7 – egresso do curso de Biblioteconomia)

A iniciação científica influencia decisivamente a minha atuação profissional, pois sendo hoje docente da educação básica, tento passar aos meus alunos o rigor e importância da pesquisa científica. No momento, na escola em que atuo, além de professora, sou também orientadora de estágio e TCC. Grande parte do que transmito aos discentes que oriento são conhecimentos provenientes da minha experiência enquanto integrante do grupo de iniciação científica. (Respondente 4 egresso do curso de Biblioteconomia)

[...] a IC foi base para a Docente, Pesquisadora e Orientadora que sou hoje. Aprendi a compartilhar meus conhecimentos com meus orientandos e discentes, como também com meus pares, além de desenvolver um olhar e escuta sensível para aprender com eles. (Respondente 13 – egresso do curso de Biblioteconomia)

[...] os projetos trabalhos na pesquisa eram de temas atuais e que não eram muito debatidos ou implantados na área profissional, assim pude perceber que eu poderia me aprofundar na área pesquisada e aproveitar para esse ser um destaque na minha vida profissional. (Respondente 2 – egresso do curso de Arquivologia)

As contribuições da iniciação científica no que tange a conduta profissional, citadas nos depoimentos dos respondentes, evidenciam que a esta contribui para a construção de conhecimentos que preparam a formação de novos pesquisadores que poderão atuar tanto na docência quanto na condição de profissionais bibliotecários e arquivistas protagonistas, conscientes do seu papel social de mediador da informação. Tal condição delineia um perfil profissional na condição apresentada por Demo (2008) de pesquisador, capaz de manejar as virtudes metodológicas e, sobretudo, pedagógicas da pesquisa.

Outra questão investigada nesta pesquisa foi a de identificar se os egressos e discentes tiveram e continuaram tendo acesso a novas informações a partir da vivência na iniciação científica. Nesse sentido, a totalidade dos respondentes indicou que por meio da iniciação científica foram apresentados a novas informações, conforme os depoimentos abaixo:

Foi possível perceber que nós bibliotecários (as) temos que sair de nossa zona de conforto e realizar atividades interessantes aos nossos (as) usuários (as) e incentivando, dessa forma, a vinda deles (as) a biblioteca. (Respondente 7 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Quando se tem acesso às novas informações, automaticamente, a nossa forma de ver as coisas são ampliadas e passamos a ver, ouvir e sentir de forma diferente. Por exemplo, com as informações sobre “atributos e indicadores das atividades de mediação direta e indireta da informação” passei a compreender melhor as ligações que existem entre as disciplinas estudadas no curso de Biblioteconomia, percebi com mais clareza a importância das atividades realizadas pelas bibliotecas e o papel desempenhado pelo bibliotecário. (Respondente 9 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Sim, a mediação da informação foi apresentada na Iniciação Científica. Não tínhamos uma disciplina que tratasse sobre a temática e foi a partir dos estudos da mediação da informação que pude compreender a relevância das ações dos profissionais da informação, como são sistêmicas e apoiam o usuário em seu desenvolvimento, sendo esse o maior e importante objetivo do fazer dos agentes mediadores da informação. (Respondente 13 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Por meio dos depoimentos apresentados, é possível afirmar que a iniciação científica proporcionou aos discentes e aos egressos uma visão holística quanto ao fazer arquivístico e biblioteconômico, como também uma visão mais crítica sobre a relação entre o conhecimento teórico e prático que foram e são adquiridos por eles ao longo do curso.

O desenvolvimento de competências a partir das experiências na iniciação científica também foi constatado nas falas dos respondentes.

Nesse exato momento pude perceber que desenvolvi competências que foram citadas muitas vezes nas discussões do grupo. E hoje, no trabalho, consigo resolver os problemas dos meus usuários com os conhecimentos adquiridos, percebendo que estou fazendo algo consciente e não meramente por fazer. (Respondente 2 – egresso do curso de Arquivologia)

Desenvolvi competências tais como acessar a informação de forma eficiente e efetiva, avaliar a informação de forma crítica e competente e usar a informação com precisão e com criatividade. (Respondente 7 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Sim. A iniciação científica trabalhou em mim a criatividade, me ajudou a ser flexível, mais responsável, a ter iniciativa, a buscar o conhecimento em bases de dados da Ciência da Informação, a ter a capacidade de análise e síntese, a trabalhar com fontes de informação de qualquer tipo e suporte e a trabalhar em equipe. (Respondente 9 – egresso do curso de Biblioteconomia)

Como um dos pilares da universidade, a pesquisa não apenas contribui para o desenvolvimento de produtos e serviços na sociedade, como também para novas condutas e práticas entre os sujeitos, entre esses se apresentam aqueles que estão vinculados ao ato de pesquisar, como os bolsistas. A partir dessa reflexão do ser profissional, por exemplo, nesse grupo de pesquisa, que se dedica aos estudos e pesquisas sobre mediação da informação, foi proporcionada aos bolsistas a percepção clara do perfil social do profissional da informação e a conscientização acerca do seu papel de mediador da informação. Assim, infere-se que as temáticas abordadas nos distintos grupos de pesquisa podem favorecer o desenvolvimento de uma visão orgânica da profissão, assim como podem estimular a atuação consciente do profissional da informação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A universidade fomenta discussões que proporcionam aos sujeitos adquirirem uma formação voltada para o pensamento crítico e social, contribuindo com o desenvolvimento da sua autonomia e atuação na sociedade da informação. O ensino superior pode ser entendido como um dos estágios, constituído no meio social, que auxilia na formação e transformação dos sujeitos em agentes sociais. Durante a formação superior, o sujeito tem acesso ao conhecimento construído durante a trajetória histórica da humanidade, entre esses o conhecimento científico que orientará também o desenvolvimento crítico das práticas profissionais. Assim, não apenas o conhecimento teórico e prático é apropriado na iniciação científica, como também são apresentadas e desenvolvidas competências, atitudes e comportamentos ligados ao fazer informacional.

A iniciação científica pode ser considerada como uma das mais importantes ações de mediação pedagógica na formação acadêmica, que se destaca por introduzir o discente no campo do conhecimento especializado, aprofundando o seu domínio em relação à literatura científica e sua competência para o debate e trabalho colaborativo. Em relação aos bibliotecários e aos arquivistas, estes são pesquisadores de estratégias, de métodos, processos, instrumentos e técnicas, como também de dispositivos tecnológicos que auxiliam os usuários no acesso à informação e, nesse contexto, a iniciação científica favorece a formação desses profissionais competentes em informação. Os profissionais que na formação acadêmica têm a oportunidade de vivenciar a iniciação científica desenvolvem competências em comunicação, desenvolvem a escuta e o olhar sensíveis necessários ao acolhimento ao diferente, o que permite a abertura ao diálogo fundamental ao trabalho coletivo e orgânico, que compreende e sustenta o encadeamento sistêmico das diversas atividades profissionais, promovendo o processo de formação de protagonistas que se compreendem como mediadores e capazes da realização da mediação consciente da informação. Tais condições consolidam um perfil e uma atuação profissional capaz de ações transformadoras, inovadoras e constituintes de parcerias em redes colaborativas.

Por fim, em associação ao desenvolvimento das competências em informação, a experiência da iniciação científica no campo da Ciência da Informação, mais especificamente na formação profissional de bibliotecários e arquivistas, acaba tornando mais clara a abrangência da atuação desses profissionais, ao mesmo tempo em que os preparar para realizar a pesquisa com competências acadêmicas, contribuindo para o processo de conscientização quanto às suas responsabilidades sociais, o que os tornam aptos à mediação consciente da informação e a uma atuação protagonista na área.

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1 Professora Titular do Instituto de Ciência da Informação. Universidade Federal da Bahia, Brasil. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1666-0022. E-mail: henriettefgomes@gmail.com

2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Universidade Federal da Bahia, Brasil. Bolsista Capes. ORCID https://orcid.org/0000-0001-8301-3728. E-mail: ingridpaixao191@gmail.com

3 Professora Adjunta do Instituto de Ciência da Informação. Universidade Federal da Bahia, Brasil. ORCID https://orcid.org/0000-0002-1469-0765. E-mail: quelrosario@gmail.com

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