INFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS DE RECORTES LITERÁRIOS
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2237-7522.2023v11.70812Resumo
O projeto “Geografia e Literatura” tem por pretensão, analisar obras literárias que ofereçam subsídios à análises e interpretações de conteúdos associados ao conhecimento geográfico. No presente texto, elegeu-se a obra emblemática de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, escrita entre o final do séc. XIX e o limiar do séc. XX, refletindo a transição literária entre o simbolismo e o modernismo brasileiro. A obra é composta por três partes: a Terra, o Homem e a Luta, que oferecem importantes subsídios a análise e comentário geográfico, além da própria constituição textual. Na primeira, aborda os componentes da natureza física do sertão baiano, palco da Guerra de Canudos, momento em que faz importante descrição dos componentes físicos e etnobotânicos; o segundo, em uma perspectiva antropossociológica, embora determinista, considera a tríade formacional do sertanejo (meio-raça-história); e por fim, a luta contra o messianismo de Antonio Conselheiro, fundador do arraial de Belo Monte, mais conhecido como Canudos, confronto esse que durou quatro anos, se constituindo em um marco histórico nos movimentos populares. De forma incidental, apresenta ainda uma relação entre a passagem da “perda do chio” no conto “Uma estória de amor: festa de Manuelzão” de Guimarães Rosa, estabelecendo relações com fenômeno observado nas sequências cársticas de São Desidério, oeste baiano.