GEOECOLOGIA DO MAR LITORÂNEO E O USO SAZONAL PELO PEIXE-BOI MARINHO (TRICHECHUS MANATUS LINNAEUS, 1758) EM ICAPUÍ, CEARÁ
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1982-3878.2024v18n3.72620Resumo
O peixe-boi marinho, pertencente à família Trichechidae (Ordem Sirenia), é um mamífero aquático herbívoro que ocorre em águas rasas, com abundância de vegetação e fontes de água doce, sendo a espécie Trichechus manatus (Linnaeus, 1758) classificada como “Vulnerável” pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) e “Em Perigo” pela Lista Vermelha da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Embora os mamíferos marinhos apresentem grande mobilidade e exista uma aparente falta de barreiras físicas no oceano, algumas espécies, como o peixe-boi, tem distribuição restrita, refletindo suas exigências ecológicas e seus centros de origem geográfica. No litoral leste do Ceará, ela é encontrada entre os municípios de Beberibe e Icapuí, sendo este último considerado uma importante área de ocorrência, pois reúne atributos geoecológicos essenciais à manutenção da espécie na região. O objetivo desse estudo foi avaliar a frequência de utilização da praia de Picos, Icapuí (04°39’24”S / 37°26’59”O; 04°39’37”S / 37°25’58”O), por indivíduos de peixe-boi marinho descrevendo padrões de utilização espacial e temporal. Para visualização da distribuição dos animais, uma área de 1 km2 do mar litorâneo foi dividida arbitrariamente em quatro zonas (1, 2, 3 e 4). Realizou-se a análise paisagística da área de observação descrevendo-se os atributos geoecológicos de cada zona. O monitoramento foi realizado a partir de um ponto fixo instalado no topo da falésia na praia de Picos entre fevereiro e dezembro de 2012, três vezes por semana, com um esforço diário de seis horas (de 7 às 10 h e 13 às 16 h). As observações foram feitas a olho nu e com o auxílio de binóculos. O registro foi realizado por amostragem ad libitum contínua, observando-se todos os animais que surgiram durante cada período de monitoramento (manhã e tarde). A frequência de ocorrência dos indivíduos entre os meses monitorados variou entre 80 a 100%. O tempo total de avistagem ou tempo de permanência (TP) representou 43,5% do esforço amostral. O tempo de permanência médio dos indivíduos no local foi de 48,1 minutos, sugerindo que a praia de Picos é uma área de uso importante para a espécie que pode utilizá-la como habitat de forrageamento, alimentação, reprodução e descanso. Os indivíduos de peixes-bois marinhos apresentam ocorrência durante todo o ano na praia de Picos, porém com preferências sazonais por determinadas zonas (1 e 3), que apresentam características diferenciadas. As zonas 1 e 3 apresentam profundidade mais elevadas e maior proporção de substrato lamoso e de bancos de capim agulha do que as zonas 2 e 4. Esse estudo revelou informações sobre utilização do habitat do peixe-boi marinho, o que é relevante para direcionar novos estudos sobre uso de recursos e ecologia desses animais, e essencial para traçar estratégias de conservação e manejo.