
Cosmovisões e territórios:
Abya Yala como Território Epistêmico
O coração dos Correios são os centros de triagem, se você para os centros de triagem
não chega, não sai encomenda. Quando você tira esses caras da nossa categoria, que
você joga para outra categoria, que são dos terceirizados, não é categoria na minha
opinião, mas foi criado esse sindicato dos terceirizados, você começa a quebrar isso.
(…) Você quebra a unidade da categoria em trabalhadores e subtrabalhadores. E
começa esses trabalhadores que ganham menos, também, a olhar para os
trabalhadores ganham direito, justo, né, e começam a falar “não, vocês têm
privilégio”, como se fosse privilegiado aqueles que têm trabalho com uma certa
estabilidade e benefícios sociais. Então isso é terrível para a organização dos
trabalhadores, não só do ponto de vista do financiamento, como do ponto de vista da
organização e da estratégia sindical (Entrevista 3, realizada com dirigente da
FENTECT em 03 de setembro de 2021).
E complementa com um exemplo de um caso ocorrido na base sindical de Campinas
(SP), na cidade de Indaiatuba:
O que vem acontecendo é o seguinte: quando tem problema no contrato deles
[terceirizados] eles chamam a gente [sindicato dos trabalhadores nos Correios].
Campinas e Indaiatuba aconteceu isso já umas 3 vezes. Antes um pouco da nossa
data-base a empresa não tava pagando eles, tal. O sindicato de Campinas [Sindicato
dos Trabalhadores dos Correios de Campinas e Região (SINTECT-CAS)] foi lá e
parou tudo. Aí veio o sindicato deles e eles não confiavam no sindicato, mas o
sindicato de Campinas chamou eles e disse que “vocês têm que fazer isso aqui”. Aí
veio o sindicato organizando, parou e conseguiram resolver o problema lá, que era
um contrato novo e a empresa ela tinha que pagar os terceirizados antes de receber o
pagamento dos Correios, porque tem um tempo para os Correios pagar, e isso tava
no contrato, se não tinha condições de bancar isso não tinha que ter pago. Aí a
empresa conseguiu resolver esse problema e pagar depois de uma greve dos
terceirizados. Bom, fez a greve, beleza, voltou a trabalhar. E aí começamos a nossa
greve, dos trabalhadores dos Correios e decidimos que íamos parar o complexo de
Indaiatuba e lá funciona 24 horas e fomos parar lá. Fomos, trabalhador parou lá na
porta, fechou tudo. E o ônibus da galera que ia sair dos terceirizados óbvio, começou
a atrasar por que tava tudo fechado, parou tudo na porta, e os próprios terceirizados
que nós organizamos a greve veio brigar com a gente e aí saiu no pau, mesmo, na
briga mesmo, rasgamos faixa e tudo, então você vê, eles queriam ir embora para
casa, tinham trabalhado o período deles e eles não estavam com paciência para
discutir como nós ia fazer aquilo, de como nós ia liberar eles. E aí teve um confronto
mesmo, aí você vê, olha, aquele mesmo que a gente ajudou na greve estava virado
contra a gente, porque queria ir embora. “Foda-se o problema é de vocês, não é
nosso”. Tudo bem, a gente sabe que os caras estavam cansados, entendeu? Depois
nós resolvemos, porque já tínhamos o ônibus nosso, nós pusemos eles nos nossos
ônibus, mandamos entregar cada um em casa (Entrevista 3, realizada com dirigente
da FENTECT em 03 de setembro de 2021).
Esses casos reforçam que, além da dificuldade jurídica da representação, há uma
barreira política, cultural, de interação e atuação conjunta das categorias que precisa ser
compreendida como una, sem a distinção que se observa a partir das contratações feitas por
empregadores diferentes. Esse exemplo ressalta, também, que as lutas econômicas reforçam
os interesses específicos de cada setor e, por vezes, ampliam a concorrência entre eles. Essa
pode ser considerada uma consequência da estrutura sindical brasileira, vinculada ao Estado e
definida pela unicidade sindical que, ao longo dos anos, aprofunda o caráter corporativista da