
Fazendo arte, muita política, e sonhando com a revolução:
uma entrevista com Agamenon Travassos Sarinho, militante do PCdoB na Paraíba
qualquer momento. Então eu me preparei em casa, inclusive todo o processo psicológico que
a gente passa, para tentar preservar a família, não dar nenhuma informação. Então eu tinha a
mochila pronta, eu sabia que a qualquer momento eu poderia ser mandado para qualquer
lugar. E não fui [para o Araguaia], senão hoje seria uma estatística, talvez não estaria
contando essa história. Nesse período, teve umas duas tentativas de rearticulação. Eu lembro
que uma vez chegou um cidadão me procurando no meu trabalho em uma gráfica na
[Avenida] Duque de Caxias, deixou algumas “Classes Operárias”, isso em 71, e depois não
tive mais contato. Nesse meio tempo, eu tinha tentado reaver uma mala de documentos do
partido que eu acredito que o Ribeiro deixou com Seu Dantas
, que não era militante, mas
ajudava o partido... E também Seu Raimundo Fontes, pai de Ednaldo e de Edmundo Fontes
.
Eu fiquei sabendo que tinha, não sei se membro ou simpatizante, que era pai do [jornalista]
Silvio Ozias, o velho Ozias, que eu tive na casa dele para conversar sobre os programas da
Rádio Tirana. Eu me mantinha informado pela Rádio Tirana. Na ausência de contato, o canal
que a gente se orientava era a rádio Tirana, que lá estava Bernardo Joffily e sua esposa [Olívia
Rangel], que eram radialistas que comunicavam para o Brasil
. Nós ouvíamos a Rádio Tirana
via ondas curtas, e tinha informações sobre a resistência no Brasil, a guerrilha urbana e a luta
do campo. Mas só tivemos a informação sobre a Guerrilha do Araguaia quando ela foi
deflagrada. Soubemos via Rádio Tirana e documentos. Nesse meio tempo havia algum canal
de comunicação. Por exemplo, o José Rodrigues desde 71 já estava aqui em João Pessoa e ele
era de AP
e se não me engano já tinha aceitado entrar no PCdoB. Mas o contato dele não era
comigo, era com um dirigente, não sei se de Pernambuco ou de outro lugar. Ele era goiano. Aí
nesse meio tempo a gente já recebe material. Eu não terminei de contar a história da mala, não
foi? Teria uma mala com diversos documentos importantes do partido que estava com o Seu
Dantas, que era preso por qualquer motivo... Tinha que tirar esses documentos, mas também
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Refere-se a Antônio Dantas, fundador da Liga Camponesa de Santa Rita, em 1963, quando havia rompido com
o PCB e se aproximado do grupo do deputado estadual de Pernambuco, Francisco Julião.
Refere-se aos irmãos que iniciaram a militância no PCdoB no final dos anos 1980.
Na década de 1970, o PCdoB, com apoio do governo da Albânia, país socialista com quem mantinha relação
política, enviou militantes para trabalharem na Rádio Tirana, onde produziam programas falados em português,
que eram uma importante forma de comunicação do PCdoB com seus filiados e simpatizantes no Brasil.
Refere-se à Ação Popular (AP). Organização da esquerda católica formada em 1962 por militantes oriundos da
Juventude Universitária Católica (JUC), influenciada pelo socialismo cristão. Após o golpe de 1964, a AP
progressivamente assumiu uma postura favorável à luta armada, aproximando-se de Cuba e, principalmente, da
China. Em 1971, a AP sofreu um racha e, enquanto um grupo minoritário criou a Ação Popular Marxista
Leninista (APML), a maioria dos seus militantes decidiu pela incorporação no PCdoB. A partir da década de
1980, importantes dirigentes do PCdoB eram antigos militantes da AP, como Renato Rebelo, Aldo Arantes e o
paraibano Simão Almeida Neto, deputado estadual da Paraíba eleito pelo PCdoB em 1990, falecido em 2021.