CULTURA NACIONAL E LIBERDADE DOS PRAZERES EM CAIO FERNANDO ABREU: UMA BREVE INTRODUÇÃO

Resumo

O presente trabalho pretende estabelecer a relação, dentro de um quadro geral, entre as identidades culturais fragmentadas do mundo social e a representação, pela literatura nacional, do exercício dos prazeres de uma determinada homoafetivade. A hipótese sobre a existência de uma literatura homoerótica aponta, entre outras questões, para a relação entre homoafetivade e cultura nacional, e entre gênero e papéis sociais, e, política e culturalmente, deve esforça-se na redefinição das categorias e das formas de pertencimento a uma cultura nacional e suas condições específicas. Um autor central para essas discussões é Caio Fernando Abreu. Uma das grandes expressões literárias dos últimos 30 anos, sua produção cobre, talvez, o período de maior ebulição estética pela qual o Brasil passou depois do Modernismo e da Tropicália, cuja repercussão se faz sentir no panorama cultural brasileiro nas áreas política, social e das comunicações. Evidentemente, a escritura de Caio se distingue bastante do tom confessional que marcou a estética da época e se configura como uma ficção que procura uma maior elaboração literária. Depois, a prosa de Caio Fernando Abreu fala de um Brasil mais politizado e mais contestador que busca suas identidades em meio ao caos das relações políticas e socioeconômicas e da impotência e desesperanças dos projetos coletivos de mudanças sociais e prospecções existenciais. A própria temática erótico-amorosa nos textos, por outro lado, acena quase sempre para a interdição e à dificuldade de se encontrar não somente espaço, mas a forma mais apropriada de plenitude na expressão da homoafetividade.