O Campo como Espaço da Exceção: Uma Análise da Produção da Vida Nua Feminina nos Lares Brasileiros à Luz da Biopolítica
Abstract
O presente artigo parte da análise dos dados que evidenciam a grande incidência da violência doméstica contra a mulher no Brasil, que possui como local privilegiado de ocorrência o próprio lar. Diante deste quadro, analisa, a partir de algumas categorias extraídas das filosofias de Michel Foucault e Giorgio Agamben, a violência doméstica perpetrada contra as mulheres brasileiras como fruto de um espaço de exceção – o lar brasileiro – que pode ser conceituado como campo, ou seja, como lugar por excelência da produção da vida nua, da vida (impunemente) matável do homo sacer, a partir da vontade indiscriminada do soberano, revelando, assim, os seus contornos biopolíticos. Para a concretização da pesquisa, a metodologia de abordagem utilizada foi a fenomenologia hermenêutica (STEIN, 1979), a qual visa à aproximação entre o sujeito (pesquisadores) e o objeto a ser pesquisado (no caso, a violência perpetrada no lar/campo no Brasil). Com efeito, o presente artigo parte da ideia de que os sujeitos (os autores do texto) estão diretamente implicados no objeto da pesquisa, que com eles interage e sofre as consequências dos seus resultados. Por fim, conclui que, a partir da perpetuação destas violências, o lar, enquanto espaço privado constitui-se desde sempre em um espaço biopolítico, refletindo, portanto, o paradigma biopolítico do campo.Downloads
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