CHAMADA TEMÁTICA REVISTA PROLÍNGUA: VOL. 18, N 2 (2023). Tema: Políticas linguísticas: dossiê em homenagem a Bernard Spolsky
O renomado linguista Bernard Dov Spolsky faleceu no dia 20 de agosto de 2022, aos 90 anos, deixando como legado contribuições importantes em diferentes campos do conhecimento (e.g.: Linguística Aplicada, Sociolinguística) e, particularmente, para a Política Linguística. Sua carreira de professor começou na Nova Zelândia na década de 50 e, nos anos seguintes, atuou em diferentes instituições de ensino superior como Universidade McGill no Canadá, Universidade de Indiana e Universidade do Novo México ambas nos Estados Unidos, dentre outras. Na década de 80, ingressou como professor na Universidade Bar-Ilan, em Jerusalém, fundando e tornando-se depois diretor do Centro de Pesquisa de Políticas Linguísticas (Language Policy Research Center). Foi, ainda, com a também importante linguista Elana Shohamy, cofundador do periódico Language Policy, sendo seu primeiro editor chefe (2002-2007).
Em 1996, Spolsky publicou o primeiro estudo sobre política linguística, intitulado Prolegomena to an Israeli Language Policy, abordando as políticas de ensino de línguas em Israel. Segundo o próprio autor, desejando aprimorar seu modelo, desenvolveu juntamente com Elana Shohamy (Universidade de Tel-Aviv, Jerusalém) um esboço do que viria a ser a Teoria da Gestão da Língua. No livro The languages of Israel: policy, ideology, and practice, publicado em 1999, Spolsky e Shohamy discutem a complexa situação linguística de Israel, engendrando um arcabouço teórico original de política linguística que, já nessa época, era constituído de três componentes independentes e interrelacionados: práticas, crenças e ideologias e gestão (SPOLSKY, 2021).
Em 2000, Spolsky aposentou-se como professor emérito da Universidade Bar-Ilan e sua produção e influência acadêmica na área de Política Linguística tornou-se mais evidente. Em 2004, publicou o livro Language Policy pela Cambridge University Press, no qual visa “[...] apresentar os primeiros esforços para uma teoria, tentar fazer justiça a outras opiniões e desenvolver, onde parece necessário, minha própria terminologia.”[1] (SPOLSKY, 2004, ix). Em 2009, suas inquietações o levam a detalhar essa teoria no livro Language Management, publicado pela Cambridge. Nele, Spolsky analisa os componentes da política linguística em diferentes domínios, começando na família e explorando outros espaços sociais como escolas, instituições de saúde, entidades governamentais, dentre outras. Para o autor, o objetivo era “[...] refinar e modificar meu modelo inicial para dar conta da melhor forma possível dos dados que encontrei que são relevantes para as tentativas de controlar a política linguística, ou seja, mudar as práticas ou crenças linguísticas de outras pessoas”[2] (SPOLSKY, 2009, p. 249). O livro termina com dois questionamentos: “[...] a língua pode ser gerenciada? E se puder, deve ser gerenciada?”[3] (SPOLSKY, 2009, p. 261).
Essas perguntas deixaram em aberto a possibilidade de Spolsky se debruçar novamente em sua teoria. É o que acontece em 2021. Ele publica Retinking language policy pela Edinburgh University Press, e, nessa obra, o autor amplia seu modelo: inclui ambientes não linguísticos que afetam a implementação de políticas linguísticas e a autogestão (SPOLSKY, 2021). Partindo do princípio de que a política linguística é um fenômeno complexo e dinâmico, Spolsky afirma que se faz necessário elaborar modelos, revisá-los a fim de dar conta desse objeto de estudo tão multifacetado que é a política linguística.
Infelizmente, será para nós impossível compartilhar novas revisões teóricas de Bernard Dov Spolsky. Por outro lado, suas proposições ecoam em estudos desenvolvidos no contexto internacional e brasileiro, tomando como objeto de análise a gestão das línguas e do multilinguismo em diferentes domínios da vida social (família, escola, universidade, espaço público urbano, espaços de culto, empresas, dentre outros), as crenças e ideologias e as práticas linguísticas.
Diante dessa assunção e tendo em vista a relevante e fundamental contribuição do autor para o campo da Política Linguística, este dossiê visa acolher trabalhos que lançam mão das proposições teórico-metodológicas de Spolsky para o estudo das políticas linguísticas, explorando quaisquer aspectos de sua Teoria da Gestão da Língua. Desse modo, para fins desse número da Revista Prolíngua, aceitamos estudos que analisem e discutam gestão de línguas, práticas e crenças/ideologias na família, em instituições de ensino (escola e universidade), em espaços de culto, em ambientes empresariais, no espaço visual público, em níveis nacional e supranacional, em processos de internacionalização e integração regional, dentre outras possibilidades de investigações norteadas pelo quadro teórico-metodológico exposto.
Referências
SPOLSKY, B. Prolegomena to an Israeli language policy. In: HICKEY, T.; WILLIAMS, J. (Orgs). Language, education and Society in a Changing World. Dublin/Clevedon/Philadelphia/Adelaide: IRAAL/Multilingual Matters Ltd. 1996. p. 45-53.
SPOLSKY, B. Language Policy: a Key Topics in Sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
SPOLSKY, B. Language Management. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
SPOLSKY, B. Rethinking Language Policy. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2021.
SPOLSKY, B.; SHOHAMY, E. The Languages of Israel: Policy, Ideology and Practice. Multilingual Matters Ltd. Clevedon/Buffalo/Toronto/Sidney: Multilingual Matters. 1999.
Organizadoras:
Socorro Cláudia Tavares de Sousa (Universidade Federal da Paraíba - UFPB)
Isis Ribeiro Berger (Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE)
Prazo de envio dos originais: 15 de setembro de 2023 pelo site da revista
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/prolingua/index
Previsão de publicação: novembro de 2023.
Serão aceitas submissões em língua portuguesa, língua inglesa e língua espanhola.
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Editora chefe: Regina Celi Mendes Pereira
Editor adjunto: Jan Edson Rodrigues Leite
[1] No original: “[...] will therefore venture definitions, present first efforts at a theory, attempt to do justice to other opinions and develop, where it seems needed, my own terminology.” (SPOLSKY, 2004, ix).
[2] No original: [...] to refine and modify my initial model to account as well as I could for the data that I have found that are relevant to attempts to control language policy, that is to say, to change other people’s language practices or beliefs.” (SPOLSKY, 2009, p. 249).
[3] No original: “[...] can language be managed? And if it can, should it be managed?” (SPOLSKY, 2009, p. 261).