Diário Imagético da pandemia de covid-19
Retratos, distâncias e estranhamentos
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2447-9837.2020v2n10.55852Resumen
Este diário imagético da pandemia de covid-19, desde a antropologia, esforça-se por trazer, em registro fotográfico, algumas das novas configurações socioculturais que emergem neste momento. É possível elencar, dentre elas: a) uso de máscaras, tornado corriqueiro, como dispositivo protetivo ao novo coronavírus; b) distância social que as pessoas em seus fluxos urbanos, são orientadas a guardar entre si; c) marcações em estabelecimentos públicos e privados, feitos na intenção de organizar esse distanciamento social.
Durante o tempo da feitura deste trabalho, deparamo-nos com as dificuldades no fazer antropológico neste cenário anômalo, no qual novas estratégias de pesquisa etnográfica devem ser pensadas; afetadas por este contexto, recorremos às imagens como “fonte de significação”, nos termos de Eckert e Rocha (2011). Neste fazer, a reflexão é imagética. E desta forma nos aproximamos das imagens como modos de narrar, permeadas das afetações que a Covid-19 nos traz – vale salientar que o faz de modo desigual, tendo em vista os marcadores sociais da diferença (gênero, etnia/raça, classe, geração etc.) – enquanto sociedade.
No curso desta experiência etnográfica (MAGNANI, 2009) (que equivale a uma incursão a campo), realizamos duas incursões no mês de maio de 2020. No tempo destes dois dias, conversamos, de forma rápida, com funcionários/as e donos/as dos estabelecimentos para poder fazer o registro das placas e sinalizações, e também de forma breve, fotografamos. Neste mesmo momento, a utilização das máscaras por pessoas que transitavam nesses ambientes e as multiplicidades destas máscaras, redirecionaram nosso olhar. Foi numa casa lotérica e em mercados de bairro, na cidade de João Pessoa/PB, onde estivemos para "resolver coisas", – pagar contas na casa lotérica e fazer compras nos mercados – que encontramos a oportunidade de realização dos registros visuais aqui presentes.
Resolvemos conversar rapidamente com quem entrava e saia desses locais, explicando nosso trabalho, quem éramos, e perguntando sobre a possibilidade de comporem este diário. Não poder registrar o olhar de quem fotografamos foi imensamente difícil. No entanto, não havia como trabalharmos com termos de autorização de uso de imagem impresso neste momento, ao qual tomaria tempo, dilatando nossa exposição. E mesmo que a manifestação de concordância da participação na pesquisa tenha se dado de forma oral, consideramos conjuntamente preservar suas identidades.
A maioria das pessoas que abordamos, nestes curtos intervalos de tempo, aceitaram participar desta incursão. Algumas delas nos contaram a história de sua máscara, outras perguntaram se era preciso soltar o cabelo, algumas tiraram os óculos. As reações foram diversas, assim como as máscaras. Máscaras que, somadas às placas e marcações nos estabelecimentos, apontaram para uma resposta artesanal ao novo coronavírus, no âmbito local.
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