ENTRE A AÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES E A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA: O QUE ESTAMOS NEGLIGENCIANDO?

Autores

  • Samantha Buglione
  • Bruna Anziliero

Palavras-chave:

participação na política, ação política, mulher, democracia.

Resumo

O presente estudo analisa a participação política das mulheres a partir de uma distinção entre ação política e participação na política. O primeiro sentido, o de ação política, está, neste estudo, vinculado a autores como Maquiavel, Arendt e Agamben, enquanto o segundo, o de participação na política, vincula-se e destaca o locus da concepção aristotélica e a estatização que ocorreu na modernidade. Para realizar a pesquisa fizemos um levantamento junto às duas revistas acadêmicas mais antigas de gênero e feminismo no Brasil: Cadernos PAGU e Revista Estudos Feministas. O marco teórico é o conceito de política como liberdade. Por essa razão, tanto o ato quanto a ação política, estariam para além da participação em governos, estados, instituições e movimentos. A hipótese é que ao se adotar o conceito de ação política como exclusiva participação em instituições e governos se está, não apenas a reforçar a política como algo pertencente a um lugar (locus), mas a limitar o sentido radical de arte política. Entre as conclusões observa-se que a construção teórica brasileira, ao menos o que foi publicado em revistas confessamente feministas e de gênero, nos últimos quinze anos, não contemplou outros matizes de atos e ações políticas, limitando-se a conceber a participação e ação política das mulheres como participação em instâncias de governos ou instituições. Apesar dos avanços em se politizar questões tradicionalmente vistas como não políticas, a exemplo da reprodução e sexualidade e da violência doméstica, a participação das mulheres, mesmo nestes temas, só é vista como política se ocorre dentro dos padrões tradicionais de um locus previamente eleito como legítimo. Observa-se que o sentido da arte política não foi revisitado. Por esta perspectiva tradicional, política assume um papel heterônomo e mediado e não autônomo. Mantém-se, assim, a política como algo de um locus: a polis; só que agora uma polis secular, estatizada e jurisdicizada e perde-se, com isso, a percepção da política como uma capacidade dos sujeitos, ou seja, como liberdade e arte.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, Giorgio (2014). Uma cidadania reduzida a dados biométricos. In: Le Monde Diplomatique Brasil. Consultado em 21/03/2014 em http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=1568.

AGAMBEN, Giorgio (2005). A imanência absoluta. In: La potenza del pensiero. Saggi e conferenze. Vicenza: Néri Pozza Editore.

ARENDT, Hannah. (1993). La Condicion Humana. Barcelona: Paidos Estado y Sociedade.

ARENDT, Hannah. (1999). Eischmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal. Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras.

ARENDT, Hannah. (2002) O que é o político. Tradução Reinaldo Guarany. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

ASSMANN, Selvino José; PICH, Santiago; GOMES, Ivan Marcelo; VAZ, Alexandre Fernandez. Corpo e Biopolítica: poder sobre a vida e poder da vida. In: XV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte / II Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2007, Recife. Anais do XV CONBRACE E II CONICE. Recife : EDUPE, 2007a. p. 1-10.

BARROS, Raissa Ester Maia de; SANTOS, Filipe Lins dos. O Discurso de Construção do Eu feminino e sua Interrelação com o campo político. In: XI Colóquio Nacional de Gênero e Sexualidade. Campina Grande, Paraíba, 2015.

BEUCHOT, Mauricio. (1999) Derechos Humanos. História y Filosofia. México: BEFDP.

BOBBIO, Norberto. (2000) Teoria Geral da Política. A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. Organizado por Michelangelo Bovero. Tradução Daniela Beccaccia Versiani. 12ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier.

BORBA, Julian. (2007) Ciência Política. Florianópolis: Departamento de Ciencia da Administração. UFSC, 134p.

BORBA, Julian; RIBEIRO, Ednaldo Aparecido. Participação convencional e não convencional na América Latina. Revista Latino-Americana de Opinión Pública, v. 1, p. 53-76, 2010.

COTTA, Maurizio; DELLA PORTA, Donatella, MORLINO, Leonardo. (2004) Fondamenti di scienza política. Nuova Ed. Bologna: Società editrice Il Mulino.

DAHL, Robert. (2001) Sobre a democracia. Tradução Beatriz Sidou. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

FOUCAULT, Michel. (1999). Aula de 17 de março de 1976. In: Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes.

GIMENES, Éder Rodrigo; RIBEIRO, Ednaldo A. Banco de dados. (2012) Cultura política e elites não estatais. São Paulo: Consórcio de Informações Sociais.

INGLEHART, R. (1988). The Renaissance of Political Culture. American Political Science Review, Washington, D. C., v. 82, n. 4, p. 1203- 1229, Dec.

LARA, Bethania Zilio; COSTA, Jean Gabriel Castro da. (2013). Agnonismo e Pluralidade no Pensamento de Hannah Arendt. 37º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS SPG09 Tolerância e Justiça Social.

LAZZARATO, Maurízio. Del Biopoder a la biopolítica. In: Multitudes, mars 2000. Consultado em 26/02/2007 em http://multitudes.samizdat.net/spip.php?article298.

LAZZARATO, Maurízio. Para uma definição de “biopolítica”. Centro de mídia independente. Tradução Eliana Aguiar. Consultado em 10/09/2003 em http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/09/262958.html.10/09/2003.

LESSA, Renato. (2010). O capo da ciência política no Brasil: uma aproximação construtivista. In: Horizontes das Ciências Sociais no Brasil - Ciência Política. MARTINS, Carlos Benedito; LESSA, Renato. São Paulo: ANPOCS, p. 13-50.

LUCHMANN, Lígia Helena Hahn. (2011). Associações, participação e representação: combinações e tensões. Lua Nova, São Paulo, n.84,p.141-174.

MAQUIAVEL, Nicolau (2007). Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes.

MCORMICK, John P. (2001). Machiavellian Democracy: Controlling Elites with Ferocious Populism. American Political Science Review, vol. 95, no. 2.

MILBRATH, L.; GOEL, M. L. (1965) Political participation. Boston: University Press of America.

NIETZSCHE, Friedrich. (1992). Além do Bem e do Mal. Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. São Paulo: Companhia das Letras.

PILLA, Maria Cecília Barreto Amorim. (2008). Labores, quitutes e panelas: em busca do lar ideal. In: Cadernos PAGU vol. 30:329-343.

RAWLS, John. (2000). O Liberalismo Político. Tradução Dinah de Abreu Azevedo. 2. ed. São Paulo: Ática.

Publicado

2015-06-01

Como Citar

BUGLIONE, S.; ANZILIERO, B. ENTRE A AÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES E A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA: O QUE ESTAMOS NEGLIGENCIANDO?. Gênero & Direito, [S. l.], v. 4, n. 1, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ged/article/view/24447. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Contextualizando Gênero