A (des)construção do self em A paixão segundo G.H.
travessias melancólicas
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2595-7295.2018v2n2.45096Resumo
A busca para ser engendra o enredo do romance A Paixão segundo G.H., da autora brasileira Clarice Lispector. A protagonista, de identidade abreviada, desemboca em um processo de des(construção) do Self, despertado pelo fenômeno de identificação projetiva com uma barata, na tentativa de encontrar um significante para si. G.H. faz travessias melancólicas, mergulha em um desabamento interior, desmantelando-se em um jogo entre ausência e presença, verdade e falsidade, com o fito de nomear a Coisa que habita o seu Self. Nisso, desliza-se sucessivamente, constrói-se, desconstrói-se e reconstrói-se na fantasia do retorno às origens, para sempre perdidas, percorrendo, assim, um movimento narcísico de incapacidade de superação do luto arcaico. G.H. desloca-se incessantemente, arremessa-se ao abismo melancólico, à presença do Nada, do Vazio; em seu seio letal, em núpcias com a Morte, luta para nomear o seu transbordamento de dor. Em suplência dessa voz, que não escutamos, e com as contribuições teóricas, sobretudo, de Freud (2016), Klein (1996; 1974), Gomes (2017), Kristeva (1989) e Derrida (1981; 2002), objetivamos analisar as travessias esteticamente melancólicas de G.H. em seu processo de (des)construção do Self. Para tanto, deslizamos pelos conceitos de melancolia, Self, desconstrução e sustentação. Destarte, a proposta não é buscar um significante para a Coisa, dar-lhe um lugar, mas compreendê-la no terceiro espaço, nos interstícios, na zona fronteiriça, onde o Self continuamente se movimenta.
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