Quem está protegida contra a violência política de gênero?

Reflexões sobre direito, linguagem e poder a partir da Lei n.º 14.192/2021

Autores

  • Clarisse Mack Universidade Federal da Paraíba
  • D'Angelles Coutinho Universidade Federal da Paraíba
  • Ricardo Alecsander Universidade Federal da Paraíba

Palavras-chave:

Gênero, Direito, Linguagem

Resumo

Resumo

O presente trabalho surge das inquietações das/os/es autoras/os/es em relação aos tensionamentos necessários no que tange à categoria de gênero dentro da seara do direito e da linguagem, em particular nos termos presentes na Lei n.º 14.192/2021. A legislação em foco estabelece importantes diretrizes que reconhecem a necessidade de se combater a violência política contra as mulheres, entretanto demonstra suas fragilidades ao trazer em seu texto termos que limitam a sua aplicabilidade e excluem outras possibilidades de performar as feminilidades, possibilidades estas tão ou até mais violentadas por este tipo de opressão. Desse modo, a partir do diálogo com diversos autores e autoras bem como com a análise jurídica da lei, este artigo se propõe a estabelecer uma crítica aos termos presentes na norma, bem como traçar outras possibilidades de interpretação que resultem na efetiva transformação social pela construção de uma sociedade mais justa, plural e livre de todas as formas de violência e opressão, capaz de abarcar as distintas pluralidades de existência das feminilidades. 

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Biografia do Autor

Clarisse Mack, Universidade Federal da Paraíba

Mulher Travesti, graduanda em Direito pela UFPB e em História pela UNESA, pesquisadora na área de Transfeminismos e Direitos Humanos. Atualmente é membra do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB, e trabalha na Coordenadoria de Diversidades da Defensoria Pública da Paraíba. É ativista LGBTQIAPNB+ no movimento Irakitan do Conde - PB. E-mail para contato: mackclarisse@gmail.com.

D'Angelles Coutinho, Universidade Federal da Paraíba

Pessoa não binárie com graduação em psicologia, mestrado em psicologia social e especialização em Gênero e Diversidade na Escola pela UFPB. Atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS-UFPB), na linha de Teoria de Gênero e Estudos da Sexualidade, e é graduanda em ciências sociais pela Universidade Cruzeiro do Sul. É sócio-fundadora do Coletive Não Binárie PB, criado em 2021, dentro do qual atua em projetos sociais e articula espaços de formação/discussão sobre gênero, sexualidade e não binariedade. E-mail para contato: dangelles1@hotmail.com.

Ricardo Alecsander, Universidade Federal da Paraíba

Boyceta, psicólogo e mestrando em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas pela Universidade Federal da Paraíba. Membro fundador do Fórum Paraibano LGBTQIAPN+, está na diretoria do Movimento do Espírito Lilás (MEL) e da Associação de Pós Graduandos da UFPB (APG), integra a Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero do Conselho Regional de Psicologia (CRP/13) e a Associação Nacional de Psicólogos Trans (APTrans). E-mail para contato: psi.ricardoalecsander@gmail.com

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Publicado

22.01.2024