Ação Coletiva em Meio à Pobreza Relacional:

Dinâmicas e Potencialidades de Espaços Digitais de Organização no Mundo do Trabalho Precário

Resumo

Categorias como trabalhadores terceirizados de limpeza, vigilância e refeitório se caracterizam por grande fragmentação em postos de trabalho pequenos, por um lado, e elevada rotatividade empregatícia, por outro - elementos que foram frequentemente apontados como obstáculos à consolidação de um elevado “poder associativo” para essas categorias. De que modo a difusão de novas tecnologias de comunicação impacta as perspectivas de ação e organização coletiva desses trabalhadores? A partir de um exame de nove casos distintos de ação coletiva de pequena escala, estudados mediante entrevistas em profundidade com seus protagonistas, identificamos que a arquitetura “fechada” do WhatsApp tem tornado essa plataforma central na condução dessas mobilizações. A principal consequência do uso dessa plataforma tem sido a consolidação e combinação das redes de “laços fracos” desses trabalhadores, viabilizando a conexão entre postos de trabalho física e funcionalmente isolados. Discutiremos também a grande variabilidade existente nos modos como os trabalhadores constituem esses grupos digitais em ocasiões de crise e conflito (a partir das redes e atores institucionais envolvidos em cada local de trabalho), e as transformações nos usos que foram dados a esses grupos digitais com o encerramento dessas mobilizações.