Em torno do nominalismo estético: Cage, Adorno e a distância crítica

Autores

  • J.-P. Caron Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

Nosso trajeto no presente texto será o seguinte: expor brevemente alguns aspectos da filosofia de John Cage como uma que propõe, nos termos de Vladimir Safatle, uma “suspensão da subjetividade composicional”. A seguir, abordar a crítica adorniana às tentativas de Cage de “abertura ao que acontece”, para, finalmente, propor, por meio de alguns exemplos de espírito cageano, não uma abertura como figura central para a composição indeterminada quanto ao seu resultado, mas uma revisão de uma infraestrutura normativa da ação que a motiva. Tal proposta será tornada explícita a partir de um texto de Cornelius Cardew sobre uma das obras da tradição experimental, de La Monte Young. Isso permitirá lançar luz sobre a ideia adorniana de um nominalismo estético, mas aqui definido de maneira diversa de Adorno, como uma possibilidade latente na produção contemporânea, das obras tomarem como material as próprias meta-determinações (“regras para a ação”) que tornam possíveis a sua própria determinação sensível. E, se de um lado o nominalismo estético (no nosso sentido) se vê vindicado como possibilidade latente por uma tal abordagem, também se mostra aqui uma concepção renovada da dimensão crítica na composição musical.

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Biografia do Autor

J.-P. Caron, Universidade Federal do Rio de Janeiro

J.-P. Caron é filósofo e artista, baseado no Rio de Janeiro. É professor adjunto de filosofia da UFRJ e ministra cursos livres no New Centre for Research and Practice. É praticante de música experimental e de ruído há mais de 15 anos e administra com amigos o selo Seminal Records.

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Publicado

2020-11-16

Edição

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Artigos