Ler alteridades: tradução e hospitalidade em Finnegans Wake
Resumo
Este trabalho aborda a prática tradutória, junto à sua teorização, como meio de se pensar a leitura como operação ligada às noções de hostilidade e de hospitalidade textual. Abarcando ponderações de Paulo Henriques Britto (2020) sobre a atividade tradutória como processo interpretativo e aberto; Barbara Cassin (2022) e seu uso do termo “zona de tradução”; e, fundamentalmente, reflexões da filosofia de Jacques Derrida (1985; 1992; 2000), em especial em "Gramofone de Ulysses" e "Duas Palavras por Joyce", parte-se do princípio de que a linguagem não é meio pelo qual apreendemos sentidos específicos e identificáveis da realidade extratextual. Há, contudo, inexorável caráter de alteridade — que ultrapassa os domínios dos autores e leitores empíricos para se dar textualmente — que pode ser recebido com certa hostipitalidade, pensando com Derrida, ou que perpassa o que Walter Benjamin hipotetiza acima ou além das relações internas às línguas naturais. Interessa-nos aqui, portanto, pensar o aspecto teórico dessas relações, mas como se desdobram na prática de leitura e tradução — ou, ecoando Paul Ricoeur, também de reformulação — de textos poéticos. O caso a ser tomado pelo que apresenta de radicalmente hostil e hospitaleiro à leitura literária — e à tradução — é o de Finnegans Wake (1939), de James Joyce.