Instituições, confiança e ordem social
Resumo
O objetivo deste artigo é discutir o conceito de instituição, enfatizando os efeitos que as instituições produzem sobre as práticas sociais em contextos marcados pela globalização tardio-moderna. Para tanto, é apresentado o debate entre a teoria da estruturação e a etnometodologia a respeito da relação conceitual entre instituições e solidariedade social. As questões teóricas são debatidas por referência a uma pesquisa etnográfica sobre a prestação de serviços policiais em uma região metropolitana do Brasil. Enquanto a teoria da estruturação vê as instituições como fundamentais à manutenção da ordem social, a etnometodologia aponta para os efeitos potencialmente desestruturadores das instituições para as interações cotidianas, sendo eles: (a) as normas institucionais proporcionam alienação da interação, divergindo a atenção dos participantes dos movimentos recíprocos para os requisitos institucionais; (b) as instituições prescrevem papeis fixos aos participantes, desfavorecendo a diversidade nas apresentações do eu; e (c) as instituições designam árbitros para julgar a aplicação de suas normas, criando assim relações assimétricas. Normas institucionais, tais como procedimentos burocráticos e os direitos individuais reconhecidos em estatutos legais, estiveram presentes nos encontros vivenciados em contextos organizacionais policiais, em que foi possível perceber os efeitos desestruturadores teorizados pela etnometodologia. Entretanto, algumas normas institucionais empoderam participantes previamente excluídos em encontros com policiais, como ficou indicado pela participação de jovens da periferia em conselhos comunitários de segurança pública. A conclusão geral é que as instituições têm impacto sobre a ordem social, mas não necessariamente trazem assimetria. Palavras-chave: instituições, etnometodologia, teoria da estruturação, confiança, globalização. Abstract The aim of this paper is to discuss the concept of institution, focusing on the effects of institutions upon social practices that take place under late-modern globalization. With that aim, it is presented the discussion involving structuration theory and ethnomethodology regarding the conceptual relation between institutions and social solidarity. Theoretical issues are here discussed by reference to an ethnographical research on police services provision in a metropolitan region of Brazil. Whilst structuration theory holds that institutions are fundamental to maintain social order, ethnomethodology points to potentially disrupting effects of institutions in everyday interactions: (a) institutional norms bring alienation from interaction, diverting participants’ attention from reciprocal moves toward institutional requirements; (b) institutions also prescribe fixed roles to participants, preventing diversity in presentations of self; and (c) institutions assign referees to arbitrate the application of norms, thus creating asymmetric relations. Institutional norms, such as bureaucratic procedures and individual rights acknowledged in positive law, were pervasive to encounters that took place in police organizational settings, where it was possible to perceive the disruptive effects theorized by ethnomethodology. However, some institutional norms empower participants in positions previously excluded in encounters with police officers, as indexed by the participation of young inhabitants of segregated areas in community security councils. The general conclusion is that institutions impact interaction order but not necessarily bringing asymmetry. Keywords: Institutions, ethnomethodology, structuration theory, trust, globalization.Downloads
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Publicado
11.08.2014
Como Citar
Suassuna, R. F. (2014). Instituições, confiança e ordem social. Política & Trabalho: Revista De Ciências Sociais, 1(40). Recuperado de https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/politicaetrabalho/article/view/20144
Edição
Seção
Nº 40 - DOSSIÊ TEORIA SOCIAL