SERÁ QUE ELAS SOFREM? ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE DEATH WITHOUT WEEPING DE NANCY SCHEPER-HUGHES

Resumo

Neste trabalho são discutidas diversas interpretações acerca do sentimento de mães de 'anjinhos' no Nordeste, que têm em comum o fato de ter sido elaboradas e divulgadas (principalmente) fora do Brasil. Em 1992, a antropóloga Nancy Scheper-Hughes lançava nos Estados Unidos aquele que se tornou o renomado livro Death without Weeping: the violence of everyday life in Brazil, baseado em observações realizadas num município da mata pernambucana no período de 1964 a 1984. Um dos argumentos mais polêmicos da obra foi a tese da "negligência seletiva", segundo a qual, resumidamente, as mães realizariam um menor investimento afetivo e material naquelas crianças que percebem mais frágeis, como uma forma de lidar com as elevadas taxas de mortalidade infantil. Ainda sem tradução ao português, Death without Weeping é considerado leitura obrigatória para antropólogos e especialistas no Brasil e em inúmeros centros acadêmicos internacionais, afetando certamente sua visão sobre o país. Não é essa, entretanto, a única aproximação ao sentimento materno no debate antropológico além das fronteiras nacionais. Com base em observações em áreas rurais e urbanas do Nordeste, as também norte-americanas Linda Rebhun e Marilyn Nations publicaram vários artigos a respeito da relação mãe-filho, fazendo uma severa crítica à tese da negligência seletiva. Por que dados semelhantes conduzem a interpretações radicalmente diferentes sobre as emoções? É possível "checar fontes" em antropologia? Essas questões do debate serão postas em relevo, numa tentativa de dialogar com as interpretações 'de fora' a partir de um olhar antropológico 'de dentro'. Palavras-chave: Sentimento Materno. Mortalidade Infantil. Antropologia. Nordeste Brasileiro.