APRESENTAÇÃO
EMBATES E CRISES DEMOCRÁTICAS NO BRASIL EM TEMPOS DE POLÍTICA DIGITALIZADA
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1517-5901.2024v1n60.72638Resumo
O presente Dossiê intitulado “Embates e crises democráticas no Brasil em tempos de política digitalizada” traz à luz uma sistemática discussão sobre política nas redes sociais on-line, a partir de análises empíricas realizadas no ambiente digital mais usado pela elite política brasileira, o Twitter (atualmente X).
Desde sempre a política, enquanto uma forma de ação humana ligada ao poder, diria Maquiavel (1976), esteve sujeita a transformações mais ou menos intensas a depender da perspectiva adotada pelo observador/estudioso da política.
E como há em toda tecnologia uma ambivalência intrínseca, Lévy (2011, p. 21) vai dizer que ela transporta para o mundo material nossas emoções, intenções e projetos: “não somente as técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu uso [...] como também é o próprio uso intensivo de ferramentas que constitui a humanidade enquanto tal”. E são essas emoções, intenções e projetos o objeto de nosso Dossiê.
Reiterando o dito acima, as tecnologias digitais amparadas na internet não são a priori positivas ou negativas – dependem dos contextos e de seus usos – e tampouco neutras – já que é condicionante ou restritiva, abrindo ou fechando possibilidades. No caso brasileiro, o antigo Twitter (atualmente X) foi escolhido como o ambiente digital preferencial para as manifestações públicas da elite política, não apenas por parte das lideranças, em suas contas pessoais, como também de forma institucional, pelas agências de Estado e órgãos políticos. Isso fez com que jornalistas e militantes políticos usassem o espaço para embates discursivos em apoio ou crítica a líderes ou a instituições. O dossiê proposto aqui tem o objetivo de tratar de
diferentes embates entre lideranças políticas, militantes e instituições públicas no ambiente digital nos últimos dois anos. Do ponto de vista prático, o dossiê reúne trabalhos de pesquisadores de diferentes instituições e regiões do país com o objetivo comum de observar conflitos políticos em ambientes digitais.
Assim, desde as manifestações glocais do início dos anos 2010, temos observado o uso das redes sociais digitais na mobilização e organização de protestos (Gerbaudo, 2020) e também na delimitação dos léxicos mobilizados por ativistas e movimentos de viés progressista e/ou situados no campo da esquerda (Andrés, 2023), mas também por grupos de direita (Alonso, 2023), que anos depois se radicalizarão na extrema direita, sendo fundamentais na vitória de Bolsonaro em 2018 (Cesarino, 2018).
Estamos, portanto, diante de uma transformação na sociabilidade política, sendo assim, entendemos que discussões metodológicas são de extrema relevância para o campo das Ciências Sociais. Como o artigo “Metodologia aplicada às Redes Sociais On-line: a importância de considerar a unidade de análise para a pesquisa” que se debruça sobre diferentes níveis de análise que vão desde os padrões discursivos de contas on-line, passando pela interação entre contas, e culminando em uma dimensão temporal da presença e intensidade do tema em casos concretos, quais sejam, a reunião do ex-presidente Jair Bolsonaro em julho de 2022 com embaixadores sobre as urnas eletrônicas e os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Considerando o período de mandato presidencial de Bolsonaro, trazemos mais dois artigos. Um que analisa o comportamento e o posicionamento ideológico de perfis acerca da demissão do então ministro da Educação no texto “A Controvérsia Weintraub: atores, traços digitais e posicionamentos políticos no Twitter”. E o outro, intitulado “Análise das emoções no debate sobre vacinação infantil contra covid-19 no Twitter”, busca identificar emoções contidas em publicações digitais, e seu uso enquanto ferramenta de mobilização social, no período que compreende a autorização da vacinação infantil contra covid-19 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Indo para o pleito de 2022, apresentamos mais três artigos que buscam compreender os novos caráteres das campanhas eleitorais em contexto hipermidiático (Ituassu et al., 2019) e espetacularizado (Debord, 2016). Um deles busca compreender a presença digital dos candidatos Lula (PT) e Bolsonaro (PL) na perspectiva da Teoria do Discurso laclauniana (2015) em “Engajamento e populismo: A presença digital de Lula e Bolsonaro nas eleições 2022 no Twitter”. O artigo “Storytelling político no Twitter: uma análise das narrativas de Lula e Bolsonaro nas eleições de 2022” objetiva compreender como estruturas narrativas são utilizadas para engajar e influenciar o eleitorado no ambiente digital. Na sequência, o artigo “Desinformação e Narrativas: Uma análise das desinformações verificadas pela página ‘Fato ou Boato’ durante as Eleições de 2022”, ao analisar uma iniciativa de combate à desinformação realizada pelo TSE, evidenciou sua dinâmica temporal e a relação com o clima político.
E, por fim, um artigo que trata de outra rede social, especificamente acerca do “Discurso de ódio homofóbico no Facebook: uma análise dos comentários das publicações de notícias nos Ciberjornais de Campo Grande”, buscou investigar como se dá a repercussão e manutenção do preconceito e da discriminação
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