FILOSOFIA PARA ALÉM DO EUROCENTRISMO: UMA ABORDAGEM EM AFROPERSPECTIVISMO NO ENSINO DE FILOSOFIA
DOI:
https://doi.org/10.7443/problemata.v10i1.46177Palavras-chave:
África, Afroperspectivismo, Diversidade, Ensino de filosofia, Eurocentrismo.Resumo
O objetivo deste ensaio é despertar no professor de filosofia a percepção da necessidade de desconstrução de ideias de ensino cristalizadas, de predominância de uma história da filosofia eurocêntrica, sem oportunidades ao exercício do pensamento do inteiramente novo. Isto conduz à busca da concepção de um ensino de filosofia aberto ao pensamento da diversidade, de modo que todas as culturas sejam consideradas como iguais na sua capacidade racional, sejam a cultura africana, a grega, a chinesa, a indígena, a latina e tantas outras potenciais portadoras de filosofias e de significados. Apresenta-se, nesse contexto, o conceito de afroperspectivismo como proposta de superação de uma concepção excludente de vida e de ensino, resultado da colonização do pensamento. Para a consecução deste objetivo, emprega-se notadamente a leitura e interlocução com textos de filósofos africanos e alguns de seus comentadores. Dentre os primeiros destacam-se FANON (2008), ORUKA (2002) e TOWA (2015); dentre estes últimos, DANTAS (2014, 2018), FLOR DO NASCIMENTO; BOTELHO (2010), GOMES (2014), JESUS; NEGRI; CANDIDO (s/d), NOGUERA (2011, 2014), OLIVEIRA (2012), TOMAZETTI; BENETTI (2012). Debate também relevante é estabelecido com filósofos e filósofas latino-americano(a)s, principalmente no que se refere ao ensino de filosofia desde uma perspectiva da diversidade. Dentre estes, citam-se ASPIS; GALLO (2009) e CERLETTI (2009). O resultado dessas múltiplas leituras e interlocuções é a explicitação de posturas, valores e práticas que pensam a filosofia e o ensino de filosofia tomando em consideração a diversidade de culturas, de saberes e de pensares, reconhecendo novos territórios epistêmicos que estão fora da lógica do eurocentrismo. O afroperspectivismo, particularmente, mostra-se aberto, inclusivo, dialógico, pleno de potencialidades quer como forma de pensamento, quer como ponto de partida para o ensino de filosofia. Conclui-se este ensaio apontando-se para a possibilidade de construção do ensino de filosofia sob a perspectiva do pensamento da diversidade, em geral, e da filosofia africana, em particular; não como negação do pensamento europeu, mas como reconhecimento de que há pensamento filosófico, autêntico e autóctone, que transcende a racionalidade europeia.
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Referências
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