FREGE SOBRE A FICÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.7443/problemata.v13i2.62852Palavras-chave:
Frege, Ficção, Nomes vazios, Força assertórica, Valores de verdadeResumo
Embora Frege não tenha articulado uma metafísica e uma semântica do discurso ficcional, podemos analisar a sua teoria do sentido e da referência a fim de estabelecer algumas conclusões para a ficção. O meu objetivo neste artigo é argumentar que, para Frege, o problema central do discurso ficcional diz respeito à força assertórica do autor ao narrar uma história de ficção. O autor de ficção, como Frege sustenta em Der Gedanke, apenas finge realizar asserções, de modo que as sentenças ficcionais são pseudo-asserções. A consequência desta tese é que os nomes próprios que ocorrem na ficção são todos, sem exceção, nomes aparentes ou vazios. Em função disso, como Frege estabelece em Introdução à Lógica, Lógica e Sobre o Sentido e a Referência, as sentenças ficcionais têm sentido, mas carecem de referência, o que mostra que a ficção tem a única finalidade de nos propiciar um deleite estético — não sendo possível, então, diferentemente dos discursos científico e ordinário, valorar as sentenças ficcionais como verdadeiras ou falsas. Sendo esse o caso, analisarei criticamente os três problemas que Frege encontra na ficção: o problema dos nomes vazios, o problema da força assertórica e o problema dos valores de verdade.
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