O NOME DO MUNICÍPIO. UM ESTUDO ETNOLINGUÍSTICO E SÓCIOHISTÓRICO NA TOPONÍMIA SUL-MATO-GROSSENSE

Autores

  • Aparecida Negri Isquerdo

Resumo

O vocabulário onomástico-toponímico – os topônimos – tende a ser marcado ideologicamente por consubstanciar a visão do denominador num tempo e num espaço determinados. Em face disso, os topônimos confirmam a tese de que a história das palavras caminha muito próxima à história de vida do grupo que dela faz uso, razão pela qual a ação de atribuir um nome a um lugar corporifica uma soma de diversificados fatores – lingüísticos, étnicos, socioculturais, históricos, ideológicos – do grupo que habita o espaço geográfico tomado como objeto de investigação. Particularmente os nomes de acidentes humanos (vilas, povoados, cidades) traduzem reflexos do momento histórico em que foram nomeados, haja vista serem mais afetados por fatores extralingüísticos, como características do processo de povoamento ocorrido da região; questões interétnicas que individualizam o espaço geográfico em questão – convívio de povos de diversas etnias; a localização geográfica – fronteiras nacionais e internacionais; interferências políticas, além de fatores ambientais. Este trabalho discute a questão da interface entre toponímia, cultura e história social, com base na análise dos designativos dos municípios sul-mato-grossenses. Examina-se a relação entre a história social do estado de Mato Grosso do Sul como um todo e a dos municípios, em particular, e a natureza dos nomes dos municípios, buscando correlacionar os tipos de designativos com a formação étnica da população e com as diferentes fases do processo de colonização do Estado. No conjunto dos topônimos que nomeiam os 78 municípios do estado de Mato Grosso do Sul, há nomes que traduzem, por exemplo, aspectos da influência indígena (Caarapó, Paranaíba, Japorã); fatos marcantes da história regional(Guia Lopes da Laguna, Antônio João); características do meio ambiente físico (Rio Negro, Rochedo); homenagem à terra de origem do denominador (Nova Andradina, Chapadão do Sul); influência de contatos interétnicos em áreas de fronteira (Laguna Carapã, Naviraí). Em se tratando da base lingüística dos formantes dos topônimos, 27% dos nomes dos municípios sul-mato-grossenses são de origem indígena e 10.2% constituem-se em nomes híbridos (dentre esses, 9% contêm um formante de base indígena). Esses dados refletem a forte influência indígena na toponímia dos municípios sul-mato-grossenses, o que pode ser explicado por questões étnicas e geográficas. O estado de Mato Grosso do Sul, além de concentrar a segunda maior população indígena do Brasil, faz fronteira com o Paraguai, país que tem o guarani como língua oficial, ao lado do espanhol. Os outros 62,8% são formados por termos vernáculos. A dinamicidade ou não do sistema lexical está, portanto, correlacionada à própria dinamicidade da realidade social, econômica, política, cultural e ideológica do grupo e também se manifesta no vocabulário onomástico-toponímico. Daí ser nossa proposta o estudo de um recorte de um léxico específico, os topônimos, objetivando verificar em que medida esse nível da língua pode fornecer dados para a recuperação de aspectos da realidade sociocultural e históricogeográfica do homem sul-mato grossense.

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Como Citar

Isquerdo, A. N. (2012). O NOME DO MUNICÍPIO. UM ESTUDO ETNOLINGUÍSTICO E SÓCIOHISTÓRICO NA TOPONÍMIA SUL-MATO-GROSSENSE. PROLÍNGUA, 2(2). Recuperado de https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/prolingua/article/view/13403

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Seção

Artigos