FETICHISMO COMO O POSSÍVEL DO DESEJO NO AROMA INCESTUOSO DE "O PERFUME DE ROBERTA", DE RINALDO DE FERNANDES

Resumen

Embora a noção de fetiche já se encontrasse presente no itinerário humano desde a Idade Média, ligada ao adjetivo em latim facticius, “fabricado” ou “coisa feita”, a associação enquanto termo é creditada ao escritor francês Charles De Brosses, a partir da observação de práticas religiosas comuns nas costas da África Ocidental, comumente denominadas pelos viajantes europeus dos séculos XVI e XVIII como feitiço, ganhando a conotação degenerescente após o seu resgate, em 1887, pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) e, posteriormente, pela sexologia do século XIX. Apropriado por Sigmund Freud desde os momentos iniciais de sua teoria da mente, o fetichismo permanece sendo um componente das perversões e parafilias sexuais, mas também é reconhecido como um aspecto multifacetado e presente na dinâmica “normal” da sexualidade humana. Em seu conto “O Perfume de Roberta”, publicado em uma coletânea de mesmo nome, Rinaldo de Fernandes nos apresenta um protagonista que faz do fetiche um argumento para viabilização do seu desejo incestuoso. Tendo como baldrame teórico a teoria psicanalítica, o presente artigo busca elucidar o itinerário perverso do personagem de Fernandes, de modo que a análise dos códigos nos permita observar como o fetichismo aponta para a plasticidade no modo como lidamos com a angústia, a sexualidade e a busca incessante pelo prazer.