Les Mouches: liberdade situada e reflexividades em Jean-Paul Sartre
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.2019.50134Resumo
Este estudo busca discutir alguns dos fundamentos teórico-metodológicos utilizados por Jean-Paul Sartre em seus escritos dramáticos – mais precisamente, em sua peça teatral Les Mouches (1943). Sartre expõe, a partir da trama dramatúrgica vivida pelo personagem Orestes, a angústia deste em ter que exercitar o segredo de sua condição ontofenomenológica de saber-se livre. Sartre então advoga, nessa peça, a favor (ou contra) Orestes na medida em que o personagem precisa, por meio de sua consciência reflexiva de liberdade, criar o seu caminho para romper com a lógica imposta socialmente, sem que, no entanto, esse processo de ruptura se afigure como uma obrigação. Isso implica a constante manutenção estrutural de Orestes como liberdade. Ora, sendo liberdade, o personagem, não pode aceitar os desígnios superiores de Júpiter, então rompendo com este. O trabalho analisa as situações particulares vividas por Orestes, bem como algumas possibilidades que por ele poderiam ter sido elencadas e as que de fato foram deliberadas. A cada decisão de Orestes um fundo de mundo se estrutura, criando novas possibilidades e projeções futuras. Ressalta-se, ainda, que não apenas Orestes é o ícone de manifestação da liberdade, mas, tanto ele, quanto todos os demais que lhe constituíam a realidade presente também escolhiam, isto é, eram livres. O que distancia Orestes dos demais? Há, de fato, uma distância existencial pelo fato de o personagem saber de sua condição de ser liberdade no mundo e os demais de serem liberdade sem, no entanto, saberem que o são. Por fim, a análise revela que toda a ação de Orestes atende a um princípio estrutural de toda e qualquer ação que tem em seu bojo a dialética e a infestação do nada sobre aquilo que é.
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