Literatura e Humanismo: Fenômenos éticos no confronto entre Sartre e Dostoiévski
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.2019.50277Resumo
No final de O Ser e o Nada (1943), Sartre alude a um possível tratado de ética, nunca realizado como obra à parte; nessa mesma obra-mestra, porém, encontramos um rol de observações críticas voltadas a concepções éticas mal fundamentadas. Os principais conceitos envolvidos nessa elucidação são os de liberdade, responsabilidade, contingência, facticidade, alienação, crença, má-fé, o problema do Outro, o passado, que traduzem manifestações humanas, e, portanto, implicam à ética de uma sociedade. Tratamos por conceitos éticos aqueles que demonstram conflitos e interesses nas relações humanas, incidindo de algum modo sobre a conduta moral particular, resultando num conjunto de instituições e, consequentemente, de problemas. Por isso, estabelecemos uma confrontação conceitual entre a filosofia humanista e a literatura russa de Dostoiévski acerca do tema da Responsabilidade Ética esclarecendo, principalmente, os conceitos de Liberdade, Responsabilidade e Má-fé em cada autor. Nas obras Os Demônios (1872) e Os Irmãos Karamázov (1880), encontramos pano de fundo para esses conceitos sartrianos retratados por meio de personagens significantes, e que se fazem atuais porque abordam problemas políticos e psíquicos. O trabalho consiste, portanto, em demonstrar como pode ser reconhecido um indivíduo de má-fé, que vive em meio à mentiras e a alienações, que não sabe lidar com suas emoções, e também não reconhece que é unicamente capaz de fazer suas próprias escolhas. Essas relações se fazem por meio de personagens omissos às suas responsabilidades, que não se reconhecem como consciência (Para-si), que procuram muletas para justificar suas ações, seja em Deus, na própria desgraça ou no capitalismo. Dão mais fundamento as coisas (Em-si) do que aos indivíduos, e se colocam como superiores por detê-las, que acreditam na superioridade de suas crenças, de suas mentiras, não reconhecendo sua própria liberdade, tampouco a responsabilidade para com o Outro. Escolhemos a literatura, porque ela retrata os confrontos morais que abrangem os conceitos sartrianos escolhidos para este trabalho. Suicídio, fatuidade, terror e morte formam a tela da discussão que Dostoiévski propõe: o homem sem Deus, que crê apenas em si mesmo, em lugar de ser totalmente livre torna-se louco e assassino. Perguntemo-nos então: A Liberdade realmente liberta? O que nos torna livres? Longe de má-fé e perto da responsabilidade, elucidamos conceitos filosóficos por meio da literatura.
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