“Sobre a necessidade de criar” comarcas:

o governo da justiça em Pernambuco no período Joanino (1804-1817)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n42.50910

Palavras-chave:

Instituição de Comarcas, Capitania de Pernambuco, Governo Joanino, Governo da justiça

Resumo

Entre 1804 e 1817, a capitania de Pernambuco foi administrada pelo governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Como bacharel em leis e doutor pela Universidade de Coimbra, Caetano Montenegro foi um dos poucos letrados a assumir a administração de capitanias na América portuguesa. A maior parte de seu governo ocorreu durante a estadia da corte portuguesa no Rio de Janeiro, a partir de 1808. Aliando-se a política desenvolvida pela corte joanina, que ampliou vilas, comarcas e instituiu juízes de fora em diversas localidades, o governador atuou para aumentar o número de circunscrições na capitania de Pernambuco. A expansão da esfera jurídica e administrativa atendia tanto aos interesses da corte do regente, quanto das elites das capitanias. Como buscaremos mostrar, sua formação jurídica teve significativo impacto na forma como conduziu sua administração. Como magistrado, além de governar a capitania de Pernambuco, entendia-se como um indivíduo imbuído de jurisdição, com o poder de dizer o direito. Tal entendimento e concepção política estiveram presentes nas solicitações que apresentou ao regente, ao tratar da necessidade de melhorar a prática da justiça na localidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jeffrey Aislan Souza Silva, Universidade Federal de Pernambuco

Jeffrey Aislan de Souza Silva é doutorando em História na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Graduado (2013) e Mestre em História (2016) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Membro do Grupo de Pesquisa Mundo Atlântico (UFPE). Atua principalmente em História do Brasil Colonial e História do Brasil Imperial. Estuda os magistrados, sua participação no governo da justiça e nos eventos políticos em Pernambuco entre o final do século XVIII e o começo do século XIX.

Referências

AGÜERO, Alejandro. Herramientas conceptuales de los juristas del derecho común en el dominio de la administración. In: LORENTE, Marta (org.). La jurisdicción contencioso-administrativa en España. Una historia de sus orígenes. Madrid: Consejo General del Poder Judicial, 2009, p. 19-44.

ATALLAH, Cláudia Azeredo. Da justiça em nome d’El Rey: justiça, ouvidores e inconfidência no centro-sul da América portuguesa. Rio de Janeiro: Eduerj, 2016.

BERNARDES, Denis. Sociabilidade, cultura e formação política. In: BERNARDES, Denis. O patriotismo constitucional: Pernambuco,1820-1822. São Paulo: Editora da UFPE; HUCITEC; FAPESP, 2006. p. 121-151.

BICALHO, Maria Fernanda; COSTA, André. O Conselho Ultramarino e a emergência do Secretário de Estado na comunicação política entre reino e conquistas. In: FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno Gonçalo (orgs.). Um reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, p. 137-158.

BLUTEAU, Rafael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1728. 8 v.

CAETANO, Antonio Filipe Pereira. Entre súditos e magistrados: administração da justiça nas capitanias do norte (1789-1821). Maceió: Edufal: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2018.

CAMARINHAS, Nuno. Administração da Justiça em espaços coloniais. A experiência imperial portuguesa e os seus juízes, na época moderna. Jahrbuch für Geschichte Lateinamerikas – Anuario de História de América Latina, v. 52, p. 109-124, jan./dez. 2015.

CAMARINHAS, Nuno. Lugares ultramarinos. A construção do aparelho judicial no ultramar português da época moderna. Análise Social, Análise Social, vol. LIIII, n. 226, p. 136-160, mar./jun; 2018.

CANCELA, Francisco. O trabalho dos índios numa “terra muito destituída de escravos”: políticas indigenistas e políticas indígenas na antiga Capitania de Porto Seguro (1763-1808). História UNESP, v. 33, n. 02, p. 514-539, jul./dez. 2014.

CARVALHO, Marieta Pinheiro de. Os sentidos da administração: oficiais e ação política no Rio de Janeiro (1808-1821). Jundiaí: Paco Editorial, 2018.

CARVALHO, Reinaldo Forte. Agentes da justiça e os representantes do poder local no Ceará setecentista. In: BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virginia Almoêdo; MELLO, Isabele Matos (orgs.). Justiça no Brasil colonial: agentes e práticas. São Paulo: Alameda Editora, 2017, p. 189-210.

CHAVES JÚNIOR, José Inaldo. As Capitanias de Pernambuco e a construção dos territórios e das jurisdições na América portuguesa (século XVIII). Tese (Doutorado em História). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017.

CONCEIÇÃO, Hélida Santos. Governando a periferia: a criação da comarca da parte do sul da Bahia no Império ultramarino português – Século XVIII. In: Anais da XII Jornada de Estudos Históricos Professor Manuel Salgado. Rio de Janeiro, PPGHIS-UFRJ, 2017, p. 712-731.

COSTA, Pereira. Anais Pernambucanos 1795-1817. Vol. 07. Recife: Fundarpe, 1984.

CUNHA, Mafalda Soares; MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Governadores e capitães-mores do Império atlântico português nos séculos XVII e XVIII. In: CUNHA, Mafalda Soares; MONTEIRO, Nuno Gonçalo; CARDIM, Pedro (orgs.). Optima pars: elites ibero-americanas do Antigo Regime. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005, p. 191-252.

CUNHA, Mafalda Soares; NUNES, António Castro. Territorialização e poder na América portuguesa: a criação de comarcas, séculos XVI-XVIII. Revista Tempo, v. 22, n. 39, p. 01-30, jan./abr. 2016.

CUNHA, Mafalda Soares; COSENTINO, Francisco; RAMINELLI, Ronald; NUNES, Antonio Castro. Governadores reinóis e ultramarinos. In: FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno Gonçalo (orgs.). Um reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, p. 299-334.

DIAS, Érika S. de Almeida. “As pessoas mais distintas em qualidade e negócio”: a companhia de comércio e as relações políticas entre Pernambuco e a Coroa no último quartel de Setecentos. Tese (Doutoramento em História). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2014.

DIAS, Érika Simone de Almeida. “Dar a cada um o que é seu”: práticas administrativas em julgamento no Conselho Ultramarino, a punição do último governador setecentista de Pernambuco. In: BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virginia Maria Almoedo; MELLO, Isabele de Matos Pereira (orgs.). Justiça no Brasil Colonial: agentes e práticas. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2017, p. 281-307.

DIAS, Maria Odila Leite Silva. A interiorização da metrópole. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). 1822: Dimensões. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972. p. 160-184.

GARRIGA, Carlos. “Orden jurídico y poder político en el Antiguo Régimen”. Istor. Revista de Historia Internacional, 16, 2004. Disponível em: http://ffyl1.uncu.edu.ar/IMG/pdf/Garriga.pdf. Acesso em: 12/06/2020.

HESPANHA, António Manuel; XAVIER, Ângela Barreto. A representação da sociedade e do poder. In: HESPANHA, António Manuel (orgs.). História de Portugal – O Antigo Regime (1620-1807). V. 04. Lisboa: Editorial Estampa, 1993, p. 121-155.

HESPANHA, António Manuel. Às vésperas do Leviathan: instituições e poder político – Portugal – séc. XVII. Coimbra: Almedina, 1994.

JESUS, Nauk Maria de. Juízes letrados, vilas e julgados: a ouvidoria e os ouvidores em Cuiabá e Vila Bela (1728-1822). In: BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virginia Almoêdo; MELLO, Isabele Matos (orgs.). Justiça no Brasil colonial: agentes e práticas. São Paulo: Alameda Editora, 2017, p. 79-106.

MAGALHÃES, Joaquim Romero. Os municípios e a justiça na colonização portuguesa do Brasil na primeira metade do século XVIII. In: ALMEIDA, Suely Creuza Cordeiro; SOUZA, George Felix Cabral (orgs.). Políticas e Estratégias Administrativas no Mundo Atlântico. Recife: Editora da UFPE, 2012, p. 49-79.

MELLO, Isabele de Matos Pereira. Magistrados a serviço do rei: os ouvidores e a administração da justiça na comarca do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2015.

MELLO, Márcia Eliane Alves Souza. A nova dinâmica da Justiça na Amazônia pombalina. In: BICALHO, Maria Fernanda; ASSIS, Virgínia Maria Almoêdo; MELLO, Isabelle Matos (orgs.). Justiça no Brasil colonial: agentes e práticas. São Paulo: Alameda, 2017, p. 51-78.

NASCIMENTO, Alcileide Cabral. O Recife encanta e desafia: a cidade dos desejos, dos medos e dos males sob o olhar de D. Tomás (1787-1798). Revista Clio, v. 22, n. 01, p. 277-306, jan./jul. 2004.

NEVES, Guilherme Pereira. A suposta conspiração de 1801 em Pernambuco: ideias ilustradas ou conflitos tradicionais? Revista Portuguesa de História, v. 33, n. 02, p. 439-481, 1999.

PAIVA, Yamê Galdino. O regimento dos ouvidores de comarca na América Portuguesa, séculos XVII e XVIII: esboço de análise. Revista Nuevo Mundo-Mundos Nuevos. Débats, 11/12/2017. https://journals.openedition.org/nuevomundo/71578. Acesso em: 12/06/2020.

QUINTAS, Amaro. A agitação republicana no Nordeste. In: HOLANDA, Sérgio Buarque (orgs.). História geral da civilização brasileira: o Brasil monárquico, tomo II. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

RIBEIRO, Mônica da Silva. A atuação pombalina na América portuguesa: impactos e transformações na segunda metade dos Setecentos. Revista Maracanan, v. 15, p. 58-75, jul./dez. 2016.

RIBEIRO, Mônica da Silva. Manutenção da justiça, racionalidade administrativa e ‘razão de Estado’ no Império luso, século XVIII: a gestão de Gomes Freire de Andrada, Rio de Janeiro e centro-sul da América portuguesa. Locus (UFJF), v. 24, n. 01, p. 39-63, jan./jul. 2018.

SANTOS, Fabricio Lyrio. A “civilização dos índios” no século XVIII: da legislação pombalina ao “Plano” de Domingos Barreto. Revista de História, n. 170, p. 233-260, 2014.

SANTOS, Fabricio Lyrio. A civilização como missão: agentes civilizadores de índios na Bahia colonial no contexto da política pombalina. Revista Tempo, v. 22, n. 41, p. 533-550, set./dez. 2016.

SCHWARTZ, Stuart. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial: o Tribunal Superior da Bahia e seus desembargadores 1609-1751. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

SCHULTZ, Kirsten. Versalhes Tropical: império, monarquia e corte real portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

SLEMIAN, Andréa. A primeira das virtudes: justiça e reformismo ilustrado na América portuguesa face à espanhola. Revista Complutense de Historia de América, v. 40, n. 01, p. 69-92, jan./dez. 2014.

SLEMIAN, Andréa. Vida política em tempos de crise: Rio de Janeiro (1808-1824). São Paulo: Hucitec, 2006.

SOUZA, George Felix Cabral. Elite e exercício de poder no Brasil colonial: a câmara municipal do Recife (1710-1822). Recife: Editora Universitária da UFPE, 2015.

SOUSA, Maria Aparecida; Souza Filho, Argemiro Ribeiro. A Bahia na crise do Antigo Regime: aprendizado político, conflitos e mediações, 1808-1823. In: OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles; BITTENCOURT, Vera Lúcia Nagib; COSTA, Wilma Peres (orgs.). Soberania e conflito: configurações do Estado Nacional do Brasil do Século XIX. São Paulo: Hucitec, 2010, p. 239-286.

SILVA, Luiz Geraldo. “Sementes da sedição”: revolta escrava, etnia e controle social na América portuguesa (1750-1815). Revista Afro-Ásia, v. 25-26, p. 09-60, jan./dez. 2001.

SUBTIL, José. O terremoto político: Portugal aflito e conturbado. In: ROLLO, Maria Fernanda; CARDIM, Pedro (orgs.). História e ciência da catástrofe: 250º aniversário do terremoto de 1755. Lisboa: Edições Colibri, Universidade Nova de Lisboa, 2007.

SUBTIL, José. O Desembargo do Paço (1750-1833). Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa, 1996.

WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. Direitos e Justiça no Brasil Colonial: o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro (1752-1808). Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2004.

WEHLING, Arno. Estado, governo e administração no Brasil Joanino. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 436, p. 75-93, 2007.

Downloads

Publicado

2020-06-16

Como Citar

SOUZA SILVA, J. A. “Sobre a necessidade de criar” comarcas:: o governo da justiça em Pernambuco no período Joanino (1804-1817). Saeculum, [S. l.], v. 25, n. 42 (jan./jun.), p. 25–46, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n42.50910. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/srh/article/view/50910. Acesso em: 23 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos