“Miséria e pobreza” nas vilas de índios sob o Diretório Pombalino

Condições econômicas, produção de subsistência e resistências indígenas

Autores

  • Fátima Martins Lopes Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2021v26n44.57909

Palavras-chave:

Legislação indigenista do Marquês de Pombal, economia das Vilas de índios, pobreza indígena

Resumo

As dificuldades de produção e acesso a alimentos básicos no período colonial são circunstâncias sempre noticiadas na documentação coeva. Nas vilas de índios, mandadas criar pelo Marquês de Pombal, através do Diretório dos Índios, essa realidade era aindamais devastadora ao final do século XVIII. A situação econômica dos índios vilados era afetada pela periodicidade das estiagens; pelas demandas dos colonos e autoridades luso-brasileiros em razão do mercado regional e internacional; pela estrutura da divisão das terras em pequenos lotes que acelerava o processo de empobrecimento da terra; e pela imposição aos índios da prestação de serviços aos colonos. A consequente baixa produtividade causada por esse conjunto de circunstâncias pode ser verificada através da avaliação dos dízimos pagos pelos índios vilados e registrados nas listas nominais elaboradas pelos diretores de índios, conforme a ordenação do Diretório. Os valores apurados indicam uma pobreza em níveis inferiores às necessidades de sobrevivência, indicando que a vida econômica desses índios no Rio Grande era, em grande medida, voltada à subsistência, inserida nos limites da miséria, vulnerável às instabilidades do clima e submetida às exigências coloniais por terras e trabalhadores. Por outro lado,não se pode deixar de considerar a insistente resistência indígena em assumir as regras econômicas que o Diretório queria impor. Mesmo não sendo explícita na documentação consultada, essa resistência pode ser percebida quando se considera que a subsistência era o objetivo econômico da tradição agrícola indígena, assim, continuar plantando apenas o que se comia pode ser considerado como uma forma de se opor à dominação e exploração coloniais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fátima Martins Lopes, Universidade Federal de Pernambuco

Graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco. Participou do Projeto Resgate, compilando e organizando a documentação colonial da capitania do Rio Grande do Norte. Tem os estudos sobre os indígenas na sua relação com a colonização, principalmente quanto a vivência dentro das missões religiosas, no século XVII e XVIII e nas vilas de índios no século XVIII.

Referências

Referências

BARICKMAN, Bert. “Tame Indians”, “wild heathens” and settlers in southern Bahia in the late eighteenth and early nineteenth centuries, The Americas, v. 51, n. 3, p. 325-368, jan. 1995.

CUNHA, Manuela C. da (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: FAPESP, SMC, Companhia das Letras, 1992.

DOMINGUES, ngela. Quando os índios eram vassalos: civilização e relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000.

GUERRA, Felipe. Secas do Nordeste. Natal: Centro de Imprensa, 1951.

KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil, 2. ed. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 1978.

LINHARES, Maria Yedda. A pecuária e a produção de alimentos na colônia. In: SZMRECSÁNYI, Tamás (Org.) História Econômica do período colonial. São Paulo: HUCITEC: FAPESP, 1996. p. 109-122.

LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na colonização da Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vignt-Un Rosado, 2003.

LOPES, Fátima Martins. Em nome da Liberdade: as vilas de índios do Rio Grande do Norte sob o Diretório Pombalino no século XVIII. Rio de Janeiro: PUBLIT, 2015.

MEDEIROS FILHO, Olavo de. O engenho Cunhaú à luz de um inventário. Natal: Fundação José Augusto, 1993.

PALACIOS, Guillermo. Agricultura camponesa e plantations escravistas no Nordeste oriental durante o século XVIII. In: SZMRECSÁNYI, Tamás (org.) História econômica do período colonial. São Paulo: HUCITEC, FAPESP, 1996. p. 35-53.

PEREIRA, Joaquim José. Memória sobre a extrema fome e triste situação que se achava o sertão da Ribeira do Apody [1798], Revista do IHGRN, tomo 20, p. 175-183, 1957.

SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das letras, 1988.

SILVA, Lígia Osório. Terras devolutas e latifúndio. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1996.

TAKEYA, Denise Monteiro. Um outro Nordeste: algodão na economia do Rio Grande do Norte (1880-1915). Fortaleza: BNB-ETENE, 1985.

TAVARES DE LIRA, Augusto. História do Rio Grande do Norte. Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1998.

Downloads

Publicado

2021-07-29

Como Citar

LOPES, F. M. “Miséria e pobreza” nas vilas de índios sob o Diretório Pombalino: Condições econômicas, produção de subsistência e resistências indígenas. Saeculum, [S. l.], v. 26, n. 44 (jan./jun.), p. 290–307, 2021. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2021v26n44.57909. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/srh/article/view/57909. Acesso em: 17 abr. 2024.

Edição

Seção

Diretório dos Índios: Políticas Indígenas e Indigenistas na América Portuguesa