A metafísica na ciência moderna: uma discussão heideggeriana

Autores

  • Flávio Oliveira Silva Universidade do Estado da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.2016.24413

Palavras-chave:

Metafísica, ciência moderna, Heidegger

Resumo

O artigo apresenta duas teses de Heidegger: a interpretação da Crítica da Razão Pura como metafísica e a afirmação da permanência da metafísica na ciência moderna. Em seguida analisa as objeções que Loparic apresenta a essas teses no artigo A metafísica e o processo de objetificação,para enfim argumentar que suas contestações não se sustentam. Loparic afirma que  a Crítica da Razão Pura não se destina a investigar a quididade dos entes, mas as condições nas quais os juízos sintéticos a priori podem ser verdadeiros ou falsos, de modo que o problema tratado por Kant não seria ontológico, mas semântico. Loparic afirma ainda que a ciência moderna deixou o quadro ontológico da metafísica aristotélica, na medida em que não mais se destina a estudar os entes como tais, isto é, como uma coisa em si, mas tão somente investigar a resposta da natureza, mediante intervenção técnica no curso dos processos naturais e, portanto não há sequer resquício da metafísica na ciência moderna. Essas objeções apresentam dificuldades na medida em que o autor se utiliza do conceito tradicional de metafísica para tratar da filosofia de Heidegger. Argumenta-se que o sentido de metafísica para Heidegger não se restringe à concepção de metafísica da tradição, de modo que, constitui um equívoco analisar as teses heideggerianas em conformidade com a leitura da tradição.  Heidegger se pauta na indicação de que Kant se ocupa das condições de possibilidade da compreensão, isto é, do Dasein, enquanto o ente que coloca a pergunta sobre o ser e é nesta dimensão que a Crítica da Razão Pura é recepcionada como metafísica. No tocante à ciência, o filósofo afirma que, mesmo a ciência moderna tendo abandonado a representação de objetos, ela não renunciou e nem poderia renunciar à necessidade de a natureza fornecer dados que se possa calcular e de continuar sendo um sistema disponível de informação, de modo que incide no pronunciamento da ciência moderna uma interpretação de ser, mesmo quando a questão da essência não é levada em consideração.

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Biografia do Autor

Flávio Oliveira Silva, Universidade do Estado da Bahia

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (1998), especialização em Lógica contemporânea pela Universidade Federal da Paraíba (1997), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (2002) e doutorado pelo Programa Integrado de Doutorado em Filosofia UFPB-UFRN-UFPE (2014), com estágio doutoral na Università degli Studi di Padova - Itália (2013). Atualmente é professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Tem experiência na área de Filosofia da História, Metafísica, Filosofia da matemática e Lógica. Possui ainda graduação em Segurança Pública pela Academia da Polícia Militar da Paraíba (1993) e graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal da Paraíba (1990).

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Arquivos adicionais

Publicado

2015-07-19

Como Citar

Silva, F. O. (2015). A metafísica na ciência moderna: uma discussão heideggeriana. Aufklärung: Revista De Filosofia, 2(2), p.185–206. https://doi.org/10.18012/arf.2016.24413