A retórica política em detrimento do conhecimento: O atual anticientificismo pensado a partir do conceito de episteme no diálogo Teeteto de Platão
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.v8i2.57994Palavras-chave:
Episteme. Opinião. Política. RetóricaResumo
A questão proposta neste artigo a supomos como imprescindível para salvaguardar o valor de verdade do conhecimento e da pesquisa científica. O artigo demonstra que, embora apresentando-se como texto aporético, o diálogo Teeteto contribui sobremaneira à nossa atualidade para pensarmos criticamente a respeito do conhecimento e de sua inequívoca relação com a política e a retórica, de forma que assim se tornou possível problematizar filosoficamente a questão do anticientificismo presente em nosso contexto contemporâneo. Conclui-se que a episteme em Platão ultrapassa os limites considerados pela aisthesis (sensação) e que somente podemos efetivamente considerar episteme quando considerado o conhecimento do realmente real, ou seja, as formas (eidos) que categorizam o inteligível. Não obstante, a definição provisória de “conhecimento como opinião verdadeira acompanhada de explicação racional” ainda se impõe como importante paradigma a distinguir a ciência (gnosis) de pseudociência. Porque, embora a episteme não se fundamente “nas impressões que atingem a alma por intermédio do corpo”, impreterível é o raciocínio a seu respeito, aspecto que, ao que tudo indica, habitualmente aparece como elemento fortuito nos usos de uma retórica política imediatista e negacionista, portanto, eminentemente anticientífica.
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