Conceitos goal-derived e a tese da latência semântica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.v8iesp.60024

Palavras-chave:

conceitos ad hoc, relevância, esquema

Resumo

Neste artigo, investigamos em que medida certas abordagens do conceito de conceito estabelecidas nas últimas décadas no âmbito das Ciências Cognitivas abrem caminho para uma reelaboração da tese da latência semântica, defendida originalmente por filósofos como Ernst Cassirer e Owen Barfield. A partir da década de 1980 do último século, Eleanor Rosch, Lakoff & Johnson, Wilson & Sperber, Lawrence Barsalou, dentre outros, vêm investigando (cada qual a seu modo), as ocorrências conversacionais de articulações de signos linguísticos a um só tempo significativas e não previstas por um código. Entendemos que a Teoria da Relevância, com seu conceito tripartite de conceito, e certas vertentes da Cognição Corporificada, com sua abordagem multimodal dos conceitos ad hoc, oferecem-nos os devidos meios para uma reabilitação da tese de que certas formas de inovação semântica não são senão fragmentos de evidências de acessos mnemônicos a conceitos formados para certos fins específicos (goal-derived) e que podem ser operatórios na vida de uma comunidade de modo velado, i.e., em condição de anonimato. Nossa hipótese de trabalho, de que a tese da latência semântica pode ser fortalecida nesses termos, tem pela frente o desafio de mostrar a viabilidade da compatibilização entre os bons insights de Wilson e Sperber, em sua Teoria da Relevância, com o modelo simulacionista de cognição situada proposto por Lawrence Barsalou, que diverge das posições intelectualistas assumidas pelos primeiros.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Diogo de França Gurgel, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Chefe do Departamento de Filosofia da UFF.

Guilherme Bernardo M. Soares, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense - UFF.

Referências

BARFIELD, O. Poetic Diction. Connecticut: Wesleyan, 1997

BARSALOU, L.W. Ad hoc categories. Memory & Cognition, v.11, n.3, p. 211-227, 1983.

BARSALOU, L.W. Deriving categories to achieve goals. The psychology of learning and motivation, v. 27, p. 1-64, 1991.

BARSALOU, L.W. Situated conceptualization. In: COHEN, H.C.; LEFEBVRE, C. (ed.) Handbook of Categorization in Cognitive Science. Amsterdam: Elsevier, 2005. p. 619-636.

BARSALOU, L.W. Ad hoc categories. In: Hogan PC (ed) The Cambridge encyclopedia of the language sciences. Cambridge University Press: New York, 2010. p. 87-88.

BLACK, M. Models and Metaphors: studies in language and philosophy. New York: Cornell University Press, 1962.

BRIGANDT, Ingo. The epistemic goal of a concept: accounting for the rationality of semantic change and variation. Synthese 177: p. 19–40, 2010.

CAMPOS, J; RAUEN, F.J (Orgs.). Tópicos em Teoria da Relevância. Porto Alegre: Edpucrs, 2008.

CASANTO, Daniel & LUPYAN, Gary. All Concepts are Ad Hoc Concepts. In The Conceptual Mind: New directions in the study of concepts. E. Margolis & S. Laurence (Eds.). Cambridge: MIT Press, 2015. p.543-566.

CASSIRER, E. Linguagem e Mito. Trad: J. Guinsburg e Miriam Schnaiderman. São Paulo: Perspectiva, 2009.

CARSTON, R. Thoughts and Utterances: The Pragmatics of Explicit Communication. Oxford: Blackwell, 2002.

COSTA, J.C. da. A teoria da relevância e as irrelevâncias da vida cotidiana. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v.5, p. 161-169, 2006.

DOKIC, J. Situated Representations and Ad Hoc Concepts. Saying, Meaning and Referring: Essays on François Recanati’s Philosophy of Language, Palgrave Macmillan, p. 203-216, 2007.

FODOR, J. The Language of Thought. New York: Thomas Crowell Co, 1975.

GALLAGHER, S. Enactivist Interventions: Rethinking the Mind. Oxford: Oxford University Press, 2017.

GOODMAN, N. Languages of Art: An approach to a Theory of Symbols. Indianapolis: Hackett, 1976.

JOHNSON, M. The Body in the Mind: the bodily basis of meaning, imagination and reason. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.

KANT, I. Lógica. Trad.: Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

LEVINSON, S. Pragmática. Trad,: Luís Carlos Borges e Aníbal Mari. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

LUCARIELLO, J.; K., NELSON. Slot-Filler Categories as Memory Organizers for Young Children. Developmental Psychology, Vol. 21, No. 2, p. 272-282, 1985.

LAKOFF, G. Women, Fire, and Dangerous Things: what categories reveal about the mind. Chicago: The University of Chicago Press, 1987.

LAKOFF, G. Some Empirical Results about the Nature of Concepts. Mind and Language Vol. 4, p. 103-129, 1989.

LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: The University of Chicago Press, 2003.

MAZZONE, M. Crossing the Associative/Inferential Divide: Ad hoc Concepts and the Inferential Power of Schemata. Rev. Phil. Psych., p. 583–599, 2014.

MULAIK, S.A. The Metaphoric Origins of Objectivity, Subjectivity, and Consciousness in the Direct Perception of Reality. Philosophy of Science, Vol. 62, No. 2 (Jun., 1995), p. 283-303.

NEWEN, A.; DE BRUIN, L; GALLAGHER, S. The Oxford Handbook of 4E Cognition. New York: Oxford University Press, 2018.

NOË, A. Action in Perception. Cambridge: The MIT Press, 2004.

OLIVEIRA, M.B. Conceitos e estrutura mental. Trans/Form/Ação, São Paulo, v. 14, p. 73-91, 1991.

ROLLA, G; CARVALHO, E.M. O desafio da integração explanatória para o enativismo: escalonamento ascendente ou descendente. In: Prometheus: journal of philosophy, n.33, p. 161-181, 2020.

ROSCH, E.H. Natural Categories. Cognitive Psychology, n. 4, p. 328-350, 1973.

ROSCH, E.H. et al. Basic Objects in natural Categories. Cognitive Psychology, n.8, p. 382-439, 1976.

ROSCH, E.H. Principles of Categorization. In: Rosch, Eleanor and Lloyd Barbara (eds.). Cognition and Categorization, Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, p. 27-48, 1978.

SPERBER, D; WILSON, D. Relevance, Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1995.

PERBER, D; WILSON, D. Meaning and Relevance. New York: Cambridge University Press, 2012.

SIMONS, M. Presupposition and Relevance. In: SZABÓ, Z.G. (ed.) Semantics versus Pragmatics. Oxford: Oxford University Press, 2005.

VARELA, F; THOMPSON, E; ROSCH, E. The Embodied Mind. Cambridge: The MIT Press, 1993.

ZVEVO, I. A consciência de Zeno. Trad.: Ivo Barroso. São Paulo: O Globo, 2003.

Arquivos adicionais

Publicado

2021-07-01

Como Citar

Gurgel, D. de F., & Soares, G. B. M. (2021). Conceitos goal-derived e a tese da latência semântica. Aufklärung: Revista De Filosofia, 8(esp), p.99–122. https://doi.org/10.18012/arf.v8iesp.60024