“DESCULPA, É QUE VOCÊ NÃO TEM CARA DE...”: a branquitude e o privilégio da normalidade em ambientes corporativos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46906/caos.n33.70489.p90-112

Palavras-chave:

linguagens, branquitude, trabalho, relações raciais.

Resumo

O presente artigo propõe discussão acerca das relações entre raça, trabalho e poder a partir do entendimento que Bento (2002) e Schucman (2012) apresentam sobre o conceito de branquitude. Para as autoras, tal conceito tem sido determinante na estrutura das relações raciais, sobretudo no contexto brasileiro. Por isso, é de suma importância que seja tomado como referência também para as relações trabalhistas. Verifica-se, portanto, que, no Brasil, assim como em outras sociedades forjadas na exploração escravagista, trabalho e raça estão imbricados e seus desdobramentos permanecem produzindo marcações sociais hierarquizadas. Observa-se ainda que a principal delas está ligada ao estereótipo de ocupação de cargos subalternos e de liderança. Qualquer perfil que subverta tal pressuposição é encarado com surpresa — aqui denominada susto racial — geralmente através da linguagem, evidenciando o que Carneiro (2023) avalia como “dispositivo de racialidade”. A branquitude, apoiada no privilégio da normalidade, perpetua valores e práticas excludentes, fomentando a estrutura racista (Almeida, 2019) que organiza a sociedade. Desse modo, buscou-se investigar, por meio de revisão bibliográfica e reflexão teórica, os modos de organização e ação do racismo nas relações trabalhistas brasileiras, sobretudo em cargos de liderança, comumente associados a perfis brancos, além de suas implicações pessoais e sociais. Concluindo-se que a meritocracia não se sobrepõe às questões raciais, agindo apenas como mais um fator que desvirtua o foco sobre a influência racial nas relações de poder. Observando-se também que, mesmo após os muitos anos que separam a escravidão das ações afirmativas, pessoas negras permanecem como figuras não reconhecidas em postos de relevância, posições de destaque, decisão e poder, sobretudo em ambientes corporativos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Marllon do Nascimento Conceição, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ)

Mestre em Relações Étnico-Raciais (CEFET-RJ), especialista em Educação Especial e Inovação Tecnológica (UFRRJ), licenciado em Letras (UERJ), professor da Educação Básica dos municípios do Rio de Janeiro(RJ) e de Nova Iguaçu(RJ). http://lattes.cnpq.br/4465219515173432.

Referências

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.

BENTO, Maria Aparecida Silva. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

BENTO, Maria Aparecida Silva. Pactos narcísicos: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. Tese (Doutorado em Psicologia) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

DIANGELO, Robin; BENTO, Cida; AMPARO, Thiago. O branco na luta antirracista: limites e possibilidades. In.: SCHUCMAN, Lia Vainer.(org.). Branquitude: diálogos sobre racismo e antirracismo. São Paulo: Fósforo, 2023. p. 13-47.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro,: LTC, 2008.

HALL, Stuart. Raça, o significante flutuante. Rio de Janeiro. Revista Z Cultural, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, [2015]. Disponível em: https://revistazcultural.pacc.ufrj.br/raca-o-significante-flutuante%EF%80%AA/. Acesso em: 2 nov. 2024.

HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

IANNI, Octávio. Dialética das relações raciais. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, p. 21-30, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/78rQndTBbYLBzHMdc3ygj4w/?lang=pt#. Acesso em: 10 ago. 2024.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. PNAD contínua: pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua 2023. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Brasileiro de 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022.

INSTITUTO BUTANTAN. Temos que estimular negros em cargos de liderança para saberem que existe um caminho”, diz gestor médico do IB. Portal do Butantan. Publicado em 18 nov. 2022. Disponível em: https://butantan.gov.br/noticias/%E2%80%9Ctemos-que-estimular-negros-em-cargos-de-lideranca-para-saberem-que-existe-um-caminho%E2%80%9D-diz-gestor-medico-do-ib. Acesso em: 20 set. 2024.

MBEMBE, Achille. O devir-negro do mundo e “o sujeito racial”. In: MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: N-1 Edições. 2018a, p. 27-78.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 edições, 2018b.

MOURA, Clóvis. O negro: de bom escravo a mau cidadão? São Paulo: Dandara, 2021.

MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Ática, 1988.

NUNES, Caroline. O topo tem cor: negros ainda são minoria em cargos de liderança da indústria alimentícia. O joio e o trigo, 2020. Disponível em: https://ojoioeotrigo.com.br/2020/10/o-topo-tem-cor-negros-ainda-sao-minoria-em-cargos-de-lideranca-da-industria-alimenticia. Acesso em: 15 abr. 2022.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. 2. ed. São Paulo: Veneta, 2020.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. Tese (Doutorado em Psicologia) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

SOUZA, Mário Luiz de. Capitalismo e racismo: uma relação essencial para se entender o predomínio do racismo na sociedade brasileira. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 202-211, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/C6N8TfK97tq9XXbmgG9nJcv/?lang=pt. Acesso em: 10 ago. 2024.

Downloads

Publicado

2024-12-07

Edição

Seção

BRANQUITUDES E RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL