QUAL O GÊNERO DO SEU MIJO?

uma reflexão sobre a luta por políticas de afirmação de gêneros dissidentes na utilização de banheiros públicos dentro da UFPB

Abstract

O ambiente universitário é um espaço de disputas: teóricas, narrativas e/ou políticas. Quando analisamos a forma como corpas trans/travestis vivenciam suas existências e permanências dentro dessas instituições, percebemos o quão primárias ainda precisam ser as discussões para que lhes sejam assegurados os direitos mais básicos, tais como a utilização de banheiros de acordo com sua identidade de gênero autodeclarada. Preciado (2019) destaca como a “máquina-capital-heterossexual”, não deixa nada escapar em vão, transformando os banheiros públicos em algo muito além de simples locais de despejo de dejetos. São espaços arquitetônicos que cumprem um papel de reafirmação e de reprodução de gêneros. Mombaça (2015) aponta o quanto o espaço acadêmico é um local de violências e de geração de conteúdos dominantes, produzindo certas vozes como ausentes em regimes de verdade dentro dos quais não há possibilidade de conhecimento, fala e, muito menos, ação. A partir de tais questões na base do debate, este artigo constitui-se em um relato de experiência de extensão universitária que contextualiza violências sofridas na utilização de banheiros por parte da população trans/travesti na UFPB, bem como, a luta empreendida nos anos de 2022 e 2023 pelo projeto de extensão Cine Trava (PROBEX), em conjunto com outros coletivos, que resultou na construção e aprovação da minuta de utilização de banheiros de acordo com a identidade de gênero autodeclarada, aprovada em dezembro de 2023. Tal medida foi um marco na luta pelos direitos da comunidade trans/travesti, sendo resultado de um longo diálogo, de esforços e forças coletivas de corpas dissidentes.