TRADUZIR CARTAS DE AMOR: GUSTAVE FLAUBERT (SE) ESCREVE A LOUISE COLET

Autores

  • Carlos Eduardo Galvão Braga

Palavras-chave:

Flaubert, correspondência, tradução

Resumo

Desde janeiro de 2014, um grupo de professores do curso de Francês da UFRN, coordenado por mim, vem traduzindo, no âmbito do projeto de pesquisa Retrato do artista quando escreve à sua Musa, as 98 cartas que Gustave Flaubert enviou à escritora Louise Colet entre 1846 e 1848. Esse conjunto dá testemunho de uma relação epistolar inacessível enquanto relação, pois as cartas da destinatária teriam sido destruídas pela sobrinha – e herdeira – de Flaubert. Nele coexistem a expressão – previsível – do sentimento amoroso e a paixão pela escrita, verdadeira “obsessão” do missivista. Da conjunção, nem sempre harmoniosa, desses dois aspectos, resulta o caráter singular dessas cartas que se constituem num “espaço de dissidência” em que o jovem Flaubert pode “fazer advir uma palavra singular” (DIAZ, 2002, p. 29). O que elas dão a conhecer, em outras palavras, é o processo mediante o qual um escritor modifica progressivamente sua relação com a linguagem, até se converter, em grande parte por causa das dificuldades da interlocução com Louise Colet, na figura singular que é o “homem-pena” – autor, alguns anos mais tarde, de Madame Bovary. Como impostar, na enunciação segunda do texto traduzido, a voz de um epistológrafo que escreve cartas de amor – destinadas, por definição, a um único leitor – para construir sua própria singularidade? De que maneira assumir, no ato da tradução, uma identidade em processo, tateante nos meandros de seu discurso? Refletir sobre esse desafio é o objeto desta comunicação.

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Publicado

2014-10-13