POR UMA TRADUÇÃO MENOR
Resumo
Se a psicanálise tem algo a ensinar ao tradutor, pode-se dizer que se trata de uma postura frente ao texto que não prescinda de uma determinada escuta. Todavia, para haver escuta é preciso que, no texto, algo fale; e, diferentemente da clínica, porém, o texto não busca o tradutor para dirigir a ele um dizer: ao tradutor, então, cumpre fazê-lo soar a partir da sua própria demanda. Vemo-nos, pois, diante da necessidade de dar voz ao texto, de animá-lo em seus significantes para que, soando, a escuta tradutória seja capaz de reconhecer, na profusão dos sentidos, uma direção que os reduza. Se ao menos desde Ferdinand de Saussure se sabe, textualmente, que a orelha é o que recorta, com a psicanálise a tradução-escuta é também um exercício que talha as rebarbas do sentido — não apenas do texto, é claro, mas do próprio tradutor em seu ofício, que, sempre incauto, foi procurar no texto algo que a ele se endereçasse. Dito isso, proponho que a prática tradutória possa ser valorizada no que tem de diminuta: naquilo que comporta de desterritorialização, sem ignorar sua dimensão política e coletiva, marginal e potencialmente subversiva. Desse modo, sem fechar os olhos i) às forças envolvidas na convocação de uma tradução e à rede em que ela circulará exercendo política, bem como ii) àquilo que nela extrapola o individual — pensado, minimamente, numa aposta no par tradutor-revisor —, a tradução ganha em tender ao ato da sua própria redução; e o tradutor, por sua vez, ganha em ser pensado apenas como lugar na estrutura, capaz de escutar o texto e produzir uma tradução que se mostre, ela sim, relevante.Downloads
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